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História Um xote com o demônio - Lavras dos esquecidos


Escrita por: JuliaBodegas

Capítulo 1 - Lavras dos esquecidos


Fanfic / Fanfiction Um xote com o demônio - Lavras dos esquecidos

Naqueles dias que precediam a grande festa da semana santa, a cidadezinha de Lavras estava em franca urgência nos preparativos...Os cães ressonavam sob as algarobeiras, aqui e acolá, incomodados por mosquitos, mexiam uma orelha sem espantar o sono; nem os mosquitos... De uma janela se ouvia alguém arrastar uma cantiga de ninar com tanto enfado que o menino dormia pra não ter que continuar ouvindo. Um enxame de moscas voejavam confusas em torno de um saco dágua suspenso no teto da bodega até caírem bêbadas e, neste ritmo, as horas eram arrastadas até a chegada da noite com suas lamparinas e candeeiros. As cadeiras e tamboretes ganhavam os terraços e a prosa ajudava a sossegar a urgência dos ribeirinhos pela grande festa. E vinha outro dia...Os galos chamavam o sol a ver outra vez a Lavras de todos os dias. Na feira, o movimento nutria o espaço, povoando a manhã. As barraquinhas emparelhadas, estiravam-se como numa horta, perfeitamente organizadas em fileiras.Um varal de frutas (bananas, siriguelas, acerolas, cajaranas) embandeirava de cores e perfumes a frente das barracas, onde caixotes de madeira eram vitrine ao ar livre das mangas-rosa, melões, atas, maracujás e outros pretextos para chistes e motes persuasivos... “Olha a cajarana! Leve uma, o caroço é brinde!”, “Ei senhora, caiu! O preço da tamaracá!”...Por entre estas fileiras espremiam-se comprantes, vendeiros e outros rudimentos, açoitados pelo sol forte que nada poupava já bem cedo, disputando em mobilidade com a inércia inabalável dos toldos de cores esmaecidas, espalhadas ao longo do que já fora uma praça e só vagamente lembrava isso.Um pouco mais adiante, sem o resguardo dos toldos, a feira amontoava seus produtos no chão mesmo, sobre lonas desdobradas. Aí ficavam os produtos dos sem barraca. Milho, melancia, bacias de grãos e a inexplicável alegria que causa o sol na cara de quem tem o que vender. Compreensível no menino que vendia água... “Pode chegar patrão, tenha medo do sol não que em terra de cabra macho, nem o vento é fresco!”Bem perto dali estava um grupo de cócoras em torno de um amontoado de milho de no chão, um deles sofria com uma gota de suor que lhe queimava o olho, forçando a piscar com força, contorcendo o rosto ao tempo que a boca se abria numa estranha careta. Em volta, as comadres não sentiam o mesmo sol, entretidas em novidades sobre a festa. Dijibe, o da careta, estava na casa de vinte e seis anos aparentando a metade, de franzino que era. Vendia feijão verde medido em latas de óleo de diferentes tamanhos. A lona que ele tomava conta estava entregue a si mesma enquanto ele escolhia espigas pra uma canjica de aniversario. Existe fundamento para esses apelidos, explicá-lo, porém é quase tão complexo quanto recompor a gênese das escrituras. Talvez um aporte antropológico elucide o fato de que as comunidades se abstenham de seus nomes cristãos e atendam por outro, cedido pelo povoado. Um costume de herança indígena, talvez... O nome de batismo é mais fácil, basta unir os nomes dos pais e atá-los com o fio da criatividade inerente ao povos elevados e aí temos!Francisco era Francisco Porque nasceu enlaçado pelo cordão umbilical, não havia outro motivo além desse para o seu nome. Era chamado Dijibe de finado compadre Totonho de Dedina parteira por alusão aos parentes que lhe antecederam, como é conhecido costume, um atende pelo referente a duas gerações anteriores. Assim sendo, Francisco (ou Dijibe) era filho de finado Antônio e neto da resistente velha Dedina, que era parteira.Mas, verdade seja dita, ele desde sempre foi conhecido por Dijibe, e raro era ver quem lhe tratasse por outra graça. Chegara a isso por evolução natural do apelido de infância: Olho de jipe – Oi de jipe e, por fim, –Dijibe. Que já não tinha nenhuma relação com o tamanho e cor dos olhos. E sobressaiu-se ao “gato de pobre, só tem de bonito o olho”, que também o acompanhou por longa data. O rapaz seguia distraído em sua tarefa com as espigas de milho. Uma a uma, sacadas ao grande amontoado, e atilhadas, que a vila era bem longe da feira. A ele, pouco importavam esses festejos que tanto alvoroço causavam. Ele nunca ia a festas...
O atilho ia sendo trançado, e com igual destreza, traçava-se seu destino, sem que ele sequer suspeitasse...


Notas Finais


Bom, os capítulos serão semanais. Até o próximo!


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