Era manhã em Berk, muitos vikings e dragões já estavam acordados, haviam começado a atuar em seus trabalhos rotineiros, como pescar, cultivar e criar animais. Os adolescentes estavam montados em seus dragões, havia apenas alguns poucos adultos voando, e estes voavam para fazer trabalhos pesados como carregamento e posicionamento de fontes para os dragões.
Soluço dormia em seu quarto, agora em uma cama com pele de ovelha, que era muito melhor que sua antiga cama de madeira. Seu quarto também era diferente do que quando nascera, o antigo era escuro, frio e pequeno, o novo era enorme, tinha uma cama só de Banguela (mas o dragão não se encontrava aí), nas paredes havia diversos mapas dos lugares por onde o viking passava que servia como papel de parede, no canto uma mesa com vários esboços de dispositivos e futuros projetos, no chão haviam várias bugigangas, desde de armas de alavanca até selas para dragões, seu quarto tinha também três janelas enormes, uma em cada parede, exceto do lado onde ficava a cama.
Soluço foi acordado pela luz que entrou na brecha da janela em frente à cama, que lhe acertou o rosto fazendo-o se encolher. Depois de inutilmente tentar dormir, levantou-se da cama.
Não demorou muito para o viking se levantar e abrir as janelas, entregando-se à falta de sono. Soluço olhou seu quarto inteiro, viu os mapas na parede, os desenhos sobre a mesa e os protótipos no chão. O viking nunca contou a ninguém, nem mesmo à Banguela ou a Jack, mas embora soubesse que tinha um longo caminho pela frente (novos lugares pra conhecer e muitos projetos pra finalizar), se sentia realizado.
Soluço desceu as escadas com sua roupa vôo que lhe permitia planar ao lado de Banguela, e viu seu pai e sua mãe já preparando o café da manhã.
Soluço chegava a não acreditar, mas ainda que seus pais estivessem perto dos cinqüenta, Valka e Stoico ainda possuíam aparência jovem. O jovem se lembrava das olheiras do pai quando era pequeno, e como vivia com dor de cabeça por causa dos problemas da vila, mas quando a paz foi instalada e houveram tantas mudanças e melhorias em Berk, Stoico já não aparentava uma fisionomia marrenta, mas uma alegre, desde que sua mulher havia voltado, pareciam ser recém-casados.
O casal cumprimentou o filho, que cumprimentou de volta.
Soluço ia saindo de casa quando Valka o chamou e acrescentou: “Não vai comer?”
-Não... – Soluço tentava responder de forma agradável, pois havia se tornado algo tão rotineiro fugir das refeições que buscava uma desculpa cada vez melhor que a última – eu vou sair pra voar um pouco com o Banguela.
-Ele tem o que fazer filho – disse Stoico sentando-se à mesa.
-É... Mas ele tem trabalhado tanto recentemente que achei uma boa idéia sair voando com ele.
-Como costuma fazer todos os dias?! – retrucou Valka.
-É... mas...
-Pode ir, mas volte a tempo para os serviços na vila – disse Stoico.
Soluço saiu agradecendo como qualquer adolescente faria quando conseguisse a permissão do pai para fazer algo almejado.
Soluço sabia que era maldade de sua parte detestar tanto a comida a comida da mãe, mas ele nunca conheceu alguém que provasse a comida de sua mãe e dissesse com sinceridade “Hum... Que delícia” ou “Hum... Essa é a melhor comida que eu já provei”, nem mesmo os dragões. Mas Soluço não a culpava, pois no final a comida cultivada em Berk é ruim por natureza.
O viking procurou o dragão por todos os lados, mas via apenas vikings trabalhando e dragões de diversas espécies voando, comendo ou brincando.
-Como um dragão tão único e chamativo pode sumir tão facilmente?! – pensou Soluço.
Soluço olhava no céu para procurar o amigo, mas no final o encontrou onde mais devia esperar: em cima de sua casa.
Banguela parecia estar dormindo como um cachorro despreocupado. Provavelmente ficou de olho nos dragões até tarde e dormiu lá mesmo. Soluço não sabia se Banguela teve uma boa noite de sono, porém a situação do dragão não mudava o fato de que Banguela o levaria para voar.
Soluço chamou Banguela, e a criatura desceu como um vulto até o chão, se um desconhecido desacompanhado visse aquilo à noite provavelmente desmaiaria de medo.
-E aí amigão, dormiu bem? – Banguela já havia posto a cabeça nas mãos de Soluço ronronando como um gato desejando carinho – vou encarar isso como um “sim”.
Soluço montou em Banguela e quando menos esperava um ser pálido, de cabelos brancos e com um capuz azul apareceu.
Ao ver o amigo Soluço o cumprimentou:
-E aí cara pálida!
-Oi espinha de peixe falante.
Soluço sorriu em resposta ao cumprimento de Jack.
-Já vai sair voando?!
Soluço sentiu uma vontade de responder de forma sarcástica, mas não veio nada a sua mente, então respondeu: “Vou sim!”
-Bacana... E eu posso ir junto?!
-A gente já ia te chamar, não é Banguela?!
-Ótimo – disse Jack saindo do chão – to cheio de ficar aqui.
Jack saiu voando na frente rodopiando e indo em alta velocidade, Soluço foi logo atrás, terminando de acordar, planejavam ir mais longe do que haviam ido da última vez, tão longe que Soluço acreditava que não voltaria a tempo para ajudar na vila.
Também era manhã na Escócia, Merida dormia em sua cama, era o único dia da semana que ela não precisava ser princesa, o dia em que podia deixar os cabelos ao vento e disparar flechas ao por do sol, lembrou disso na mesma hora em que acordou.
Saltou da cama, deixando-a desarrumada, trocou de roupa e pegou seu arco e sua aljava cheia de flechas.
Correu para o salão, agora tinha o costume de chamar Elinor para se aventurar com ela, mas ao chegar, encontrou-a cercada de documentos que cobriam a mesa, havia caído uma chuva forte na noite passada que devastou parte do reino e ela tinha que arrumar os estragos com a ajuda despreocupada de Fergus. Foi obrigada a ir sozinha para a floresta, por sorte, a natureza e campo foi o único lugar que não foi devastado.
Não fez muita diferença para Merida, dentro de poucos minutos entrou na floresta cavalgando sobre poças d’água atirando flechas.
A chuva fez a floresta ficar úmida, gotas de água escorriam das folhas e o chão estava escorregadio, cada possa na qual os cascos de Angus pisava fazia as gostas molharem as roupas e os cabelos de Merida junto com as gotas que a arvores seguravam acima das folhas. Não era nada que incomodasse Merida, nunca foi uma garota vaidosa, porém, isso não mudou o fato de que a umidade do local a tenha deixado encharcada. Gotas de água escorriam por todo o corpo, os cabelos, as roupas, até o arco, a crina de Angus também ficou molhada, tanto que a cada galopar sua crina jogava água como se fosse uma esponja.
Para Merida, aquele frio, aquela água, aquele clima, aquela sensação e aquele desconforto de suas roupas eram bem melhor do que sua vida como princesa, cheia de obrigações e responsabilidades.
-Isso sim é vida – pensou Merida se preparando para atirar uma nova flecha.
A flecha foi girando até o alvo, atravessando algumas gotas de água até acertar bem no meio do lugar desejado.
Mais tarde Merida estava sentada num campo de trigo, fazendo entalhes em seu arco, quem visse os entalhes dela poderia jurar que era especialista naquilo, até melhor do que no arco.
Paralelamente, Jack, Soluço e Banguela voavam em meio a rodopios, gritos e risadas, Soluço voava de uma forma bem parecida com a de sua mãe, ainda que rodopiasse, continuava de pé em Banguela, só não tinha um cajado para ficar pendurado.
Depois de voarem rapidamente, pousou numa ilha, Soluço se jogou ao chão de pousar.
Jack chegou logo em seguida. Assim que chegou, viu Soluço já desenhando a paisagem em seu mapa, Jack bufou quase como uma risada, não que achasse aquilo uma mania chata, mas apenas acreditava que não era hora pra fazer aquilo, em uma aventura só era necessário se divertir.
-Desenhando de novo?! – disse Jack se ajoelhando perto de Soluço olhando o mapa.
-Ué, eu sempre faço isso, o que tem de estranho?!
-Nada – disse Jack sarcasticamente – é só que me incomoda o fato de você ter o Fúria da Noite para voar pra onde quiser e ficar parando de voar só pra desenhar paisagens...
Jack voltou a visão para o lugar que Soluço desenhava, tinha uma floresta coberta por neblina, tinha montanhas, e pedra enormes, o verde fazia uma mistura com diversas cores do local. Se Jack dissesse que aquele lugar era feio estaria mentindo, e ele sabia disso.
-É pro meu mapa – disse Soluço desenhando – você sabe que eu sempre faço isso.
-Que seja.
Alguns instantes se passaram, Soluço continuava desenhando e Jack brincava com um pequeno floco de neve em cima do galho de uma arvore.
Soluço terminou o desenho e perguntou para Banguela qual nome deviam dar. Banguela respondeu com um bocejo.
-“Floresta do Bocejo” entendi.
Jack se jogou da arvore e foi voando até os dois.
-Terminou?!
-Por enquanto sim – o dragão foi até o viking que o acariciou – não é amigão?
Ambos voltaram a voar, e a diversão não diminuiu, voavam do mesmo jeito, rodopios, gritos e risadas, havia vezes que Jack mergulhava e chegava muito perto da água, e seu poder sem querer fazia uma trilha de gelo, mas não era nada que não se resolvesse sozinho. Soluço algumas vezes saltava de Banguela, e o mesmo sempre ia pegá-lo.
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