Sinto meus joelhos arderem e me viro de pressa, ele anda em minha direção e me puxa com força pelo braço.
_Levanta!
_Você enlouqueu? Me larga está me machucando!
_Senta aí e cala a sua boca! Ah Anne, se você soubesse o quanto da minha paciência eu já perdi com você...
_Henrique, só me deixa ir embora ok?
_Você não vai a lugar nenhum Anne.
Ele se afasta e pega o interfone...
_Oi, avisa ao motorista da moça que acabou de subir que ele pode ir embora, ela vai demorar.
_O que você vai fazer Henrique?
_Sabe Anne, não é culpa sua...apesar de tudo girar à sua volta, não é culpa sua.
_Do que você está falando?
_Vai para o quarto e fica lá, não consigo pensar com você falando sem parar.
_Henrique, por favor!
_VAI PARA A PORRA DO QUARTO!
Estremeço com seu grito, o medo dentro de mim aumenta, eu me levanto e ando pelo corredor, indo em direção ao quarto...
_Anne!
Me viro assustada, ele está atrás de mim, com sua mão direita estendida.
_Me dá a bolsa!
Estendo a bolsa e ele a pega voltando para a sala.
Sento na cama, e o desespero começa a tomar conta de mim, o que ele vai fazer comigo? Assim que derem falta de mim vão saber que estou aqui, e a Kim onde está?
Ouço ele andando de um lado para o outro, está com alguém ao telefone, a conversa aos poucos vai virando um discussão.
"Preciso que você me ajude com isso!"
"Você vai ser beneficiada com o sumiço dela, então trate de fazer o que eu pedi, ou abro a porta e pode ter certeza que ela vai correr para os braços dele."
Tento me acalmar e vou até a janela em busca de socorro, é muito alto, mas algum vizinho pode me ouvir, então começo a gritar.
_SOCORROOOO! ALGUÉM ME AJUDA!!
Sinto uma dor aguda na cabeça, ele me puxa pelos cabelos e me segura pelo pescoço.
_Você não está me levando a sério não é?
_Me deixa ir embora por favor, não vou contar para ninguém!
O choro já não me permite falar com clareza, as palavras saem entre soluços.
_Promete?
_Prometo!
_Vem comigo... enchuga esse rosto e vem.
_Vai me deixar ir?
_Anne... eu não posso te deixar ir, mas você pode ser boazinha e evitar que coisas piores aconteçam- ele diz passando a mão sobre minha barriga.-
_Por que está fazendo isso comigo?
-Vem comigo! Apenas me acompanhe, se você tentar alguma gracinha Anne, eu juro que te mato!
Ele levanta a camiseta e me mostra uma arma, encaixada no cós da calça.
Descemos de elevador até a garagem e entramos em seu carro, ele dirige por uns 40 minutos e entra em uma garagem, o lugar é muito mal iluminado.
Ele desce do carro e manda eu fazer o mesmo, andamos em direção a uma porta que dá acesso à cozinha da casa, um lugar bem grande, mas parece inabitado.
_Por que estamos aqui? Que lugar é esse?
_Um lugar onde você pode gritar e ninguém pode te ouvir.
Ele segura meu pulso e me puxa em direção à dispensa.
_Entra aí!
Me empurra para dentro e tranca a porta por fora.
Ouço seus passos se afastando e após alguns minutos o ouço se aproximado de novo.
Ele abre a porta, está com uma corrente e cadeados nas mãos.
_Henrique, nao precisa disso! Eu estou me comportando não estou?
_ Você vai continuar se comportando, para o seu bem! Isso é apenas uma garantida extra.
Ele prende a corrente ao meu tornozelo e a outra ponta a uma barra de ferro que dá sustentação a uma prateleira.
Feito isso, ele volta a trancar a porta e se distancia.
Não vejo saída para minha situação, quem vai sentir a minha falta? Somente a Kim, espero que isso aconteça logo, mas como vão me achar?
As lágrimas rolam pelo meu rosto, nunca senti tanto medo, me deito em posição fetal, e tento me convencer de que mais cedo ou mais tarde vão me encontrar e tudo vai acabar bem.
****
Não sei quanto tempo dormi, acordo com o som de vozes, dois homens, sei que uma delas é do Henrique e a outra eu tenho certeza de que conheço... meu coração dispara e eu me levanto em um salto, bato meus punhos fechados contra a porta de metal o mais forte que consigo.
_PAI! PAI EU ESTOU AQUIIIII ! SOCORROOOO ! ME AJUDA PAI !
(P) _Seu imbecil, olha o que você fez!
(H) _Eu tentei de outro jeito e não deu certo e até onde eu sei você também fracassou!
(P) _E o que você pretende fazer agora? Manter ela aí assinando cheques? Você é um inconseqüente!
_ PAI! É VOCÊ? ME AJUDA POR FAVOR!
Me assusto com o impacto e o barulho ensurdecedor, Henrique chuta a porta com força.
(H)_ Cala a boca sua idiota! Você quer ver o papai?
Ele abre a porta e eu vejo meu pai, sinto um grande alívio, de todas as pessoas que achei que se importariam com o meu sumiço ele era uma das últimas.
_Pai, você vai me levar daqui não é?
Henrique se coloca ao lado dele, olhando em minha direção, com os braços cruzados.
(P) _Henrique, concerte isso, você acha que ela vai ficar calada quando sair daqui?
(H)_ E quem disse que ela vai sair daqui?
_Pai, do que você está falando? Me ajuda, por favor pai! Me tira daqui...
(P)_ A morte dela não nos ajuda Henrique, tem idéia de quanto tempo levaria o desbloqueio dos bens?
(H)_ Eu sei pai! Por isso preciso que você providencie tudo pelos meios legais, eu tenho certeza de que ela não vai se negar a assinar nada.
_Você é completamente louco, porque está chamando ele de pai?
Henrique ri alto, colocando a mão sobre o ombro do meu pai que permanece com semblante fechado.
(H)_ Não percebe a semelhança Anne? Claro que nao! Eu sou a cara da minha mãe! Mas... foi com papai aqui que eu aprendi que a gente é o que a gente tem.
E eu nunca fui nada para ele Anne... ao contrário de você!
_Você e eu... meu Deus Henrique!
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