História Tuyo - Soy El Fuego Que Arde Tu Piel

Minhas pernas estavam cruzadas e pendentes, enquanto eu me equilibrava naquele banquinho do bar. Até para o meu tamanho, era difícil. Os saltos e o vestido justo ao corpo, formando o desenho de um envelope, com uma fenda arrojada na lateral só me deixavam mais abobalhada, por estar "sozinha", naquela "festa". Minhas unhas tilintavam no copo de uísque a minha frente, no ritmo da música pulsante da pista de dança. Todos os meus poucos amigos e conhecidos estavam naquela boate apertada, e reservada para todo o pessoal do MasterChef e seus convidados. Um sorriso brotou em meus lábios ao ouvir o toque característico daquele tango abrasileirado, e um toque sob minha cintura tirou-me do transe, da obsessão de encarar meu copo. Meio cheio ou meio vazio?
- Dios mio! - Quiquei no banco, com as duas mãos na bancada ao virar rapidamente, e senti minhas bochechas corarem ao perceber quem era. - Fogaça! - Exclamei, levantando uma das mãos e fazendo-a balançar no ar. Meu sotaque ficava ainda mais evidente regado ao álcool. 
- Me concede essa dança? - Ele perguntou e em questão de segundos já estava segurando minha mão, e o até então, meu colega de perfume marcante, e sorriso que me encantava facilmente já estava me arrastando para o meio dos corpos que tentavam se mover em meio a batida latina. Era difícil algo lembrar-me da Argentina ultimamente, e aquele friozinho na barriga, e a vontade de dançar, provocavam isto.
- No debemos hacer esto... Isto, quero dizer... - Parei em meio a minha confusão, e o sorriso dele continuava o mesmo. Suas mãos firmes seguravam minha cintura. A pista era pequena, e estávamos sendo levados. Contribui com o entrelaçar dos meus braços em seu pescoço, e permiti que meu quadril se movimentasse como a música pedia.

Soy el fuego que arde tu piel
Soy el agua que mata tu sed
El castillo, la torre yo soy
La espada que guarda el caudal

Estar conectada com mis raíces deixa-me um tanto aérea. A voz melódica do cantor ecoava, e meus quadris já tinham o controle absoluto das minhas atitudes. Minha cabeça podia estar rodando um pouco pelo uísque e pelos martines de antes, mas o que eu estava sentindo agora, era diferente. Estava de olhos fechados e de costas para ele, seus braços fortes envolviam minha cintura, de forma que sua mão espalmada estava logo acima do meu ventre, segurando-me perto. A ponta de um dos dedos encontrava a renda da minha calcinha, não sabia se ele notara, mas eu notara. Rebolava no ritmo lento da melodia, e me arrepiava com sua respiração irregular em meu pescoço. Qué estaba haciendo yo? 
Foi como um tapa forte em meu rosto, chocar com la realidad desta forma. Eu precisava sair daquele lugar o quanto antes. Já tinha decorado uma das saídas de emergência, e me apertar entre corpos se esfregando até a porta dos fundos, parecia ser a decisão acertada. Olhei para trás somente uma vez. E ele estava ao meu alcance.

Forcei a porta com o corpo, abrindo-a em um clique, e me encostei na parede fria do beco atrás do prédio. Minha respiração estava ofegante, e me apoiava com força sobre meus joelhos. Mierda. Arrepios, boca seca, calcinha molhada. Paola! Qué estaba haciendo? Como eu podia estar me entregando tanto, naquele lugar? Com ele? Tudo bem, que Jason e eu tínhamos acabado, mas... 
Fui interrompida pela sua chegada, forçando a porta também. Sua expressão estava estranha... Nunca o tinha visto desta forma. Preocupado talvez?