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História Uma dose violenta de qualquer coisa - Não pertenço a ninguém


Escrita por: punkwildling

Capítulo 31 - Não pertenço a ninguém


55 dias antes.

Marina caminhava pelos corredores sozinha em direção à sala de aula sob o olhar discreto mas atento de metade da escola. A notícia do seu término com Guilherme ainda era assunto nos corredores, esse era o efeito colateral de se morar em uma cidade pequena onde nada acontece: as pessoas costumam se apegar às mesmas histórias e só deixavam pra lá quando outra coisa acontecia.

A loira não ligava muito para o que os outros pensavam mas quando rumores de que eles teriam terminado porque ela ficara com Eli ou que as amigas haviam feito a cabeça dela começaram a se espalhar tornou-se impossível ignorar. E Marina podia apostar tudo que tinha que pelo menos metade dessas histórias inventadas tinham saído da boca do próprio Guilherme ou de alguém próximo a ele que o garoto não tinha se preocupado em corrigir e era atrás do ex-namorado que ela estava.

Procurou-o no estacionamento da escola, local que ele costumava ficar antes das aulas reunido com os amigos e, em outra época, com ela. Viu o carro que ele pegava emprestado do pai sem ninguém por perto e soube que ele provavelmente mataria aula no primeiro tempo. Suspirou e foi em direção à quadra.

Não queria perder aula mas se fosse isso que precisava fazer para por fim ao rumores era o que faria.

***

Luana riscava a mesa distraidamente sem nenhum desenho especial que pretendesse fazer, apenas traçava uma linha e quando se cansava mudava de direção e formato, o que estava deixando a mesa terrivelmente rabiscada. A loira mal se esforçava para prestar atenção na aula e agradeceu mentalmente por sentar no fundo, ninguém nunca reparava muito no que as pessoas faziam lá atrás.

Rafa, por outro lado, a observava atentamente e um pouco preocupada. Não somente com o fato de Luana parecer aérea e melancólica mas também devido a ausência de Marina que ela sabia ter vindo para a escola. A garota não parava de se perguntar o que devia ter acontecido. Eli também estava na sala mas ele não parecia preocupado ou ansioso, só que nunca dava pra ter certeza do que ele estava sentindo... Perguntava-se se ele saberia algo sobre o paradeiro da amiga quando o sinal para o intervalo tocou.

Todos se levantaram imediatamente, ansiosos para comer e fofocar o máximo que pudessem mas Luana mal se mexeu e sequer pareceu notar o movimento em volta dela. Rafaela se aproximou devagar e chamou a atenção da amiga:

-Lu, é hora do intervalo. Você não quer comer alguma coisa?

A loira olhou para ela com indiferença mas logo se esforçou para dar um sorriso. Rafa sentia-se fisicamente cansada por ver todo o esforço que a amiga estava fazendo para parecer bem quando na verdade não estava funcionando nem um pouco.

-Não estou com muita fome, que tal a gente a gente ficar na arquibancada do campo hoje? De repente um pouco de sol me dá mais energia... – a loira respondeu e levantou devagar. Rafa balançou a cabeça sem saber o que dizer e seguiu Luana.

***

Marina mal entrara na quadra e já avistara Guilherme e alguns amigos sentados no canto. Ela ficou parada por alguns segundos até um dos garotos percebê-la e apontar em sua direção. A expressão no rosto de Guilherme quando a viu era um misto de irritação e tédio. A loira pôs-se a caminhar na direção deles com o rosto sério.

-A gente pode conversar? – perguntou assim que chegou perto o suficiente do ex-namorado. Os garotos que estavam com ele, um deles ela identificou como sendo o Tiago, olharam para ele um pouco espantados. Guilherme os encarou de volta e fez um aceno com a cabeça.

Quando eles saíram, Marina sentiu como se perdesse a certeza do que estava fazendo. Talvez teria sido uma melhor ideia simplesmente ignorar todas as besteiras que estavam falando e seguir em frente mas, como não era garota de dar para trás ou mudar de ideia, manteve-se firme no propósito que tinha em mente.

-Você está falando alguma besteira por aí? Tipo, algo que não seja verdade, sobre o nosso término, quero dizer... – ela começou, Guilherme continuava com o rosto levemente irritado, levemente entediado.

-Depende do que você considere besteira – ele respondeu seco e isso a fez ficar um pouco magoada mas fez o possível para não deixar transparecer –Todos nós temos suspeitas, certo? E ainda que você não tenha coragem de admitir abertamente não podemos ignorar os fatos...

-Que fatos, Guilherme?! – a loira sentiu-se subitamente irritada.

-O fato de que você não deixou completar cinco dias desde o nosso término para chamar aquele cara para sua casa! – ele aumentou o tom de voz e a fez recuar um pouco –Quem sabe o que vocês dois ficaram fazendo trancados sozinhos naquela casa...

-Você não tem o direito de falar essas coisas! – a loira também aumentou seu tom em resposta –Ele é meu amigo e amigos consolam as amigas quando elas passam por términos de namoro difíceis!

-É, ele deve ter te consolado metendo em você até não sentir mais nada... – Guilherme alfinetou.

A mão de Marina estalou no rosto dele. O garoto a olhou totalmente surpreso, a loira nunca encostara em qualquer pessoa muito menos nele, era algo totalmente atípico dela.

-Acho bom você tomar cuidado com o jeito que fala comigo – ela apontou o dedo na cara dele que ainda segurava a bochecha assustado –Não namoramos mais então não tenho que aturar as suas merdas ou suas inseguranças de garotinho! Costumava achar que a coisa mais difícil que fiz foi terminar com você mas agora eu vejo que nada poderia ter sido mais fácil e prazeroso. Então, só pra deixar claro porque eu quero ir embora daqui e nunca mais olhar seu rosto ridículo, pare de falar coisas que não são verdade!

A loira deu meia volta e se preparava para ir embora quando algo pareceu ficar claro na sua mente. Virou-se novamente para Guilherme e perguntou:

-Como sabe que ele estava indo na minha casa?

O garoto ficou ainda mais branco do que já estava, os olhos se moviam rapidamente como se pensassem em uma desculpa convincente o suficiente.

-Ahn? – ele fingiu estar confuso achando que isso o faria ganhar tempo.

-Você não está mandando ninguém ficar me vigiando, está? – a loira ficou furiosa quando não obteve resposta –Você é inacreditável...

-Por quê? – ele reagiu –Por que continuo me preocupando com você? Ou por que ainda tento lutar por nós dois sendo que você obviamente já desistiu? É isso que me faz inacreditável? Pois então saiba que eu vou continuar sendo! Não ficamos mais de três anos juntos pra acabar desse jeito, como se fôssemos nada...

Guilherme se aproximou devagar e começou a falar em um tom de voz mais carinhoso:

-Sabe que isso não é quem somos, Marina. Isso tudo que está acontecendo com a gente é resultado de toda essa pressão, ainda podemos resolver. Eu estou certo, por que não consegue acreditar em mim?

Marina olhou nos olhos dele sem crer no que escutava, em como alguém podia passar da raiva e desprezo para “amor” tão rápido e não ver nada de errado nisso.

-Você é doente... – ela respondeu indo em direção à saída da quadra.

-Ma...

-E não fale mais merda de mim por aí, estou cheia das suas bostas!

Ela o deixou sozinho na quadra e procurou por um lugar para se esconder.

***

Rafa e Luana mal chegaram na arquibancada do campo quando viram Marina sentada sozinha em um canto pensativa. As duas se olharam rapidamente e logo foram em direção à loira.

-Pode desfazer essa cara que as suas pessoas favoritas no mundo chegaram – Rafa disse sentando de um lado da amiga enquanto Luana sentava no outro –E somos tão boas que nem vamos perguntar o motivo de você ter matado aula.

-Exato! – Luana concordou e sorriu abraçando os ombros da outra loira –Ao invés disso, prometemos te levar para tomar um milk-shake e comer alguma coisa bem gordurosa depois da aula. Tudo isso pra você se sentir melhor e, enfim, você pode nos contar o que aconteceu.

Marina riu enquanto Rafa se juntava ao abraço.

-Meu deus, você são as melhores!

***

53 dias antes.

A música novamente ecoava nos ouvidos de Luana e o escuro a fazia se sentir perdida mas ela não queria parar de dançar. Voltara à mesma boate de alguns dias atrás mesmo não tendo muita certeza se deveria fazer isso. Mas agora que estava ali dançando sob o olhar atento de dezenas de caras mais velhos, sentia-se melhor com a ideia. Era ruim demais ficar naquela casa vazia cheia de memórias para assombrá-la.

Quando cansou-se de ser atração para caras desesperados por uma garota jovem e seus pés começaram a doer de tanto dançar, dirigiu-se para o bar. Não estava bêbada como na outra noite mas já tomara alguns copos. Nada que a faria dar para um cara desconhecido novamente mas o suficiente para que ela pudesse divertir-se e se soltar.

-Vai querer que eu te pague outra bebida hoje? – uma voz surgiu ao seu lado e perguntou. Olhou para o lado e reconheceu imediatamente o cara da outra noite.

Agora que estava bem mais sóbria do que antes, percebia o quanto ele não era tão bonito assim. “A bebida realmente tem o efeito de deixar as pessoas mais atraentes”, pensou enquanto o analisava rapidamente. O nariz era um pouco torto, os olhos um pouco separados e as orelhas grandes demais. Não era horroroso mas era o tipo de cara que ela só ficaria caso estivesse bêbada mesmo.

-Não, hoje eu vim só pra dançar não pra beber – respondeu com um sorriso irônico e já se encaminhava para a pista de dança quando ele a pegou pelo braço. Não foi forte ou agressivo, apenas firme mas fora o suficiente para deixa-la irritada. “Ótimo, mal me livrei de Gabriel e agora aparece outro cara que acha que é meu dono”, reclamou internamente.

-Que tal eu me juntar a você? – ele perguntou mas logo em seguida continuou –Sabe, achei que nunca mais a encontraria aqui. Não tem noção do tamanho da minha alegria quando vi você por aqui. Me diverti muita aquela noite...

“Patético... Eu devia estar muito bêbada pra ter caído nesse papinho”. Luana sorriu o mais forçadamente que pôde ao responder:
-Não curto muito figurinha repetida, entende? Procuro por coisas novas toda vez que eu saio e infelizmente não estou interessado em você, não mais... Mas tenho certeza que daqui a alguns minutos, quando aquelas garotas do canto ficarem bem bêbadas – apontou para um grupo de meninas que deveria ter a idade dela no canto do bar, algumas das garotas já começaram a rir alto e a cambalearem sobre os saltos –Talvez consiga alguém essa noite.

O cara ficou visivelmente irritado, Luana enxergava isso por baixo da calma forçada que ele tentava deixar transparecer.

-Por que se fazer de difícil quando nós já transamos, bebê? Não precisa nem se esforçar dessa vez, deixa que eu faço tudo...

Luana agarrou uma garrafa de tequila no balcão e jogou no chão, próximo aos pés dele. O cara se afastou assustado e soltou o braço dela para se afastar dos cacos de vidro.

-Porque eu faço o que eu quero e não é por transarmos uma vez que você é meu dono – as pessoas em volta encaravam a cena sem entender nada mas a loira não se importava, virou as costas e foi em direção à saída antes que ele pudesse ir atrás dela –Ninguém é meu dono...

Foi recebida pela noite com um vento gelado no seu rosto.



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