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História Uma dose violenta de qualquer coisa - O que aconteceu com a gente?


Escrita por: punkwildling

Capítulo 25 - O que aconteceu com a gente?


90 dias antes.

Rafaela almoçava sozinha no refeitório, vinha evitando Luana nos últimos dias. A loira provavelmente estava querendo conversar com ela mas sabia que, se parasse para conversar com a amiga, acabaria perdendo a cabeça e diria coisas cruéis. Apesar de toda a frustração que sentia, não queria ser cruel com Luana.

-Quanto tempo isso ainda vai durar? – Marina se aproximou com seu almoço e sentou-se ao lado da amiga.

-O tempo que for preciso... – Rafa respondeu sem tirar os olhos da comida e enchendo a boca para não precisar falar.

-Luana está começando a ficar louca de culpa – a loira insistiu com calma –Ela só fala em você nos últimos dias e em como ela sente que fez a maior merda da vida dela...

“Bom, ela já fez muita merda. Se está se sentindo tão culpada assim, deve realmente ter se arrependido”, Rafa pensou mas não se atreveu a dizer nada. Era estranho Marina dar esse sermão sobre falar com Luana, a algumas semanas era Rafa que tinha que convencer a loira a perdoar a amiga mas parece que as coisas estavam mudando e não sabia o que sentir em relação a isso.

-Rafa – Marina se inclinou em direção à amiga –Estamos todas no limite, eu sei disso. Tenho conversado bastante com Luana e Eli também, ela entendeu que tem que parar de sumir quando bem entender, que algum dia uma coisa horrível pode acontecer. Vai por mim, você vai se sentir melhor se ouvir o que ela tem a dizer...

-Marina – Rafa encarou os olhos azuis da loira e procurou ser o mais firme possível com o que ia dizer –Eu preciso de um tempo, sério. Vocês não tem ideia de como eu me sinto, só quero alguns dias de paz antes de ter que encarar todas essas coisas de novo... Vocês podem me dar isso?

A loira cutucou a comida com o garfo por alguns segundos, parecia não ter certeza de como responder a isso.

-Por que não vai ao lago comigo, Luana e Eli hoje?

-Você não escutou que eu...

-Vamos só relaxar, você não precisa falar com Luana... Vamos ficar em um lugar tranquilo, conversando sobre qualquer coisa e depois Eli deixa todo mundo em casa. Não vai ficar sozinha com ela e, consequentemente, não vai precisar conversar sobre o que aconteceu. Pode ser?

Rafa parou para refletir. Realmente parecia uma boa ideia, podia interagir indiretamente com Luana sem precisar conversar sobre nada. Decidiu que iria, era melhor do que ficar em casa remoendo seus problemas pelo menos.

-Ok, ok – a garota concordou –Mas se tentar armar uma conversa entre eu e Luana, vou ficar com raiva de você também!

-Relaxa – a loira a tranquilizou com um sorriso.

***

Luana estava sentada no banco do passageiro enquanto Eli encontrava-se em pé ao lado do banco do motorista, os dois esperavam Marina. Tinham combinado de ir ao lago, Marina achava que precisavam. Lembrou-se do começo do ano, quando ela, Marina e Rafaela iam até lá diversas vezes na semana mas agora parecia que fazia anos desde que foram até o lugar embora soubesse que não devia fazer mais do que alguns dias.

Distraída demais com seus pensamentos, a garota só foi reparar que Marina se aproximava quando ouviu a voz de Eli:

-Rafaela! Não acredito que você vai vir com a gente! – ele a abraçou e Luana não pôde fazer nada a não ser encará-los sem saber ao certo o que devia fazer. O olhar de Marina encontrou o dela quando Luana se preparava para cumprimentar Rafaela mas a outra loira sacudiu a cabeça negativamente e ela entendeu que deveria ficar quieta, Rafa provavelmente ainda estava chateada e qualquer coisa que ela fizesse só iria piorar a situação.

Afundou no banco da frente enquanto as duas amigas entravam e Eli dava a partida no carro. Os três conversavam animadamente enquanto se mantinha de boca fechada, faria o que fosse preciso para não piorar as coisas que já estavam complicadas.

-Olha, o máximo que consegui roubar da geladeira do meu tio foi uma garrafa de licor. Não é o suficiente para nos deixar bêbados mas o objetivo não é encher a cara mesmo... – Eli comentou rindo, Marina e Rafaela sorriam para ele.

-Fale só por você – Luana disse ironicamente, achava que conseguiria arrancar algumas risadas deles mas tudo que conseguiu foi fazer um silêncio constrangedor tomar conta do carro. Sentiu-se afundar ainda mais no banco e voltou sua atenção para a janela e as árvores que passavam em uma velocidade constante por eles.

-Então... – Marina tentou deixar as coisas mais leves novamente –Tenho uma notícia boa pra vocês. Quer dizer, não muito mas pra mim já é alguma coisa...

-O que? – Eli perguntou curioso sem tirar os olhos da estrada, Luana não teve coragem de ver qual era a expressão de Rafaela pois isso incluiria virar-se e olhá-la o que não parecia uma boa ideia dadas as circunstâncias atuais.

-Meu pai foi visitar minha mãe ontem. Ele não pôde ficar muito porque o tratamento dela exige uma certa restrição quanto as visitas mas... – Marina olhou para cada uma das pessoas no carro e sorriu –Ele disse que ela estava bem. Que o abraçou e perguntou por mim, que ela queria voltar pra casa logo e passar um tempo com a gente. Sei que não é grande coisa mas...

-O que?! Isso é ótimo! – Eli disse animando lançando um rápido olhar à loira pelo espelho retrovisor –Vamos comemorar por isso hoje, pela sua mãe!

Rafa concordou rapidamente e tocou o ombro de Marina em apoio. Luana encarava as duas pelo espelho retrovisor mas apenas Rafaela percebeu que ela observava, a garota desviou o olhar rapidamente deixando Luana com um aperto no peito.

A loira suspirou aliviada quando viu a entrada do lago. Era estreita demais e passaria despercebido para as pessoas que não sabiam que estava ali. O carro passou por alguns metros de um caminho estreito rodeado de árvores até chegar na clareira onde o lago azul se estendia por vários metros. Eli parou perto da entrada e desligou o carro, ele e as meninas começaram a falar animadamente enquanto tiravam a garrafa de licor do carro e começavam a procurar madeira para uma fogueira com o objetivo de assar os marshmallows que Marina trouxera. Luana gritou que ia procurar madeira no outro lado mas apenas Eli pareceu ouvi-la.

A loira se afastou para evitar o grupo enquanto os três continuavam conversando.

-Acho que isso não vai dar certo, o que você sabe sobre assar marshmallows? – Eli perguntou rindo enquanto Marina examinava pedaços de madeira que pareciam estar secos o suficiente.

-Sei que vi filmes americanos o suficiente – ele riu com a resposta da loira –Não pode ser tão difícil, certo?

-Você realmente vai confiar em filmes? – Rafaela perguntou rindo –Tudo bem então, estou vendo que vamos acabar na minha casa pedindo pizza.

Os três riram enquanto continuaram a busca, já tinham bastante madeira quando Eli comentou:

-Então, você ainda parece estar com raiva da Luana...

-Sim – a garota concordou tentando soar indiferente mas era quase como sentisse dor enquanto falava aquilo, como se ela ficasse fisicamente mal por não estar falando com Luana –Mas ela também parece bem chateada.

-É só o jeito dela – Marina saiu em defesa da outra loira –Sabe que não é sério.

E com isso não falaram mais nada. Quando voltaram para mais perto do lago viram que Luana estava sentada na grama e organizava uma pilha consideravelmente grande de madeira. Ela olhava para a pilha confusa. Eli perguntou:

-O que foi?

-Não faço a mínima ideia de como se acende uma fogueira – Eli e Marina riram enquanto se aproximavam para ajudar a loira, Rafa se limitou a sentar o mais longe possível dela mas não o suficiente para alguém perceber. Rafaela olhava o lago distraidamente mas conseguia sentir o olhar de Luana nela a analisando friamente, talvez não tivesse sido uma ideia tão boa ter vindo com eles. A loira parecia terrivelmente desconfortável com a presença dela ali.

Em poucos minutos, a fogueira estava acesa e Marina começava a colocar os marshmallows em espetos. Luana bebia um pouco do licor, Rafa encarou Eli preocupada mas o garoto apenas deu de ombros e tirou os cabelos brancos da testa.

Marina se aproximou do grupo e entregou um espeto para cada um:

-Pronto, agora é só deixar no fogo – os quatro fizeram uma roda e estenderam seus marshmallows ao alcance da fogueira, Luana continuava bebendo o licor enquanto tentava assar o doce.

-Sempre quis fazer isso, que nem vemos nos filmes, sabe? – Marina comentou, Rafa e Eli balançaram a cabeça concordando –Lembra no primeiro ano, Rafa? A gente sempre falava sobre sair à noite e fazer uma fogueira mas nunca fazíamos...

Rafa sorriu e olhou para Luana com o canto do olho o mais discretamente que conseguiu, a loira também falava isso quando eram mais novas e esperava que ela comentasse alguma coisa mas Luana apenas entornou mais a garrafa.

-A gente falava muita coisa quando éramos mais novas – Rafa comentou, os olhos cinzentos de Luana encararam os seus e ela sentiu-se estremecer um pouco.

Marina balançou a cabeça concordando sem parecer perceber a tensão entre as duas garotas. Eli exclamou de repente:

-Droga, o meu está derretendo! – ele tirou o espeto do fogo, metade do marshmallow tinha se desfeito e pingado na grama enquanto a outra metade estava preta e com cheiro de queimado.

Marina riu quando Rafaela percebeu que o mesmo acontecera com o seu, Luana apenas jogou o espeto no fogo sem esboçar nenhuma reação.

-Por que só o seu deu certo? – Rafa perguntou rindo ainda tentando se livrar da sensação que o olhar de Luana provocou nela.

-Porque eu sou a melhor – a loira riu e mordeu o marshmallow –E porque vejo filmes americanos demais, talvez meu subconsciente tenha aprendido a fazer isso...

Eli e Rafa reviraram os olhos rindo, Luana permanecia concentrada demais na garrafa de licor que já estava quase na metade e Marina pareceu perceber isso. Ela lançou um olhar a Eli que pareceu entender o que a loira queria dizer e voltou sua atenção para Luana, o garoto se aproximou e tentou soar o mais casual possível:

-Ei, Luana, que tal me dar um gole dessa garrafa? Acho que as meninas também vão querer tomar um pouco...

Ela lançou um olhar sério a ele e depois analisou as outras meninas calmamente. A loira, enfim, voltou sua atenção para o lago e disse como se não fosse nada:

-A minha mãe me abandonou, o meu pai é distraído, Rafa está estranha comigo e vocês passaram a tarde me ignorando, agora querem tirar a única coisa boa que eu tenho nesse momento? Acho que vou tomar mais um pouco, vocês podem ficar com o resto...

O silêncio que se seguiu deixou todos desconfortáveis, Rafa podia ver Marina e Eli tentarem pensar em algo para falar mas ambos pareciam totalmente perdidos. O momento estava ótimo, a garota não conseguia entender porque Luana resolvera estragar tudo.

-É sempre assim, não? – ela começou fazendo os outros três a olharem –Fala o que quer, bota a culpa nos outros, arruma uma desculpa qualquer... Você realmente acha que tem razão? Acha que com tudo que aconteceu comigo esses dias eu que sou a errada? Já é hora de começar a repensar algumas coisas...

O silêncio se prolongou, Rafa enfrentava o olhar cheio de mágoa e raiva de Luana com o máximo de indiferença que conseguia fingir mas temia que não fosse aguentar muito antes de começar a chorar ou coisa parecida...

Mas isso não aconteceu. A loira jogou a garrafa de licor nos pés de Eli e se levantou, caminhando calmamente em direção à saída do lago. Rafa não teve forças para falar nada embora soubesse que talvez tivesse sido um pouco dura demais.

-Luana, eu te deixo em casa! Espera um pouco... – Eli gritou e ficou de pé.

A loira nem mesmo se deu o trabalho de respondê-lo.



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