História UM CONTO SEM FADAS - CAPÍTULO 75. SILÊNCIO

Henrique está com a arma apontada para a minha cabeça, Johnny está em nossa frente, paralizado.

Por um segundo fico feliz por poder vê-lo mais uma vez, mas logo o drama do momento se instaura novamente.

A Polícia está na porta, ouço uma voz imponente vinda do lado de fora.

(M) HENRIQUE, A POLÍCIA ESTÁ CERCANDO A CASA, MELHOR DEIXAR ELES SAIREM E SE ENTREGAR, OU AS COISAS VÃO FICAR RUINS PARA VOCÊ!

_Henrique, por favor... você não é esse monstro, não faz isso! Você não precisa provar nada para ele.

(H)_ Você não sabe o que está falando, sempre teve tudo na mão, até o direito de ter um pai, é você quem não precisa provar nada...

(J)_Ela não tem nada a ver com isso Henrique, ela não te tirou nada!

(H)_ Se fosse você sairia daqui enquanto é tempo! Ela vai comigo...

_Para onde Henrique? Você não ouviu? A polícia está lá fora...

(H)_ Ouvi muito bem... por isso você ainda está viva, vão nos deixar sair ou termino o que ia fazer, antes de ser preso.

(J)_ Deixa ela ir... eu fico!

(H)_ Ahhh que lindo que é o amor! Infelizmente eu não ganho nada com a sua morte.

Henrique me arrasta para perto da porta e grita...

(H)_MIKE! EU VOU SAIR COM A ANNE E SE ALGUÉM TENTAR QUALQUER GRACINHA, EU JURO QUE MATO ELA.

(J)_ Henrique, pensa bem... você está fazendo uma mulher grávida de refém cara, isso não vai acabar bem para você...deixa ela e me leva!

(H)_ Isso não vai acabar bem para nenhum de nós!

Henrique me puxa, ainda junto a seu corpo, me fazendo caminhar em direção à porta da qual estamos mais próximos e que dá acesso à garagem.

Sinto um solavanco e sou lançada ao chão, sinto uma forte ardência e uma dor se expandindo em meu rosto. 
Por alguns segundos fico atordoada, minha visão está embaçada, vejo vultos se movimentando, aos poucos eles vão criando forma...

Johnny está em cima de Henrique, ele desfere golpes com os punhos e Henrique revida, tento me levantar, mas o máximo que consigo é me sentar encostada na parede.

Vejo Johnny ser empurrado para trás, caindo de costas no chão, Henrique parte para cima dele.

Ouço o som seco das pancadas, Henrique é muito maior e mais forte que Johnny.

Tento me colocar de pé mais uma vez, me seguro na parede e avisto a arma de Henrique a poucos metros de onde estou, de ímpeto me ponho a andar em sua direção,
Henrique me ver e imediatamente faz o mesmo, acelero o passo e chego até ela, caindo de joelhos no local.
Coloco a mão sobre a arma, mas não há tempo para sentir o alívio, ela é arrancada da minha mão.

_ Nãããoooo!

Sinto Johnny colocar as mãos em volta de mim e me erguer do chão, Henrique está agora a alguns passos de nós, mas já com a arma em punho e apontada em nossa direção.

(H)_ Vocês escolheram um final dramático, quando poderiam ter um final conclusivo... Se eu der um disparo, a polícia vai me matar antes de eu ter tempo de dar o segundo, então...quem vai ser?

(J)_ Eu! Deixa ela sair...

_Não! Johnny não... por favor não!

(H)_ Ela vai ficar, ela pode até viver, mas vai viver com a imagem da sua morte na cabeça.

(J)_ Fecha os olhos meu amor!

_Não, por favor... Henrique, por favor!

Johnny me abraça forte e beija o topo da minha cabeça, levanta meu queixo, me fazendo olhar em seu rosto, as lágrimas que inundam minha face, também ofuscam a minha visão...

(J)_ Anne, me escuta... Eu te amo, nada vai mudar isso...nem a morte!

_Para...por favor!

(J)_Me escuta meu amor... aquela noite, quando te vi no bar, naquele instante eu te amei... você foi a melhor coisa que me aconteceu, em muito tempo. Eu vou estar sempre com você e com eles, se eu pudesse fazer essa escolha mil vezes, eu faria! Não deixe que eles cresçam sem saber o quanto eu amei vocês...

Aperto minhas mãos em volta do corpo dele e choro com toda a dor que estou sentindo, sua camiseta fica molhada e eu inalo seu perfume uma última vez...

(H)_ Comovente, se eu tivesse sentimentos até choraria.

_Eu odeio você, mostro!

(J)_ Acaba logo com isso...

_NÃO! O QUE VOCÊS ESTÃO ESPERANDO? ELE VAI NOS MATAR!

(H)_ CALA A BOCA!

_ Não! Seu covarde... você vai pagar por isso!

(H)_Cala a droga dessa sua boca!

Ele anda em minha direção e aponta novamente a arma para mim...

(J)_ Henrique, nós já resolvemos isso, eu estou aqui!

(M)_ HENRIQUE, COMO VAI SER? POR QUE VOCÊ NÃO DEIXA A ANNE SAIR? ELA DEVE ESTAR PRECISANDO DE CUIDADOS. A POLÍCIA DISSE QUE PODE LHE PROVIDENCIAR UM ADVOGADO PARA NEGOCIAÇÃO.

(H)_ NÓS JÁ NEGOCIAMOS TUDO AQUI! Não é mesmo?

(J)_ Acaba logo com isso...

_ Não! Henrique, você não quer morrer... é egoísta de mais pra isso! Se entrega logo, se matar ele, ou vai ser morto aqui ou na prisão.

(H)_Pelo menos vou morrer com a sensação de dever cumprido, melhor que viver sabendo que tudo foi em vão.

_Tem razão, melhor morrer e deixar nosso pai orgulhoso... e milionário!

(H)_ Nosso pai... você é a ingenuidade em pessoa, depois disso tudo ainda não parou para questionar esse fato?

_Do que ta falando agora?

(H)_ Você era só um bebê, mas sua mãe era rica, a minha não... isso deu a você o direito de ter um pai, o meu pai... mas por outro lado, te tirou a mãe! É claro que depois de um ano de casamento, ele voltaria para casa.
Mas ele não contava com o fato que sua mãe protegeu toda a sua herança, ele não precisou fingir ser um bom marido por muito tempo, em compensação, teve que criar uma filha.

_O que aconteceu com minha mãe?

(H)_ O que acontece com mulheres que se colocam entre um homem ganancioso e seus objetivos, exatamente o que vai acontecer com você...

Henrique levanta o braço com a arma em punho... um estampido, depois outro e mais outro... gritos e depois silêncio.