Victor estava confuso também. Ele não falava e nem demonstrava, mas eu sabia bem “ler” seus atos, falas e modo de agir. Lia e Angel voltaram para a casa da mais velha após terem certeza de que tudo estava bem.
O acordo teve início na quarta, hoje ainda é quita e o “acordo” termina no sábado. Já devem imaginar o que eu fiz, certo? Dei uma jogadinha de cabelo na Lia.
Dar uma jogadinha de cabelo é quando você vai e arruma uma desculpa, convence alguém ou suborna ela para conseguir algo que tu quer, você meio que mostra que tem poder, assim como uma mimada jogando o cabelo para demonstrar sua arrogância. No meu caso, eu convenci a Lia a estender a estadia da minha prima na casa dela e a do seu irmão na minha casa até o fim da tarde de domingo. Entendeu? Agora faz uma jogadinha de cabelo com a sua mãe!
Melhor prima, melhor amiga, melhor irmão.
Quando me dei conta da hora, já estava na hora do jantar.
— Victor? O que está fazendo?
— Procurando algum desenho. — Continuou olhando para a televisão.
— Está com fome?
— Um pouco.
— O que quer comer?
— Não sei... — Virou-se para mim. — Pode rolar aquele miojo? Você me disse que sabia deixar aquilo com um gosto incrível! — Sorriu. — Ainda estou com vontade, por favor Lu.
— Ai meu deus que fofo! — Coloquei as mãos no rosto. — Quer que misture alguma coisa?
— Faça do seu jeito.
— Yes! Eu vou fazer lá rapidinho e já volto, tudo bem? Tem duas temporadas de Coragem, o Cão Covarde na pasta “Confidencial” do pen drive que está na TV.
— Obrigado!
Fui com pressa para a cozinha, já procurando por tudo o que iria usar. Miojo de bacon, alface, salsicha, refrigerante, ketchup, uns temperos...
Coloquei a água do miojo pra esquentar enquanto picava a alface, o coloquei em uma tigelinha de vidro e temperei. Salada: OK. Coloquei o refrigerante nos devidos copos e despejei a massa do miojo na panela quando a água ferveu. Bebidas: OK. Piquei algumas salsichas e coloquei no miojo assim que o mesmo ficou pronto (junto com os devidos temperinhos), coloquei o prato principal em umas tigelas de plástico, caprichando bem na quantidade para ambos (eu não fiz um miojo só não tá, foi uns quatro de uma vez). Miojo: OK.
Fui levando as coisas de pouco em pouco para a sala, deixando tudo arrumadinho na mesinha de centro.
— Há! Está babando! — Apontei para ele, rindo de sua expressão hipnotizada.
— Não estou não. — Limpou a boca com as costas das mãos. — Você faz isso de propósito, não é?
— Não entendi.
— Desde que cheguei, você sempre faz coisas que eu gosto. Mesmo que sejam estranhas.
— Eu também gosto, então não tem problema. — Continuei sorrindo, lhe entregando sua tigela. — Só tome cuidado para não se queimar.
— O caldo próximo a borda sempre esfria mais rápido.
Um dos melhores jantares da minha vida. Miojin com salsicha e alface com ketchup é uma combinação bizarra, nojenta para alguns, mas deliciosa.
— Lukas, é normal você sentir que tem uma ligação com alguém? — Colocou a tigela de miojo vazia na mesinha e pegou seu como com refrigerante.
— Depende da pessoa. Tem gente que não acredita nisso. — Troquei minha tigela pela de alface.
— Você acredita?
— Não sei direito.... É como se você precisasse dessa pessoa pra se sentir vivo, não é? — Peguei um pouco com um garfo e levei até sua boca.
— Exato! — Comeu. Que cena fofa!!
— Você precisa de quem?
— Você. Quem mais poderia ser? Lia reclama que tenho o sono pesado demais, mas eu acordei do nada quando você chegou!
— Só por isso?
— Não, eu andei reparando em outras coisas desde aquele dia...
— Pode me contar? — Perguntei animado.
— N-Não! Segredo ainda.
— Está vermelho. — Acusei com o dedo.
— A culpa é sua!
— Minha culpa?! Beleza é algo natural meu amor! — Faz a jogadinha de patricinha mimada.
— Não é questão de beleza!
— E do que é?!
— Personalidade! Seu jeito Lukas!
— Ai meu pai.... Sério?
— Sério. — Desviou o olhar. — Como é a minha personalidade? Como eu sou?
— Hm.... Carinhoso, sincero, direto, não gosta de mentiras... faz de tudo para conseguir ver as pessoas ao seu redor bem.... Mas, pra que isso?
— Você cresceu sem os pais, mas nunca desviou do caminho. Você se mantém forte e suporta a dor dos outros para vê-los bem, mas se sobrecarrega e se destrói aos poucos. Por que você faz isso?
— Não sei.... É o meu jeito.
— Você tentou ser alguém que não é, foi a tentativa de fuga da realidade, mas percebeu que estava ser tornando outra pessoa.
— Eu voltei ao meu normal por culpa sua, culpa daquela caixa. Aquilo pode te ajudar também!
— Você já está me ajudando.
— Não é o suficiente! Victor, eu sei que aquilo terá um efeito maior. Aquilo vai te ajudar a, pelo menos, ter uma idéia de como era tudo!
— Lukas! Não se exalte!
— Não estou me exaltando! Eu só...
— Cala a boca. — Fui interrompido por sua fala... e seus lábios.
Meu coração parou. Sem brincadeira. Não é um beijo, só um selinho, mas...
Me sinto fora de órbita.
Eu consegui me lembrar perfeitamente de todas as vezes que já o beijei. Eu não sei explicar, foi como o meu primeiro selinho novamente, o qual foi com ele...
Ele se afastou após alguns segundos. Eu não sabia como encara-lo, mas era obrigado a manter o olhar sobre si.
— Está mais calmo?
— É sério que você fez essa pergunta? — Sorri envergonhado.
— Foi a primeira coisa que veio na cabeça. — O sorri desse garoto ainda me mata!
— Obrigado...
— Eu quem precisa agradecer, fanático por caveiras com asas de morcego.
— Você... — Não conseguia completar a frase devido a surpresa que sentia.
— Eu me lembro disso.
— Se rolar outro selinho, você vai se lembrar de mais coisas?
— Não custa tentar.
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