Faltava um mês para o natal, a família Queen estava se preparando para o típico baile que davam todo ano na empresa, porém este ano algo estava diferente.
- Bom dia mãe. - cumprimentei assim que entrei na cozinha.
- Bom dia Oliver, onde estão as crianças?
- Se arrumando para a escola, parece que teremos dois cientistas na família.
- Fala da bagunça na lavanderia? - vi Thea atravessar o ambiente e se juntar a nós. - Culpada.
- Você não deveria incentivar meus filhos a se tornarem pestinhas, você é a tia tem que dar o exemplo.
- Oliver, por favor, Thea é mais criança que Connor e Sophie juntos. - mamãe zombou. - E não é como se eles fossem santinhos.
- Papai papai, Connor arrancou a cabeça da Mérida.
- Mentira, foi um acidente, você quebrou meu carrinho primeiro.
- Meu Deus, precisamos de uma nova babá. - mamãe falou exasperada enquanto a bagunça da manhã começava.
Depois da morte do meu pai, resolvi me casar com Helena e dar um rumo a minha vida, estávamos noivos a três anos e eu precisava ser o homem da família. Os primeiros dois anos foram maravilhosos e os mais felizes, no terceiro ano de casados vieram às crianças, o que só melhorou. Estávamos grávidos de gêmeos e lembro-me da gestação de Helena ter oscilado bastante durante os nove meses, no ultimo mês foi uma luta diária e após o nascimento das crianças tivemos que passar um mês no hospital. Quando as crianças estavam perto de completar o primeiro aniversario, Helena adoeceu, a tuberculose a levou de mim uma semana antes do natal, vi meu conto de fadas se tornar um pesadelo e se não fosse o suporte de minha mãe e irmã eu não sei se teria suportado. Deste dia em diante não comemoramos o natal, apenas o baile da empresa da família é dado com uma semana de antecedência.
- Pensando nela? - cortei meus pensamentos ao notar minha mãe atravessar minha sala.
- Pensei que com o tempo fosse ser mais fácil de superar, mas parece que a cada ano a saudade aumenta.
- Você deveria tentar sair mais, tirar o foco do trabalho. Conhecer um novo alguém, sabe?
- Acho melhor pararmos por aqui ou você sabe onde chegaremos.
- Oliver, eu te amo e só quero te ver feliz, pense um pouco a respeito.
Cheguei em casa por volta das 18:h e fui recebido com pequenos seres se agarrando a minha perna.
- Olá meus amores, como foi o dia?
- Papai, nós temos uma professora substituta, ela é tão linda e legal. - Connor falava entusiasmado.
- Ela parece uma princesa, como a cinderela.
- Verdade? E qual o nome dela Sop?
- Srt. Smoak, mas ela nos deixa chamá-la de tia Lis. - eles pareciam encantados com essa moça.
- E por que ela é tão legal?
- Ela conta histórias e faz teatro de marionete papai.
- Ela também nos leva biscoitos e ler contos de natal. - vi o sorriso da minha filha murchar. - Papai, por que não podemos ter uma arvore? Todas as crianças da escola tem.
- Querida, a gente já conversou sobre isso, não foi?
- Sim papai, desculpe. - baixou a cabeça.
- Agora subam pro banho, precisamos jantar. - vi os dois correr escada acima.
- Já faz cinco anos Ollie, eles merecem um natal decente.
- Thea, por favor, não vamos voltar com isso.
- Não sei por que ainda tento você é um cabeça dura mesmo.
O frio de Starling era só mais um sinal de que o natal se aproximava, as casas enfeitadas e as luzes coloridas deixavam as crianças encantadas, mas algo me incomodava. Nos últimos dias Connor e Sophie vêm insistindo por uma arvore de natal e eu sabia que isso não surgira do nada, eles acabaram deixando escapar que a tia Lis contava histórias sobre o natal e arvores de natal, eu estava ficando aborrecido, não podia deixar que essa mulher, seja quem for, influenciasse as crianças dessa forma.
- Desculpe. - pedi assim que percebi esbarrar em alguém em um dos corredores do supermercado.
- Tudo bem, eu não estava prestando atenção. - levantei meus olhos só para dar de cara com um oceano azul tão intenso que me desnorteou.
- Eu estava tentando encontrar biscoitos com desenhos do Frozen.
- Filhos? - a moça perguntou curiosa.
- Dois. Gêmeos. - expliquei. - Eles adoram esse desenho.
- Bom, os biscoitos estão logo ai. - ela apontou para a prateleira atrás de mim.
- obrigado. - resolvi voltar minha atenção para os biscoitos. - Leite com gotas de chocolate ou chocolate?
- Sugiro a primeira opção, derrete na boca como a maciez do leite, mas tem a a explosão crocante do chocolate, acredite em mim, é divertido. - só então ela pareceu perceber a própria empolgação. - Trabalho com crianças e é prazeroso ver a satisfação delas a cada mordida. - explicou.
- Oliver. - estendi minha mão divertido com a situação.
- Felicity. - ela retribuiu o cumprimento. - Então Oliver, espero ter ajudado.
- Bastante, e mais uma vez desculpa pelo esbarrão.
- Tudo bem. A gente se vê por ai.
Voltei ao escritório com aquelas íris azuis rondando minha cabeça, mas tratei de espantar os pensamentos adolescentes, eu não tinha mais idade para encantos platônicos.
- Papai! - Connor invadiu minha sala.
- Hey campeão, onde está sua irmã?
- A vovó a levou até o banheiro, ela precisava fazer o número 1.
- E o que vocês fazem aqui? - questionei curioso.
- Viemos fazer uma visita de co... Co...
- Cortesia? - sugeri divertido.
- Isso, a vovó disse que é gentil.
- E a vovó está certa. - acomodei Connor em minha perna esquerda.
- Achei uma princesa no caminho pra cá. - vi John entrar com Sophie nos braços. - Sua mãe foi buscar café.
- Oi papai, tio John disse que eu pareço a princesa Anastácia, mas eu não sei quem é ela.
- Vem cá amor. - a chamei para sentar em minha perna direita. - A princesa Anastácia é muito bonita e se parece com você porque tem cabelos castanhos e olhos claros como os seus. E você não a conhece porque não é uma princesa da Disney, mas prometo comprar o filme para você ver. - expliquei. - Eu tenho uma coisa para vocês.
- Biscoitos. - gritaram em uni sonoro assim que mostrei as embalagens.
- Leite com gotas de chocolate, como os que a tia Lis não leva. - Sophie parecia empolgada. - E é do Olaph.
- Papai, podemos ter uma arvore este ano?
- De novo essa história, Connor? Eu não já falei que nada de arvore?
- Mas pai, a tia Lis disse que toda criança merece uma e que não podemos deixar morrer o espírito do natal.
- Eu já disse que não Connor Alexander Queen, não teremos arvore, estamos entendidos?
- Sim papai. - logo os dois saíram e eu sabia o que viria a seguir.
- Nem comece John.
- Eu só acho que você pega pesado demais, eles são só crianças e como todas, eles querem uma arvore e luzes de pisca ou um papai Noel.
- E eu só acho que está na hora de ter uma conversinha com a "tia Lis", e vai ser agora.
- Oliver. - Dig me chamou antes que eu atravessasse a porta. - Só vá com calma, tente não fazer besteira.
Eu não estava em um bom humor, aquela mulher vinha enchendo a cabeça dos meus filhos com caraminholas e eu não podia deixar.
- Mr. Queen, a Srt. Smoak está em aula, o senhor pode ter um pouco de paciência e esperar? - a diretora parecia pisar em ovos e eu aposto que o motivo era a enorme carranca que eu tinha no rosto.
- Sra. Fernandes mandou me chamar? Eu não pude vir em imediato, estava no meio de uma história.
- Srt. Smoak, um pai veio até aqui para fazer uma queixa a seu respeito, pode se sentar. - me virei para ver o rosto dono da voz e grande foi minha surpresa. Era a moça do supermercado, como é mesmo o nome dela... Felicity.
- Você! - ela parecia tão surpresa quanto eu.
- Ah, vocês já se conhecem? - a diretora perguntou com receio.
- Um breve esbarrão no supermercado.
- Certo Felicity, o Mr. Queen veio até aqui fazer uma queixa de suas aulas.
- E o que eu fiz de tão grave para esse senhor se deslocar até aqui em descontentamento? - ela parecia um pouco aborrecida, pelo visto não estava acostumada a receber críticas.
- Eu vim até aqui pedir para a senhorita parar de encher a cabeça dos meus filhos com bobagens.
- Seja mais especifico senhor Queen, eu tenho muitas crianças.
- Os gêmeos. - a diretora a informou.
- Sophie e Connor, eles são seus filhos? - ela pareceu surpresa. - E eu posso saber o que eu fiz de grave?
- Você fica botando na cabeça deles que toda criança tem que ter uma arvore de natal, mas lá em casa não costumamos comemorar e as crianças estavam bem com isso até você aparecer.
- A Sophie me contou que você nunca permite o natal entrar desde que a mãe deles se foi, bem, eles só querem provar do espírito natalino.
- Sophie não tinha esse direito, nos expor assim a uma desconhecida.
- O senhor não percebe Mr. Queen? Eles são apenas crianças, toda criança merece ser feliz e eles não estão. Ter uma arvore de natal não é uma futilidade como o senhor diz, criança merece toda a esperança que o natal nos passa, porque ao menos elas ainda têm a pureza necessária para isso. Talvez o senhor devesse levar isso em conta.
- Quem a senhorita pensa que é? Eu não preciso de dicas de como devo criar meus filhos.
- E eu não estou dando, mas a vida já tirou tanto deles, não é justo o senhor ir pelo mesmo caminho. - as palavras daquela mulher de alguma forma me afetaram. - Connor me disse que o senhor nunca fala da mãe deles, o senhor acha isso justo?
- Srt. Smoak está passando dos limites. - só então me dei conta que a diretora ainda estava lá.
- Desculpe, é que talvez o senhor não tenha se dado conta de que eles são crianças muito especiais.
- Se tem alguém que sabe disso, acredite, sou eu.
- Então não ignore esse fato, a vida já os tirou a mãe, não os tire o pai também. Boa tarde Mr. Queen.
Eu fui até aquele lugar disposto a falar um monte para a mulher que vinha enchendo meus filhos com toda aquela coisa de natal. Mas não sei se foi por tudo que ela me disse ou simplesmente por ter olhado direto naquela imensidão azul, eu travei. Estava tão absorto com as palavras dela que sai de lá com a cabeça girando.
- E então, como foi com a professora das crianças? - John perguntou em meu encalço enquanto entrava na minha sala. - Você saiu tão avoado que nem falou com sua mãe.
- Eu sei, falo com ela quando chegar em casa. - anos de amizade me fez aprender a ler o silencio de John Diggle, ele queria saber mais. - Felicity é a professora das crianças, acredita?
- Felicity é a moça do supermercado, certo? - confirmei. - Uma coincidência e tanto, afinal você ficou tão impressionado com ela. Espera, Oliver você foi grosso com a moça?
- Essa era a ideia a princípio, mas John a forma como ela me olhou e tudo o que ela falou me deixou perturbado.
- Pelo visto você não é tão frio quanto pensa. - ele tinha um sorriso travesso nos lábios.
- Nem pense nisso. - alertei.
- Já faz cinco anos, Oliver. Está na hora de deixar Helena descansar em paz. - eu sabia. - Chame a garota pra sair, é obvio que você está encantado com ela.
- John eu não me encanto mais por garotas, só pela Sophie. - rimos. - Eu não posso estar em um relacionamento, não sou digno de ninguém, não quando sou um homem quebrado.
- Você criou essa desculpa e passou tantos anos acreditando nela que agora não consegue mais sair. Tente se dar uma chance, meu amigo.
Os dias foram passando e as palavras de Felicity não paravam de ecoar na minha cabeça, olhar para as crianças e ver seus olhinhos pidões me fez sentir um péssimo pai, talvez Felicity estivesse certa, talvez eu estivesse tirando mais das crianças do que imaginava.
- Hey querido, estou indo buscar os gêmeos na escola.
- Não mãe, deixa que hoje eu vou. - levantei já buscando meu sobretudo. - Diggle irá comigo, levarei eles para almoçar hoje.
- Por que isso agora Oliver? - seu olhar era desconfiado.
- Uma pessoa me fez perceber que tenho passado pouco tempo com quem realmente importa.
- Por que algo me diz que tem a ver com a professora das crianças? - ela olhou para John que lhe devolveu um olhar cúmplice. - Gosto dessa garota e as crianças mais ainda.
- Você é um fofoqueiro. - apontei para John que rio. - E mãe, não começa. - Moira Queen e sua mania de querer me desencalhar.
Cheguei à escola dos gêmeos e a aula ainda não tinha acabado, resolvi levá-los mais cedo, com a autorização da diretora fui até a salinha deles, mas me detive com a cena que vi. Felicity estava sentada sobre sua mesa lendo algum livro para eles, ela parecia encantadora.
- Crianças, vamos parar por aqui, amanhã continuamos com nossa história. Agora arrumem suas coisas, o sinal tocará a qualquer momento.
Resolvi não interferir e esperei o sinal bater, quando deu o horário vi várias crianças saírem pelo corredor e logo avistei meus pestinhas.
- Papai! - poderia passar mil anos, mas eu nunca me cansaria daquele som.
- E ai campeão. - fiz toque de mão com Connor. - Princesa. - um beijo na testa de Sophie. - Srt. Smoak, como vai?
- Olá Mr. Queen. - ela foi cordial.
- Bem crianças eu vim buscar vocês para almoçar. - esperei que eles comemorassem. - Hoje pode até hambúrguer e batata frita.
- E milkshake pai? - os olhos de Connor brilharam.
- Sim campeão tudo que quiserem hoje.
- A tia Lis pode ir também? - levantei os olhos até ela que parecia tão surpresa quanto eu. - Por favor, papai.
- Sim Sop, a tia Lis pode ir se quiser. Por que você não a convida?
- Vamos tia Lis, vai ser legal. - os vi fazer carinhas de cachorro, ela não venceria aquelas carinhas.
- Tudo bem espera só eu buscar minhas coisas.
O almoço com Felicity e as crianças foi divertido, era notável o quanto Connor e Sophie estavam encantados com ela.
- Eu gostaria de me desculpar pelo outro dia. - falei enquanto as crianças escolhiam os brindes da lanchonete.
- Tudo bem Oliver, é só que... Eles sentem falta.
- Vamos fazer assim, você aceita sair para jantar comigo e podemos nos conhecer melhor. - ela parecia relutante. - Prometo que será apenas um jantar de amigos.
- Tudo bem pode ser no sábado?
- No sábado está perfeito. - vi as crianças se aproximar e logo fomos embora, Felicity preferiu pegar um táxi.
No sábado, eu mesmo fui buscá-la e ela estava maravilhosa. Felicity era do tipo de pessoa que transmite paz apenas com um sorriso, ela emana luz. O jantar foi agradável, pude conhecer mais dela.
- Então, por que escolheu ser professora? - questionei curioso.
- Gosto de crianças e mais ainda de compartilhar conhecimento, uni o útil ao agradável. Na verdade o melhor de se estar nessa profissão é ver os olhinhos de cada criança brilhando por aprender algo novo, é maravilhoso. - falou encantada. - Mas e você, me conta mais de você.
- Eu sou CEO de uma empresa, viúvo e tenho dois projetos de gente que amo muito. - simplifiquei.
- Ah não, assim não vale. Quero saber do Oliver que ninguém conhece não este tão obvio. - a vi diminuir o sorriso. - Me diz, por que você não gosta do natal?
- Vamos pedir a conta? - sugeri. Eu estava me sentindo incomodado com o rumo da conversa e não queria estragar o jantar.
- Claro. - ela sorriu tão doce que eu agradeci mentalmente por ela não insistir.
O caminho até a casa de Felcity foi divertido, ela cantava as músicas que tocava no rádio enquanto fazia caras e bocas, ela era assim, tão natural e divertida que eu só queria passar mais tempo ao seu lado.
- Então... - comecei assim que chegamos a sua porta.
- Obrigada pela noite Oliver, eu me diverti muito.
- Eu também. - fui sincero.
- Então, boa noite. - falou para em seguida girar os calcanhares em direção a porta.
- Felicity. - a chamei com um tanto de receio. - Quando você perguntou o porquê de eu não gostar do natal, desculpe por não ter respondido, eu só não queria estragar uma noite tão maravilhosa.
- Você não precisa...
- Eu sei, não preciso contar. Mas então por que eu sinto essa necessidade?
- Você tem tempo para um café? - sorriu cúmplice me convidando a entrar.
- Eu perdi minha mulher faltando poucos dias para o natal. - falei quando ela me ofereceu a xícara. - Sabe, costumávamos ser felizes, os gêmeos estavam prestes a completar o primeiro aniversario, mas ai a tuberculose veio e...
- Imagino o quanto deve ter doido. - agradeci internamente por ela não ter falado o clichê "eu sinto muito".
- Quando Helena se foi eu vi meu mundo desmoronar e se não fosse pelas crianças, eu teria desistido. Com o tempo eu fui me reerguendo, mas sempre que chega o natal tudo volta. As pessoas costumam julgar, até mesmo minha família vem sempre com a mesma história de que eu preciso superar seguir em frente, virar a pagina.
- Mas eles não entendem. - iniciou. - É uma dor que nunca se vai, e mesmo quando aprendemos a conviver com ela, o trauma fica e então tudo que sabemos fazer é vestir uma armadura, porque é assim que funciona com o medo de perder.
- Nossa você parece ter um passado tão triste quanto o meu.
- Meu pai abandonou a família quando eu tinha apenas cinco anos, eu precisei amadurecer cedo, vi minha mãe chorar escondido várias vezes. Então passei a não deixar as pessoas se aproximarem de mim tão intimamente até...
- Hoje. - completei olhando no oceano azul dela. Mergulhei tão intenso que me perdi neles, era como se aquele momento estivesse esperando para acontecer, parecia tão certo que quando dei por mim já estava a puxando para um beijo. Um beijo suave, doce, confortante.
- Por que fez isso? - perguntou ainda com os olhos fechados.
- Parecia tão certo, eu... Não sei, só fiz.
- Está ficando tarde, acho melhor você ir. - levantei indo em direção a porta com ela em me seguindo, mas antes que ela fechasse a porta a beijei novamente, desta vez apenas um encostar de lábios.
- Precisamos fazer isso mais vezes.
- O beijo ou o jantar? - questionou divertida.
- Os dois.
-Boa noite Oliver.
- Boa noite tia Lis.
Sair com Felicity estava sendo realmente especial, ela estava me fazendo sentir vivo como a tempos não acontecia. As crianças a adoravam e eu sentia que estava me apaixonando, o que era insano já que só faziam duas semanas.
O natal estava se aproximando e as crianças não tocaram mais no assunto arvore de natal, mas eu sentia que eles ainda a desejavam, no fundo pela primeira vez em cinco anos, eu também estava sentindo falta do natal.
- Felicity? - a chamei assim que ela atendeu a ligação. - está ocupada?
- Oi Oliver, pode falar, não estou ocupada.
- Eu queria fazer uma coisa, mas vou precisar da sua ajuda. - ela permaneceu em silencio esperando que eu terminasse. - Você pode me encontrar no centro no seu horário de almoço?
- Claro, eu te ligo quando sair daqui. - nos despedimos e logo encerrei a ligação.
Eu não sabia se daria certo, muito menos se daria tempo, mas algo em Felicity me fez querer arriscar, ela parecia ascender uma chama que a muito havia se apagado dentro de mim.
- Não acredito que estamos fazendo isso. - ela parecia uma criança olhando tudo.
- Você acha que da tempo? - eu estava receoso, tudo aquilo era novo pra mim.
- Qual é, levaremos uma noite para enfeitar e as crianças vão amar a experiência. - falou parando ao lado de uma arvore. - Vamos ficar com essa, é grande e tem galhos cheios. Perfeita.
- Você vem comigo mostrar para os gêmeos?
- Claro, mal posso esperar para ver seus olhinhos brilhando com a surpresa.
Pela primeira vez em muitos natais, eu me sentia confortável, claro que a lembrança da perda de Helena permanecia lá, mas não de forma dolorosa, apenas nostálgica. Talvez eu tenha me acostumado tempo demais com esse sentimento e agora só precisava deixá-lo ir.
- Connor, Sophie. - entrei em casa com Felicity. - Crianças venham aqui, eu tenho uma surpresa.
- Tia Lis. - minha pequena saiu da cozinha correndo para se jogar nos braços de Felicity. - Oi papai.
- Nossa isso tudo é saudades? - fingi ciúmes. - O pai não ganha um abraço?
- Ganha. - logo ela se jogou sobre mim, agarrando meu pescoço com seus braços curtos.
- Onde está seu irmão? - ela indicou a sala de brinquedos. - Será que pode chamá-lo? Temos uma surpresa. - Sophie saiu correndo pela casa gritando pro Connor que eles ganhariam uma surpresa, enquanto riamos da cena. Não demorou muito para ela voltar com o irmão dessa vez.
- Estão preparados? - perguntei enquanto me encaminhava com eles até o quintal. Enquanto eu tapava os olhos de Sophie, Felicity fazia o mesmo com Connor.
- É um cachorro papai? - Connor perguntou animado.
- Não. - olhei pra Felicity que parecia se deliciar com o momento. - Mas é algo que vocês vem pedindo a um tempo. Não sei bem o que senti ao ver aqueles dois pares de olhinhos brilhando ao ver a surpresa, mas foi algo como satisfação.
- Uma arvore papai? - Sop parecia hipnotizada. - Nós teremos uma arvore.
- Que maneiro. - Connor gritou enquanto se aproximavam do pinheiro. - Ela é grandona.
- Sim campeão o que acham de decorarmos ela hoje a noite?
- Mas não temos enfeites. - Sophie pareceu se dar conta.
- Na verdade temos. - Felicity levantou a sacola que carregava despercebida. - A gente comprou uns enfeites bem legais.
- É e eu acredito que a avó de vocês ainda tenha alguns guardados.
- Tia Lis, você vai nos ajudar a decorar? - Connor perguntou empolgado. - Vem tia, vai ser divertido, vamos chamar a vovó e a tia Thea também.
- É tia Lis, vem ajudar a gente. - Sop reforçou o pedido.
- Você poderia vir para o jantar. - a convidei com minha melhor cara de pidão.
- O que é isso, um complô? - questionou divertida. - Ta bom, já que insistem tanto, eu venho ajudar vocês com a arvore. - a encarei questionador. - E jantar.
- Vai ser divertido. - toquei seus lábios enquanto as crianças repetiam que estávamos namorando, em coro.
Felicity chegou até nossa casa carregando uma caixa exagerada, segundo ela eram alguns enfeites que ela tinha achado no porão. O jantar foi coberto de conversas divertidas, as crianças estavam empolgadas.
- Já podemos ir decorar a arvore? - Connor pediu fazendo cara de cachorrinho com fome.
- Deus, Oliver, esse menino parece você quando criança. - mamãe disse divertida. - Connor querido, você acabou de jantar.
- Por favor, vovó. - Sophie repetiu a cara do irmão.
- Qual é pessoal, vamos logo decorar essa arvore.
- Thea, você consegue ser mais criança que os gêmeos. - comentei recebendo uma língua em resposta, enquanto todos riam. - Vamos logo para a sala.
O momento que se seguiu foi uma tremenda farra, mamãe nos trouxe os enfeites e juntado com os outros tínhamos bastante. Os meninos pareciam se divertir e eu não lembro a ultima vez que me senti completo em cinco anos, o sorriso dela estava me iluminando, foi tão sorrateiro que eu mal pude perceber. Felicity me trouxe de volta, ela tinha esse poder de encantar todos a sua volta.
- Olha papai, olha como esse cristal é lindo. - Sophie me mostrou um enfeite delicado que estava em suas mãos, eu me lembrava dele.
- Era o favorito da sua mãe. - as palavras saíram tão naturais que por um momento eu me assustei, nunca tinha falado sobre Helena para as crianças. - Eu tinha me esquecido completamente dele. Sabe, ela dizia que parecia um cristal da sorte.
- Posso ficar com ele, papai? - ela pediu manhosa.
- Claro amor, ele é seu agora. Quer pendurar? - ela correu até a arvore e pediu para Thea por perto da estrela no topo.
- Não é justo, eu também queria um enfeite só pra mim. - me senti culpado quando vi o bico enorme que Connor tinha.
- Querido, venha até aqui. - Felicity o chamou. - Olha, você pode ficar com o meu, toma. - ela ofereceu um globinho que ele prontamente pegou. - Eu sei que não é o da sua mamãe, mas ele também é especial. Eu o ganhei da minha mãe quando tinha sua idade, ela não tinha dinheiro para me dar um presente de natal e então juntou algumas moedas e me trouxe esse globo, nossa eu fiquei tão feliz com ele, era meu presente e só o fato dela ter lembrado já foi o suficiente.
- Que legal tia Lis, sua mamãe é muito boazinha.
- É sim querido, ela é muito especial. - vi um olhar saudoso estampar o rosto dela, o brilho de lágrimas ameaçando, eu não era capaz de vê-la chorar.
- E então campeão, agora que já tem seu próprio enfeite, onde quer pendurar?
- Lá papai. - apontou para o topo da arvore. - perto do da mamãe. - sorri para ele, o suspendendo para que ele mesmo o fizesse.
Era tarde de véspera de natal, as crianças estavam animadas com a ceia, que para elas seria uma experiência nova. A casa estava toda decorada, com meias na lareira e ramos nas janelas, eles teriam tudo esse ano, eles mereciam.
- Crianças, venham aqui com o pai. - entrei na sala de brinquedos. - Quero mostrar uma coisa para os dois.
- O que é papai? - Connor perguntou, enquanto sentavam ao meu lado.
- Quero mostrar a história de vocês. - abri o álbum de fotos que a muito não saia do fundo do armário. - Olha esses aqui são vocês com a mamãe. - apontei para uma foto de Helena com os dois.
- Ela era tão linda. - Sophie comentou admirada.
- Era sim, ela parecia uma princesa. - comentei enquanto mudava a página. - Olha só vocês com o tio Tommy, lembram-se dele? - negaram confusos. - Quando ele viajou vocês ainda eram muito pequenos.
- Quem é essa, papai? - ela apontou curiosa para o rosto da foto.
- Essa é a tia Sarah, uma amiga do papai que se mudou pra longe.
- Olha a vovó. - Connor apontou divertido. - e a tia Thea.
- Essa foi no dia que vocês dois nasceram, foi o dia mais feliz da minha vida. - e era verdade, o dia que eles nasceram foi quando a vida fez sentido. - Olha nós quatro. - apontei a foto para eles.
- Papai? - eu sabia que viria uma pergunta daquelas no momento que olhei o sorrisinho da minha pequena.
- Sim, Sophie?
- A tia Lis será nossa nova mamãe? - senti minha garganta fechar num engasgo com aquela pergunta.
- Querem saber de uma coisa? A vovó fez biscoitos. - vi os dois se levantar na velocidade de um raio e correrem para a cozinha. Respirei aliviado.
A noite de ceia estava sendo incrível, Diggle veio com a esposa e a filha que tinha a mesma idade das crianças, Thea convidou Roy, seu namorado e mamãe chamou Walter - esses últimos estavam bem apaixonados - mas onde estava Felicity, ela ainda não tinha chegado e eu estava nervoso.
- Não fure meu chão, Oliver. - ouvi mamãe dizer irônica.
- Ela está demorando, não está? - nesse instante a campainha tocou. - Deixa que eu atendo.
- Claro que sim. - lancei um olhar mal humorado pra Thea.
Ela estava simplesmente magnífica, o espírito natalino que me perdoe, mas Felicity enfiada naquele vestido vermelho me fez ter outra visão dela, seus cabelos estavam caindo em cascatas pelos ombros e sua maquiagem era suave, dando destaque para os tentadores lábios vermelho. Ela estava maravilhosa.
- Hey. - sai do meu transe com sua voz suave. - Feliz natal.
- Feliz natal. - colei nossos lábios carinhosamente.
- Oliver deixe-a entrar, não seja mal educado. - Moira Queen tinha um péssimo timing.
- Venha, deixe eu te apresentar a minha família. - a puxei pela cintura. - Pessoal essa é Felicity, minha namorada.
- Namorada? - ela perguntou com uma sobrancelha erguida em divertimento.
- Namorada. - afirmei. - Continuando, Lis esses são John Diggle sua esposa Lyla e a pequena Sara. - ela os cumprimentou, animada. - Esse é Roy, namorado de Thea e Walter, namorado da mamãe.
- É um prazer. - a vi apertar as mãos dos dois.
- Vovó, eu estou com fome. - Sophie saiu da sala de brinquedos reclamando, mas bastou ver Felicity para se jogar nos braços dela, sendo seguida por Connor.
- Eles realmente a adoram. - John se aproximou de mim.
- Sim John, nunca os vi tão a vontade com alguém que não fosse nós. O que essa mulher fez com os meus filhos?
- Não sei qual o encanto, mas pelo visto fisgou o pai também. - comentou divertido. - Você está babando nela Oliver, eu não via você assim há bastante tempo. - sorri desconcertado, afinal ele estava certo, Felicity fez voltar o velho Oliver, o que via cores e beleza nas coisas.
- Vamos jantar antes que essas crianças roubem o peru. - mamãe falou nos roubando atenção.
A ceia foi divertida, todos estavam comendo e conversando sobre bobagens, contando histórias de natal e fatos engraçados. Olhei para os meus filhos e eles estavam tão felizes, seus olhinhos brilhando como estrelas no céu, olhei minha mãe e ela parecia tão contente, ela merecia aquele momento. Olhei o rosto de cada um enquanto conversavam e os sorrisos eram tão sinceros que me peguei desejando aquilo por mais vezes. Eu tinha recuperado aquele momento e tudo graças a ela, a mulher que vinha dominando meus pensamentos com uma facilidade assustadora, não sei exatamente o momento em que me apaixonei por Felicity, mas agradeço a Deus o bendito momento que olhei naqueles olhos pela primeira vez.
Chegou a hora mais desejada pelas crianças, a hora de trocar os presentes e grande foi a surpresa deles ao encontrar um papai noel pondo presentes no pé da arvore. Aquela era minha surpresa para eles, contratei um papai Noel com a ajuda de Thea. Vi as três crianças correr até ele, enquanto nós apenas observávamos.
- Olha papai, é o papai Noel mesmo eu disse que ele existe.
- Sim meu amor, você já perguntou o que ele tem para você? - ela fez que não, mas logo se voltou para o "velhinho" fazendo a pergunta.
- Pode abrir papai? - Connor perguntou com um embrulho em mãos.
- Você sabe que o certo seria abrir só pela manhã, certo?
- São tantos presentes, por que não abrimos um hoje e deixamos os outros para amanhã? - Felicity sugeriu.
- Eu acho uma boa ideia. - mamãe concordou.
- Tudo bem escolham apenas um em, não vale trapacear.
- Olha, é a boneca que eu queria. - Sara disse animada mostrando para a mãe o presente que ganhara. - Obrigada papai Noel.
- Que maneiro, eu ganhei uma jaqueta do blue jays, olha pai que legal. - Connor veio em minha direção mostrando o presente todo empolgado.
- Que maneira sua jaqueta, campeão. - o ajudei a vestir. - E você querida, o que ganhou? - Sophie parecia levar uma surra da embalagem.
- Me ajuda vovô Walter? - o mais velho a ajudou a abrir o pacote, revelando uma boneca de porcelana linda. - Ela é linda, parece uma princesa.
- Você gostou Sop? - ela estava encantada com a boneca.
- Sim papai. Obrigada papai Noel. - ela lhe deu um beijo estalado.
- E você não acha que ela precisa de um nome? - Roy perguntou para ela. - Um nome bem maneiro?
- Sim. - ela fez uma carinha pensativa. - Ela parece uma princesa e é muito linda, posso chamá-la de Lis? - seus olhinhos cumpridos bateram em Felicity, fazendo uma pergunta muda.
- Claro que pode querida, eu adorei a ideia.
Logo os convidados foram embora, restando apenas Felicity que por insistência da minha mãe, dormiria aqui. Segundo ela tínhamos quartos de hospede suficiente para deixar a namorada de seu filho voltar sozinha para casa.
Felicity me ajudou a por os gêmeos na cama e foi lindo ver ela os contando uma história, enquanto os fazia dormir.
- Ei, venha até aqui. - a chamei até a varanda do quarto das crianças. - Eu queria te agradecer.
- Me agradecer? Pelo o que? - ela perguntou curiosa.
- Antes de te conhecer eu era apenas Oliver Queen, o CEO durão de uma empresa, quais os únicos momentos de humanidade era quando estava com os filhos. Felicity, você tem noção do milagre que fez? Você me tirou de um casulo o qual eu vinha me escondendo há cinco anos, você me trouxe de volta.
- Eu não fiz nada Oliver, você fez. Eu só precisei usar as palavras certas, mas você saiu da inércia e te ver bem me deixa bem.
- Não sei o que você fez, mas eu estou completamente apaixonado por você srt. Smoak.
- Então estamos empatados, pois eu também me encontro perdidamente apaixonada por você, Mr. Queen.
- Obrigada por trazer o espírito do natal de volta a esta casa. - a beijei como estava querendo fazer desde o inicio da noite. - E você não vai dormir no quarto de hospedes. - ouvi a gargalhada dela.
- Claro que não vou. - confirmou.
- Feliz natal Oliver.
- Feliz natal tia Lis. - a beijei novamente.
Esse foi apenas o primeiro de muitos de nossos natais juntos, Felicity junto com as crianças eram minha luz. Ela trouxe o que faltava em mim e eu a queria por perto sempre. Ela era meu milagre de natal.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.