História Unknown Love - André

Mexia na tão famosa lasanha da minha vó, sem vontade de comer. A mulher a minha frente, se encarava comigo o tempo todo. Eu hein. Suspirei baixinho, encolhendo meus ombros e sumindo cada vez mas da cadeira.

- Não vai comer meu filho? - Minha vó largou a conversa pra perguntar a mim. - A comida ainda está toda no prato.

- Estou sem fome. - Murmurei, se ajeitando na cadeira, desconfortável pelo o olhar de compaixão da mulher a minha frente.

- Você estava tão contente quando disse que iria fazer a lasanha. - Minha vó falou tristemente.

- Não vó, não entenda mal, está ótimo, só que... argh, sei lá. - Bufei apoiando a cabeça na mão. Parti a lasanha com o garfo mesmo e levei na boca. Tão gostoso, mas não tira essa agonia que tinha em mim. Super estranho, a mesma mulher que me atropelou sem querer, aparecer dizendo que é amiga de minha vó.

- Você não fala muito né, André? - Um frio correu na minha espinha a ouvir a voz dela falar meu nome. Eu hein. Encarei seus olhos castanhos no mesmo tom que o meu.

- Não. - Respondi sem emoção na voz. Ela sorriu igual o meu sorriso. Que droga. Será que ela é alguma sócia minha só que em versão mais velha e feminina?

- Tímido. Acertei? - Brincou.

- É, mais ou menos. - Falei gesticulando com a mão. Ela riu divertida.

- Ue? Por que mais ou menos? - Perguntou ainda rindo.

- Normalmente, ele fica tímido só com a garota que ele gosta. - Minha vô falou da forma mais natural.

- Vó. - Trinquei os dentes mandando um olhar de repressão. Ela virou os olhos tomando seu suco.

- Olha, você gosta de uma menina. - Alicia sorriu alegre.

- Desde de pequeno. - Minha vó novamente falou. Mandei outro olhar pra ela que ignorou. - Você iria amar vê-lo chegar em casa e ouvir ele dizer que se apaixonou por uma garota, em seus sete anos. - Mandou um olhar diferente pra Alicia, que sorriu agora triste.

- Meu Deus vó. Para. - Pedi envergonhado. Momento de sua mãe, contar pras suas grandes amigas os podres dos filhos.

- É, iria amar mesmo vendo um filho meu chegar da escola e dizer isso. - Alicia falou tristemente. Olhou seu prato. Minha vó sorria orgulhosa de si mesmo, sem motivo.

- Eu iria pergunta se você tinha filhos, mas me lembrei que você disse que não tinha. - Ri tomando meu suco. Ela olhou a mim.

- Vocês já se viram antes? - Minha vó perguntou a Alicia. Neguei com cabeça pra Alicia, rapidamente, ao ver seu olhar de desespero.

- Não. Não. Que é isso. - Alicia respondeu. Meus ombros caíram aliviado. Oh se dona Rosa soubesse que já fui atropelado.

- LOLA, EU JÁ MANDEI VOCÊ VIM COMER. - Minha vó berrou, levantando da cadeira. Observei ela sair da cozinha atrás de Lola, só ficando nos dois.

- Posso perguntar uma coisa? - Perguntei receoso. Ela sorriu novamente. Argh!

- Claro, o que quiser.

- Por que você se parece tanto comigo?

Seu sorriso foi desfeito. Arquiei as sobrancelhas esperando uma resposta de sua parte. Eu queria saber. Isso é estanho. Ela parece todinha eu. Que doido. Essa mulher é estranha. Será que depois daquilo, ela começou a me seguir?

- Eu estou sem fome. - Lola reclamou quebrando o silêncio. Olhei ela vendo-a bufar com os braços cruzados.

- Não estou perguntado se você está ou não, estou mandando você ir comer. - Minha vó retrucou colocando-a cadeira ao meu lado. Alicia soltou um leve riso sem motivo. Eu hein. - Coma! - Ordendou quando pois a comida em seu prato.

- Por que só o meu que tem que ter feijão e fígado? Que saco. - Lola reclamou ainda sem comer.

- Coma Lola! - Ela negou. - Agora Lola!

- Ma... quer dizer Rosa, deixa a garota comer a lasanha. - Alicia interferiu.

- Não, ela tem que entender que não é não. - Minha vó rodou a mesa pra sentar em sua cadeira.

- Pelos menos hoje, vó. Tem lasanha, o que quer que tem ela comer só hoje? - Interferi.

- Calado André Alencar. - Mandou um olhar mortal a mim.

- Não fale meu nome todo. - Retruquei.

- Calado André. - Revirei os olhos tomando meu suco. Ela tornou a olhar Lola. - Você só vai sair dessa mesa, assim que eu não ver um bolinho de feijão.

- Então eu vou dormir aqui. - Lola falou movimentando os ombros.

- Por mim. - Minha só movimentou os ombros também. Alicia começou a rir, fazendo risadas ecoarem na sala de jantar. Contagiante, vamos se dizer.

Depois que paramos de ri, ela levou o suco na boca.

- Não gosta de seu sobrenome, André? - Ela perguntou.

- Gosto. - Concordei com a cabeça. - Só que é um pouco estranho ouvir e falar. - Dei de ombro. Seu cenho se franziu.

- Por quê? - Perguntou curiosa. Encolhi os ombros e entortoi a boca.

- Minha mãe, me abandonou. E isso me incomoda. Porque que foi ela que me registou. Eu poderia até ter ganhado um sapatinho, ou qual quer outra merda, mas não queria esse sobrenome.

Ela nada respondeu, só assentiu.

- E você... perdoaria, ela? - Murmurou perguntando. - Se ela voltasse.

Me ajeitei na cadeira, desconfortável com essa pergunta. Certo, eu a perdoaria, se ela voltasse? Pergunta difícil. Cerrei os olhos pensando se eu perdoaria ou não a mulher que me colocou no mundo.

- Não. - Falei firme. Ela caiu na cadeira suspirando alto. Olhei minha vó. - Pra quê? Já tenho minha mãe ao meu lado, mesmo. - Peguei sua mão que estava na mesa. Ela sorriu também. - Desculpa, vó, mas sua filha não merece meu perdão.

Ela assentiu.

- Tudo bem, quem perdeu foi ela mesmo. - Riu tirando nossas mãos. Ri negando com a cabeça. E eu pensando que ela iria ficar chateada por ter dido isso de sua filha. - Alicia querida, você está bem com a vida? - Olhou sorrindo irônica. Arquiei a sobrancelha, encarando as duas que se encaravam parecendo conversar entre os olhares.

[...]

- André, leva Alicia na porta por favor. - Minha vi pediu. Guardei o celular de lado, e levantei do sofá. Alicia estava parada ao lado da porta. Andei até ela e sorri de canto abrindo a porta. Dei espaço pra ela sair e ela saiu, mas virou-se a mim.

- Não irá se despedir dela? - Cai de lado na batente encarando-a. Ela riu de leve e negou.

- É melhor não. Ela ainda irá querer me matar. - Cruzei os braços erguendo uma sobrancelha.

- Por que? - Perguntei desconfiado.

- Por ter vindo aqui. - Deu de ombro ao falar.

- Você é amiga dela, ela não tem essas chatices de horário. A qual quer momento que vim aqui bater na porta, iremos te receber de braços abertos. - Expliquei e ela sorriu.

- Isso é um convite, Alencar? - Sorri de canto.

- É, vamos se dizer que sim. - Dei de ombro.

- Que honra, ser convidada pelo o homem da casa. - Colocou a mão no peito. - Me sinto radiante.

- Sinta mesmo. Não é toda amiga de minha vó, que eu gosto. - Ri. Isso era verdade. Seu sorriso aumentou mais ainda.

- E eu tenho algum motivo em especial? - Colocou as mãos na cintura, divertida. Sorri pensativo.

- Não sei. Eu acho que... você é diferente... me pareceu super legal. Sem contar que sua aparência é quase igual a minha. Sei lá, estranho. - Admiti, olhando seus olhos castanhos. Seu sorriso não estava mais no rosto.

- Tenho que ir. - Se apressou, mexendo as mãos nervosa por algo. - Tchau. - Virou pra sair.

- Hey, não vai deixar eu lhe dar um beijo de despedida? - Perguntei divertido.

- Ah é mesmo. - Virou pra mim dando alguns passos. Ela pegou os dois lados de meu rosto, pelo queixo e beijou minha bochecha direita. Sorri sem motivo nenhum. Colei a mão em seu braço e dei um beijo em sua bochecha também. - Boa noite. - Deu uns passos pra trás, acenando com a mão.

- Boa noite. - Acenei também. Ela sorriu triste e virou pra sair. Fiquei a observando os passos nervosos. Eu hein. Que mudança de personalidade. Fechei a porta quando vir ela sumir entre os carros estacionados na rua. Olhei a mesinha que tinha minha vó e Lola estudando. Quer dizer, só Lola né. Por que minha vó olhava eu desde de que olhei ela também. Cerrei os olhos e ela tornou a explicar o dever. Rosa. Rosa. Você irá me explicar muitas coisas.