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História Um romance à meia-noite - Capítulo 3: Perdendo o controle


Escrita por: EvangellinaM

Notas do Autor


Olá! Demorei (muito), mas estou de volta! Peço desculpas não só por todo esses hiatus, mas também pelo tamanho do capítulo. Eu basicamente fiquei um tempo sem ideias e depois me empolguei demais, o que resultou em 9 páginas do word só pra esse capítulo xD Enfim, espero que vocês gostem mesmo assim :D

Capítulo 3 - Capítulo 3: Perdendo o controle


  

Mikaela sentou-se em uma das banquetas em frente ao bar, sentindo-se renovado.  Era a segunda vez que estava ali, contrariando o que dissera a si mesmo há poucos minutos sobre se mandar de volta para a paz de sua casa assim que possível. De certa forma, uma sensação libertadora de alegria tomava conta dele toda vez que olhava para a porta do outro lado do salão e não sentia vontade de sair correndo em direção a ela.

Mas, como já esperado dele, a tal animação perdia um pouco de sua força quando ele se lembrava da enorme lista de afazeres colada na parede de seu quarto, aguardando sua volta. Aquela era a primeira vez que Mikaela ignorava suas responsabilidades em nome do lazer, que ele vinha negligenciando desde que pisara pela primeira vez na sala de aula universitária. Geralmente, era o contrário, e ele não sabia exatamente como reagir com essa mudança súbita. Afinal, ele supostamente deveria estar em casa estudando, e não num nightclub com alguém que acabara de conhecer.

Quando considerava o fato de que ele teria que gastar seu tão aguardado fim de semana com literatura japonesa clássica, sua mente exausta de tanto fazer trabalhos estimulava-o a considerar a opção de sair dali de fininho e concluir tudo o que tinha para entregar pelo bem de sua sanidade no dia seguinte. No entanto, após conferir o relógio e observar que já passava das nove horas, ele limitou-se a soltar um longo suspiro, constatando que realmente teria que passar seu sábado fazendo pesquisa.

Aceitando seu inevitável destino, Mikaela apoia o rosto em uma das mãos, analisando o ambiente ao seu redor até localizar Yuuichirou, animadamente conversando com um dos bartenders a algumas banquetas de distância de onde estava sentado. Ele não pôde evitar o sorriso que se apoderou de seus lábios quando seus olhos encontraram os dele por alguns segundos, antes que o outro se voltasse para o homem loiro com quem falava.

Finalmente, Mikaela parou para analisar o modo como sua noite deixara de ser apenas mais uma tentativa falha de socialização para se transformar em uma oportunidade de enfim dar mais atenção a sua vida pessoal. E tudo isso aconteceu em poucos minutos, graças a um estranho ter-lhe convidado para um drink após dar-lhe um banho acidental de cerveja no meio da pista. Para uma noite que podia ter terminado com um jovem adulto irritadamente digitando palavras em um notebook, estar ali com alguém como Yuuichirou de certo parecia ser o pote de ouro no final do arco-íris.

Isto é, se ele descontasse a música alta fuzilando seus ouvidos e as ocasionais colisões das pessoas que passavam atrás de seu assento com suas costas. Fora isso, ele estava realmente tendo sorte, pelo que talvez fosse a primeira vez em toda a sua carreira universitária. Já estava na hora.

“Tudo bem aí, Mika?” Perguntou Yuuichirou, aparecendo ao lado de Mikaela e tirando-o abruptamente de seus pensamentos. “Desculpa a demora, hoje a casa parece estar mais cheia do que o normal. Daqui a pouco o bartender já traz nossas bebidas.”

O estudante endireita-se sobre a banqueta enquanto o outro se joga sobre o assento ao lado, o mesmo sorriso animado de antes ainda enfeitando seu rosto.

“Sem problemas.” Declarou Mikaela, anuindo brevemente com a cabeça. Um instante de silêncio se fez presente entre os dois, e o estudante se viu vasculhando suas ideias até que felizmente conseguiu encontrar algo para iniciar uma conversa. “Então, você costumar vir muito aqui?”

“Ah, sim, é um dos meus nightclubs favoritos, eu venho aqui assim que fico livre da faculdade.” Respondeu ele, casualmente descansando os braços sobre o balcão de madeira. “Você também estuda?”

Mikaela assentiu, sorrindo para ele. “Eu curso literatura, e você?”

“Eu faço programação, numa universidade aqui perto.” Disse, vagamente apontando para trás com o polegar. “Eu reúno uns amigos e venho pra cá tentar tirar todos aqueles cálculos enormes da cabeça, quando tenho chance. Você veio sozinho hoje?”

“Bom, eu vim com dois amigos, mas não faço ideia de onde eles estejam. A última vez que vi eles foi antes de você me acertar com aquele copo de cerveja.” Riu, lembrando-se do ocorrido como se não tivesse sido nada além de uma situação cômica. Yuu o acompanha e ri também, um adorável tom de vermelho se apresentando mais uma vez em suas bochechas e fazendo com que o coração de Mikaela desse uma pequena saltada no peito.

Então, um homem alto, esguio e extremamente loiro pareceu sair do nada e se materializou na frente dos dois; carregando uma bandeja cheia nas mãos. “Desculpe pela demora, rapazes! Aqui estão as bebidas de vocês.” Mikaela permaneceu em silêncio, observando-o colocar as cervejas, os copos e uma pequena porção de petiscos sobre o balcão, enquanto agradecia sarcasticamente a interrupção do bartender em seus pensamentos. Ele lhes lançou um grande sorriso e a atenção de Mika caiu de volta nos itens servidos, particularmente nos rótulos das cervejas.

O sorriso em sua boca praticamente despencou de seu rosto ao ver os enormes e suculentos morangos estampados sobre um fundo rosa, com os dizeres Strawberry flavoured escritos em grandes letras brancas ao longo do corpo da garrafa. Apesar de sua primeira experiência com cerveja de morango não ser mais considerada tão traumática para ele, o cheiro certamente ainda era; e sua roupa ainda estava impregnada com aquele aroma doce que, ao mínimo movimento, exalava de seu corpo como se tivesse tomado banho daquilo. Que, tecnicamente, foi o que aconteceu.

“Valeu, Shinya!” Exclamou Yuuichirou e o homem sorriu mais uma vez, deixando-os logo em seguida. Mikaela olhou para o lado e viu os olhos do moreno literalmente brilharem enquanto o familiar liquido avermelhado era despejado no copo com vontade. Como esperado, o odor adocicado da bebida preencheu os arredores de seus assentos e o estudante se viu cada vez menos disposto a tomar aquilo.

No entanto, logo após tomar um generoso gole, Yuuichirou volta-se para Mikaela e, com um olhar confuso, pergunta-lhe o que ele estava esperando; arrancando nada além de um sorriso amarelo do outro ao notar que não havia escolha. Hesitantemente, ele despeja uma quantidade minúscula dentro de seu copo e, ignorando a doçura que dominou seu olfato, levou-o até a boca; desejando estar errado quanto ao gosto.

E, quando a bebida encostou em sua língua e o gosto forte de álcool dominou-lhe a boca, ele de fato se viu satisfatoriamente equivocado quando a qualidade daquilo. Mikaela agradeceu mentalmente aos céus pelo gosto de morango não ser tão forte quanto o cheiro, tampouco doce demais; e a acidez do álcool imediatamente refrescar-lhe como a muito tempo não fazia. Não era a melhor bebida do mundo, de certo, mas era surpreendentemente agradável.

“E aí, o que achou?” Perguntou Yuuichirou, inclinando o corpo em sua direção. A animação refletida em seus olhos já dava a entender que ele sabia qual era a resposta, mas ainda assim esperou até que o outro finalizasse o conteúdo do copo.

“É bom.” Virando-se para ele, Mikaela devolveu o sorriso. “Melhor do que eu imaginava.”

“Há, eu sabia que você ia gostar!” Ambos riram de leve e, dessa vez, eles caem em um silêncio confortável, enquanto Yuuichirou atacava a tigela de aperitivos.

Entre goles de cerveja, Mikaela tentava apaziguar a felicidade que se acumulava dentro de si ao notar que, ao lado de Yuu, mesmo naquele lugar caótico, ele se sentia em casa. Podia parecer ridículo dar tanta importância a uma coisa relativamente simples e comum, como conhecer alguém novo em uma balada, mas para ele, fazer aquilo sempre tinha ficado em segundo plano. Dar a si mesmo aquela chance tinha sido sim muito, muito importante. Ele já podia até imaginar o sorriso de Lacus quando soubesse que, pela primeira vez, sua tentativa de fazê-lo se divertir tinha funcionado, ainda por cima no lugar mais improvável. Foram tantas as tentativas que Mikaela ainda se surpreendia com o fato de ele continuar tentando.

Ainda bem.

Yuuichirou terminou de esvaziar o copo de cerveja e colocou-o de volta no balcão, suspirando de satisfação e então voltando-se para olhar para Mikaela, com um brilho curioso nos olhos. “Então, sobre aquilo que estávamos falando antes... Desculpa mesmo por ter arruinado a sua noite daquele jeito.” Ele riu de leve, enquanto o outro limitava-se a observá-lo. “Espero que com isso eu esteja te compensando um pouco, pelo menos.”

“Ah, não precisa se preocupar.” Após colocar mais um pouco da bebida no copo, ainda não simpatizando com o cheiro, Mikaela manda-lhe um sorriso calmo, tomando um gole antes de prosseguir. “Pra falar a verdade, as coisas já não estavam indo bem antes de ter acontecido aquilo tudo.”

“Por que?” Havia uma pequena ponta de diversão nas palavras de Yuu, e Mikaela não conseguiu evitar a risada ao se lembrar de sua situação comicamente triste antes de encontrá-lo.

“É que... Essa é a minha primeira vez em um nightclub e… Bom, eu não sabia o que fazer aqui. Inclusive, na hora que topei com você, eu estava indo embora. Meus amigos meio que me puxaram pra cá.”

“Peraí.” Yuuichirou levantou uma mão, como se pedisse uma pausa na história. “Então você nunca esteve numa balada antes?”

Mikaela apenas assentiu em resposta, achando graça da forma como a expressão no rosto dele estava coberta de pura surpresa. Mas aquela reação não era nada inesperada, afinal, os jovens universitários que nunca tinham frequentado nightclubs naquela cidade certamente eram uma minoria absoluta, composta apenas de pobres estudantes sem vida social — assim como ele.

“Quantos anos você tem?” Perguntou Yuu, incrédulo.

“Vinte.”

“Você tá brincando comigo.”

“Não estou, é sério.”

Houve uma pequena pausa na conversa, que Mikaela presumiu ser necessária para que o cérebro de Yuuichirou pudesse processar o que tinha ouvido; julgando pela descrença em seus olhos. Sua vida pacata e desinteressante estava finalmente servindo para alguma coisa boa, já que a cada reação que arrancava dele com sua singularidade, mais o sorriso em seu rosto se alargava.

“Eu nunca tive oportunidade de vir antes.” Ele toma outro gole de cerveja. “Eu tenho trabalho depois da faculdade.”

“Uau.” Yuuichirou exala, perplexo. “É a primeira vez que converso com alguém que tem vinte anos, está na faculdade e nunca esteve numa balada. Você sabe que isso é quase como uma regra entre universitários, né?”

Mikaela anui com a cabeça e a risada de ambos se mistura com a música, enquanto a conversa naturalmente cai em hiato mais uma vez. A noite tinha enfim tomado um rumo agradável e, talvez pelo álcool, Mikaela já começava a se sentir mais leve. O ar em ao redor do bar deixou de ser sufocante e se tornou energizante, assim como a música, que ele até passou a apreciar depois de algum tempo —apesar de ainda querer que o DJ maneirasse no volume.

“Bom, você está com sorte hoje, Mika.” Disse Yuuichirou, finalizando seu terceiro copo de cerveja e, consequentemente, a garrafa inteira.

“Por que?” A animação estava mais do que evidente em sua voz quando se virou de volta para o outro, seu olhar sendo mais uma vez capturado pela diversão refletida nos olhos de Yuu.

“Porque você acabou topando com alguém razoavelmente bom em se divertir em nightclubs hoje à noite. Sua primeira vez tem que ser memorável, né?” Mikaela apenas piscou, ainda sem entender exatamente o que ele estava querendo dizer, mas o moreno sequer deixou que ele abrisse a boca para perguntar qualquer coisa. “Então, eu acho que posso te ajudar com isso.”

Voltando-se para o bar, ele se levantou da banqueta. “Ei, Shinya! Vê mais duas aí!” Exclamou, chamando não apenas a atenção do bartender, mas também de várias outras pessoas que estavam em volta. Após ganhar uma piscadela como resposta, ele se senta mais uma vez, as mãos de Mikaela imediatamente agarrando seu ombro.

“Yuu, você ficou doido?” Disse ele, preocupado com os gastos que já havia causado a Yuuichirou, ainda que o leve sorriso em sua boca traísse o resto de sua expressão. “Isso deve custar uma fortuna aqui, você realmente não precisa fazer iss—“

“Shhh, relaxa aí, Mika.” Colocando um dedo em frente aos lábios de Mikaela, Yuuichirou parecia sorrir com os olhos. Mikaela encontrou-se mais uma vez cativado pela forma como ele o olhava, uma intensidade doce brilhando no fundo de seus olhos verdes. “Deixa comigo e só curte a noite, ok?” Quando a mão que lhe cobria a boca caiu gentilmente em seu ombro, ele se viu completamente entregue a quaisquer que fossem os planos de Yuuichirou para fazer com que sua primeira vez ali fosse inesquecível.

Eles se observaram por alguns instantes, Mikaela sentindo-se como um garoto bobo de colegial pela forma como ele havia perdido o controle sobre seu sorriso, a alegria completamente evidente em seu rosto. Apoiando a testa em uma das mãos, ele simplesmente assentiu, permitindo que o mais experiente em nightclubs da dupla guiasse-o pela noite, sua empolgação inibindo por completo qualquer traço de preocupação ou arrependimento que pudesse vir a sentir.

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O tempo corria no relógio. Entre cervejas, os dois conversavam e riam como se fossem dois velhos amigos, reencontrando-se em um bar numa noite qualquer para compartilhar as ocorrências em suas vidas. Nunca antes – julgando pelo que podia se lembrar – ele havia se sentido tão à vontade com uma pessoa com quem não era próximo, ainda mais levando em consideração o fato de que eles haviam se conhecido naquela mesma noite.

Cerca de uma hora havia se passado desde que se sentara ali, mas na percepção de Mikaela, foram apenas alguns poucos minutos. Assim como Lacus vivia dizendo, o tempo simplesmente voa quando existe diversão, e Mikaela não podia estar mais satisfeito de finalmente saber como era a sensação de se perder no tempo, sem compromisso com nada além do de jogar conversa fora com alguém interessante. Suas interações geralmente se limitavam a coisas relacionadas ao trabalho ou a faculdade e, nas poucas que não entravam nessas duas categorias, a pessoa com quem estava conversando era Lacus, o cara que nunca se cansava de demonstrar, mesmo que inconscientemente, o quão maravilhosa era sua vida comparada a de Mikaela. Nem é preciso mencionar que isso não ajudava em nada o constante estado de mau humor e indisposição dele, mas não existia muito o que fazer quanto a isso. Lacus era seu colega de quarto, afinal.

Contudo, por mais que na maior parte do tempo a sorte não estivesse exatamente do seu lado, olhando para a situação atual, até que tinha valido a pena esperar que aquele momento chegasse. Após uma semana que havia basicamente esmagado seus nervos, o alivio de abandonar toda a sua fonte de estresse e simplesmente se deixar levar pela companhia de uma pessoa nova e inspiradora quando o cara sentado ao seu lado quase parecia um presente dos céus; como uma forma singela de pedir desculpas por todas as furadas que eles deixaram ele se meter na vida.

Ao menos tinham acertado daquela vez. Em cheio, diga-se.

Umas três cervejas mais tarde — isto é, se a contagem estivesse certa —, Mikaela viu-se completamente relaxado. Sua tolerância a álcool não era exatamente baixa, mas os efeitos das bebidas já transpareciam em sua voz levemente alterada e em suas bochechas, queimando. Felizmente, Yuuichirou parecia estar acompanhando-lhe no caminho rumo à embriaguez, a inquietude dele em seu assento deixando mais do que claro que, por mais que não parecesse, Yuu não era lá um consumidor muito resistente.

O assunto entre eles cessou logo que o DJ trocou de música, o que imediatamente pareceu chamar a atenção de Yuuichirou. Virando-se na direção da pista, ele observou a massa dançante sob as inquietas luzes coloridas. Mikaela observou com certa ternura o modo como os olhos dele pareciam ter adquirido ainda mais vida do que já possuíam com a forma como brilhavam. Havia um leve rastro de rubor em sua face, provavelmente por causa de todo o álcool, e quanto mais ele olhava, mais enamorado ficava com o que via.

No entanto, Mikaela não teve muito tempo para observar. Yuuichirou subitamente virou-se de volta e ele teve de desviar o olhar de imediato, torcendo internamente para que ele não tivesse percebido.

“Mika, você curte dança?” Parecendo não notar a falta de discrição do outro, a voz curiosa de Yuu complementava perfeitamente a expressão em seu rosto. Mikaela franziu a testa, recordando-se da última vez que se arriscara a dançar em uma festa. Desnecessário dizer que não era uma lembrança muito agradável para seu senso de vergonha, dito que toda vez que a memória retornava à sua mente, ele sentia uma terrível vontade de estapear a própria cara.

“Mais ou menos... eu não sei dançar nada, mas...uh...” Suas palavras foram gradativamente se extinguindo à medida que ele via o sorriso de Yuu crescendo nos lábios, algo que instintivamente ativou os sinos de alerta na cabeça do outro. Antes mesmo que abrisse a boca, Mikaela já sabia exatamente o que ele iria dizer.

“Vamos dançar um pouco, então? Essa é uma das minhas músicas preferidas.” Disse ele, casualmente, alheio ao leve nervosismo se concentrando na mente de Mikaela só de se imaginar numa situação embaraçosa daquelas mais uma vez.

“Eu realmente não sei dançar. “Avisou Mikaela, levantando as mãos em frente ao corpo como se procurasse se defender. Como esperado, Yuuichirou não ligou nem por um segundo e se levantou de seu assento, deliberadamente estendendo uma mão na direção do outro.

“Quem liga? Eu também não sei.” Soltando uma pequena gargalhada, ele parecia estar resoluto quanto a sua ideia. A expressão em seu rosto quase dava a entender que ele se orgulhava de não saber dançar e Mikaela riu, constatando mentalmente que, vindo de alguém como Yuu, aquilo não era nada inusitado.

Mordendo os lábios, ele encarou fundo os olhos do outro, a sensação de estar sendo sugado pela determinação naquele olhar mais uma vez preenchendo-lhe a cabeça. Uma onda de coragem pareceu emergir de algum lugar dentro dele e, antes que pudesse pensar por uma segunda vez, levantou a mão e a colocou sobre a de Yuu, deixando sua banqueta.

Yuuichirou limitou-se a responder com um sorriso de canto, antes de começar a caminhar na direção do centro do salão. Mikaela não era capaz de descrever o que estava sentindo, mas o sorriso incontrolável estava de volta em seu rosto; junto de um rubor ainda mais acentuado nas bochechas. Que, aliás, não era causado apenas pela cerveja dessa vez — era também por conta da mão quente de Yuu em volta da dele.

Assim que eles pisaram na pista de dança, Mikaela sentiu seu corpo todo ser tomado pela a atmosfera eletrizante, uma combinação irresistível entre a música eletrônica alta e o movimento incessante de pessoas dançando ao ritmo. Enquanto Yuuichirou seguia para o centro, ele se viu completamente tomado pela adrenalina subitamente viajando pelas suas veias enquanto seu coração disparava a bater no peito. Um sorriso maravilhado invadiu seus lábios quando o outro parou em um ponto no meio da multidão e se virou para ele, com uma expressão inexplicavelmente maliciosa.

Mikaela soltou uma gargalhada nervosa ao olhar em volta e se dar conta de que ele não fazia ideia de como se encaixar naquela situação. A ideia de simplesmente começar a se mover do nada parecia-lhe estranha demais, apesar de ser a mais plausível. “O-o que fazemos agora, Yuu?” Sua incerteza se refletiu em sua voz quando ele praticamente teve que gritar para ser ouvido.

O outro inspecionou os arredores por alguns momentos antes de se voltar mais uma vez para o loiro perdido à frente, seu encantador sorriso de canto perpetuando as palavras que sussurrou aos ouvidos de Mikaela após inclinar seu corpo em sua direção, tão perto que ele quase pôde sentir a boca dele tocando o lóbulo de sua orelha. “Fecha os olhos e se deixa levar pela música.”

A voz dele ecoou sensualmente em seus ouvidos. Mikaela não sabia exatamente se fora pelo volume do som, pela proximidade entre seus corpos ou a forma como a respiração quente do outro roçou em sua pele; tudo o que pôde registrar foi um intenso arrepio que lhe subiu pelas costas e o deixou com os cabelos da nuca inevitavelmente eriçados, antes que Yuuichirou se afastasse mais uma vez e segurasse ambas de suas mãos nas dele.

Olhos azuis prenderam-se nos verdes e o movimento começou, calmo e descompromissado, destoando com a agilidade das batidas do DJ. Era como se, a partir daquele momento, o mundo fosse centrado apenas neles, nos seus dedos interligados e nos pés ainda inseguros demais para se deixarem dominar pelo ritmo. Houve o som de breves risadas entre os dois, ambos notando a ridicularidade da situação em que se encontravam.

A atmosfera era pintada com a escuridão azul por todos os lados, enquanto os feixes de neon róseos e alaranjados cortavam o salão e iluminavam as pessoas que se perdiam na música. Pouco a pouco, Mikaela foi se vendo mais e mais à vontade naquele meio, à medida que ele admirava o brilho colorido refletido em belas orbes verde-jade. Ele resolveu seguir o conselho de Yuu e deixou que seus olhos se fechassem, focando apenas no ritmo da música e na velocidade das batidas.

Todo o álcool que havia ingerido vinha deixando-lhe gradualmente mais desinibido, enquanto a cada segundo que se passava, seu corpo se alinhava mais e mais ao som na pista. A respiração ia lentamente ficando mais irregular e ele acabou por soltar as mãos de Yuuichirou, deixando-se levar pelo ímpeto de levantá-las para o alto e movê-las junto com o resto do corpo. Um leve sorriso espalhou-se pelos seus lábios ao sentir a estranha sensação de liberdade preenchendo seu corpo junto de cada respiração.

Ao reabrir os olhos, tudo ao redor pareceu perder o foco. Tudo que não fosse Yuuichirou desapareceu de visão, reduzindo-se a um mero plano de fundo borrado. Era um pouco difícil de se mover com aquele enorme aglomerado de pessoas dançando em uma pista, ambos sendo inevitavelmente empurrados cada vez mais na direção um do outro. Contudo, Mikaela não podia se importar menos com aquilo, já que a única coisa capaz de chamar sua atenção, já bastante encoberta pela embriaguez, era a maneira como o olhar de Yuuichirou parecia explorar os seus enquanto o corpo dele acompanhava-o na dança. Uma intensidade ainda desconhecida para ele parecia queimar no olhar de Yuu de um jeito sensual e tentador, que impedia-o de olhar para qualquer outra coisa.

Não que ele tivesse sequer a vontade de fazer isso. Aquela visão, junto de sua boca sensualmente entreaberta e da respiração descompassada faziam com que um calor irresistível dominasse o corpo de Mikaela, estimulando nele alguns pensamentos deveras inapropriados. Sem sua clareza mental para impedi-lo, ele estava perigosamente perto de agir sobre os desejos lascivos que o fascinante moreno a sua frente provocava em si.

Yuuichirou parecia estar em sintonia com ele e ambos colidiram propositalmente, dançando alucinadamente com uma distância quase mínima. Mikaela podia sentir a respiração descompassada de Yuu roçar-lhe o pescoço e os arrepios escalarem sua espinha, à medida que as mãos dele foram se apoiando em seus quadris; deslizando casualmente para cima até enlaçarem-no pela cintura. Havia um brilho hipnotizante naqueles olhos, que prenderam Mikaela enquanto seus braços recaíram sobre os ombros dele, ambos próximos o suficiente para que seus narizes se tocassem. 

Antes que pudesse sequer cogitar pensar por uma segunda vez, Mikaela encerrou os poucos centímetros de distância que ainda lhes restavam, seus lábios enfim se unindo. Uma onda eletrizante dominou o corpo dele ao sentir o calor emanando de sua pele, o gosto doce de morango e ácido de álcool preenchendo sua boca quando Yuuichirou deliberadamente deslizou a língua para o interior de sua boca. Seus dedos se entrelaçaram nos fios negros de cabelo na nuca de Yuu, empurrando a cabeça dele em sua direção conforme o beijo se intensificava.

Mikaela podia sentir seus batimentos cardíacos pulsando em seus ouvidos, altos a ponto de reduzir a música do salão à um mero ruído de fundo. Mais um arrepio fez com que estremecesse nos braços de Yuuichirou quando ele mordeu-lhe o lábio inferior, fazendo-o gemer contra o beijo e puxá-lo em sua direção para saborear mais um pouco, antes de o fôlego faltante impedi-los de prosseguir.

Respirando com grande dificuldade, ambos desviaram seus olhares para o chão da pista, encostando suas testas uma na outra. Mikaela podia sentir o enorme sorriso se abrindo em seu rosto quando passou a língua sobre os lábios, questionando-se mentalmente se aquele beijo realmente havia acabado de acontecer. Seus joelhos estavam fracos e ele podia sentir a adrenalina em seu corpo trêmulo, mas tendo finalmente experienciado aquelas sensações de novo, ele estava mais do que certo de que ainda não tinha tido o suficiente.

Seu corpo e mente ainda tinham sede e a fonte estava bem na sua frente.

O brilho lascivo ainda se fazia presente nos olhos de Yuuichirou quando Mikaela levantou a cabeça, um desejo mútuo refletido em ambas as expressões; seus corpos fortemente pressionados um contra o outro. Havia, no entanto, um pequeno questionamento naqueles olhos verdes, um que Mikaela não hesitou nem um segundo para responder. Um traço de malícia se fez presente no sorriso de Yuu ao segurar uma das mãos de Mikaela, conduzindo-o para um local onde eles teriam privacidade o suficiente para descobrir o que vinha depois daquele extasiante beijo no meio da pista de dança.

Com o coração correndo no peito, Mikaela sorriu para si ao ver a placa do banheiro masculino mais uma vez entrando em seu campo de visão.


Notas Finais


Para os leitores que acharam que ia ter lemon no cap passado, eu peço desculpas xD Mas vai ter lemon sim, eu só precisava construir um pouco a relação entre eles antes que isso acontecesse. Enfim, espero que vocês tenham gostado e, bom, que tenham paciência com a minha pessoa, vou dar meu melhor para escrever a sequência disso o mais rápido possível :D
Obrigada por ler!


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