* * * Jill * * *
Quando o sinal do intervalo bateu, saí apressada da sala para procurar pelo Carlos que para variar, tinha sumido. Eu passei reto pela turminha “maneira” do futebol e embora tenha ouvida a Jéssica ficar de risinhos com as amigas quando passei, fiquei feliz em não ter o Chris ao menos nesta aula.
-- Jill?
Ao ouvir a voz da Claire, levo um susto, mas ela sorri.
-- Precisamos conversar, não é?
-- Ah... É?
Ela desvia meio sem jeito e sorri.
-- Desculpe, Jill... Eu não fazia ideia do que estava acontecendo ou se não eu teria partido o meu irmão ao meio há muito tempo.
Cara, que droga...
Desvio dela sentindo meu rosto avermelhar, afinal, ela sabia que eu estava completamente apaixonada por um garoto e agora sabe que era o seu irmão. Sabe que fui enganada depois de me apaixonar loucamente e sinto muita vergonha disso.
É o irmão dela!
E eu o tempo todo com o irmão da minha amiga!
Céus, quanto constrangimento.
-- Não precisa sentir vergonha, você não teve culpa de nada... E se apaixonar pelo meu irmão não é novidade para mim já que não sabia da fama dele, porque sei que o Chris pode ser bem insistente e convincente.
Ah, que droga...
-- Eu sabia da fama dele, Claire... Mas mesmo assim me envolvi, acreditei nele, achei que os olhos dele diziam a verdade. Só que meu erro foi não me informar o suficiente para saber que ele sempre teve um lance com a Jéssica.
-- Como soube disso?
-- Quando eu ia conversar com ele, eu vi os dois se beijando...
As imagens chegam com tudo em minha mente e sinto meus olhos marejarem, mas desvio da Claire que me olha entristecida.
Seja forte, Jill.
Não fraqueje agora.
Mostre que está tudo bem.
-- Sinto muito, Jill.
-- Tudo bem, já passou... Me apaixonei, quebrei a cara e agora sigo vivendo. Acho que todos passamos por isso uma vez na vida, é tipo “regra”, não é mesmo?
Ela sorri sem jeito e a acompanho.
-- Pode ser.
-- Estou bem... Desculpe ter fugido de você, fiquei com vergonha de te contar que o garoto por quem eu suspirava era seu irmão. Eu só soube depois quando me apresentou a ele na sua cozinha, antes parecia que tudo conspirava a favor dele para continuar a esconder mais isso de mim.
-- Bom, pelo menos ajudei nisso... Sem querer e de um jeito meio anormal, mas ajudei um pouquinho.
-- Sim, com certeza.
-- Eu prometo não deixar mais ele fazer mal a você, tudo bem?
Eu sorrio com o jeito dela e desvio.
-- Tudo bem, obrigada.
-- Mas Jill... Não entendo como você caiu na lábia dele sabendo da sua fama.
Eu também não entendo isso.
-- Ele pode ser bem convincente quando quer, Claire... Principalmente se estiver com estímulo de alguma garota que ele realmente quisesse.
Ao desviar dela, vejo a Jéssica escandalosa como sempre rindo ao lado do seu armário com as amiguinhas dela. A Claire acompanha meu olhar e eu desvio, não querendo mostrar tristeza para ela.
-- Vocês ficaram?
Quando ela me pergunta, eu desvio.
Droga...
-- Ainda gosta dele?
Droga, droga, droga...
Como vou olhar para ela para responder a verdade sobre isso?
-- Se apaixonou para valer pelo Chris, Jill?
Que castigo...
Realmente o bocó não mediu consequências ao me fazer ir falar com a IRMÃ dele para virarmos amigas. Olha minha situação agora, tendo que encará-la com ela sabendo que era o Chris e me perguntando detalhes sobre tudo.
Que vergonha, cara!
-- Não fica assim, não...
-- Ele correu muito de atrás de mim e eu vi nele o tipo que era, o Carlos me alertou sobre ele e eu não queria me envolver... Mas ele me ajudou. Me salvou. E me conquistou.
-- Te “salvou”?
-- Lembra da festa na beira do lago?
-- Sim...
-- Quando estava indo para casa, o Albert me pegou junto com os amiguinhos dele... Me puxaram para o meio das árvores e se não fosse o Chris, sei lá o que poderiam ter feito comigo. Ele não pensou duas vezes antes de me socorrer e se machucou feio por minha causa.
-- Então por isso ele voltou todo quebrado aquele dia?
-- Sim... Ele me salvou.
-- E aquela briga dele com o Albert aqui na escola, você sabe de algo?
-- Sim, o Albert me agarrou, o Carlos me ajudou, mas seu irmão me viu chorando e não tive como mentir para ele... Ele explodiu e foi tirar satisfação com o Albert, então os dois acabaram brigando. Foi por minha causa aquela briga toda.
Ela desvia pensando e faço o mesmo, com as cenas de todos os momentos em que o Chris me ajudou vindo em minha mente... Então todas as memórias explodiram em minha cabeça e me esforço para “engoli-las” outra vez.
-- Ele te ajudou...
-- Sim, apanhou por minha causa.
-- Ele nunca fez isso por nenhuma garota antes...
Quando olho para Claire, vejo que ela parece falar consigo mesma depois de saber o que contei... Não quero mais falar sobre isso, é doloroso demais me lembrar dele, quero me esquecer.
Desvio dela, mas ao levantar os olhos, encontro um par de olhos verdes que me encaravam... Droga. Viro o rosto para longe e sinto meu coração começar a palpitar, minhas mãos suam e não consigo disfarçar.
-- O que foi, Jill?
-- Nada...
Claire levanta o olhar e vê o irmão ali perto, mas quando encaro ela, vejo que fica nervosa também e sem jeito. Quando dá um passo para trás, ela sorri ao passar as mãos no cabelo e piscar para mim de canto.
-- Nos falamos depois... Me explica melhor quando der.
-- Ah... Tudo bem.
Ela sai rapidamente e saio na direção oposta a de onde ele estava. Vou para o auditório, imaginando que se o Carlos tivesse vindo, ele estaria lá, ensaiando para o teste de Romeu que é hoje à noite.
E nem gosto de lembrar... Que vergonha!
Mesmo com os conselhos da professora, eu quase morri naquele palco ontem, senti meu rosto avermelhar a cada segundo mais... E sabendo que o Chris estava ali me olhando o tempo todo, foi difícil não atropelar as palavras enquanto eu tentava atuar como Julieta.
Mas sobrevivi...
E acredito que depois disso, se eu ganhar um papel, vou ganhar algo com no máximo uma frase para falar e no meio dos demais ainda. A professora jamais vai me dar um “bom” papel e mesmo o Carlos sabendo o mesmo em relação a ele, até ontem já tinha decorado quase todo o texto.
Quando chego no campo, vejo alguém deitado sobre as arquibancadas e o sorriso em meu rosto é inevitável. Caminho até ele em silêncio, mas quando me aproximei sem ele notar, vejo que as mangas da camisa estavam arregaçadas mostrando mais marcas roxas recentes nele.
-- Está doendo muito?
Ele dá um salto ao levantar e cobre os braços abaixando as mangas. Hoje o calor está grande demais para uma camisa de mangas longas, o que mostra claramente que ele usava aquilo apenas para esconder as marcas.
Sento na frente dele com um sorriso e puxo seu braço. Ele tenta puxá-lo de volta, mas eu o encaro feio e ele desvia de mim. Levanto a manga dele e vejo marcas roxas e um corte próximo ao cotovelo, me dando um aperto forte no coração.
-- Quando vai me contar a verdade?
-- Não quero te envolver nisso...
-- Isso é “nunca”?
Ele sorri desviando e abaixa a manga escondendo o braço.
-- Está calor, deixa para cima, prometo não ficar importunando você.
Sorrio tentando abaixar a tensão, então ele sorri e arregaça as mangas comigo tentando não ficar encarando as marcas que obviamente ainda estão muito doloridas. E quando foram feitas, devem ter doído muito mais.
Eu tentei fingir que não tinha reparado que as marcas tinham aumentado depois que o Carlos me ajudou com o Albert aquele dia na arquibancada. As agressões parecem ter ficado mais violentas depois disso e eu não quis comentar, porque sei que ele ficaria mais triste em eu notar isso.
-- Desculpe, mas... Tem certeza que não posso ajudar em nada?
Ele sorri e me olha animado.
-- Pode sim, continuando ser a Jill de sempre.
Sorrio sem jeito e ele me puxa para perto, então o abraço forte até o ouvir gemer com alguma dor e deixo meus braços mais leves. Mas mantenho o abraço sentindo um peso em meu coração sabendo que isso tendia a continuar para sempre se ele não tomasse uma atitude.
E me sinto amarrada...
Amarrada a ele e amarrada sem poder fazer nada.
Como continuarei apenas assistindo isso?
-- Eu queria poder ajudar...
-- Você ajuda... Teimando em ser minha amiga e ficar do meu lado.
Eu rio com ele e nos soltamos, mas ao ver o papel do roteiro dele todo amassado e dobrado em mil partes, imagino que alguém colocou as mãos nele ou quase isso, só que prefiro fingir que não noto.
-- Já decorou tudo?
-- Sim, só estava ensaiando...
-- Quer ajuda?
-- Seria bom.
-- Quer que eu leia as outras falas?
-- Sim, acho que será o Billy.
-- Deve ser...
-- Tenho que estar a sua altura já que arrasou ontem como Julieta!
-- Não mente para mim!
Eu rio e ele discorda.
-- Não seja boba, estou falando sério!
Amigos sempre elogiam, eu sei que não fui bem, mas ignoro e desvio dele. Só que novamente encontro olhos verdes distantes dali, mas não me encaravam dessa vez, embora com certeza ele tivesse me visto aqui... O Chris estava distante, deitado em uma arquibancada com o Piers junto falando alguma coisa para ele.
Desde a confusão da festa, reparei que ele não conversa mais com o pessoal do time de futebol e sempre permanece longe da mesa deles no intervalo, às vezes nem pegando nada para comer.
Quanta “atuação”..
Ele sim devia ganhar um bom papel, é um ator nato.
-- Ainda pensa no Redfield?
Carlos pergunta e desvio rapidamente.
-- Não.
-- Aham, sei...
-- Quer começar do começo?
-- Sim, obrigado.
O tempo todo tento ficar focada no papel do roteiro, lendo as falas do outro que estaria na cena. Carlos falava tudo muito bem, embora duas vezes tenha dado uma pausa para se lembrar de alguma palavra, mas depois disso, citou tudo com tanta perfeição que eu sorria internamente para ele.
Com o sinal batendo, eu levanto.
-- Está ótimo... Toma cuidado ou será o Romeu desta vez!
Ele ri com aquilo.
-- Imagina só eu como Romeu e você como Julieta! Seria hilário!
-- Nem fala, Carlos, eu ia morrer de vergonha em aparecer tanto no palco...
-- Não esquenta, não temos chance.
-- E agradeço infinitamente por isso, acredite.
-- Eu também!
Rimos juntos e mesmo esperando por ele, ele permanece sentado.
-- É Química... Você não vem?
-- Não, é... Está muito quente para manga longa e prefiro evitar comentários.
Sorrio com ele e concordo.
-- Tudo bem, te passo a matéria amanhã.
-- Valeu, até.
-- Até.
Saio apressada dali em direção a aula para chegar antes do Chris, para poder fingir mais facilmente que ele era invisível e felizmente consegui. Chego e sento vendo o pessoal do fundão fazendo piadinhas e rindo sem parar, mas ignoro, puxo meu caderno e começo a ler o capítulo novo do livro sentindo falta do Carlos ali.
Só que como um passe de mágica, posso sentir que o Chris entra com o Piers na cola, mas continuo encarando o livro como se estivesse concentrada. Ele passa por mim e senta em seu lugar, mas sinto seus olhos fixos em minha direção.
-- Silêncio, vamos começar a aula!
O professor Birkin chega, mas a bagunça do fundão permanece mesmo com ele começando a passar no quadro. Só que com uma gargalhada mais alta lá de trás, o professor vira furioso.
-- REDFIELD!!!
-- O que foi?
-- JÁ MANDEI FICAR EM SILÊNCIO NA MINHA AULA!!!
-- Eu não fiz nada!
Olho de canto lá para trás como todo mundo e vejo a cara de indignação do Chris ao encarar o professor. Dessa vez, tenho que concordar que provavelmente ele não teve culpa no momento, mas já deve ter infernizado tanto o professor antes, que merece levar bronca.
-- VOCÊS ACHAM QUE SÓ PORQUE FAZEM PARTE DO TIMINHO DE FUTEBOL, SÃO IMUNES A TUDO, NÃO É MESMO!?
-- Eu não fiz nada!
-- JÁ CHEGA!!! ISSO VAI ACABAR HOJE, TODOS EM PÉ!!!
Os demais levantam se entreolhando sabendo que tinha sobrado para todo mundo, então o professor nos faz sinal para ir para frente da sala e todos pegamos nossos materiais.
-- De hoje em diante, vocês estão proibidos de mudar de lugar a não ser por ordem MINHA... Vamos ver se assim cessam um pouco as conversas e aumentamos as notas de alguns pendurados em minha aula.
Espera... O quê?
Ele vai nos mudar de lugar?
NÃÃÃÃOO!!!
ELE VAI ME COLOCAR COM UM DELES???
CÉÉÉÉUUUSS, NÃO, QUERO SÓ O CARLOS COMIGO!!!
-- Vamos começar... Aqui na frente, Leon e Helena, depois, Sheva e Kevin, Sherry e Piers, Jéssica e Carlos, Ada e Krauser, Jill e Chris, Ing...
O QUÊ???
EU COM QUEM???
NÃO, POR FAVOR, NÃO FAZ ISSO COMIGO!!!
Quando ele termina de ditar os nomes, fecho meus olhos pedindo por um ataque cardíaco naquele momento, mas continuei em pé.
-- Vamos ver como as coisas ficam assim separando todos... Podem sentar.
MAS QUE PORCARIA!!!
EU DO LADO DELE???
É SÉRIO ISSO???
ACHEI QUE O PROFESSOR FOSSE COM A MINHA CARA!!!
DROGA, DROGA, DROGA!!!
Todos caminham e sento furiosa no meu lugar vendo apenas com o canto do olho ele sentando do meu lado, então desvio encarando a janela ao meu lado parecendo servir como um leve consolo para eu ter para onde olhar.
Não acredito nisso...
Cara, qual era a chance disso acontecer?
E com nós dois nesta situação?
Isso é sério?
-- Abram na página 104 e comecem a fazer o exercício... Quero as questões resolvidas até a próxima aula e entregue a mão da número 01 até o 36. Valendo a nota que será essencial para formação de vocês este ano!
-- O quê?
-- Fala sério!
-- SILÊNCIO!!! E É BOM CONTER A CALIGRAFIA DOS DOIS DA DUPLA!!!
Mesmo com todos tentando discutir, o professor parece decidido e reviro os olhos para aquilo. Não pelo exercício em si, mas pela questão de ter que ter as duas caligrafias no trabalho, ou seja, posso facilmente me ferrar deixando algo na mão do Chris.
Não posso tirar menos de 10 em Química!
E ele... Não digo nada.
Abro meu caderno, abro o livro na página certa e começo a fazer o exercício sentindo os olhos dele em mim e mesmo com meu nervosismo a flor da pele, no momento meu estresse predominava.
-- Parece destino, não é?
A voz dele soa baixa ao meu lado e paro de escrever sentindo ele me olhar, mas ignoro e começo a fazer os exercícios.
Felizmente, ele não fala nada durante a aula toda, algo surpreendente. Achei que ficaria me infernizando, só que hoje ele parecia particularmente mais abatido do que o normal e o que me surpreendia ainda mais, era que ele estava concentrado nas questões do exercício. Eu olhava para o caderno dele às vezes e via que fazia a maioria certo, o que me surpreendia ainda MAIS, mas uma ou outra coisa ele não chegava ao resultado certo. Eu queria me meter, só que permaneci calada mesmo sem querer me estressar mais no momento.
Que droga...
Que azar o meu...
E cara, o Carlos vai pirar quando souber disso!
E com quem ele ficou? Jéssica!
Céus, não sei qual de nós está pior, esses dois merecem um ao outro.
Com o sinal batendo para próxima aula, guardo tudo rapidamente querendo me afastar o máximo possível da criatura do meu lado, mas vejo que ele me observa curioso ao soltar o lápis.
-- Como voc...
-- Eu faço.
-- Mas o professor diss...
Saio como um raio dali o deixando falar sozinho e respiro fundo do lado de fora da sala... Eu juro que se não fosse Química, eu mataria as aulas seguintes para não precisar sentar do lado dele.
Dane-se, farei essa droga sozinha!
Me entendo com o professor depois... Droga.
Isso não é possível...
Azar mesmo ou “destino”?
Qualquer coisa que seja: me ferrei!
Reviro os olhos e sigo para próxima aula onde eu sentava com a Sherry e pudemos passar a aula toda reclamando das escolhas do professor. Nossos parceiros com certeza não era quem queríamos e embora a Sherry tenha ficado com o Piers, que é um bom aluno segundo ela, ainda reclamava por minha causa.
E como um passe de mágica, aquela aula passou num piscar de olhos enquanto a anterior de Química e as próximas dela passariam como uma lesma aleijada. Que droga... Eu mereço mesmo isso?
-- Nos vemos amanhã?
-- Sim, quer carona? Posso pedir para os meus pais...
-- Não, obrigada, Sherry, vou andando mesmo, minha casa não é longe.
-- Tudo bem, até amanhã.
-- Até.
Saio apressada para longe daquela escola sentindo que eu mal conseguia respirar, mas ao virar a esquina e não ouvir mais sons de nada que tivesse a ver com o colégio, respiro fundo e me apoio em uma árvore da rua.
Que droga...
Terei que conviver com ele do lado?
Isso é sério mesmo?
Sinto meu coração bater mais forte ao me lembrar dele tão próximo de mim e meus olhos ficam marejados... Não! Não vou chorar de novo, mas nem pensar, preciso ser forte desta vez!
Droga...
Quando escuto um barulho na rua, viro assustada, mas não vejo nada. Tudo estava um deserto só e limpo a única lágrima que escorreu, voltando a caminhar para minha casa, mas eu sentia como se alguém me observasse.
Olho para trás novamente, mas não vejo nada.
Aumento meus passos e tento ser mais rápida, mas quando escuto um barulho de passos e me viro para ver, sou puxada com força pelo meu braço dando de cara com um olhar repulsivo.
-- Oi, delícia... Saudades?
-- Me solta, Albert!
ISSO É SÉRIO???
TODOS ESSES “PRESENTES” EM UM ÚNICO DIA???
-- Notei que voltou a caminhar sozinha... Legal.
-- ME SOLTA, IDIOTA!!!
Tento me soltar, mas ele me puxa para mais perto me agarrando pelo outro braço também me deixando virada para ele com o corpo colado ao dele. O encaro furiosa, mas ele sorri maliciosamente.
-- Qual é... Sei que gosta de mim.
-- Você é louco!
-- Vamos lá, ninguém está olhando, não precisa se fazer de recatada.
-- Me solta, imbecil...
-- Só um beijinho, anda.
-- ME SOLTA, ALB...
Interrompida por uma boca na minha.
MAS QUE MERDA, ELE NUNCA VAI ME DEIXAR EM PAZ???
Tento me soltar, mas ele passa os braços ao redor de mim e sua força com sua altura não facilitavam em nada para mim... Me desespero com a situação, mas com um pensamento rápido, dou uma joelhada forte no meio das pernas dele o fazendo me soltar gemendo de dor.
Corro como louca pelo quarteirão, já podendo ver a minha casa, mas antes de me animar com a ideia, ouço passos de atrás de mim e por mais que eu aumentasse meus passos, ele me pega outra vez e me debato vendo que ele estava com uma péssima expressão no rosto.
-- ME SOLTA, ME SOLTA!!!
-- Anda, só um beijo para valer e eu vou embora... Se quiser.
-- NÃO, NÃO VOU TE DAR NADA!!!
-- Será mesmo?
Ele ri e me puxa para ele, mas ao tentar dar uma nova joelhada, ele desvia e me puxa prendendo minhas pernas fazendo eu me desesperar ainda mais enquanto ele ria com a situação.
DROGA!!!
-- Você nunca aprende, não é?
Com uma voz surgindo de atrás de nós, o Albert vira e dá de cara com um par de olhos verdes que agora pareciam assassinos. Quando ele puxa o Albert fazendo ele me soltar, desvia do soco dele e acerta um forte fazendo o rosto do meu “admirador” estralar. Ele cai no chão parecendo completamente zonzo e olho para o Chris que me encara sério.
-- Achei que tinha te dado um spray de pimenta para apuros.
-- Não tive muito tempo para pensar nisso!
Droga, aquele spray!
O Chris olha para o Albert e volta seus olhos em mim ainda sério.
-- Acho que precisamos falar sobre isso...
-- Me deixa em paz, Chris!
Dou as costas a ele limpando meu rosto do suor e baba daquele idiota, mas o Chris me alcança e caminha ao meu lado. Sinto meu coração acelerar, minhas mãos suarem e minhas pernas se enroscando para eu cair de testa no chão.
-- Não pode andar sozinha, sabe disso.
-- NÃO SE META! ME DEIXA EM PAZ, CHRIS!!!
-- Qual é, eu salvei a sua pele! DE NOVO!!!
Viro furiosa para ele e o empurro.
-- Não pedi sua ajuda, eu me livraria sozinha dele!
-- Ah sim, eu vi...
Ele sorri debochado e saio apressada dali querendo socar alguém, mas quando sinto a mão dele me puxar, viro para gritar na cara dele, só que sou puxada por ele que me coloca em seus ombros e me carrega em direção a minha casa.
-- CHRIS, ME SOLTA, ME SOLTA!!!
Estapeio as costas dele, onde eu podia alcançar, mas ele me segura forte e me empurra mais para trás me colocando de cabeça para baixo sobre seus ombros. Eu esperneio e me debato, só que ele não parecia nada disposto em me soltar ou me ouvir.
-- ME SOLTA, CHRIS!!!
-- Calada, Jill.
-- ME SOLTA, ME SOLTA, ME SOLTA!!!
Ele cantarola enquanto caminha para minha casa e rosno de raiva, batendo sem parar nas costas dele o fazendo bufar de vez em quando. Ao ver a frente da minha casa, ele segue calmamente para porta, mas esperneio mais ainda tentando fazer ele me colocar no chão, só que bate na porta e segura firme.
-- Quietinha, Jill...
-- Idiota, eu te odeio!
-- Me odeie, mas não deixarei que arrisque sua segurança!
Rosno novamente sentindo a raiva em mim.
-- Chris!?
Minha mãe finalmente abre a porta e fecho meus olhos para situação.
-- Oi, sogrinha... Tudo bem?
-- Ah, sim, mas... O que significa isso?
-- Precisamos conversar.
-- NÃO TEMOS NADA PARA FALAR, ME SOLTA, IMBECIL!!!
Grito nas costas dele e o escuto bufar, então me coloca no chão e me seguro na parede ao me sentir zonza. Mas quando ele se aproxima de mim, o empurro bruscamente vendo que revira os olhos.
-- IDIOTA! SOME DAQUI AGORA!!!
-- Meu Deus, o que aconteceu entre vocês?
Minha mãe olha assustada para ele que vira para ela.
-- Sra. Valentine... Sua filha me odeia agora e não posso negar que ela tem razões para isso, mas a segurança dela vem em primeiro lugar.
-- Como assim?
-- Cale a boca, Chris! VÁ EMBORA!!!
Grito novamente.
-- Se acalma, Jill... Quero saber que história é essa.
Reviro meus olhos e dou as costas para eles por um minuto.
-- Sra. Valentine, eu sou louco pela sua filha...
Eu bufo alto e rio ironicamente, mas ele continua sem ligar para mim.
-- Ela está me odiando e sei que eu mereço, mas, por favor, me ajude a convencê-la a aceitar ir e voltar comigo da escola. Prometo cuidar dela e não deixar ninguém chegar perto... Eu juro.
-- O QUÊ??? VOCÊ ESTÁ LOUCO!!!
-- Jill, deixe ele falar.
Minha mãe me repreende e desvio novamente.
-- Por favor, Sra. Valentine... Tem um cara na escola que vive perseguindo a sua filha e por intuição quando cheguei em casa, decidi passar nessa rua para ver se a Jill chegou bem.
-- Que garoto é esse?
CÉUS, MINHA MÃE NÃO PODE SE ESTRESSAR!!!
ELA É DOENTE, SEU IDIOTA!!!
SEM PREOCUPAÇÕES!!!
Quando viro de volta para eles e encaro o Chris com um ódio evidente em meus olhos, ele volta a olhar para minha mãe.
-- Um cara... Meio barra pesada.
IDIOTA!!!
-- Jill, por que não me contou isso?
Minha mãe vira preocupada para mim e encaro o Chris.
-- Por favor, Jill, me escute... – Ele começa – Não precisa me dizer “bom dia” e nem me olhar na cara, apenas quero sua segurança. A Claire e o Piers sempre vão junto, então pode continuar fingindo que não existo como tanto gosta.
Ah, “coitado”...
QUEM ELE PENSA QUE É???
-- Jill?
Minha mãe me chama e olho para ela.
-- Não vou te obrigar, mas, por favor, aceite, me deixará mais tranquila.
Droga...
Agora com ela sabendo, vai se preocupar demais.
DROGA, CHRIS, EU ODEIO VOCÊ!!!
-- Tudo bem...
Respondo e vejo que ele sorri junto com a minha mãe.
-- Posso falar sozinha com ele, mãe?
Ele perde o sorriso sabendo que vinha coisa ruim e ela concorda.
-- Até logo, Chris... E obrigada.
-- Até, Sogrinha!
Ela ri dele e sai dali.
Quando me olha, perde o sorriso de novo e o empurro bruscamente para fora da casa fechando a porta de atrás de mim para minha mãe não ouvir.
-- Qual é o seu problema?
-- Um “obrigada” já está bom, Jill.
-- Sem piadas, garoto! Já falei que minha mãe é doente e não pode se preocupar! Por que contou isso para ela?
Ele desvia sério e o encaro furiosa.
-- Desculpe... Mas não me deu escolha.
-- É a vida da minha mãe, Chris! Por favor, pelo menos isso faça por mim!
-- Você fala como se eu nunca tivesse feito nada...
Desvio brava dele sabendo que eu não podia concordar.
-- Olha... Não precisa falar comigo.
-- E não vou.
-- Minha irmã vai estar junto, vocês sentam atrás e você finge que eu não existo, prometo me esforçar para nem falar nada para você se sentir melhor.
Sua presença já é o suficiente...
O suficiente para fazer meu coração palpitar no peito.
Como está fazendo agora.
-- Pois é, Chris... Sua “irmã”.
Ele desvia de mim e dou as costas a ele para entrar em casa.
-- Passo aqui amanhã na mesma hora de antes.
Bato a porta na cara dele e fico apoiada sentindo as lágrimas chegarem.
-- E se sair escondida, te levo nas costas até a escola!
Ele fala do outro lado e o escuto suspirar.
-- Sinto sua falta...
Sua voz soa bem mais baixa, provavelmente imaginando que eu não estava mais ali. Escuto seus passos se afastarem e minhas lágrimas vêm sem adiantar eu tentar contê-las... Droga.
-- Quer conversar, meu amor?
Minha mãe surge e limpo minhas lágrimas.
-- Não, mãe... Vou ficar bem.
-- Mesmo?
Ela me olha carinhosa e estende os braços, então corro para abraçá-la.
-- Oh, meu amor... Eu estou aqui.
Não posso contar para ela...
Mas ela sabe que algo errado aconteceu...
Só que não adianta eu tentar engolir as lágrimas, acho que ela ficará menos tensa me vendo colocar tudo para fora.
DROGA, DROGA, DROGA!!!
QUE PORCARIA DE DIA FOI ESTE???
Sou forçada a conviver sentada ao lado do Chris durante as aulas de Química, o Albert me segue outra vez, sou salva pelo meu “heroi” DE NOVO e agora serei obrigada a vê-lo toda manhã e toda tarde durante as caronas.
Não sei se eu aguento...
Não sei MESMO se sou forte o suficiente para isso.
Mas vou tentar... Sim, eu PRECISO tentar.
E depois de tudo, parece que realmente foi um toque em especial do “destino” em nossas vidas... Sempre contornando, mas nos mantendo próximos. Mesmo depois de tudo, vamos conviver comigo querendo ou não.
Preciso de forças... Por favor.
* * * Leon * * *
Quando eu ouvi “Leon e Helena”, meu estômago gelou.
Peguei meu material e sentei onde o professor tinha mandado, vendo a expressão de insatisfação de todos os meus amigos... Acho que só o Chris levou sorte, ficando ao lado da “bonequinha” dele. Quem sabe assim façam as pazes e ele nos perdoe pela burrada que fizemos.
Ele sequer senta conosco no intervalo.
-- Vamos ver como as coisas ficam assim separando todos... Podem sentar.
Sério isso?
Cara... Que merda.
-- Abram na página 104 e comecem a fazer o exercício... Quero as questões resolvidas até a próxima aula e entregue a mão da número 01 até o 36. Valendo a nota que será essencial para formação de vocês este ano!
-- O quê?
Falo em voz alta.
-- Fala sério!
-- SILÊNCIO!!! E É BOM CONTER A CALIGRAFIA DOS DOIS DA DUPLA!!!
Os gritos do professor louco ecoaram na sala.
Quando a Helena abriu o livro ao meu lado, vi que parecia brava com aquilo, mas não tanto quanto a Ada parecia estar lá na frente ao me encarar.
Krauser... Sério isso?
Depois de tudo que ele fez, minha nam... Digo, minha ex está sentada ao lado dele. Com certeza ele está se sentindo triunfante para ter chance de me atingir de novo, como já fez antes.
Quem diria, não é mesmo?
Depois de tanto tempo... Parece um toque perverso do destino.
Quando a Ada desvia de mim, ele se espreguiça ao lado dela e pela primeira vez em muito tempo, olha diretamente para minha direção. Ele sorri maliciosamente e pisca para mim me fazendo sentir meu sangue ferver.
Idiota...
Desvio do otário e abro meu livro, vendo a Helena rir ao desviar de mim.
-- O que foi?
-- Com ciúmes da namorada?
-- Não é isso, é só que...
Eu paro.
-- O quê?
-- Deixa para lá...
Ela ri novamente e desvio.
Tento fazer alguma coisa daquela droga do livro percebendo que os demais pareciam mais concentrados também. O professor estava lá na frente, encarando a todos com um sorriso vitorioso no rosto, sem nem imaginar (ou sim) os pares que ele teve o dom de formar.
Volto a me concentrar no exercício, mas não passo da primeira e já largo o lápis me espreguiçando na cadeira e fechando meus olhos, sem ligar para aquela droga agora. Em casa tento fazer alguma coisa.
-- Faz o favor de continuar!
Com uma bronca da Helena, olho para ela.
-- Como?
-- Essa nota será de nós dois e não vou me ferrar por causa de um playboyzinho que se acha no direito de fazer o que bem entender!
Nossa...
Eu rio do seu jeito, mas ela desvia mostrando que não estava brincando ao falar, ou seja, ela é assim ao seu normal mesmo.
-- Você sempre foi assim?
-- “Assim”, como?
-- Sei lá... Carrancuda.
-- Não sou carrancuda!
Eu rio e ela me encara brava.
-- Você sabe fazer essas questões?
Pergunto e ela desvia.
-- Não muito... Química não é o meu forte.
-- Muito menos o meu.
-- Isso eu já imaginei!
-- Ei, fala sério... Dá para ser menos chata?
-- Como espera que eu haja com você depois de tudo, garoto?
Respiro fundo e desvio.
Certo, tudo bem, ela tem razões para me tratar mal.
-- Tudo bem... Mas como quer que tiremos uma boa nota num trabalho juntos se não conseguimos nem conversar sem discutir?
Ela desvia e eu rio.
-- Será que não tem as questões prontas na internet?
-- É assim que costuma fazer?
-- Quando faço, sim, é assim mesmo... “Garota”.
Ela revira os olhos e me encara.
-- Não sei... Talvez.
-- Se quiser, podemos fazer depois da aula na minha casa.
Com seu olhar desconfiado, reviro meus olhos e volto a ver a expressão azeda da Ada para mim, mas ela desvia.
-- Acha que vou correr o risco de ser atacada de novo?
-- Isso não vai acontecer, relaxa...
-- Por que acha isso?
-- Porque eu e a Ada não temos mais nada.
Ela me olha surpresa e encaro meu caderno.
-- Como é?
-- Terminei com ela...
-- Por quê?
-- Ainda pergunta?
-- Por minha causa?
-- Não... Bom, mais ou menos.
-- Como assim?
-- Ela mudou... Eu não me apaixonei pela Ada de hoje, me apaixonei por uma garota bem diferente do que ela é agora.
-- Ela não era louca?
-- Não, não era.
Vejo que ela desvia e encara a Ada pensativa.
-- Será que um dia vai me perdoar pelo mal entendido, Helena?
-- Eu fui atacada sem ter feito nada.
-- Eu sei... Me desculpe.
Quando volta a me olhar volta a ficar séria.
-- Você tem que entender que nem todas as garotas estão loucas por status nesse colégio... Não tenho o menor interesse em me envolver com algum garoto do time de futebol, porque isso é sinônimo de confusão e falsidade.
-- É sério?
-- Sim, quero distância de todos vocês.
-- Ótimo, então vai lá em casa para fazer essa droga?
-- Seus pais não vão achar ruim?
-- Eu moro sozinho.
Ela me encara como se eu quisesse atacá-la sozinho e eu rio.
-- Não vou fazer nada, eu juro.
-- Por que não pode ser na minha casa, então?
-- Porque lá tem sua irmã que é seguidora da Jéssica e amiga da Ada.
-- É... É verdade.
Por mais que a Deborah não seja tão obcecada quanto as demais, ainda é uma líder de torcida e próxima das demais. Não tenho mais nada com a Ada, mas mesmo assim, é bom evitar que ela saiba que me encontrei com a Helena fora do colégio, só pensaria bobagens e poderia enlouquecer de vez.
-- Certo... Me dá seu endereço.
Ela empurra o caderno para mim e escrevo em cima dele.
-- É aqui.
-- E nem tente nada comigo, estou avisando!
Eu rio das palavras dela.
-- Relaxa... Você também não faz muito meu tipo.
-- Achei que “GAROTA” fosse seu tipo.
-- É... Pode ser.
Sorri com as palavras dela e vi que desviou.
-- Só posso ir ao anoitecer.
-- Sem problemas.
Certo, encontro depois da escola, quem diria, não é?
Eu e a Helena fazendo um trabalho juntos, que loucura.
O que pode sair errado?
Só... “Tudo”?
Sempre achei ela uma gata. A notável “estrela” do teatro sempre arrancou alguns suspiros do time de futebol, mas como ela mesma disse: nunca demonstrou interesse. E agora, nossa “relação” já começou com ela me odiando por justa causa, mas acho que sobrevivemos depois de 36 questões de Química... Se ela usar essa braveza toda contra a matéria, tenho certeza que vence este nosso “inimigo” em comum.
Que garota brava, não é?
Mas ao mesmo tempo... Diferente.
É claro que é uma completa gata, afinal, olha esse corpão!
E me lembro dela sem jeito quando esbarrou comigo na porta do refeitório há umas semanas... Quem diria que aquela garota que demonstrou vergonha naquele momento, seria alguém tão forte e decidida. E ainda mais bonita de perto. Um completo perigo para mim, mas como minha mente continua numa morena de cabelos curtos com uniforme de líder de torcida, duvido que eu conseguiria mesmo se tentasse, me ligar a outra garota.
Só exercícios de Química, pronto.
Espero que não acabe mal.
* * * Piers * * *
Depois da aula, precisei ajudar meu pai com as coisas do trabalho. Eu tinha coisas da escola, mas eu sabia que ele precisava de ajuda e minhas coisas podiam ficar para depois. Dormir um pouco mais tarde não seria tão horrível.
-- Estamos quase!
Ele fala animado já perto das dez horas e concordo.
-- Isso aí, pai...
-- E a Claire, como está?
-- Bem.
-- E o Chris, quando vão contar?
-- Ele está muito ocupado ultimamente, estressado tentando reverter umas burradas que fez com a garota por quem se apaixonou... Não é hora.
-- Cuidado, filho... Se ele descobrir sozinho, vai ver como traição.
-- Eu vou contar assim que ele se resolver com a menina.
-- Não demore, filho.
-- Pode deixar.
-- E os pais dela, será mesmo que não entenderiam?
-- O pai dela é muito ciumento e rigoroso... Não quer que a filha namore tão nova, então não quer saber de genro. A Claire sempre diz que se ele souber de nós, vai proibir nosso namoro.
-- Isso está cada vez mais complicado...
-- Nem me fala.
Continuo com o trabalho voltando pela milionésima vez pensar no meu namoro com a Claire... Eu tento manter a boa expressão com ela, mas a verdade é que penso o mesmo que o meu pai. Quanto mais o tempo passa, pior fica a nossa situação e o Chris... Eu o conheço. Ele vai enlouquecer.
Antes eu omitia...
Agora eu minto para ele.
No lugar dele, mesmo sendo mais calmo, eu piraria também... Namoro com a Claire há muito tempo. E sempre nos encontrando as escondidas e pelas costas do Chris.
Me sinto PÉSSIMO...
Mas ele está muito para baixo por causa da Jill.
E talvez se acertando com ela, ela possa nos ajudar com ele depois.
Só que isso não impede de eu me sentir uma droga por mentir.
-- Filho?
Meu pai me chama e viro para ele vendo que já limpava as mãos.
-- Era isso... Obrigado, Piers.
-- Imagina, pai.
-- Amanhã vou entregar bem cedo a encomenda e a noite vou pescar com o Brendam se você não se importar de passar a noite sozinho.
Ah... O quê?
-- Como?
-- Vou passar a noite toda fora amanhã.
-- Ah...
Isso é sério?
Talvez eu e a Claire...
-- Tudo bem? Posso ficar se quiser.
-- Não, não... É certeza que vai?
-- Sim, faz tempo que não pesco com ele e estou precisando!
-- Sim, está certo, pai, faça isso.
-- Ótimo, então amanhã a tarde eu já vou! Mas depois de amanhã antes do anoitecer estou de volta, não precisa se preocupar.
-- Legal, pai...
-- Sim, muito!
Ele sai sorridente dali, mas um sorriso ainda maior se espalha por meu rosto sabendo que ele passaria a noite toda fora e eu ficaria sozinho... Mas se a Claire puder inventar uma desculpa, podemos passar a noite juntos.
E enfim...
Enfim posso dar a ela a noite dos seus sonhos.
Será que ela vai topar assim tão em cima da hora?
Vou me desdobrar para tudo sair do jeitinho que minha princesa merece!
Sem poder esperar mais, me certifico de que meu pai realmente não estava mais perto e pego meu celular discando para o número dela. Nem sempre pode me atender, mas hoje em especial eu estava louco para saber a resposta dela.
E quem não estaria?
Se ela conseguir arrumar uma desculpa, finalmente poderemos ter um momento só nosso, sem ninguém incomodar e sem hora para acabar... Bom, até o amanhecer e termos que ir para escola, mas fora isso, poderemos ficar juntos sem medo de sermos pegos. E se ela não quiser que role nada, não tem problema, podemos ficar assistindo televisão até tarde e dormirmos juntos abraçados. O importante é eu estar com ela.
-- Oi?
-- Amor, como você está?
-- Bem, eu...
Ela para e espero, mas ela permanece calada.
-- O que foi, princesa?
-- Me desculpe por ontem... Eu não quis gritar com você.
-- Tudo bem, não se incomode com isso.
-- Você está bem, amor?
-- Sim, muito! Tenho uma proposta para te fazer...
-- Qual?
Vou até a porta vendo que meu pai não estava ali e me afasto para falar.
-- Amanhã meu pai vai passar a noite toda fora e eu pensei... Se talvez quisesse arrumar uma desculpa para vir ficar comigo e... Sei lá.
Fico meio sem jeito em terminar a frase, mas a escuto rir.
-- Sozinhos?
-- Sim...
-- A noite toda?
-- Ah... Sim.
Escuto ela sorrir de novo e fico sem jeito outra vez.
-- O que acha?
-- Eu... Acho perfeito.
-- Se você quiser... Podemos ficar assistindo televisão até tarde e só.
Ela ri novamente e coço minha cabeça sem jeito.
-- Não, nem vem... Sem televisão amanhã.
-- Então eu... Posso pensar que... Talvez... Nós...
-- Pode sim, amor.
Sorrio como um besta com a resposta dela e meu coração chega a palpitar no peito. Coço a cabeça novamente com mil ideias para nossa noite de amanhã e ao ouvir o sorriso dela outra vez, fico ainda mais besta.
-- Então posso arrumar tudo para amanhã?
-- Sim... Pode sim, amor.
-- Legal, eu... Eu prometo fazer ser inesquecível, princesa. Eu juro.
-- Eu sei, Piers... Sei disso.
-- Então amanhã te espero aqui ao anoitecer!
-- Vou estar aí, eu prometo!
-- Ótimo, combinado! Boa noite, meu amor... Eu te amo. Muito.
-- Eu também te amo... Mais que tudo.
-- Mais que tudo.
-- Boa noite...
-- Boa noite.
Perfeito!
Amanhã será nossa noite!
E nada poderá estragar isso, não vou deixar!
Claire... Minha Claire.
Minha ruivinha linda e perfeita só para mim.
Sorrio novamente e desligo me apoiando na parede com cara de bocó, deixando milhões de ideias virem para noite seguinte... Luz de velas. Jantar bacana para poder vê-la sorrir mil vezes. Música romântica no fundo. Um longo banho e roupa bacana. Boas doses do perfume que ela gosta. Rosas? Ela gosta de flores, acho que posso arrancar mais sorrisos dela assim.
E quanto mais sorrisos melhor!
Jamais vou cansar de ver o sorriso tímido dela e ouvir sua gargalhada gostosa de menina... Aquele brilho no olhar, aquela expressão tímida e sem jeito. Não é possível que um dia eu deixe de apreciar isso.
Cara, eu não acredito...
Sério que vai rolar mesmo?
E amanhã?
Vou ter ela para mim... Inteira?
Só para mim?
Cara, que sonho... Eu a amo como um louco há tanto tempo e embora tenha desviado pensamentos do tipo conforme os meses passavam, ultimamente não consegui mais manter minha imaginação “inocente” e minhas mãos quietas ao seu lado. Ela é tão... Tão... Linda. Perfeita. Eu quero tanto poder mostrar a ela que sou sim o homem da sua vida e que posso fazê-la feliz a vida toda, que chego a tremer com esta oportunidade enfim batendo em nossa porta.
Mas ouço um barulho na janela e olho para lá.
O que foi isso?
Será que alguém estava ouvindo?
Não, paranoia minha...
Sigo até a janela aberta e olho para fora, mas não vejo ninguém. Então a fecho e saio dali apagando todas as luzes e deixo minha cabeça voltar a planejar um milhão de coisas para amanhã.
Claire...
Minha ruivinha...
Amanhã à noite é nossa, meu amor.
Prometo fazer dela o momento mais especial de nossas vidas.
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