Quando entrei na escola os corredores já estavam vazios, eu havia perdido a primeira aula, então peguei meu horário na secretaria e fui para o meu armário. Estava do jeito que eu havia deixado no fim do ano passado, então só coloquei os livros e minhas coisas lá dentro. Eu não sabia o que fazer, já que não podia sair da área coberta, pois havia começado a chover uns minutos atrás, me sentei no chão abaixo do meu armário e fui escrever no meu caderno. Eu estava viajando, e não ouvi quando ele chegou perto de mim.
- Matando aula ? - Perguntou.
Olhei para cima e vi um garoto sorrindo, não o reconheci de lugar nenhum, então presumi que ele era novo.
- Cheguei tarde. - Respondi.
Observando-o mais percebi que ele era bonito, mas era uma beleza escura, ele se vestia inteiramente de negro, como um corvo. Ele parecia assustador, e me encarava com intensidade demais para o meu gosto.
- O que você quer? - Perguntei encarando-o de volta.
- Nada, só me distrair. - Deu de ombros casualmente. Assenti e abaixei a cabeça,recomecei a escrever e recoloquei os meus fones. Depois de uns instantes sentou-se ao meu lado, o olhei de relance com os olhos franzidos e me afastei um pouco, continuei a ignorá-lo mas ele continuou me olhando, e isso me deixava desconfortável. Não aguentei mais e cedi.
- Sério, você está começando a me assustar. - Eu disse e olhei para ele, ele riu.
- Me desculpe, não era intenção.
Eu só queria tirá-lo dali e ter um pouco de privacidade, que razão eu teria para matar aula para um garoto desconhecido e assustador me abordasse e não me deixasse em paz?
- Tudo bem, então qual é a intenção ?
- Conversar com uma garota bonita. - Eu me irritei e, já que ele não iria embora, eu iria.
- Olha, eu não preciso que você me faça piadinhas sobre minha aparência, Ok? - Eu disse irritada, me levantei e corri para o banheiro. Olhei para o espelho e meu inimigo me encarava, ele sempre iria me perseguir. Por que será que aquele garoto estava debochando de mim, atentamente me encarei, meus olhos se encheram de lágrimas e eu me senti estúpida.
'' Você é estúpida '' Confirmou meu inimigo com as palavras cheias de veneno, me senti mal, e uma lágrima escorreu, doía-me o que ele me dizia, por que eu sabia que era verdade, e a verdade machuca, por que eu não queria que ela fosse assim, eu queria uma realidade diferente. Limpei meu rosto com o papel-toalha com grosseria, eu era uma idiota por chorar por isso.
Quando me senti melhor sai do banheiro e voltei para o meu armário, e para minha surpresa o garoto ainda estava sentado onde estava antes de eu sair, e pior, estava lendo o que estava escrevendo no meu caderno, meu coração deu um salto mortal e eu estava com muita vontade de arrancar os olhos dele, eram coisas minhas, eram quase pessoais, não tinha feito para outras pessoas lerem.
- Ei, ei o que você está fazendo ? - Perguntei enquanto tomava-lhe o caderno das mãos, ele me olhou com um susto enquanto eu o encarava.
- Me desculpe, fiquei curioso - Desculpou-se, aqueles fingidos olhos negros me encarando.
- Não era para você ler, era para você ter ido embora.
- Mas porque ? - Ele se levantou e apontou para o caderno que eu apertava contra o peito.- Isso estava incrível, você deveria compartilhar com outras pessoas.
- É pessoal, você não deveria ficar dando sugestões. - Eu estava envergonhada, não acredito que eu havia sido tão idiota de deixar meu caderno tão exposto, mas eu meio que fiquei feliz quando ele disse que havia gostado.
- Me desculpe, se eu soubesse que você ficaria tão chateada não teria lido.
- Já foi, não adianta mais nada, só tenta esquecer Ok ? - Com um suspiro fechei meu caderno e o tranquei no meu armário.
- Não posso fazer isso, nunca mais vou esquecer do que eu li.- Disse ele, não parecia estar debochando, parecia muito sério na verdade, franzi os olhos e o olhei.
- É claro que vai, não seja bobo.- Ele balançou a cabeça em negativa.
- Eu não vou e tenho certeza disso. - Ele respondeu, desisti, que não esquecesse então. -Porque você saiu correndo?
- Não gosto de brincadeiras.
- Eu não estava brincando.- Será mesmo ? Uma parte de mim ficou feliz novamente por algo que ele havia dito, e eu deixei.
- Eu não sei seu nome - Ele disse, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta.
- Também não sei o seu - Respondi colocando minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta. Ele sorriu e estendeu uma das mãos.
- Meu nome é David. - Olhei para sua mão estendida por um momento e então estendi a minha.
- Emma. - Ele apertou minha mão e sorriu novamente.
- Nome legal. - Eu sorri também.
- O seu também posso dizer.
Soltamos as mãos e eu me despedi, queria ir à biblioteca antes que a próxima aula começasse.
- Até mais, Emma.
- Tchau, David.- Virei as costas e sai.
Na biblioteca procurando algo que me despertasse interesse, me dei conta de uma coisa : Eu havia feito algo horrível, que agia contra os meus princípios. Eu havia feito um amigo, e agora não sabia como voltar atrás.
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