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História Túmulo de Sangue - Interrompendo o baile


Escrita por: Caus

Notas do Autor


E então, prontos para saber o que ocorrerá ao nosso casal de vampiros? Aproveitem que a Alice também está nesse capítulo, e algo importante está para acontecer.

****Lembrem de ler a mensagem final, nela eu dou um aviso muito importante sobre a história...mas só depois de aproveitar o capítulo, hein****

Capítulo 9 - Interrompendo o baile


Serra de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. 

 — Preciso que seja forte, o carro ainda pode explodir, e fora isso, há algo vindo. — Ele diz para uma mulher que olha para o carro virado, procurando a bolsa onde guarda sua arma.  

Assim que conclui a frase, seus perseguidores se fazem visíveis: E então ele os vê: cães, um grupo de ao menos quatro, rosnando e latindo para o casal. São Rottweilers, reconhece ele, animais grandes e robustos, de pelugem baixa e escura, e no caso desses, visivelmente adestrados para a violência.  Arthur se coloca em posição defensiva, deixando a mulher atrás de si, se arrastando por um carro destruído em busca de sua arma. Nota a presença de outros dois, rodeando o carro pelo outro lado, e ainda sente algo se movendo pelo mato a cima, mas como está abaixado, seu campo de visão é limitado. Enquanto analisa a situação desfavorável, o primeiro movimento acontece. 

Da sua lateral esquerda, o primeiro dos cães ataca, avançando com presas pontiagudas em direção ao braço exposto! Arthur desvia, e com velocidade e graça chuta o animal para longe do carro, mas com isso, acaba atraindo os ataques de outros dois, que miram sua perna e pescoço. Ele bloqueia a ambos, pegando os animais pelo pescoço com força inumana, enquanto se ergue e vê a vida aos poucos deixar animais que choram sob suas garras. Então um tiro certeiro em seu braço direito, o faz soltar um dos animais, que se arrasta enquanto emite ganidos agudos que, em outra situação, seriam comoventes. O projétil veio de algum ponto a cima da estrada, ele sabe, mas o mato onipresente e as distrações não lhe permitem precisar a origem. O vampiro se abaixa novamente, terminando de matar o que ainda mantinha seguro, em seguida o lançando para longe, com violência.  

Vanessa é surpreendida pelo ataque de dois cães raivosos, agachada de quatro em um carro cheio de cacos de vidro. Mas acerta em cheio uma tira desse mesmo vidro na bocarra escancarada de um deles, justo quando estava a poucos instantes de ter seu frágil pescoço destruído por ela! O feroz animal tomba, enquanto a fêmea ataca seu antebraço, prendendo-o entre os dentes, e fazendo a imortal se lembrar que a mordida mais poderosa entre os cães, pertence a essa raça.  

Observando à tudo, uma mulher impressionante. De cabelos e olhos negros, alta e atlética, porta uma escopeta calibre doze. Ela avança com passos silenciosos, capazes de iludir mesmo homens bem treinados...mas não a alguém como ele. Arthur a encara, sua falta de expressão atiçando a curiosidade do imortal. 

— Parece que nosso inimigo é uma mulher. — lamenta, enquanto limpa o sangue das mãos nas roupas. — E tem seu próprio estoque de prata. 

Outro tiro, dessa vez, atingindo a mulher, mesmo que dentro do carro. A bala atravessa seu ombro esquerdo, a fazendo gritar de dor pela primeira vez em muitos anos. Deduzindo que o alvo original fora sua cabeça, se força a recuar, ainda que sentindo sua carne sendo perfurada por um cão raivoso e insistente. Quando enfim se apodera da arma, dispara com sua Magnum contra o cão que prendia seu braço, rosnando e tirando sangue daquela mulher aborrecida. O cachorro morre, espalhando sangue pela face de sua executora, e a deixando com ferimentos piores que antes.  

— E quem será lá em cima? Gêmeas?  

Vanessa volta para a frente do veículo, enquanto vampiro e caçadora se estudam antes do primeiro golpe, o que a torna um bom alvo para a antiga madre. Ele se move por reflexo, recebendo o tiro em seu peito no lugar da cabeça da sua parceira, enquanto avança contra a inquisidora que larga a arma e desembainha duas lâminas curtas prateadas. Vanessa assiste a cena assustada, mas de certa forma feliz, pois apesar de tudo, ele ainda é capaz de se sacrificar por ela. Quem sabe, lá no fundo, ainda a amasse, ela quer acreditar. 

Arthur desvia de uma sequência de ataques de espada de Paola, constatando ser ela uma esgrimista experiente, mas que deixa a guarda aberta demais. Ele usa seu corpo para desequilibrá-la, prender suas mãos e por fim encravar suas presas de sanguessuga no pescoço desprotegido da madre! Ele suga com avidez, buscando drená-la o mais brevemente possível, antes que ela tenha outra chance de atacar sua companheira de tantos anos. Mas então, a surpresa! O sangue dela queima seus lábios, o céu da boca, sua garganta... tudo queimando por dentro. 

Arthur grita enquanto se afasta, seu corpo e orgulho feridos. A estranha mulher ignora o ferimento, e como um robô, reassume a postura de luta, enquanto observa sua armadilha funcionar. Seu sangue morto e coberto de pó de prata sendo cuspido por um demônio furioso. Prata, queimando em sua garganta, peito e ombro, balas forjadas desse material incomum, que por algum motivo místico é capaz de causar mal aqueles como ele. A lâmina é do mesmo material, cujo brilho arde em seus olhos, e o corte queima sua pele. A vampira permanece abaixada por medo de novos tiros de cima, enquanto se vê obrigada a lidar com os cães ainda vivos, e que parecem cada vez mais furiosos. Ela estoura a cabeça do cão mais atrevido, mas depois se vê derrubada pelo último ainda disposto a lutar, sua poderosa mordida a meio centímetro do seu rosto.  

Vanessa com muito custo consegue se livrar das presas do aprendiz de Cérberus, enfiando suas unhas profundamente nos olhos do animal, e quase perdendo o braço no processo. Ela cai ao lado dele, rilhando os dentes de dor e praguejando baixo. 

E então ela nota a fumaça....e o fogo. Só então se dando conta do princípio de incêndio em um carro que pode explodir a qualquer momento. Arthur está sob pressão, a caçadora realizando uma sucessão de ataques rápidos e brutais! A prata em seu organismo queima por dentro, limitando suas capacidades e concentração, e os golpes que atinge na mulher, por mais que a firam gravemente, não parecem afetá-la ou diminuir seu ritmo. Passados alguns momentos, o vampiro está apoiado em uma perna e cuspindo sangue, enquanto desvia do fio de uma espada curta, de tiros de prata e de eventuais disparos ocultos. Totalmente focado em sobreviver, se vê atingido por algo inesperado. A explosão. 

Vanessa se joga contra ele, afastando a ambos do foco do estouro, enquanto o abraça forte, rolando mais alguns metros pelo chão de terra, lama e mato. Quando tudo acaba, ela exibe queimaduras graves, com o corpo quente e esfumaçado, sobre o corpo do homem que ama mais que tudo. Não bastasse as queimaduras externas, ele tinha que suportar as externas, agora. 

— Descanse, minha Vanessa, minha querida menina travessa. — Arthur sussurra, o gesto dela o fazendo recordar de todos os belos momentos que tiveram juntos. O vampiro a segura gentilmente, ignorando suas próprias queimaduras que, graças a ela, são menores, e a colocando com delicadeza atrás de si. Por mais que ela o irritasse, ameaçasse até mesmo aquela que ama, o que a motivava era a necessidade que tinha por ele... e era por isso que ele era incapaz de fazer mal a ela.   

Já se pode ouvir o som de sirenes de polícia se aproximando, enquanto ele procura a caçadora com seus olhos noturnos, e não encontra. Ouve apenas o som de um motor sendo ligado na estrada, e o furgão em fuga. O monstro usa toda a força de vontade que possui para resistir ao impulso de disparar atrás de seus inimigos e destroçá-los selvagemente, sabendo que a prioridade é cuidar dela. Cuidar dela e não levantar suspeitas, isso é tudo o que importa. 

Foi com um resmungo que Isaac deu partida no carro, já com Paola no banco de trás. Uma pena, pensa ele. Chegou tão perto de pegá-los, tão perto de ter duas daquelas criaturas sob seu poder...ou mais provavelmente uma, já que Arthur estaria melhor morto. Infelizmente o destino conspirou contra ele, com a polícia aparecendo ali tão rapidamente...e isso após perder seus cães, usar o fuzil de assalto com mira telescópica e os truques do seu melhor golem. 

Mas apesar de tudo, ele não conseguia evitar um sorriso no rosto. Afinal, ele mostrará a eles do que é capaz, e agora só precisa estudar os próximos passos. E rápido.  

   ...  

Hospital estadual.  

 A jovem está no refeitório do hospital, bebendo café quente ao som de um noticiário devidamente ignorado por ela, perdida nos próprios pensamentos. Em sua busca por se afogar no trabalho, pegou um emprego temporário longe de casa, apenas cobrindo as férias da psicóloga hospitalar efetiva. A última paciente era uma mulher mais velha, com um sorriso gentil que lembrava o de sua mãe.  

Alice tenta focar apenas nos momentos bons que passou ao lado daquela mulher guerreira e amável, mas é impossível não lembrar de seus últimos momentos. Eles são bem nítidos em sua memória, com sua mãe morrendo, completamente abandonada pelo homem que amava. Ela sabia que foi usada, sabia que tudo o que ele lhe dizia eram mentiras e promessas vazias, que ela nunca seria a única na vida dele. E ainda assim... 

Ainda assim ela queria vê-lo, queria estar com ele, acima de tudo. — um sorriso triste se segue. — Uma boba, assim como ela mesma era. A psicóloga, que tanto temia se ver na mesma situação, tanto fugia de uma relação em que não fosse a única, em que não tivesse absoluta certeza de ser importante, logo ela, agora não consegue tirar da cabeça um homem que não hesitou em descartá-la. Pensa nele, sonha com ele, o deseja...o ama. Ela luta contra esse pensamento, algo inconcebível! Jamais amou homem algum, não pode ser ele o primeiro, não justo o homem que brincou com ela e depois lançou fora.  

Uma lágrima molha seu rosto, que logo é enxugada pela garota. Ela respira fundo enquanto sopra seu café e o bebe, tentando aquecer o corpo, e o coração.  

— Miga do céu! — grita, Tati, surgindo da porta ao lado. — Tava te procurando por todo canto. 

Alice olha assustada para a amiga surgida do nada. Na verdade, alguém que só está ali por conta de um certo médico com quem está flertando, e pretende sair no fim da noite. A jovem nem responde, apenas olha para a amiga de forma desinteressada. 

— Você não vai acreditar em quem foi trazido para o hospital: o seu Arthur, em pessoa! — gesticula, para uma amiga apática. — Ouvi que o coitado tá todo sujo de sangue, arranhado e até queimado. 

— Como é!? — Dessa vez é Alice quem grita, enquanto se ergue por impulso, deixando cair no chão a xícara e o líquido que não é mais capaz de aquecê-la. 

 ... 

 Arthur e Vanessa estão no setor de emergência, onde uma médica e uma enfermeira prestam o atendimento básico. A médica tem quarenta e oito anos, negra, de cabelos curtos e bonita para a idade. A enfermeira é uma jovem de vinte e um anos, bastante magra e de cabelo encaracolado escuro. A garota parece um pouco tensa, enquanto a médica olha para os dois de forma desconfiada, pois a quantidade de sangue nas roupas e corpo, além dos trapos, sugerem ferimentos nele muito mais graves do que os que elas observam.   

— Vocês foram atacados por cães, é isso? — pergunta a médica, enquanto a enfermeira ajuda o casal a tirar as partes das roupas em pior estado ou que cobrem os principais ferimentos.  

— Rottweilers, para ser exata. Seis cachorrões grandes e raivosos. — fala a vampira, rosto sujo de sangue e sorriso zombeteiro, enquanto a enfermeira rasga a parte da calça em que ela foi mordida e queimada. — Isso depois do carro ter capotado, claro. 

Arthur apenas suspira, tentando decidir o melhor curso de ação para aquilo tudo. Sua companheira precisava de descanso e sangue, e fugir com ela na frente da polícia era um risco grande demais. Matar polícias gerava problemas maiores ainda, e tanto uma quanto outra dessas opções, poderiam atiçar o desejo de sangue do caçador, tentado a terminar o que começara naquela noite. Então o melhor foi serem levados para o hospital, se recuperarem, e só depois disso, resolverem tudo com o máximo de cuidado. Enquanto os policiais desciam o barranco com lanternas, Arthur se concentrava em forçar o corpo a sarar o máximo possível de ferimentos, mesmo que isso o deixasse no limite de suas forças...e faminto. Quanto a Vanessa, não teve muita escolha. Ela estava inconsciente, queimada e ferida em muitos pontos, de modo que foi levada numa maca na mesma ambulância que ele, que se esforçou para mantê-la sob controle quando despertou. Mas aos poucos, ainda que lentamente, o corpo daquela imortal começara a se regenerar de todo aquele castigo. Estando, quando chegou ao hospital, ao menos trinta por cento melhor do que antes, o que causou confusão em quem a acompanhava.  

As profissionais seguem seu trabalho. Eles são então separados por cortinas brancas, cada um em um leito, por conta da necessidade de se despirem, As roupas do homem foram trocadas por um uniforme de hospital, os ferimentos foram limpos e a enfermeira que cuida dele agora encara algo que julga estranho e perturbador. 

— Se... seu braço. — gagueja uma garota de olhos arregalados. — Eu jurava que o corte estava bem pior, quando limpei, faz cinco minutos.  

— Impressão sua. — O imortal diz, enquanto afasta o braço que lentamente se recupera. 

A jovem se afasta bastante nervosa, enquanto procura por algo em uma das estantes. Mesmo faminto, e quase sem sangue no corpo, a carne morta do monstro busca superar os ferimentos causados. O processo é lento, porém perceptível, e ele sabe disso. Nesse momento, a cortina ao lado é aberta por uma sugadora deitada em um leito, nua e cheia de ferimentos que deixariam um ser humano normal, inconsciente ou sentindo muitas dores. Vanessa apenas sussurra, em um tom que ele possa ouvir.  

— A minha também parece bem desconfiada, acho bom você cuidar disso, Arthurzinho. Meus métodos são mais sangrentos e menos sutis.  

Quando a enfermeira retorna, dá de cara com o demônio de pé. Com um olhar penetrante e sorriso sedutor, ele segura nas mãos dela, enquanto fala suavemente, usando seu último recurso e poder: 

— Samantha, eu e minha parceira estamos bem. Você é uma excelente profissional, poderá ser uma grande médica se quiser. É só enfaixar as partes machucadas que podemos ser liberados. — A garota parece totalmente perdida nos olhos dele, incapaz de discordar, totalmente cativada. 

— Mas... você parecia tão ferido, tem certeza que não precisa de mais nada, senhor Arthur? — Ela pergunta, jogando o cabelo para trás com uma mão. 

— Sangue. Precisamos de muito sangue para ficarmos realmente bem. — Diz ele. 

 ... 

 Alice abre caminho pelos corredores e leitos, até se ver diante da porta que levará ao primeiro homem que já amou na vida, e o único que pôde machucá-la como ninguém mais poderia. Ela se lembra da noite do restaurante, da decepção, da raiva e da dor. Mas também se lembra do primeiro beijo, da noite de amor, do cordão e do que viu nos olhos dele. Por fim, se lembra de sua mãe, e de tudo que viu nos olhos dela.  

Estou tão doente quanto você, mamãe. Escrava de um sentimento que destruirá meu coração, pensa ela. 

E então abre a porta.

Quando a jovem entra na enfermaria, encontra Arthur com as roupas de hospital, alguns curativos, ombro direito e uma perna enfaixados. O jovem está sentado no leito, com a médica terminando de enfaixar seu antebraço. Já drenou do sangue hospitalar, algo amargo e que não é capaz de sustentá-lo por muito tempo, mas que ajuda em situações extremas. Para evitar mais desconfianças, Vanessa foi com a enfermeira até um quarto vazio, onde poderia drenar dos muitos pacotes sem ser vista. O corpo dele já está quase totalmente restaurado, apenas alguns hematomas e arranhões ainda visíveis. As faixas são apenas para manter aparências, o que no caso dele é mais simples. Quanto a Vanessa, serão necessárias medidas mais complexas, devido a melhora dela não ser algo disfarçável e não poderem dormir lá, pelo terror que o sol representa para os mortos-vivos. Obviamente, nada disso é sabido pela mulher que adentra o local, apenas que o homem por quem é apaixonada está ferido e precisando de ajuda.  

O coração dela acelera, sua mente nublando, a intensidade do que sente por ele se traduzindo em lágrimas que tentam forçar saída. Ele encontra seus olhos com surpresa, sorrindo por reflexo. Sempre se surpreende pela facilidade com que consegue sorrir com ela. Alice se aproxima com passos lentos e inseguros, aos poucos aumentando de velocidade. Ele estende uma mão que ela ignora, avançando para um abraço apertado e carregado de significado. 

— Arthur.. o que aconteceu com você? — Pergunta ela, enquanto envolve o pescoço do jovem com os braços, e o molha com suas lágrimas. 

Ela queria poder colocar em palavras o quanto sente a falta dele, o quanto pensa nele todos os dias, o quanto deseja estar com ele mais do que qualquer outra coisa que já possa ter desejado! Mas mesmo sem fazê-lo, ele pode sentir, e por isso a envolve nos braços, também com força e afeto. Sentindo seu cheiro, seu calor, o pulsar daquele coração contra o seu próprio, aquelas lágrimas puras em contato com sua carne. Não importa o quanto tente fugir e se afastar, ele logo se dá conta da enorme falta que ela lhe faz. Do quanto lhe dói se manter longe, uma dor que não pode mais suportar.  

— Só uma fatalidade. Eu estou bem, ficarei bem. — Diz ele, enquanto se entrega ao momento com o qual sonhava desde que a magoou naquele restaurante maldito. 

Aquela médica experiente e que conhece a psicóloga de vista, apena sorri, logo saindo para trás das cortinas que levam a outros leitos, em sua maioria vazios. Já devidamente convencida a cooperar e acreditar naquela cura milagrosa e estapafúrdia. 

Sua racionalidade tenta convencê-lo a se afastar, protege-la, mesmo que para isso tenha de feri-la novamente. Mesmo que precise fazer aquele coração, cheio de vigor e desejo, sangrar mais uma vez. É uma voz distante e fraca, que logo se cala diante da força avassaladora do que ele sente naquele momento. Ele bendiz aquele ataque maldito, pois se é esse o prêmio que recebe por ele, que venham mil outros a cada noite! 

Os dois se deixam ficar nesse abraço, as lágrimas dela ainda descendo, molhando seu ombro enfaixado. As mãos dela tocam as faixas, sentindo por ele, perdoando naquele momento qualquer mágoa e rancor, entregando-se aquele gesto simples, mas que diz tanto para os dois. Ela ergue então o rosto, lentamente na direção do dele. Os olhos de ambos se encontram, brilhando, refletindo um amor capaz de resistir e superar qualquer obstáculo: seja na vida, seja na morte. Com a mão livre ele acaricia o rosto dela, movimentos gentis e cheios de afeto, que a fazem fechar os olhos e se sentir novamente em paz. Novamente amada. Completa. 

Um beijo suave em sua testa, em meio aqueles fios dourados como os de um anjo. Seu anjo. Os lábios então descem aos olhos e nariz, até lentamente chegar aos lábios, já cheios de ansiedade e desejo. Eles se beijam, ignorando à tudo e a todos! Seja o local, as circunstâncias, as feridas e os medos. Um beijo desesperado, como se há qualquer momento, fossem perder essa felicidade tão tênue, essa expressão tão intensa e fugaz do que guardam dentro de si. O tempo deixa de fazer sentido. Como fora há séculos atrás, como na época em que eram um, unidos por uma aliança de amor, confiança e fidelidade. Uma época sem mentiras, quando Aurora conhecia o homem por trás da luta e do sangue, e o amava para além disso. 

Ele enxuga as lágrimas do rosto da amada, enquanto ela segura seu rosto e sente seu cheiro. Não há necessidade de palavras entre eles, pois o amor que os une é algo visível e palpável naquele lugar. Apenas permanecem assim por um longo tempo, todos os pecados perdoados, o sentimento queimando tão forte quanto antes. 

— Eu estou doente, doente por algo que eu quero te dizer já faz algum tempo...e que nunca me perdoei por não o fazer antes. — Ele sussurra ao ouvido dela, beijando seu rosto. 

— Então você deu sorte, o remédio está bem ao seu alcance. — Ela sussurra de volta, beijando suas mãos.  

— Eu a amo, Alice. Amo como jamais seria capaz de amar a qualquer outra. Amo com toda a força com que é possível amar alguém, amo como se já a amasse por séculos a fio, e hoje pudesse dizer isso, finalmente, face a face.  

Ela sorri, aquele seu sorriso doce e infantil, o sorriso que o deixa cativo a qualquer capricho daquele ser divino, encarnado a sua frente. E sorrindo, diz ao seu amado: 

— Não me entendo, deveria odiá-lo, fugir de você, lhe dar um tapa ou simplesmente o olhar de cima. Mas aqui estou, diante de você, com o coração derretido e sorrindo como uma menininha que ganhou o melhor presente de todos! Também amo você, senhor Arthur, amo como você não merece que alguém o ame, amo como temo me arrepender por amá-lo, amo com tanta força que meu coração quase para ao dizer essas palavras. 

Eles sorriem, e simplesmente aproveitam o momento. Decididos a viver esse amor a qualquer custo, correr todos os riscos, ir contra todas as expectativas. Ele falará com Vanessa, abrirá seu coração a ela, e a fará entender que eles jamais ficarão juntos novamente. A ameaçará se for necessário, e se for preciso...não, ele não quer pensar nisso! Não será preciso ir tão longe, não precisará derramar o sangue dela para ser livre. 

Mas as vezes, a felicidade não parece feita para durar. 

O casal ouve gritos! Som de correria, e pessoas em pânico. Alice se assusta e olha para ele, que a segura forte pela mão e avança lentamente em direção ao corredor, sujo de sangue. A frente deles, os corpos da médica e enfermeira, seus olhos arregalados, pescoços destroçados e cadáveres secos, como se tivessem o sangue drenado de seus corpos. Aquela jovem cientista não consegue conter o grito de horror, ao se deparar com aquela cena que parece saída de pesadelos! Arthur a abraça, tanto para protegê-la quanto para confortar a si mesmo, tentando convencer-se que aquilo não foi sua culpa.  

Há sons de tiros, e logo se fazem ouvir gritos do policial responsável por chamar a ambulância e escolta-los até aquele hospital. Há pessoas assustadas, abaixadas no chão ou sentadas com as mãos na cabeça, tanto adultos, velhos, quanto crianças. Um rastro de sangue segue pelo meio deles, enquanto se ouve o som de carros sendo ligados no estacionamento, e correria de pessoas em condições de fugir de lá.  

— Meu Deus, preciso saber onde a Tatiane foi parar. — Alice se lembra, preocupada com a amiga e pegando o celular. — Vamos, atende logo, sua maluca! 

Arthur olha em volta e caminha a frente, um mal pressentimento perturbando sua mente. Sua amada está ao alcance da visão, e ele logo começa a ouvir o som de um celular tocando sem parar, pouco a frente. Ao entrar no refeitório, encontra o celular que toca uma música da qual não gosta, assim como a dona daquele aparelho, estirada sobre uma mesa. Morta. Seu peito atravessado, deixando um buraco vazio onde antes estaria um coração pulsante. O coração de uma mulher cheia de vida, sonhos e desejos. Um coração esmagado e despedaçado, caído aos pés do corpo. 

Ele ouve os sons de passos atrás de si, passos lentos e hesitantes. Passos de alguém que teme encontrar o pior...e encontra. Ele desliga o aparelho, enquanto olha para sua amada e vê o mundo dela se partir diante de seus olhos. Ela grita, surta, por revolta, repulsa e horror! Ele vai até ela, a tirando de lá, protegendo no pouco que ainda pode aquele coração, de se rasgar ainda mais diante daquela imagem demoníaca.  

Culpa dele, ele sabe. Culpa dele...ela não pode saber, ou ambos perderão o único consolo que ainda possuem. Um ao outro.    


Notas Finais


Então pessoal, o negócio é o seguinte.
Quem leu minha história "Contos de Garras e Sangue", percebe que essa história aqui tem muitas semelhanças com ela. O casal principal, a trama, os principais personagens...fiz muitas alterações no cenário, visual, nomes, mas a essência não mudou tanto. Acontece que escrever essa história me mostrou que vou me divertir mais fazendo a continuação da Contos de Garras e Sangue que a adaptando, como foi o caso. Desde o início aquela história teria um segundo arco, que não fiz por diferentes motivos, mas que hoje acho necessário fazer.

Então eu peço desculpas a você que vem lendo, mas a saga do Arthur e Alice fica por aqui, para que a saga de Adam e Claire possa voltar. Não apenas eles: Paul, Andy, e mesmo personagens vistos em outras histórias minhas, como Charlote e Anton estarão presentes.

Meu primeiro passo será corrigir alguns pontos daquela história, para que fique digna da continuação. Nada que impeça o entendimento para quem já leu a saga toda, e não terá vontade de reler, mas especialmente importante para quem quiser pegar a história do começo, ou simplesmente revisitá-la saboreando as sutis diferenças.

Assim que terminar de editar a antiga, começo a postar a nova, um novo arco com um novo nome e capa.

Um abraço, e deixem seus esporros, opiniões, e tudo o mais nos comentários, que terei prazer em ler.


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