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História Uma nova vida em Sweet Amoris - Talvez velhos conhecidos


Escrita por: Bryhanny

Capítulo 96 - Talvez velhos conhecidos


-Quer dizer que milhares de pessoas clamam pela Mãe Gaia nesse momento e ela resolve se manifestar para você? –gritava Deran indo de um lado a outro da sala.

Por sorte não havia nenhum “soldadinho” da Guilda por perto para ver o Deran dando chilique.

-Você duvida, então? –perguntei cinicamente fazendo-o me encarar com aqueles olhos estranhamente felinos.

-De modo algum. Só acho que estamos cada vez mais próximos de resolver esse caso e quem sabe até salvar o mundo. –ele falava enquanto pulava no encosto do sofá bem próximo do meu rosto.

-Não seja tão dramático, irmão! –resmungou Lefin que ainda não tinha me perdoado por arrastá-lo da casa da Íris.

E eu que pensei que já conhecia momentos de tensão de longe, tremi na base quando os dois Familiares se encararam profundamente. Tenho certeza de que estavam utilizando alguma conexão psíquica para se comunicarem, embora eu ignorasse o porque de eles precisarem guardar segredos de mim. Lefin foi o primeiro a me encarar seriamente antes de falar:

-Bryhanny desculpe, mas com a seriedade das coisas meu irmão e eu decidimos que é hora de ele treinar incansavelmente até o seu esgotamento total para que seu dalek se manifeste, então nos dê licença.

Ambos levantaram-se e saíram da sala deixando-me sem palavras. Ainda podia ouvir Deran reclamar sobre a parte do esgotamento total, mas Lefin parecia divertir-se com o que ele chamou de profunda inveja fraternal do Deran. De fato, até o presente momento a única coisa que ele conseguia desenvolver era gordura, principalmente depois que o Dake deixara de nos treinar.

Meu pai reagiu de maneira muito mais analítica quando lhe contei a visão mais tarde ao vê-lo retirar-se para o sótão após mais um dia de “consertos do Véu”.

-Quer dizer que você é uma espécie de criação desse tal de Gael? –ele perguntou estreitando os olhos. –E ele a quer para ser a sua companheira? Cara, isso é doentio!

-O que você acha que podemos fazer a respeito? –eu perguntei interessada.

-Querida, deixe isso para os adultos e profissionais. Se a Mãe Gaia disse para você ficar longe de Gael então é o que você vai fazer. Não vou te colocar em risco de jeito nenhum. –ele respondeu categórico.

-Mas ela disse que apenas eu posso dar um fim a esse... iminente apocalipse.

-Ela criou Gael então ela dará um jeito. Quanto a você, arrume sua mochila, pois amanhã começam suas aulas.

Ele fez um carinho nos meus cabelos antes de me empurrar para fora do aposento. Saí resmungando, mas duvido que ele tenha ouvido uma palavra sequer. Ele não entendia que eu precisava ajudar de alguma forma e que eu podia muito bem ser uma arma letal nas mãos da Guilda, que poderia fazer toda a diferença. Eu não deixaria que as tais coisas inomináveis que quase levaram os elfos de luz à extinção colocassem o meu mundo em perigo. Mas, o que eu estava dizendo?, perguntou uma voz na minha cabeça. Será que eu queria mesmo ser uma “arma nas mãos da Guilda”?

Passei boa parte da tarde pensando nisso, até que não aguentei mais e resolvi sair e dar uma volta antes do ridículo toque de recolher. Como se as paredes das casas pudessem proteger as pessoas contra a escuridão!

Preparei uma lista de coisas que eu precisava adquirir, principalmente material escolar. Não que o meu tivesse acabado, mas eu estava ansiosa por pensar em outra coisa que não fosse essa maldita e iminente guerra.

Ainda não eram nem cinco horas da tarde e a cidade estava deserta. De fato, o desaparecimento da Nina causara toda uma comoção. Respirei fundo e tentei conectar-me com o ambiente por onde passava e a única coisa que recebia era um sentimento quase incontido de revolta, medo e angústia. Aquilo deixava meu coração em frangalhos, ainda mais porque eu sabia que em algum lugar dentro de mim havia a resposta para todos os problemas.

No deserto estacionamento do shopping, um dos poucos estabelecimentos que ainda estavam abertos não pude deixar de me distrair com a criatura mais colorida e espalhafatosa que eu já tinha visto na vida que ria alto.

Não, não era um palhaço, nem um arco-íris, nem um marreco-mandarim, nem qualquer outra coisa que eu já tivesse visto. Era apenas um garoto de cabelos azuis acompanhado de uma mulher morena que tinha aproximadamente a idade da tia Ágatha, carregando um mundo de sacolas. Pareciam animados com as compras e alheios aos recentes acontecimentos na cidade. Bom para eles, pensei seguindo meu caminho.

Muitas lojas já estavam fechadas e outras sequer foram abertas. Quase não havia movimento e muito menos fila, sequer nos caixas eletrônicos. Em outras circunstâncias eu até desconfiaria, mas lembrei-me do estranho casal do estacionamento e percebi que talvez eles nem ligassem para o que estava acontecendo.

Droga! Por que eu não parava de pensar no garoto de cabelos azuis? Não era como se eu nunca tivesse visto alguém com cabelos estanhos. Bastava lembrar da Rosa ou do Lysandre, ou até mesmo da tia Ágatha que não abria mão de seus cabelos lilases. Que estranho lembrar-me dela logo agora. Deve ser porque ela sempre me acompanhava ao shopping no tempo em que morávamos juntas, pensei enquanto olhava as poucas papelarias abertas e escolhia folhas coloridas para o meu fichário, desistindo alguns minutos depois de procurar por algo inspirador.

Bons tempos! Boas lembranças! Foi por causa dela que eu conheci meus primeiros amigos. Victor, Lety e Ken. Puxa! Agora que me lembrei, faz tempo que não falo com a Lety. Na verdade, desde que vim para Sleepy Rose nunca havia conseguido falar com ela. E o que será que o Ken estaria aprontando a uma hora destas? Será que ele sabia dos últimos acontecimentos? E o Victor? Credo! Melhor não pensar nessa aranha venenosa.

Parei e percebi que estava à frente de uma loja de acessórios eletrônicos onde havia um banner enorme que anunciava descontos progressivos em jogos para PS4 e Xbox One. Nem me pergunte que diabos era isso, mas ainda assim eu resolvi entrar na loja só por curiosidade. Como era de se esperar, havia apenas a atendente no recinto usando um estranho chapéu amarelo com olhos e orelhas com pontas pretas. Essas pessoas têm um gosto bastante peculiar para roupas e acessórios. Lembrar-me-ei de nunca trazer a Rosa aqui, a não ser que eu quisesse vê-la ter uma síncope. E a atendente nem era a coisa mais exótica da loja. Aqui e ali haviam manequins com roupas que imitavam os personagens das capas dos jogos. Mas o que mais chamava atenção era o fato de que alguns eram de personagens femininas armadas até os dentes, mas com o mínimo possível de roupas. Fala sério! Quem vai para a batalha com aquelas roupas de praia laminadas?

Sob o olhar entediado da atendente eu vasculhei uma prateleira após a outra. Era uma infinidade de jogos eletrônicos, pen drives, mp3, filmadoras digitais, monitores de lcd, emuladores, drivers, consoles, joysticks, e os mais estranhos headphones que eu já tinha visto. Quero dizer, quem usaria um headphone com orelhas de gato, asas de borboletas, pedras acrílicas que imitavam diamantes e até imitavam espinhos... tinha até um cuja etiqueta dizia “Dragon Ball Headphones”. Examinei-o e não passavam de círculos alaranjados com minúsculas estrelas. Eu me senti um pouco deslocada naquele pequeno mundo tecnológico e um pouco antiquada com minhas canetas, cadernos e livros velhos na escrivaninha do meu quarto.

No fim das contas, nada naquela loja me atraía então eu resolvi dar meia volta e procurar outra loja mais interessante, quem sabe um antiquário... ou quem sabe um museu tivesse mais vida do que aqui. Mas, mesmo com a loja vazia ainda assim fui brutalmente atropelada e vi todas as minhas compras espalharem-se pelo chão. Eu juro que contei até dez antes de socar com força o braço do garoto de cabelos pretos que não sabia se olhava para o chão ou se massageava o braço.

-Olha só o que você fez! –eu choraminguei quando vi minha preciosa caneta de vidro com tinta de glitter que tinha um ursinho na tampa espatifada no chão.

Por outro lado, só uma louca como eu para comprar uma caneta feita de vidro, embora eu planejasse usá-la apenas para escrever minhas poesias.

-D-desculpe! E-eu juro que não a vi! –ele balbuciava nervosamente com as bochechas levemente coradas enquanto tentava desajeitadamente recolher minhas coisas.

-Ei, está tudo bem. –falei, ajoelhando-me ao seu lado, já arrependida da minha pequena explosão. –Desculpe por ter batido em você.

-Foi mal mesmo, moça. –ele me encarou com cristalinos olhos azuis. –É que você é tão pequena que...

Por um momento, eu me deixei levar por aqueles doces olhos e aquele semblante que me parecia tão familiar até compreender o que ele havia dito.

-O quê?! Está de me chamando de baixinha? Ora seu... –eu ia xingá-lo, mas a atendente interveio.

-Algum problema, crianças? –ela perguntou calmamente.

-Crianças? –falou o garoto em tom jocoso. –E isso vindo de alguém com um chapéu do Pikachu!

Ela sorriu animadamente e continuou a conversar com ele como se eu não estivesse ali. Aproveitei o momento e dei um jeito de sumir dali. Meu material escolar estava intacto, já a caneta de glitter era outra história.

Já no estacionamento, enquanto guardava a última sacola com os regalos que eu pretendia dar de presente para as minhas amigas eis que ouço alguém chamar. Olhei para o lado e um pouco adiante estava o garoto de cabelos pretos que havia me atropelado na loja de eletrônicos. Achei estranho ele ter me chamado já que eu não esperava voltar a vê-lo.

-Ainda bem... que eu... a encontrei. –ele falou ofegando de uma forma quase agonizante enquanto se apoiava na porta aberta do meu carro.

-Está tudo bem? –perguntei preocupada. –Parece que nunca correu na vida.

-E não corro mesmo. –respondeu um pouco mais aliviado. –Odeio esportes.

-Ok, bom saber. –falei sem entender exatamente o que ele queria. –Olha, eu sinto muito, mas não posso ficar mais tempo. Em algumas horas será dado o toque de recolher e todos têm que estar “na segurança de suas casas” –expliquei fazendo aspas com os dedos. –Então, por favor, seja breve.

-Pois é. Essa cidade é estranha. Desde que chegamos as pessoas meio que vivem se escondendo e tal. –ele falou olhando em derredor e ignorando o que eu havia falado. –Até parece que há um apocalipse zumbi chegando.

-Então você é novo por aqui? –perguntei estranhando o sotaque dele e ignorando a parte do tal apocalipse zumbi seja lá o que isso signifique.

-Sim. Chegamos no começo da semana. A propósito, eu sou o Armin. –ele falou estendendo a mão timidamente.

-Bryhanny. –falei, apertando sua mão e sentindo como se entre nós se estabelecesse uma estranha conexão. –E então, vai me dizer o que o fez superar seu ódio por esportes e vir correndo feito louco até aqui?

-É que... –ele voltou a ficar vermelho. – Você sumiu antes que eu pudesse me desculpar adequadamente. Toma!

Ele estendeu a mão onde tinha um pacotinho. Eu o peguei e desembrulhei.

-Desculpe por ter quebrado sua caneta. –ele falou de um jeito fofo.

-Não precisava ter se incomodado. –sorri-lhe enternecida com um gesto tão meigo daquele completo desconhecido.

Dentro do pacotinho havia uma caneta com a cabeça de uma garotinha com grandes olhos que se mexiam e orelhas de gato.

-Não sei onde você comprou a outra, mas a atendente da loja disse que você ia gostar desta. –ele falou coçando a nuca.

Não sei por que, mas naquele momento eu senti que conhecia aquele garoto há muito tempo e que quem sabe até poderíamos ser bons amigos.

-Obrigada, foi muito atencioso de sua parte. Desculpe, Armin mas precisamos ir para as nossas casas. –falei quando vi os portões do shopping se fecharem completamente. –Sabe, o lance do toque de recolher.

-Tudo bem. –ele falou meio sem vontade. –A gente se vê por aí, então.

Eu entrei no carro e não esperei para ver qual caminho ele tomou. Apenas dirigi o mais rápido que pude com um alaranjado arrebol às minhas costas e uma cidade fantasma à minha frente.

 

 

 



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