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História Túmulo de Sangue - Dança dos corpos


Escrita por: Caus

Notas do Autor


Parece que a Alice resolveu dar uma passadinha no apê do Arthur (será que rola algo mais? XD)

Lembranças importantes vem a tona, com direito a cenas de origem e tudo. Divirtam-se ^^

Capítulo 3 - Dança dos corpos


Seus olhos se abriram, o fazendo emergir de seu sono atormentado, das lembranças amargas de um tempo que não volta. Uma vez desperto, se deu conta da terra gelada que cobria todo seu corpo, da areia que obscurecia sua visão e por pouco não adentrava em sua boca. A conclusão era desesperadora: ele estava enterrado! Seu corpo reagiu por instinto, com suas mãos forçando caminho para fora daquela prisão de terra úmida. Seus movimentos rápidos só cessaram quando se viu liberto daquilo. Quando se viu de volta à parte de cima do mundo, o lugar onde os vivos deviam estar.

Ele estava ofegante, nem tanto pelo esforço quanto pelo desespero. Com olhos que pareciam ter sido feitos para a noite, logo passou a enxergar os detalhes da tumba onde havia dormido. Uma simples cova, aberta para abrigar um corpo sem vida. Seu corpo. Com os farrapos imundos de um soldado do século XVII ele se ergueu; em meio a um mar de terra e lama, no centro de um cemitério improvisado para gente como ele. Arthur não compreendia...nada parecia fazer sentido.

Uma dor intensa na cabeça o fez cair de joelhos. Junto à dor, veio um rastro de suas últimas lembranças, como se sua mente sofresse ao parir as memórias amargas.

— Como deseja morrer, meu bom capitão: chumbo ou forca? — zombou Vicente, seu ex-subordinado e mais novo substituto.

Em meio ao som de risos, chacotas e alguns protestos, Arthur foi exposto. De joelhos e amarrado, ante seus traidores. Vicente era um homem atlético, de bigode farto e sorriso fácil.

— Não quer escolher? Já que é assim, só me resta a faca.

Era esse o sujeito que colocava uma lâmina gasta no pescoço de um prisioneiro sem energia, esperança ou vontade. Um homem derrotado. Um homem já morto por dentro.

— Hora de encontrar tua mulher, no inferno. Só torça para nenhum capeta estar montando ela, pois sabe como essas vacas são: se apaixonam fácil, fácil.

O frio da lâmina logo deu lugar ao calor da pele rasgada. O sangue fluindo em profusão, lavando a terra com dor e tristeza.

Uma vez que cessou a lembrança, Arthur levou a mão ao pescoço, surpreendendo-se ao não sentir qualquer coisa de diferente nele. O homem deveria estar morto, mas ao invés disso estava ali, curado e sentindo-se mais forte do que nunca. Algo de errado.... de terrivelmente errado e profano aconteceu naquela noite, e ele ainda não fazia ideia do que, ou do motivo. A verdade é que o homem só desejava vê-la, sua amada, sua Aurora. Seu maior conforto em morrer seria encontrá-la, e talvez fosse mesmo por isso que tivesse arriscado tudo numa vingança suicida. Ele queria morrer, só buscava uma forma de fazê-lo dignamente... e isso foi tirado dele!

O ex-capitão não fazia ideia de há quanto tempo havia tombado, na verdade, cada vez mais só uma coisa tomava conta da sua mente: a sede. Uma sede intensa, como uma lâmina na garganta, agonia que o impelia a buscar uma forma de saciá-la. Seu primeiro impulso foi beber da água empossada na terra, clara o suficiente para salvá-lo, como fez tantas vezes antes, em situações em que esteve embrenhado na selva. Com as mãos em concha ele bebeu com sofreguidão. Bebeu, bebeu, bebeu... até sentir vontade de vomitar aquilo. Estranhamente, a água não lhe fez qualquer bem, pelo contrário, parecia estar ainda mais sedento que antes!

Havia algo de errado com essa sede, algo de errado com ele. Isso se tornou ainda mais claro quando ouviu ao longe uma batida inconstante. Algo como um tambor... ou um coração pulsando. E sem sequer raciocinar sobre o motivo, avançou até ele.

...

A chuva caia torrencialmente do lado de fora do apartamento, trazendo um som, cheiro e atmosfera que deixavam Arthur nostálgico. Aurora adorava noites chuvosas, lembrou ele.  De pé na sacada, com o vento frio soprando em seu rosto e levantando os longos cabelos castanho-escuros, ele tentava afastar da mente as lembranças desagradáveis. Atrás de si, uma sala com uma enorme tv na parede, ao lado de quadros de diferentes estilos e épocas, um sofá menor, um móvel de centro e uma estante com livros variados. Em cima do sofá, uma bolsa que não costumava estar ali até poucos minutos atrás.

— Nossa, você não tem mesmo quase nada de útil nessa cozinha, e o que tem está todo empoeirado. — voz da Alice, que tomou para si a missão de fazer um prato especial para os dois. — Você não come em casa não?

Eu não como em lugar algum, ele gostaria de dizer, mas o que sai da sua boca é:

— Geralmente como fora, ou peço algo por telefone.

— ...homens. — diz ela, voz zombeteira. — Digo isso, mas na verdade eu só cozinho uma ou duas vezes por semana. Mas, em minha defesa, eu ao menos tenho as coisas, usando ou não.  

Ter Alice por perto é algo que mexia com ele, num misto de tristeza e conforto, esperança e desilusão. Sua mente se transformava em um vendaval de lembranças do tempo em que Aurora morreu, assim como da noite em que conheceu Alice. Passado e presente se fundiam nela, e o futuro, era exatamente aquilo que o vampiro mais temia. Pois que futuro poderia haver para eles? Perguntas como essa floresciam a cada gesto, cada palavra. Será que ela também gostava de noites chuvosas? Seria a semelhança entre elas só física? O quanto ela teria da mulher que amou, afinal?

— Tem certeza que não quer ajuda? Posso ao menos cortar os legumes. — perguntou, tentando relaxar.

— Já mandei ficar quietinho aí, senhor Arthur. A cozinha é minha agora.

Comida mortal...fazia muito, muito tempo que aquilo perdera qualquer valor para ele.

...

Conforme se arrastou por caminhos escuros, de pés na lama, se viu cada vez mais próximo do som da batida vital. Por fim, encontrou um casebre caindo aos pedaços, com uma cerca malfeita na frente de um terreno sem valor e um cão velho e doente como guarda costas. O som vinha de lá. Arthur entrou facilmente pela janela, se vendo em um cômodo cheirando a mofo. De lá tinha visão de três pessoas dormindo tranquilamente, uma na rede e duas no chão. Na rede, um homem velho, magricelo e com uma espingarda ao lado, descansava. No chão, duas jovens que aparentavam vinte anos, usavam pouca roupa e tinham traços indígenas. Provavelmente mestiças do velho com alguma falecida. O invasor exibiu um sorriso nervoso enquanto olhou para a dupla, seus corpos convidavam ao pecado, mas o que ele queria delas era outra coisa. O som dos corações batendo, o cheiro, as presas que surgiam em sua boca sem que ele sequer percebesse. O som de suas vidas o chamavam a perder-se nele, e o soldado não tinha forças para resistir.

E então o prazer! A perdição pecaminosa do fluir da vida, o sabor doce e delicioso do sangue humano. Ele perdeu qualquer noção de moral, tempo ou racionalidade. Como um animal faminto que destroça a presa ainda viva, ele bebeu das duas enquanto as manteve juntas a si. Um abraço de morte, um beijo de adeus. E então um som de tiro! Arthur abriu os olhos assustado, enquanto sentia uma queimação estranha em suas costas. Era cheiro de pólvora, percebeu, e o alvo foi ele.

Quando voltou a si, se viu diante de um velho trêmulo que gritava irracionalmente, enquanto começava a se afastar e recarregar a arma. Os olhos do homem estavam vermelhos de ódio enquanto resmungava coisas que o monstro sequer conseguia compreender, dado seu estado emocional abalado. Ele lambia os lábios enquanto se virava na direção daquelas jovens...ou do que restou delas. A mais baixa estava com o corpo seco, totalmente drenada por ele. A outra estava ainda viva, mais ofegante e semiconsciente, com sangue jorrando pela virilha ferida, exibindo os furos deixados por um par de presas.

O que ele fez? Como foi capaz? Arthur não conseguia entender como um homem como ele, um bom homem, poderia fazer tal monstruosidade. Um homem que jamais abusou de mulher alguma, mesmo quando muitos outros o fariam. Um homem que jamais traiu a mulher amada, mesmo quando isso seria fácil e rotineiro. Fosse nas aldeias indígenas, nas vilas, ou em tantos outros lugares. Como um homem que tentava ser justo se transformou em um incubo satânico?

Lágrimas rubras molhavam o rosto de um monstro assustado consigo mesmo, enquanto gritava de desespero! Enquanto ele fugia daquela cena trágica. Enquanto corria como um animal acuado e ferido, ao som de outro tiro.

— Não, não, não! — gritou, lamentando. — Eu cumpri minha promessa, me mantive vivo. Eu lutei até o fim, então por quê!? Por que me transformar em um demônio? Por que me tirar a única chance de encontrar minha amada no paraíso?

Coisas sem sentido, perguntas sem respostas. Ou quem sabe, teria ele enfim encontrado o sentido e resposta de tudo aquilo?

...

Alice estava usando um vestidinho básico, para além de sapatilhas confortáveis. Arthur ofereceu sua casa para um jantar mais íntimo, e ela se ofereceu para cozinhar ao invés de simplesmente encomendar comida. A vida corrida não lhe deixava tempo ou energia para cozinhar sempre, mas ela gostava de temperar certos momentos com seus próprios pratos. E sem dúvida, essa noite era um desses momentos.

Jantar em casa... é lógico que ela sabia o que isso significava. Não existiam regras sobre quando se devia ou não fazer sexo com uma pessoa, por mais que alguns tentassem colocar dessa forma. Ela já saiu com homens com quem só veio a ter relações após uma dúzia de encontros, como saiu com outros com quem fez no primeiro. Dependia do ritmo, da química... coisas não padronizáveis. Bom, Arthur se encaixava no segundo tipo, alguém por quem ela sentia uma atração realmente forte. Na verdade, ela podia jurar que nunca ficou tão atraída assim por ninguém, e isso a assustava. Ela se perguntava quem seria ele realmente, e por que raios se sentia atraída como uma mariposa pela luz. E então ela o viu, e corou.

— ...Ei, eu mandei esperar quietinho lá na sala. Preciso de privacidade para fazer minha obra-prima. — disse, desviando o olhar até recuperar a compostura. — Já lavei, cortei e preparei a base da receita, agora...

Sua fala foi se perdendo conforme viu aquele homem sobre si, com suas mãos firmes segurando seu rosto. O corpo dele pressionando o seu próprio contra a geladeira, em um movimento íntimo. Ela tentou argumentar, mas se viu totalmente refém de lábios que beijavam seu pescoço, seu ombro, sua orelha...

— O jantar, eu... não terminei.

Ela se sentiu ficar completamente arrepiada, enquanto mãos passeavam pelo seu corpo, firmes, macias e travessas. Mãos que a levantam pela cintura, a tomando para si, como alguém que requisita o que é seu por direito.

— Ah, que se dane o jantar! — disse enfim, admitindo a derrota.

Alice libertava Arthur da camisa, enquanto observava aquele corpo: belo e desejável. O vestido fino os deixava sentir o contato do corpo um do outro, ainda que não totalmente despidos. Ela sentia sua vontade, seu desejo pulsando, e logo abriu a calça dele enquanto se beijavam com desejo, com furor. Como se suas vidas dependessem daquilo. Os dois faziam uma verdadeira bagunça, derrubando tranqueiras indesejáveis enquanto buscavam a melhor posição para utilizarem a cozinha. Mãos hábeis despiram a jovem de um vestido que não tinha mais motivos para estar ali, enquanto ela afundava a cabeça dele entre seus seios. Lindos e firmes, ele constatou, reféns de um sutiã que logo foi levado pelo vento.

Arthur explorava aquele corpo sem hesitação, suas mãos abrindo caminho por onde milhares de homens desejariam seguir. Entre beijos desesperados e um desejo crescente, eles se fizeram um! Cedendo aquele instinto primitivo, irracional e delicioso. Entre gemidos, coxas que prendiam um homem com força a si, e braços que moviam uma mulher para onde desejavam, eles se entregam a experiência mais intensa que provaram em anos. Talvez na vida. O que começou na cozinha, continuou no quarto, onde uma dança de corpos nus fez uma cama balançar e gemidos serem ouvidos pela noite.

Foi com um sorriso nos lábios que o casal descansou. Nus sobre a cama, seus corpos entrelaçados e ofegantes.

 — Você não tem noção do quanto é linda. — sussurrava ele enquanto brincava com seus cachos dourados. — De como é fácil para um homem se perder nos seus olhos.

Ela o presenteia com um enorme e belo sorriso, e olhos que brilhavam como as luzes de um farol em meio a um oceano escuro.

— Acho que você está se confundindo. — disse ela, mãos sobre o rosto dele. — Essas coisas, você diz antes de levar a garota para cama. Depois de levar, é só fumar um cigarro e dormir.

O comentário bem-humorado é selado com um beijo carinhoso, e eles permanecem juntos pelas horas seguintes.   

...

Eram 5h00 da manhã quando Alice se levantou. Após tomar um banho rápido, se despediu, dizendo que tinha que correr para chegar em casa, trocar de roupa e ir trabalhar. Ele lhe deu o dinheiro para o táxi, que ela só aceitou para ficarem quites pelo vinho da primeira noite. Ele adoraria levá-la, mas sabia que não era possível. Assim como muitas outras coisas também não eram, mas preferia não pensar nelas naquela hora.

Arthur não conseguia tirar o sorriso do rosto enquanto caminhava pela casa, constatando a bagunça na cozinha. Se deu conta de que ela não comeu nada durante toda a noite, mesmo após o prazer. Enquanto começava a tomar suas precauções rotineiras para escurecer totalmente a casa, percebeu que algo estava ligeiramente diferente. Um pedaço de papel, branco e pequeno. E nele, uma mensagem escrita com letra de forma vermelha:

“Achei você”.


Notas Finais


E finalmente aconteceu! Os dois se entregaram, mas logo agora que tudo parecia estar dando certo, um mal desconhecido bate a porta. Quem será?

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