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História Um amor pra recordar Adaptação - Capítulo 1.2


Escrita por: AnaBVale

Notas do Autor


Aqui está a segunda parte do primeiro capítulo. Demorei mais do que previ, mas aqui está. Espero que gostem.

Capítulo 3 - Capítulo 1.2



  Bem, adiante, o meu pai e William não se davam bem, mas não era só por causa da política.
Não, parece que o meu pai e William se conheciam há já muito tempo. William era cerca de vinte anos mais velho do que o meu pai e, em tempos, antes de ser pastor, costumava trabalhar para o pai do meu pai. O meu avô apesar de ter passado muito tempo com o meu pai era, sem dúvida, um verdadeiro filho-da-mãe. A propósito, foi ele quem fez a fortuna da família, mas não quero que o imaginem como um homem diligente que se matava a trabalhar, assistindo
tranquilamente ao crescimento do seu negócio, enriquecendo aos poucos com o tempo. O meu avô era muito mais esperto do que isso. O modo como ganhou o seu dinheiro foi simples - começou como contrabandista de bebidas alcoólicas, acumulando riqueza durante o período da Lei Seca, trazendo rum de Cuba. Depois, começou a comprar terras e a contratar rendeiros para trabalharem nelas. Ficava com noventa por cento do que os rendeiros faziam com a colheita do tabaco, depois lhes emprestava dinheiro sempre que eles precisavam, com taxas de juro absurdas. Claro, nunca fazia tensão de receber o dinheiro, em vez disso, impedia-os de
liquidarem as hipotecas acabando por ficar com qualquer pedaço de terra ou equipamento que lhes pertencesse. Depois, no que ele chamava o seu "momento de inspiração", fundou  chum bancoamado Salvatore Banking and Loan. O único banco que existia num raio de dois conselhos tinha ardido misteriosamente e, com o começo da Depressão, nunca mais reabriu. Embora todo mundo soubesse o que realmente acontecera, jamais alguém disse uma palavra com medo de represálias, e esse medo tinha razão de ser. O banco não fora o único edifício a incendiar-se misteriosamente.
   As taxas de juro eram ultrajantes e, aos poucos, ele começou a apropriar-se de mais terras e bens à medida que as pessoas não conseguiam liquidar os seus empréstimos. Quando a Depressão atingiu o auge, apoderou-se de dezenas de negócios por todo o conselho, conservando ao mesmo tempo os proprietários originais como assalariados, pagando-lhes apenas o suficiente para mantê-los onde estavam, pois não tinham para onde ir. Dizia-lhes que quando a economia melhorasse, voltaria a vender-lhes os negócios, e as pessoas acreditavam sempre nele.
Nem uma única vez, porém, cumpriu a sua promessa. No fim, acabou por ficar com o controle de uma grande parte da economia do conselho, e abusou do seu poder de todas as
maneiras imagináveis.
Gostaria de poder contar que ele acabou por ter uma morte horrível, mas não foi o caso. Morreu numa idade bem avançada, enquanto dormia com a amante no seu iate ao largo  dasIlhas Caimão. Sobrevivera a ambas as mulheres e ao único filho. Que fim para uma pessoa como ele! A vida, aprendi, nunca é justa. Se se ensinasse alguma coisa nas escolas, deveria ser isso.
   Mas voltemos à história... William, quando viu que grande sacana era, na verdade, o meu avô, deixou de trabalhar para ele e ingressou no sacerdócio. Mais tarde, voltou para
Beaufort e começou a ministrar na mesma igreja que nós freqüentávamos. Passou os primeiros  anosa aperfeiçoar o seu número de fogo e castigo celestial com sermões mensais sobre os malefícios das pessoas avarentas, e isso deixava-lhe muito pouco tempo para qualquer outra coisa. 
Tinha já quarenta e três anos quando finalmente se casou; e cinqüenta e cinco quando a filha, Caroline Forbes, nasceu. A mulher, pequenina e magra, vinte anos mais nova do que ele,
teve seis abortos espontâneos antes da Caroline nascer e, no fim, morreu ao dar à luz, deixando William viúvo e com uma filha para criar sozinho.
Daí, claro, a história por detrás da peça de teatro.
As pessoas já sabiam disso, mesmo antes de a peça ser levada à cena. Era uma daquelas histórias que se ouviam sempre que William tinha de batizar um bebê ou assistir a um funeral.
Todos a conheciam, e é por isso, penso eu, que tantas pessoas se emocionavam sempre que assistiam à representação de Natal. Reconheciam-na como algo baseado na vida real, o que lhe dava um significado especial.
   Caroline Forbes estava no último ano da escola secundária, como eu, e já tinha sido escolhida  parainterpretar o anjo. Não que mais alguém alguma vez tivesse essa hipótese. Esse fato, claro, tornava a peça particularmente especial naquele ano. Ia ser um grande acontecimento, talvez o maior acontecimento de todos os tempos pelo menos, na cabeça de Srta Garber. Ela era a professora de teatro, e já se mostrava entusiasmadíssima com as possibilidades da peça na primeira vez que a vi nas aulas.
   Pois bem, eu realmente não planejara fazer teatro naquele ano. De verdade que não, mas ou escolhia isso ou Química II. A verdade é que pensava que iria ser uma disciplina "fácil",
especialmente quando comparada com a minha outra opção. Nada de papéis, ou testes, nem quadros onde teria de memorizar protons e neutrons e combinar elementos nas suas fórmulas adequadas... O que poderia ser melhor para um aluno no último ano? Parecia ser a escolha certa, e quando me inscrevi em teatro, pensei que iria poder dormir em quase todas as aulas, o que era bastante importante na altura, tendo em conta os meus hábitos de comedor de amendoins às tantas da noite.
   No primeiro dia de aulas fui um dos últimos a chegar, entrando segundos antes da campainha, tocar e escolhi um lugar nas últimas filas. Srta Garber estava de costas para a classe, ocupada a escrever o seu nome em letras grandes e cursivas no quadro, como se não soubéssemos como ela se chamava. Todo mundo conhecia - era impossível não a conhecer.
Era alta, media pelo menos dois metros, com cabelo ruivo flamejante e uma pele pálida que,  aos quarenta e tantos anos, ainda exibia sardas. Tinha também excesso de peso - diria honestamente que chegava aos cento e quinze quilos - e uma tendência para usar longos e  floridos  vestidos havaianos. Usava óculos com armações de tartaruga, e cumprimentava todo mundo com "Oláááaaa"', a última sílaba meio cantada. Srta Garber era única, disso não há
dúvida, e era solteira, o que tornava as coisas ainda piores. Um homem, não importa a idade,  nãopodia deixar de sentir pena de uma mulher como ela.
Por baixo do seu nome, escreveu os objetivos que pretendia alcançar naquele ano. A "autoconfiança" vinha em primeiro lugar, seguida da "autoconsciência" e, em terceiro, a
"realização pessoal". Srta Garber tinha a mania deste tipo de expressões, nisso antecipando a, psicoterapia embora na altura não se percebesse provavelmente disso. Srra Garber foi
pioneira nesse campo. Talvez tivesse algo a ver com a sua aparência física; talvez só procurasse sentir-se melhor consigo própria.
Mas estou apenas a divagar.
   Foi só depois de a aula ter começado que reparei numa coisa estranha. Embora a Escola
Secundária de Beaufort não fosse grande, tinha a certeza absoluta de que era freqüentada por igual número de rapazes e de garotas, sendo essa a razão por que fiquei surpreendido ao reparar que aquela turma tinha uma percentagem feminina de pelo menos noventa por cento.
Havia apenas um outro rapaz na sala, o que na minha opinião era bom e, por um instante, senti-me entusiasmado com aquele gênero de sensação "atenção pessoal, aqui vou eu". Mulheres, mulheres, mulheres... não podia deixar de pensar nisso. Mulheres e mais mulheres e nada de  testes á vista.
Pronto, sei que não era o rapaz mais perspicaz do bairro.
Então Srta Garber traz à tona a peça de Natal e nos diz que Caroline Forbes vai ser o anjo
naquele ano. Srta Garber pôs-se logo a bater palmas - pertencia à igreja, também - e muita gente pensava que ela tinha um fraquinho por William. Quando ouvi falar disso pela primeira
vez, lembro-me de ter pensado que era bom eles serem demasiado velhos para poderem ter
filhos, se alguma vez viessem a se juntar. Imaginem - translúcidos com sardas! Só a idéia
arrepiava todo mundo, mas claro, nunca ninguém falava do assunto, pelo menos ao alcance
dos ouvidos de Srta Garber e William. Mexericos é uma coisa, mexericos ofensivos é outra
completamente diferente e, mesmo na escola secundária, não éramos assim tão maus.
Srta Garber continuou a bater palmas sozinha até todos finalmente nos juntarmos a ela, pois
era, evidentemente, isso que ela queria. "Levante-se, Care!", disse. Então Caroline levantou-se e
voltou-se para nós. Srta Garber começou a bater palmas com mais força ainda, como se
estivesse na presença de uma verdadeira estrela de cinema.
   Pois bem, Caroline Forbes era boa garota. Era mesmo. Beaufort era tão pequena que havia
apenas uma escola primária. Daí que temos pertencido às mesmas turmas a vida inteira e
mentiria se dissesse que nunca tinha falado com ela. No segundo ano, Caroline ficara no lugar ao
meu lado, e até tivemos algumas conversas, mas isso não queria dizer que passasse muito
tempo com ela nos meus tempos livres, mesmo naquela altura. Com quem eu me dava na
escola era uma coisa; com quem estava depois da escola era outra completamente diferente, e
Caroline nunca constara da minha agenda social.
Não que fosse feia, não me entendam mal. Não era horrorosa, nem nada disso. Felizmente,
saíra à mãe, que segundo as fotografias que tinha visto não era nada má, especialmente tendo
em conta aquele com quem acabara por casar. Mas Caroline também não era exatamente o que eu
considerava atraente. Apesar de magra, com cabelo louro claro e meigos olhos azuis, a
maior parte do tempo parecia algo... sem graça, e isso só quando se chegava a reparar nela.
Caroline não se preocupava muito com as aparências exteriores, pois estava sempre à procura de
coisas como "beleza interior", e suponho que, em parte, seria essa a razão por que tinha aquele
aspecto. Desde que a conhecia e isso é recuar bastante no tempo, - lembrem-se - usou sempre
o cabelo num coque bem apertado, quase como uma solteirona, sem uma pinta de
maquiagem no rosto. Juntando a isso, com os seus habituais casaco de lá castanho e saia de
xadrez, tinha sempre o aspecto de estar a caminho de uma entrevista para um emprego na
biblioteca. Nós achávamos que era só uma fase e que, por fim, lhe passaria, mas isso nunca
aconteceu. Mesmo durante os nossos primeiros três anos de escola secundária ela nada
mudou. A única coisa que mudou foi o tamanho das suas roupas.
Mas não era apenas a aparência de Caroline que a tornava diferente; era também o modo como se
comportava. Care não passava o tempo no Cecil's Diner ou em festas na casa das outras
meninas, e estou certo de que nunca havia tido um namorado na vida.
O velho William, provavelmente, teria um ataque de coração se isso acontecesse. Mas mesmo
que, por alguma estranha razão, William o permitisse, ainda assim isso não teria feito qualquer
diferença. Caroline levava a Bíblia para todo o lado e, se a sua aparência e William não
afastavam os rapazes, a Bíblia podem ter a certeza que sim.
Ora bem, eu gostava tanto da
Bíblia como qualquer outro rapaz, mas Caroline parecia gostar dela de um modo que me era
completamente estranho. Não só ia todos os meses de Agosto para o campo de férias da igreja, como lia também a Bíblia durante o intervalo do almoço na escola. Para a minha
cabeça, isso simplesmente não era normal, mesmo sendo ela a filha do pastor. Por mais voltas
que se dê ao assunto, ler a carta de São Paulo aos Efésios não era nem de perto tão divertido
como namoricar.
Mas não ficava por aí. Por causa de toda a sua leitura da Bíblia, ou talvez devido à
influência de William, Caroline acreditava que era importante ajudar os outros; e ajudar os outros
era precisamente o que ela fazia. Eu sabia que ela trabalhava como voluntária no orfanato de
Morehead City, mas isso ainda não lhe era suficiente. Estava à frente de toda e mais alguma
campanha de recolha de fundos, ajudando todo o mundo, desde os Escoteiros às Princesas
Índias. Soube que, quando ela tinha catorze anos, passou parte do Verão a pintar o exterior da
casa de um vizinho idoso. Era o gênero de menina para arrancar as ervas daninhas do jardim
de alguém sem que lhe pedissem ou para interromper o trânsito para ajudar as criancinhas a
atravessar a rua. Poupava na sua mesada para comprar uma nova bola de basquete para os
órfãos, ou dava meia volta e deixava o dinheiro no cesto da igreja aos domingos. Era, por
outras palavras, o tipo de mulher que nos fazia parecer maus, e sempre que ela olhava para
mim, não podia deixar de me sentir culpado, mesmo que não tivesse feito nada de errado.
Caroline também não circunscrevia as suas boas ações às pessoas. Sempre que se cruzava
com um animal ferido, por exemplo, tentava ajudá-lo. Sarigueias, esquilos, cães, gatos, rãs...
pouco lhe importava. O Dr. Rawlings, o veterinário, conhecia-a de vista, e abanava a cabeça
sempre que a via aproximar-se da sua porta trazendo uma caixa de cartão com mais uma
criatura lá dentro. Tirava os óculos e limpava-os com o lenço enquanto Jamie explicava como
tinha encontrado a pobre criatura e o que lhe tinha acontecido. "Foi atropelado por um carro,
Dr. Rawlings. Penso que estava nos planos de Deus eu tê-lo encontrado e tentar salvá-lo.
Vai ajudar-me, não vai?"
Para Caroline, tudo estava nos planos de Deus. Havia outra coisa. Sempre que alguém
falava com ela, qualquer que fosse o assunto, mencionava sempre os planos de Deus. O
jogo de basebol foi adiado por causa da chuva? Deve ser plano de Deus para evitar que
algo de mais grave aconteça. Um teste surpresa de trigonometria a que todos na turma
chumbaram? Deve estar no plano de Deus para nos proporcionar desafios. Bem, já devem
ter ficado com uma idéia.
Depois, claro, havia toda a grande questão de William, e isso em nada a ajudava. Ser a filha
do pastor não podia ter sido fácil, mas ela fazia com que isso parecesse a coisa mais natural
do mundo e uma sorte ter sido abençoada daquela maneira. Era também assim que costumava
dizer. "Fui tão abençoada por ter um pai como o meu." Sempre que dizia isso, tudo o que
podíamos fazer era abanar a cabeça e interrogar-nos de que planeta é que ela, efetivamente,
tinha vindo.
No entanto, apesar de todas essas características, aquilo que realmente me enfurecia nela era o
fato de estar sempre tão irritantemente alegre, independentemente daquilo que estivesse a
acontecer à sua volta. Juro, aquela menina nunca disse uma coisa má de nada nem ninguém,
mesmo daqueles de nós que não eram muito simpáticos para ela. Passeava pelas ruas a cantarolar, acenava a estranhos que passassem de carro. Por vezes, algumas senhoras, quando
a viam passar, saíam a correr das suas casas para lhe oferecerem pão de abóbora que tinham
feito durante o dia ou limonada se o calor apertava. Parecia que todos os adultos da cidade a
adoravam. "É uma menina tão simpática", diziam sempre que viesse na conversa o nome de
Caroline. "O mundo seria um lugar melhor se houvesse mais pessoas como ela."
Mas eu e os meus amigos não víamos as coisas propriamente da mesma maneira. Na nossa
opinião, uma Caroline Forbes já era de mais.
Pensei nisto tudo quando Caroline se colocou diante de nós no primeiro dia da aula de teatro e
admito que não estava muito interessado em vê-la. Mas estranhamente, quando Caroline se voltou
para nos olhar senti uma espécie de choque, como se estivesse sentado em cima de um arame
lasso ou coisa parecida. Ela vestia uma saia de xadrez e uma blusa branca debaixo do mesmo
casaco de lã castanho que eu já vira um milhão de vezes, mas havia duas novas saliências no
peito que a camisola não conseguia esconder e que eu jurava não estarem lá há apenas três
meses atrás. Caroline nunca usara maquiagem e ainda não o fazia, mas estava bronzeada,
provavelmente por causa do campo de férias e, pela primeira vez, parecia bem, quase bonita.
Claro, pus logo de lado esse pensamento, mas quando olhou em volta da sala, ela parou e
sorriu para mim, obviamente contente por ver que eu fazia parte da turma. Só mais tarde é que
eu viria a descobrir a verdadeira razão desse sorriso.
 


Notas Finais


Há algumas palavras muito distantes do resto da frase, mas é porque estou muito doente para corrigir tudo, mas dá pra entender bem. Espero que gostem.


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