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História Uma dose violenta de qualquer coisa - Preciso de mais tempo


Escrita por: punkwildling

Capítulo 35 - Preciso de mais tempo


29 dias antes.

Marina sente o sol entrar pela janela e franze a testa, deve ter esquecido aberta na noite passada quando Eli se esgueirou para dentro do quarto dela. A lembrança a fez sorrir.

Quando soube que a mãe da loira estava de volta, o garoto não hesitou em fazer uma visita noturna para ter certeza de que estava tudo certo com a loira. Marina mal conseguiu segurar o choro no momento em que o viu mas sentiu-se reconfortada com o calor do peito dele contra seu rosto e suas mãos ásperas na base de suas costas. Ela chorou por minutos, depois se beijaram por mais minutos ainda e, por fim, ficaram abraçados por horas. Ficaram abraçados até ele perceber que estava muito tarde, Eli se despediu com um beijo na testa e uma promessa de que ficaria tudo bem. Marina queria mais do que tudo acreditar nisso...

A voz do seu pai logo adentrou o quarto e a trouxe de volta à realidade:

-Você tem que comer, querida...

-Mas eu já falei que não quero, por favor – sua mãe respondeu quase inaudível.

Marina apertou o travesseiro contra as orelhas tentando bloquear os sons, daria tudo pra fazer isso parar.

***

Rafaela tamborilava na carteira preocupada. Já era o terceiro tempo e não havia nenhum sinal de Luana ou Marina na escola, ela entendia se fosse só a Luana mas Marina não era de fazer isso. Eli também olhava em volta apreensivo e vez ou outra lançava um olhar curioso para a garota. Rafa apenas olhava para baixo.

Quando o sinal para o intervalo tocou, ela teve certeza que tinha que fazer alguma coisa. Juntou suas coisas o mais rapidamente que pôde e foi em direção ao estacionamento da escola tentando pensar em como conseguiria sair no meio do dia letivo sem ser notada. Sentiu uma presença se materializar ao seu lado, mal teve tempo de olhar quem era quando Eli foi logo dizendo:

-O que quer que esteja acontecendo, vou ajudar.

-Eli, talvez elas...

-Não adianta tentar me afastar, sabe que não vai conseguir. Me importo com elas tanto quanto você! – ele retrucou sério e Rafa não duvidou nem por um segundo disso ao ver a expressão determinada que ele tinha no rosto.

-Tudo bem – ela disse conformada –Vamos até a casa da Marina primeiro, ela é mais fácil de achar que Luana...

O garoto balançou a cabeça concordando enquanto eles davam a volta e tentavam driblar os vigias da escola.

***

O pai de Marina teve que falar alto para que a filha pudesse ouvi-lo com os fones de ouvido. A loira, que estava deitada na cama até então, se sentou e tirou os aparelhos do ouvido. A loira faltara aula porque não estava se sentindo muito bem e o pai não queria forçá-la de qualquer jeito, pelo menos não com tudo que ela estava tendo que aguentar.

-O que foi? – ela perguntou.

-Seus amigos estão aqui, vieram te passar um trabalho que você perdeu hoje – ele pareceu pensar por alguns segundos antes de continuar –Posso mandar eles subirem?

-Pode – a loira respondeu se ajeitando na cama. Não demorou muito para que Eli e Rafaela estivessem entrando pela sua porta.

Rafa se aproximou e a abraçou enquanto Eli ficava de braços cruzados perto da porta, era tão estranho pensar que eles estavam deitados juntos nessa mesma cama há menos de 24 horas.

-Como você está? – Rafa perguntou se separando da loira e fitando-a nos olhos.

-Bem... – ela começou mas foi interrompida por Eli.

-Seu pai disse que estava doente...

-Só se cansaço psicológico contar como doença – ela respondeu com um sorriso fraco, Eli ergueu uma sobrancelha –E vocês vieram me passar um trabalho?

-Só se ver como você está contar como trabalho – Rafa respondeu com um sorriso sincero, Marina riu.

-Cadê a Luana? Ela não veio com vocês? – Marina perguntou e reparou no olhar preocupado de Rafa para Eli e a tensão que ficou visível nos músculos dos braços do garoto.

-Ela precisou de um tempo, sabe? – Rafaela começou depois de alguns segundos de silêncio tenso –Então ela achou melhor ir pra casa...

A loira sabia que não estavam contando tudo mas achou melhor não falar nada, já tinha coisas demais para lidar e queria rir com os dois, queria se sentir um pouco feliz por alguns momentos. Então se permitiu ignorar a tensão e preocupação dos dois enquanto passavam uma tarde descontraída.

***

Rafa olhava para o relógio cada vez mais preocupada. Já estava começando a escurecer e ainda estavam na casa de Marina, ela ainda tinha que descobrir para onde Luana tinha ido. Marina e Eli estavam deitados na cama rindo enquanto falavam qualquer besteira. De vez em quando lançava um olhar para ele mas o garoto estava muito ocupado prestando atenção no que Marina estava fazendo, e foi então que Rafa percebeu...

Alguma coisa estava acontecendo entre os dois e ele não iria querer sair de perto dela tão cedo. Rafa teria que ir atrás de Luana sozinha. Fingiu se assustar com o horário e exclamou:

-Ai, meu Deus, eu tenho que ir pra casa!

-Já? Ainda nem escureceu... – Marina comentou –Não quer ficar mais um pouco?

-Quero, de verdade, mas eu realmente tenho que ir – a garota disse já indo em direção à porta –A gente se vê amanhã na escola, certo?

-Certo – a loira respondeu sorrindo.

Rafa virou as costas e saiu apressada. A rua estava deserta e o céu tinha uma coloração meio amarelada mas que ficava mais escura a cada minuto, precisava se apressar.

A garota sacou o celular e ligou para Luana.

Nada.

Ligou de novo.

Mais uma vez nada.

Tentou novamente.

Nenhuma resposta.

Gravou uma mensagem de voz mesmo sabendo que ninguém escutava isso:

-Ei, Lu, aqui é a Rafa! Eu estou um pouco preocupada com você e agradeceria se você me ligasse, de verdade. Ou então pode aparecer lá em casa, a gente pode ficar reclamando sobre a vida e se você estiver muito mal prometo te lembrar o quanto você é incrível. Enfim, só me liga, por favor.

Começou caminhar a esmo, não tinha um destino, só andava na expectativa de que toparia com a loira a qualquer momento.

Já faziam 38 minutos que tinha deixado a mensagem de voz.

Discou o número do pai de Luana, ele atendeu rápido:

-Alô?

-Oi, é a Rafa. A Luana está por aí? Acho que ela ficou com meu caderno e não consegui encontrar ela depois da aula...

-Ah, não. Ela disse que ia dormir na casa de uma amiga depois da aula, não me disse qual.

-Ah, tudo bem – Rafa desligou com o coração batendo acelerado, Luana obviamente mentiu para o pai porque ele acreditava que ela tinha ido à aula. Onde ela estava? O único lugar que Rafaela conseguiu pensar foi o lago...

E correu para lá o mais rápido que pôde.

***

Luana encarava o teto enquanto a visibilidade diminuía vagarosamente. Adorava o pôr do sol e ele era ainda mais bonito visto da sua casa da árvore. Havia algo no silêncio e na solidão que deixava a natureza mais bonita e misteriosa. Sabia que teria que voltar algum dia mas, naquele momento, sentiu como se estivesse finalmente livre e pudesse ficar o resto da vida ali. Mas ela sabia que não aguentaria, adorava a confusão, adorava ter um turbilhão em volta e dentro dela.

Quando tudo ficou completamente escuro, ela acendeu a lanterna que trouxera e começou a escrever em um dos seus muitos cadernos. Escreveu sobre o que vinha sentindo nos últimos dias, sobre a mãe, sobre as amigas, sobre o vazio que só parecia aumentar dentro dela até dar lugar a sentimentos demais e então ficar vazio novamente como se fosse um ciclo que iria alternar-se e durar sua vida inteira, escreveu sobre tudo...

Quando terminou, desligou a lanterna ficando cega pela escuridão e se jogou na cama improvisada no canto. Não era nem de longe tão boa quanto a cama na sua casa mas parecia mais aconchegante, como se apenas uma coisa tão danificada quanto ela pudesse fazê-la se sentir bem.

Então, antes que se desse conta, seus olhos se fecharam e ela embarcou em um sono sem sonhos.

***

Rafaela chegou no lago, estava ofegante e suada. A decepção pareceu apertar seu peito assim que pisou lá porque não havia sinal de Luana em canto nenhum. A garota apenas sentou na grama e ficou observando o reflexo da lua na água.

Seu peito pesava, não apenas pela corrida mas pelo fato de querer tanto estar perto de Luana mesmo que a amiga se colocasse cada vez mais longe de tudo e todos. Ela só queria fazê-la compreender que podia amá-la de verdade, que podia entende-la, que podia ajuda-la... Mas parecia não haver jeito de fazer isso.

Rafa se sentia patética, não sabia o que estava acontecendo nos últimos dias. Era como se tudo estivesse vindo de uma vez para ela e as amigas, vindo para destruí-las, vindo para separá-las e sentiu um medo real, algo que nunca havia sentido antes.

E antes que pudesse se dar conta começou a chorar.

Começou a chorar sozinha deitada na grama.

Os soluços sacudiram seu peito até ela arranjar forças para se levantar e ir para casa.



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