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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Companheiro de Sangue


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Olá, meus queridos! Consegui postar esse capítulo um pouco mais rápido que o passado. Agradeço muito os comentários que vocês deixaram e espero que gostem do desenrolar da estória. Boa leitura!

Capítulo 7 - Companheiro de Sangue


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Companheiro de Sangue

― Não posso me casar com sua Rainha, Lorde Tyrion.

O anão fez uma careta ao escutar a resposta do Lobo Branco.

― E porque não? Veja, Daenerys tem vários tesouros, um exército enorme e três dragões que poderiam lhe ajudar na guerra contra o Rei da Noite. ― o Lannister argumentou ― E não pode negar que além de ser bastante poderosa, também é lindíssima. Dizem que é a mais bela mulher de todo o mundo.

Jon não tinha tido o prazer de conhecer todas as mulheres do mundo, mas não duvidava que aquilo fosse verdade. A Mãe dos Dragões era, pelo menos, a mais linda senhora que havia visto na vida. Nem mesmo Ygritte, a única mulher que amou, ou sua irmã Sansa, que facilmente era o maior encanto do Norte, possuíam uma beleza que pudesse competir com a de Daenerys. Se estivesse em outra situação, se casaria com a jovem Targaryen de bom grado e a aceitaria em sua cama num piscar de olhos. Mas não podia.

― Estou prometido à outra. ― o Rei falou.

Tyrion encarou Jon de forma atravessada.

― Como assim? De quem se trata?

― Alys Karstark, a moça que sempre me acompanha. Nosso noivado se deu há algumas quinzenas e nos casaremos em breve.

― Se esse for o problema, basta romper o noivado. ― o meio-homem levou a taça aos lábios e tomou um rápido gole de vinho.

― Eu não posso quebrar meu compromisso!

― Por acaso está apaixonado por ela? ― Tyrion arqueou sua sobrancelha esquerda.

― Não. ― Jon respondeu de forma sincera ― Mas não se trata de amor ou paixão. Trata-se de obrigação, de manter minha palavra.

― Sua palavra e sua honra valem mais do que a integridade do reino? Do seu reino? ― ele caminhou até o rapaz e o encarou ― Essa tal Alys tem alguma coisa a lhe oferecer? Um exército, talvez?

― Não. Ela é Senhora de Karhold, mas o castelo está ocupado por seu tio-avô, que desafia seu direito. Alys está sozinha no mundo.

Os olhos de Tyrion rolaram e ele respirou fundo. Largou no chão a taça que segurava e fitou o Rei.

― Que tipo de Rainha pretende ter ao seu lado? Uma que pode lhe dar o mundo e parar a ameaça que está Além da Muralha, ou outra que mal pode lhe oferecer um castelo? ― o anão perguntou ― A resposta parece ser bem óbvia para mim.

No fundo, Jon sabia que Tyrion estava certo. Seria infinitamente vantajoso tanto para ele, quanto para o Norte, as Terras Fluviais e o Vale, casar-se com Daenerys Targaryen; contudo, lembrou-se do que aconteceu com Robb quando quebrou sua palavra, abandonou o compromisso que tinha com a garota Frey, e casou-se com a jovem volantina por quem havia se apaixonado. Sabia que não corria o mesmo risco que o irmão, mas a sombra do Casamento Vermelho ainda pairava sobre sua cabeça.

― Desculpe, mas não posso abandonar Alys. Se um dia o Norte tiver uma Rainha, ela será a Senhora Karstark. ― o Lobo Branco deu sua palavra final.

A decepção estava estampada na face de Tyrion

― Bem, então o que faremos agora? O casamento era a única forma de unir sua pretensão à de Daenerys...

― Você é o gênio da estratégia. ― Jon respondeu ― Pergunte à sua Rainha o que ela deseja, e se eu puder atendê-la, o farei, mas não posso casar com ela estando comprometido com outra.

Tyrion assentiu, vencido.

― Falarei com Sua Majestade e lhe trarei notícias.

O anão apanhou a taça que estava no chão e a colocou em cima da mesa principal do escritório. Caminhou até a porta, mas antes de sair, virou os calcanhares e encarou o jovem Rei:

― Sua maldita honra dificultará nossas vidas, Jon Snow. Tem certeza do que está fazendo?

― Tenho.

Por mais firme que tenha tentado parecer, em seu íntimo, o rapaz hesitava. Sabia que sua decisão traria consequências, mas não sabia quais, e temia que tivesse que pagar um preço alto demais por rejeitar Daenerys e ficar ao lado de Alys.

 

***

 

Os pés de Tyrion poderiam ser pequenos, mas eram rápidos. Mesmo com os passos curtos, percorria os corredores de Correrrio com certa rapidez e atravessou a construção, indo do gabinete do lorde até o solar ocupado por Daenerys em um tempo razoável. Durante o trajeto, não pôde deixar de pensar em como as coisas mudaram em tão pouco tempo, e como ele, um Lannister, teria que encontrar um meio termo para que um Stark e uma Targaryen não se matassem – jovens das mesmas famílias que seu pai tentara destruir. Ao invés de instigar uma briga, o leão dourado teria que intermediar a paz entre o dragão vermelho e o lobo branco.

Tentou imaginar também qual seria a reação de Daenerys ao saber que fora rejeitada por Jon. A jovem tinha muitas qualidades, Tyrion sabia disto, mas a capacidade de aceitar negativas não estava entre elas, e temia que um conflito irrompesse entre os partidários da Rainha e do Rei. Teria que contar a ela sobre a recusa de Jon, mas também era seu dever encontrar um meio termo que fosse capaz de satisfazer a vontade de ambos.

Por um breve instante, enquanto subia as escadas que davam acesso à câmara ocupada pela Targaryen, pensou que tudo seria tão mais fácil se a tal garota Karstark não existisse. Alys era a pedra no meio do caminho, capaz de atrapalhar a mais forte e grandiosa aliança que Westeros jamais vira em sua longa história, e não pôde evitar o pensamento de como as coisas seriam bem mais fáceis se ela simplesmente deixasse de existir. Balançou a cabeça, tentando afastar aquilo de sua mente. Não seria como sua irmã ou o seu pai, que derramariam o sangue de uma criança inocente para atingir o objetivo desejado. Encontraria outra maneira, pelo menos uma que não envolvesse o massacre de uma garota desamparada, para forjar uma aliança Targaryen-Stark.

Quando finalmente chegou às portas do aposento de Daenerys, respirou fundo, e encarou os dois Imaculados que protegiam a entrada, ambos com a postura impassível de sempre, e desejou ter uma maldita taça de vinho em suas mãos. Enfrentaria um dragão, e sabia que não seria fácil.

Deu alguns passos e deu três batidas na porta, e após escutar um “entre”, abriu a estrutura de madeira. Adentrou ao cômodo, foi até a sacada, e deu de cara com Daenerys e Missandei, que observavam pela mureta o grande acampamento formado por soldados do Norte, das Terras Fluviais e do exército Targaryen.

― E então? Teremos um casamento real? ― a Rainha perguntou, fitando-o com uma expressão séria.

Tyrion hesitou, temendo sua reação.

― Não, Majestade. Jon não concordou com o arranjo. ― ele respondeu, da forma mais calma que pôde.

A expressão de Daenerys, que antes já era pesada, fechou de vez.

― Fui rejeitada por um bastardo? ― sua voz era dura.

― Ele já está prometido à outra senhora. Explicou-me que deu sua palavra e que não pode voltar atrás agora.

Os olhos violetas da Rainha faiscaram, e Tyrion percebeu que ela havia ficado incomodada com a informação. Incomodada demais, talvez.

― É aquela garota que o segue como um cachorrinho? Ela será a futura Rainha do Norte e do Tridente?

― Sim, Majestade. Alys Karstark é o seu nome. ― o anão respondeu ― É a senhora de uma família aparentada aos Stark.

― E o que sugere que façamos agora que o bastardo decidiu recusar minha oferta e casar-se com uma parente distante? ― Daenerys perguntou, e parecia tentar esconder certo aborrecimento ― Quer que eu curve minha cabeça a ele e à futura esposa?

― Claro que não! Mas tenho certeza de que encontraremos uma solução que...

― Já chega! ― a Rainha elevou sua voz, interrompendo Tyrion ― É incapaz de resolver o impasse que enfrentamos, Lorde Tyrion, e parece que terei que fazer o seu trabalho!

― O que quer dizer com isto?

― Quero dizer que falarei com Lorde Snow em pessoa. ― ela respondeu, de forma firme ― A sós.

― Não pode fazer isto, Majestade...

― E por que não? Eu sou a Rainha, não o senhor. Posso fazer como bem me entender!

Tyrion suspirou. Daenerys era obstinada, e não sossegaria até conseguir o que queria, de uma forma ou de outra. Aquele era um dos pontos mais dificultosos no que dizia respeito a relacionar-se com dragões, pensou o anão.

― Eu apenas quero evitar qualquer possível mal entendido, Majestade. Deve admitir que a senhora é um pouco... ― ele hesitou, tentando encontrar um eufemismo que lhe permitisse falar o que pensava sem ofender a moça ― Irredutível.

― Não sou uma criança, portanto não me trate como uma. ― Daenerys deu alguns passos e parou ao lado dele ― Fique aqui com Missandei.

― Mas Majestade...

― Fique, Lorde Tyrion. É uma ordem.

Daenerys cerrou os olhos e lhe encarou rapidamente antes de sair da sacada e entrar no quarto. Tyrion apenas pôde escutar a pesada porta do cômodo ser fechada enquanto Missandei o encarava, assustada demais para dizer alguma coisa.

 

***

 

Era possível para Daenerys sentir seu rosto queimar enquanto caminhava até o gabinete que o bastardo Stark ocupava. Por não conhecer o lugar, perdeu-se algumas vezes no meio do caminho, mas não pediu ajuda a ninguém, pois tinha medo de que alguém percebesse que estava abalada. As palavras de Tyrion sobre o encontro que tivera com Jon lhe surpreenderam, pois nunca imaginou que fosse ser rejeitada por um homem em sua vida, ainda mais quando sua proposta envolvia casamento, um exército e três dragões. Mais do que nunca, ela precisava saber o que se passava na cabeça daquele que se intitulava Rei do Norte.

Percebeu, ao chegar a seu destino, a surpresa nos olhares dos dois soldados que guardavam a entrada do escritório quando viram-na ali parada.

― Desejo falar com o seu Rei. ― ela comandou, com o timbre mais régio que possuía.

Os homens encararam-se brevemente, até que o mais alto lhe respondeu:

― Irei anunciá-la, senhora.

― Não será necessário.

Sem esperar por uma resposta, Daenerys passou pelos guardas e arrastou a porta até abri-la. Não entendeu o motivo, mas sentiu palpitações em seu peito, que aumentaram quando o viu parado, encarando a paisagem por trás do vidro da grande janela. Ele estava de costas, mas era possível perceber a tensão que emanava de seu corpo devido à postura rígida que tinha. O lobo albino que sempre o acompanhava estava aos seus pés e percebeu sua presença, ao contrário do dono, que parecia alheio ao fato de ela estar presente no ambiente.

― Lorde Snow. ― ela disse, tentando tirá-lo de seus devaneios.

Jon virou-se e pareceu surpreso ao vê-la ali. Ele ficou em silêncio enquanto os olhos escuros inspecionaram brevemente a Rainha.

― Senhora... Não a esperava.

― Não pretendia vir até aqui. ― ela foi franca ― Mas precisamos conversar.

― Claro... ― ele pareceu perder as palavras por alguns segundos, mas logo as recuperou ― Deseja sentar-se?

― Prefiro ficar em pé, obrigada. ― Daenerys sentiu seu corpo enrijecer enquanto falava ― A única coisa que desejo é fazer-lhe uma pergunta.

― Fique à vontade, senhora.

Daenerys o fitou por um breve instante antes de dizer qualquer coisa. Analisou Jon, mas não detectou nenhum sinal de deslealdade em sua face, o que de certa forma lhe desconcertava. Havia conhecido muitos homens em sua breve vida, mas aquele parecia ser diferente de todos os outros.

― Minha Mão me informou que recusou a proposta que decidi lhe fazer, e gostaria de saber o motivo para isto. ― ela disse ― Creio que já é hora de deixarmos os intermediários de lado e termos uma conversa definitiva cara a cara.

Foi possível para Daenerys perceber a tensão que se instalou no olhar de Jon assim que ela lhe disse aquilo; o lobo, que antes estava sentado, levantou-se e adotou uma posição defensiva, quase como se fosse um espelho de seu mestre.

― Não quis ofendê-la com a recusa, senhora... Mas já estou prometido à outra. ― o rapaz respondeu, vacilante.

Daenerys deu alguns passos, e mesmo tendo um pouco de medo da fera que estava colada ao corpo de Jon, aproximou-se dele, ficando apenas há alguns palmos de distância.

― Por acaso pensa que não sou boa o suficiente para o senhor? ― ela perguntou, encarando-o diretamente nos olhos ― Pensa que não sirvo para ser Rainha do Norte ou de qualquer outro reino que tenha em suas mãos neste momento?

O rapaz desviou o olhar, mas num momento de audácia, Daenerys tocou em seu queixo e o obrigou a fitá-la. Aquela foi a primeira vez que tiveram um contato físico, e foi algo tão... Estranho. A Rainha sentiu as pontas de seus dedos formigarem enquanto sua pele roçava na espessa barba negra de Jon, e um arrepio percorreu seu corpo, fazendo-a ficar um pouco tonta. Daenerys vacilou por um instante, mas logo se recompôs; perguntou a si mesma se o jovem tinha percebido o que se passara, e principalmente se havia sentido o mesmo.

― Pelo contrário. ― ele respondeu, com a voz rouca e pesada ― Se a situação fosse outra, eu aceitaria sua proposta. Mas dei minha palavra à Senhora Karstark e não posso romper nosso compromisso.

― O que faremos, então?

Daenerys retirou sua mão do queixo de Jon, mas mesmo assim ainda sentia algo a ligando a ele, como uma espécie de conexão que era incapaz de explicar. Desta vez, ele não desviou os olhos e continuou encarando-a enquanto lhe respondia.

― Não sei. Não consigo enxergar nenhuma solução que seja capaz de lhe satisfazer.

Mas mesmo estando um pouco absorta com a proximidade exagerada que estava tendo com Jon, a solução brotou no fundo de sua mente.

― Não sou apenas uma Rainha, sou também uma Khaleesi. Sabe o que isto significa?

― Que possui um khalasar? ― Jon pareceu ficar confuso com a pergunta―Não conheço muito bem a cultura dothraki, me desculpe...

― Sim, um khalasar com quase setenta mil guerreiros prontos para irem para guerra comigo. Todos são meus companheiros de sangue. ― ela respondeu ― Eu quero que seja um deles, Lorde Snow, e que me reconheça como legítima Rainha no Trono de Ferro e cavalgue ao meu lado na guerra contra Cersei Lannister e todos os outros traidores. Quero que me ajude a trazer paz à Westeros mais uma vez.

A expressão de Jon era de surpresa. Era óbvio que ele não esperava escutar aquilo, da mesma forma que Daenerys não acreditou que fizera aquela proposta. Mas era preciso tentar unir os Sete Reinos, de uma forma ou de outra.

― Quer que eu lute por você? ― o rapaz indagou.

― Sim. Já tenho a Campina, Dorne e parte da frota das Ilhas de Ferro ao meu lado. Se eu tiver o Norte, o Vale e as Terras Fluviais, esmagarei o exército Lannister.

Jon pareceu considerar a proposta por alguns instantes antes de dizer qualquer coisa, mas não demorou para manifestar-se.

― Digamos que eu vá para guerra e lute por você... ― ele falou ― Também faria o mesmo por mim quando eu precisasse?

― Mas é claro que sim. Seremos companheiros de sangue, Lorde Snow. ― Daenerys aproximou seu rosto ao do rapaz lhe sussurrou ― É isso que companheiros de sangue fazem. Eles se ajudam.

A conexão entre os dois pareceu fortalecer-se com a proximidade exacerbada que agora tinham. Daenerys deu alguns passos para trás e percebeu que sua respiração estava um tanto quanto descompassada.

― Eu também o reconhecerei como Rei. ― ela adicionou ― Não farei mal ao senhor ou aos seus homens, lhe dou minha palavra.

Jon hesitou brevemente, parecendo pensar sobre o assunto. Ele parecia estar confuso, mas foi resoluto em sua resposta:

― Antes de fazermos qualquer acordo, tenho que lhe contar algumas coisas para que não me acuse de agir de má-fé futuramente. Quero que saiba onde está se metendo.

Ele apontou para as poltronas que ficavam próximas à escrivaninha, convidando Daenerys a sentar-se; ela aquiesceu o pedido e tomou assento, sendo seguida pelo rapaz.

Jon a encarou e juntou as mãos antes de começar a lhe contar sobre tudo que havia Além da Muralha, e como as pessoas que lá morriam eram trazidas de volta pelo Rei da Noite, que as usava em seu exército de zumbis. Daenerys ficava boquiaberta a cada nova revelação feita pelo rapaz e não sabia ao certo se acreditava nas coisas que escutava. Sabia que ela própria havia passado por situações que fariam qualquer pessoa ter dúvidas – situações estas que envolviam elementos mágicos como sua imunidade ao fogo ou o nascimento de seus dragões – mas não podia deixar de ser cética em relação ao que Jon lhe dizia.

― Essa história que me conta... ― Daenerys levantou-se da poltrona ― Tem como provar que tudo isso de fato aconteceu?

― Não. ― Jon foi sincero ― Mas tem que acreditar em mim, ou não adiantará de nada nos unirmos contra Cersei se não combatermos o real perigo. Não tenho razões para mentir, senhora.

Daenerys foi até a janela e encarou as águas do rio que cercava o castelo, tentando assimilar todas as informações que recebera.

― Bem, se isto for verdade, terei que lhe ajudar. ― ela respondeu ― Quando chegar a hora, após acabarmos com a guerra que assola Westeros, cuidaremos disto. Acha que é capaz de esperar?

Jon parecia contrariado, mas não tentou argumentar.

― Tudo bem. Mas quero que prometa-me que, se o Rei da Noite atacar, deixaremos a guerra contra aos Lannister de lado e lideremos com a verdadeira batalha.

― Tem minha palavra, Lorde Snow. ― a Rainha virou-se em direção a ele e o fitou ― Fale com seus homens sobre o nosso acordo, pois farei o mesmo com os meus.

Jon concordou com a cabeça.

― Bem, já que resolvemos tudo, creio que posso voltar aos meus aposentos. ― Daenerys disse, caminhando até a porta ― O deixarei a sós com o seu lobo.

O animal a encarou com olhos escarlate, que faiscavam em direção a ela.

― Quer que eu a acompanhe?

― Não é necessário. ― Daenerys o cortou ― Não seria de bom tom ser vista perambulando sozinha pelo castelo com um homem comprometido.

Foi a última coisa que disse antes de dar as costas e deixar o Rei do Norte para trás em seu gabinete.

 

***

 

Os Lordes Glover, Manderly, Blackwood, Grell, Butterwell, Harlton, Mallister, Bracken e Piper encaravam Jon com curiosidade, assim como Larence Snow, filho bastardo de Halys Hornwood. A jovem Senhora Mormont o fitava enquanto sentava na ponta da mesa que ficava no centro do Grande Salão, enquanto Sor Davos e Tormund também demonstravam estarem ansiosos em saber o motivo da reunião – e principalmente o que Tyrion havia dito ao Rei enquanto estiveram sozinhos no gabinete.

― Bem senhores, estamos aqui porque me foi oferecida uma aliança com a Rainha Targaryen. ― Jon começou a falar ― Lorde Lannister veio até mim e ofereceu-me a mão de Daenerys em casamento.

Imediatamente, as vozes dos homens começaram a ecoar pelo salão, todos debatendo as consequências e possíveis benefícios que teriam caso o Rei do Norte e do Tridente se unisse à Rainha dos Dragões. Mas Jon tratou de cortar o burburinho.

― Mas eu respondi à Lorde Lannister que não poderia me comprometer com a sua Rainha porque já tenho uma noiva.

Todos os presentes o encararam de maneira atônita, e Jon percebeu que, talvez, todos pensassem que tivera cometido um grande erro.

― Trocará uma Rainha que possui um exército enorme e três dragões por uma Senhora que nem mesmo manda em seu próprio castelo? ― Lord Blackwood lhe encarou, demonstrando sua decepção.

― Lorde Tytos, eu dei minha palavra à Senhora Karstark de que me casaria com ela, e não posso romper a promessa que fiz. ― Jon tentou se defender.

― Majestade, com todo o respeito... ― foi a vez de Wyman Manderly manifestar-se ― Mas concordo com Lorde Blackwood. Não parece ser sensato, em nossa atual situação, dar as costas para uma proposta como esta. Se Vossa Majestade desposar Daenerys Targaryen, nada nem ninguém poderá nos deter, nem mesmo os Lannisters. Acha mesmo que vale a pena perder um acordo que poderia salvar nossas vidas para manter Alys Karstark ao seu lado?

O Rei sabia que haveria resistência, mas teria que fazê-los mudar de ideia.

― Senhores, lembrem-se do que aconteceu com meu irmão quando ele quebrou sua promessa de casar-se com a filha de Walder Frey. ― Jon falou ― Sei que os Karstark não teriam o mesmo ânimo ou a capacidade de fazer o mesmo, mas de qualquer forma, seria uma mancha em minha honra.

― Então ficaremos em apuros por sua honra? ― Arwood Harlton indagou, mostrando-se ultrajado.

― Não esqueça que está falando com o seu Rei, e não com um moleque de recados, Lorde Harlton. ― Lyanna Mormont levantou-se de sua cadeira e finalmente interviu ― Mostre ao menos um pouco de respeito.

A criança encarou Jon, acenando com a cabeça para que ele dissesse algo.

― Posso lhes garantir que não haverá apuros, senhores. Daenerys veio até mim e conversamos. Já que não podemos nos casar, fizemos outro acordo. ― o jovem Rei falou.

― E que tipo de acordo seria este, Majestade? ― Davos perguntou, ainda curioso.

― Ela me reconhecerá como Rei, assim como eu também a reconhecerei como Rainha. ― ele começou ― Ela nos auxiliará em tudo que precisarmos, inclusive na batalha que travaremos Além da Muralha.

― Creio que ela não nos dará esse auxílio de forma gratuita, não é mesmo? ― Robett Glover perguntou.

― Ela quer que eu vá para guerra ao seu lado e lute suas batalhas, como demonstração do apoio do Norte, das Terras Fluviais e do Vale à sua pretensão ao Trono de Ferro. ― Jon lhes contou ― E eu o farei.

― Quer que nosso exército lute uma batalha que não é nossa, Majestade? ― Jonos Bracken indagou.

A situação estava saindo mais difícil do que Jon esperava.

― Não, meus senhores. Levarei poucos homens comigo, o resto ficará espalhado pelo Norte e pelas Terras Fluviais para evitar um ataque Lannister ou uma invasão dos Homens de Ferro. ― o rapaz explicou ― Não sacrificarei as vidas dos nossos homens, mas utilizarei alguns para que o meu acordo com a Rainha Targaryen seja efetivado. Concordam com isto ou não?

Os homens se entreolharam, desconfiados. Jon podia sentir que hesitavam e não confiavam totalmente no acordo feito entre ele e Daenerys. Entendia bem aquilo, pois após tantos anos de conflito que causou uma enorme devastação em todos os reinos era natural que estivessem receosos.

― Majestade, assim como o senhor, eu também sou um bastardo e o último de minha família, e sei como se sente com esta situação. ― Larence Snow lhe disse ― O apoiei na batalha contra Ramsay, mesmo quando todos os outros disseram que seria loucura; contudo, aqui está, coroado Rei enquanto o bastardo Bolton está morto. Assim, mais uma vez eu gostaria de lhe garantir meu suporte à sua causa e enviar alguns de meus homens para que lhe acompanhem nas batalhas vindouras que travará contra o exército Lannister.

― Fico grato com o seu apoio, Lorde Snow. ― Jon respondeu, surpreso com a fala do rapaz.

― Também sabe que pode contar comigo e com meus homens a hora que quiser, meu Rei. ― a voz infantil de Lyanna ecoou pelo salão.

Após a fala de Larence e o endosso da Senhora Mormont, Jon sentiu que os ânimos se alteraram no recinto. Os homens pareciam menos desconfiados e reticentes, e até um pouco mais abertos ao acordo que Daenerys lhe propôs.

― Bem, também não pretendo dar as costas a Vossa Majestade. Os homens Glover também estarão à sua disposição. ― Robbet lhe disse.

― Tem o apoio do Norte, e acho que é obrigação dos Lordes das Terras Fluviais lhe oferecerem suporte. ― Tytos Blackwood falou ― Também enviaremos soldados com o senhor para que lute as batalhas necessárias para trazer o exército Targaryen e os três dragões consigo. Alguém discorda de mim?

O homem encarou seus compatriotas, mas nenhum deles protestou, e finalmente Jon conseguiu o apoio que tanto precisava.

― Agradeço, senhores. Prometo que farei de tudo para acabar com toda e qualquer ameaça à paz e regressar o mais rápido possível. ― Jon declarou, aliviado.

― Devemos preparar os homens, Majestade. ― Davos se manifestou.

― Sim, Sor Davos. Peço aos senhores que escolham os homens que colocarão à minha disposição para que possamos realizar os exercícios de treinamento. Partiremos em alguns dias. ― o Rei comandou.

Os senhores assentiram e começaram a conversar entre si assim que Jon os dispensou; porém, o jovem mal podia escutá-los, tamanho era seu alívio. Poderia cumprir seus compromissos com Alys e com Daenerys sem prejuízo algum, e principalmente, preservaria sua honra e garantiria que a batalha contra o Rei da Noite se desse de forma mais equilibrada.

 

***

 

Jon estava terminando de escrever a carta endereçada a Sansa, que deveria ser entregue em Winterfell pelos homens que regressassem ao Norte. Decidiu que conferiria a irmã oficialmente o título de Princesa Regente, e a deixaria governando o Norte e as Terras Fluviais enquanto ele estivesse mais ao Sul de Westeros, travando batalhas ao lado de Daenerys Targaryen. Assinou o papel e o dobrou, lacrando-o em seguida com cera branca e o sinete que tinha uma cabeça de lobo estampada.

Suspirou ao pensar que demoraria em voltar para casa. Estivera enganado antes, quando imaginou que resolveria as coisas com a Mãe dos Dragões e retornaria para Winterfell, quando, na realidade, precisaria marchar até o Sul para acabar com a ameaça Lannister que cercava o continente. Admitia que estava cansado de lutar, mas sabia que seria necessário, afinal de contas a ajuda que a Rainha lhe prometera em troca de seu apoio seria de grande ajuda.

Escorou-se no descanso da cadeira e levou a mão até o queixo, gesto que o fez lembrar do toque de Daenerys. Recordar aquilo fez com que sentisse uma leve queimação na área, mas não de um modo ruim, pelo contrário – foi algo que o deixou com uma sensação de vivacidade novamente. Desde que retornara dos mortos, sentia-se vazio e até mesmo sem ânimo, mas por um motivo que não sabia explicar, aquele contato tão breve que teve com a jovem Rainha fez com que seu coração acelerasse de uma forma que não acontecia desde antes das adagas dos irmãos da Patrulha perfurarem seu peito. Nunca havia se sentido daquela forma por ninguém antes, e perguntou-se se a situação era normal. Era comum estar prometido a uma senhora e mesmo assim pensar em outra a ponto de sentir seu toque mesmo quando estavam distantes?

Observou Fantasma deitado próximo à janela e o invejou por um instante. O lobo não precisava meter-se em acordos políticos ou lidar com senhores descontentes para garantir a paz, e muito menos era racional – o que significava não ter que aturar a terrível sensação de estar sendo partido ao meio pelo peso da honra e do dever.

Estava tão absorto em seus próprios pensamentos que ao menos se deu conta do ranger da porta da porta sendo aberta.

― Majestade?

A voz de Alys lhe chamou e ele ajeitou-se sobre a cadeira.

― Minha senhora... O que deseja?

― Gostaria de falar com o senhor.

― Oh, sim. Sente-se.

Jon apontou para a poltrona, pedindo que a jovem tomasse assento. Levantou-se da escrivaninha e a seguiu, sentando na poltrona diante à dela.

― Contaram-me sobre a proposta que a Rainha Targaryen lhe fez... A respeito de casar-se com o senhor... ― a voz de Alys era fraca e seu rosto estava ligeiramente pálido ― É verdade?

Por algum motivo, Jon hesitou brevemente antes de lhe responder.

― Sim. Mas recusei a proposta.

A garota Karstark respirou profundamente, visivelmente aliviada pelo que acabara de escutar.

― O que disse a ela?

― Que eu já estava prometido à outra e que não podia quebrar minha palavra. Minha honra jamais permitiria abandoná-la, Alys. ― Jon tentou lhe tranquilizar.

― Eu sei que é um homem honrado, Majestade. Mas...

― Mas...?

― Escutei os homens falando que Daenerys seria um melhor par para o senhor, que ela poderia lhe oferecer o mundo, se quisesse... Enquanto eu mal posso lhe oferecer Karhold.

Os olhos de Alys brilhavam e sua voz era embargada, parecendo que iria chorar a qualquer momento.

― Lhe direi a mesma coisa que falei à Lorde Tyrion e à Senhora Targaryen. ― Jon começou a falar ― Se um dia os reinos do Norte, Terras Fluviais e Vale possuírem uma Rainha, ela será você e mais ninguém. Dei-lhe minha palavra de honra e pretendo cumpri-la, senhora.

Um sorriso cândido brotou nos lábios de Alys.

― E eles aceitaram a sua decisão tão fácil?

Um peso surgiu no peito de Jon quando a garota lhe perguntou aquilo. Desde que ficaram noivos, a Karstark tinha se afeiçoado demasiadamente ao Rei e sempre que podia, estava ao seu lado. O rapaz sabia que não seria fácil para ela entender ou enfrentar a futura separação dos dois.

― Fizemos outro acordo. Marcharei até Porto Real com o exército Targaryen para destronar Cersei Lannister. Foi a condição que Daenerys estabeleceu para que pudéssemos ter sua ajuda na guerra contra os Outros.

― Irá lutar a guerra dela? Mas... ― a expressão de Alys estampava um misto de surpresa e inconformismo.

― Será necessário, sabe que precisamos aumentar nosso exército. Ou era isso, ou casar-me com a Rainha. ― Jon lhe respondeu.

― E se morrer no campo de batalha? Como todos nós ficaremos sem Vossa Majestade?

― Não morrerei. ― o Rei lhe disse, de forma confiante.

Poderia parecer arrogância, mas Jon sentia que não morreria no Sul. Em seu íntimo, tinha certeza que se tivesse que enfrentar a morte mais uma vez em um futuro próximo, seria Pra Lá da Muralha.

― Voltarei em breve, Alys. Enquanto isto prepare nosso casamento, pois assim que regressar a tomarei como minha esposa no bosque sagrado de Winterfell. ― Jon lhe falou.

A jovem Karstark levantou-se de sua poltrona e foi até Jon, jogando-se em seus braços. Ela o abraçou com força e após alguns instantes, o fitou. Os olhos de Alys eram de um azul-acinzentado intenso e incrivelmente belo. Jon estava tão absorto neles que não protestou quando a garota colou seus lábios ao dele, e se deixou levar pelo movimento ousado de Alys. Ele podia sentir a respiração descompassada e o coração acelerado da jovem enquanto se beijavam e segurou-a firmemente para que ela não caísse no chão.

― Obrigada por ficar ao meu lado, Majestade. ― ela disse, após quebrar o beijo, parecendo estar sem fôlego.

O jovem Rei a encarou, e passou os dedos em seus longos cabelos escuros.

― Me chame de Jon. Apenas Jon.

 

***

 

― Ele se casará com a garota Karstark mesmo depois de tudo que Daenerys lhe ofereceu? Isto é uma tolice! ― Rhaegar disse, logo após saírem de mais uma visão.

Lyanna rolou os olhos. O Príncipe parecia tão sensível para umas coisas, mas tão indiferente em relação à outras...

― No Norte, quando damos nossa palavra, costumamos ir até o fim para cumpri-la. ― a garota o cortou ― Não sei qual o nome dão a isto no Sul, mas aqui chamamos de honra, não de tolice.

― Honra é muito importante, Lyanna. ― Rhaegar tentou defender-se ― Mas vencer uma guerra também é. Tudo seria mais fácil se Jon e Daenerys se casassem de uma vez por todas.

― Concordo, mas o que queria que ele fizesse? Abandonar a pobre Alys para ir para cama com sua irmã?

― É melhor deixarmos este assunto de lado. ― o Príncipe tentou remediar.

A jovem Stark sabia o motivo dele não querer falar sobre aquilo. Devia ter recordado de Elia, sua esposa abandonada em Porto Real, deixada sozinha com seus filhos pequenos enquanto Rhaegar estava ali, tentando seduzi-la. Mas não tinha cabeça para brigar com ele àquela altura; a vontade de saber o que aconteceria com seu sobrinho era maior do que qualquer remorso que poderia ter.

― Pois bem, como quiser. ― Lyanna lhe respondeu ― Voltarei para as visões. Irá me acompanhar?

― Não deixaria de fazê-lo por nada neste mundo.

Lyanna mal pôde sentir a pele de Rhaegar tocar na sua quando encostou a palma da mão na face esculpida no represeiro e foi tragada para mais uma cena que o futuro reservava.


Notas Finais


Gostaram do capítulo? Decidi agilizar um pouco mais as coisas pra tudo se desenrolasse mais rápido. Quase não teve Lyanna e Rhaegar, mas foi um sacrifício necessário pra que o enredo progredisse. O que acharam do acordo feito entre o Jon e a Dany? Não esqueçam de comentar, porque é isso que me faz ter ânimo para continuar escrevendo. Beijos e até a próxima!

Tumblr: http://futurogf.tumblr.com/


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