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História Válvula de Escape - O inesperado acontece


Escrita por: ohmyparrilla

Notas do Autor


Boa noite, lindezas!
Só gostaria de agradecer pelos comentários e pelo favoritos, eles continuam fazendo meu coração transbordar de alegria. Vocês são demais.
Espero que gostem do capítulo. Especialmente quando sabemos que está chegando ao fim.
Um grande abraço <3

Capítulo 38 - O inesperado acontece


“E de surpresa em surpresa: o inesperado.”

 

Gold estava acabado, nas últimas seis horas precisou se desdobrar em mil, especialmente porque antes da noite chegar pretendia estar de volta à casa. Não entendia o que havia acontecido com Zelena para ela ter desistido do projeto, mas ele iria descobrir o que estava ocorrendo. Era por isso que havia ido às pressas para Ottawa.

Preferiu não passar no hotel e se dirigir ao escritório que Zelena havia indicado. Chegando no lugar, logo notou a grande obra que lá estava sendo construída. Realmente, Zelena havia feito um grande trabalho. Aproximando-se de um dos homens, ele perguntou:

– Onde fica a sala de Malcom Hades?– O rapaz o acompanhou até um compartimento do prédio antigo e o indicou a uma sala. Ele bateu duas vezes e entrou, o homem que estava focado em alguns papéis o olhou com surpresa.

– Senhor Gold, por favor, sente-se.– Ele estendeu a mão e Gold o cumprimentou.– Não esperava pelo senhor aqui. Zelena me passou um e-mail dizendo que estava resolvendo algumas coisas em Miami, mas que logo acharia um jeito de voltar.

– Minha filha não vai voltar, senhor Malcom. A partir de agora eu assumirei os negócios.– Gold falou com naturalidade, inconsciente do peso da informação que jogava sobre ele. A julgar pela cara do homem, agora Gold estava começando a entender o que deveria ter acontecido. Aquele homem, como tantos outros no mundo dos negócios, deveria ter duvidado da capacidade de Zelena, mas não entendia como a filha não recuara ao invés de provar para Hades como estava errado, como fizera dezenas de vezes em situações semelhantes.

– Como assim não voltará? O que aconteceu com a Zelena?– Ele perguntou preocupado, o cenho franzido denotando a veracidade de sua preocupação para Gold.

– Eu que pergunto, senhor Hades. O que você fez a ela? Eu conheço minha filha, Zelena não deixaria o projeto mais importante da vida dela se algo de estranho não tivesse acontecido.– Gold assumira uma postura defensiva.

–O senhor está confundindo as coisas. Não aconteceu nada, pelo menos nada do que você está pensando. Eu e a Zelena...

A porta fora aberta por um casal e Gold pode escutar Malcom sussurrando, “Pronto, agora ferrou”, foi o que o homem disse para si.

– Gold, meu amigo, quanto tempo...– dizia o senhor Jackson Hades, estendendo a mão para apertar a de Gold.– Decidiu fazer como eu e Glória e aposentar de vez, né? Muito bem, foi a melhor coisa que você fez. Os dois sorriram cordialmente, já haviam passado muito tempo trabalhando juntos nos negócios.

– Onde está Zelena?– Perguntou Glória.– Pensei que a encontraria aqui com você. Sabe né? Inicio de relacionamento é sempre assim, os pombinhos não se desgrudam. Outro dia peguei os dois no sofá do apartamento do meu filho em uma situação um pouco constrangedora.– Glória falou, divertida. Fazendo Gold arregalar os olhos diante da confissão. Ele definitivamente não estava entendendo nada, quer dizer, estava começando a entender. Zelena estava fugindo de Malcom? Sua filha estaria apaixonada? Agora tudo parecia fazer sentido.

– Mãe, pai. Será que eu poderia conversar com o Gold a sós um minuto?– Ele pediu, mantendo a educação, mas era claro em seus olhos a raiva que possuía perante a atitude da mãe.

– Meu filho, eu acho cedo para pedir a moça em casamento.– Ela iria continuar, mas Jackson percebeu o desespero do filho puxou sua mulher para fora da sala, pedindo licença para o antigo colega de trabalho

– Gold, me desculpe, eu não queria que você soubesse das coisas assim. Olha, foi tudo muito rápido... Quando eu vi Zelena pela primeira vez, confesso que achei que seria um saco trabalhar com ela, o senhor há de me entender. No entanto, de repente, tudo nela me encantava, a forma de se impor, o modo com o qual ela se dedicava às coisas, sua sinceridade, e confesso que até seu sarcasmo.– Ambos riram daquela afirmação. Se tinha uma coisa que Zelena possuía de sobra era o seu sarcasmo.– Eu realmente gosto de sua filha, mas pelo que parece o sentimento não é recíproco.

– Olha, eu não sou um exemplo de pai, mas conheço minha filha. Ela não hesitaria em te dar um fora se ela não estivesse interessada, mas ela tem muito medo de se machucar em relacionamentos. Grande parte disso é culpa minha, que sempre frisei que negócios deveriam vir em primeiro plano. Considerando tudo isso, eu acho que ela também gosta de você, caso contrário, não teria fugido. Hades sorriu aliviado e feliz em saber que sentia tudo aquilo sozinho.

– Mas como eu vou convencer aquela cabeça dura?– Ele perguntou a Gold, sabendo do gênio da mulher, a situação poderia ser um tanto quanto complicada.

– Seja mais esperto que ela, se o jogo dela são os negócios, você vai entrar no jogo. Não saia até que vença.– Gold disse, dando uma piscadela em sinal de companheirismo. Logo mudou a postura para seu dever de pai:

– Só uma coisa: – Ele levantou o indicador.– Faça a minha menina feliz, ela merece.– Ambos sorriram um para outro. Malcom já sabia o que iria fazer para conseguir Zelena de volta.

Assim Gold foi embora, esperando chegar em Miami para o jantar.

*

 O avião finalmente pousara no solo de Miami. A viagem havia sido cansativa em muitos aspectos, mas agora eu poderia enxergá-la como libertadora. Deixar Nova Iorque simbolizava colocar no passado acontecimentos que há muito deveriam ter ficado lá, mas perduraram em meu presente como um martírio que por muito tempo eu me achara merecedora de carregar. Agora, ao pisar novamente na cidade em que nasci, sinto-me nascendo de novo. Não que deixar Cora para trás tenha sido apenas libertador, longe disso, afinal as coisas não são tão preto no branco como pintam por aí.  

O ato fora doloroso fazendo com que palavras talvez não possam revelar todos os sentimentos contraditórios que ainda cruzam a minha mente, de modo que agora eu nem mesmo saberia dizer se voltaria a procurá-la ou se seria capaz de perdoá-la sem que ela precise pedir perdão, pois tenho plena convicção de que o último ato não acontecerá. 

Apesar de tudo, de todas as constantes que caracterizam os últimos dias como terrivelmente cansativos e atípicos, atípicos a nível de novela mexicana, eu ousaria dizer. Olhar para o lado e vislumbrar o par de olhos azuis que parecem refletir minha alma melhor do que eu mesma seria capaz de desvelá-la, é libertador. E dessa vez, no sentido absoluto da palavra. Eu sei. Ainda há pendências nada fáceis a serem resolvidas, mas julgando pelas últimas coisas que havíamos conseguido enfrentar, habitava em mim o tipo de confiança que não seria abalada por nada, nós estávamos dispostos a enfrentar juntos o que viesse pela frente.

– Você tem certeza que vai direto para a casa do Gold?– Emma perguntou, fazendo-me voltar minha atenção para ela enquanto permanecíamos paradas em frente à esteira que traziam as malas. Robin e Killian haviam ido buscar os carrinhos para que carregássemos as bagagens até o carro. O momento que haviam nos deixado a sós, eu não saberia dizer, uma vez que meus pensamento voaram para longe desde então.

– Tenho sim, Emms.– Respondi tranquila. Após passar as horas de voo ponderando sobre o fato de que eu iria conhecer Marian, havia tomado a decisão imutável de que o faria sim, não teria medo de me colocar diante daquela situação. Afinal de contas, passar anos em buscar de me mostrar uma mulher imponente e inabalável, acrescido as experiências dos últimos dias, acredito que eu realmente havia me tornado uma. 

A noite anterior havia servido para amenizar toda a tensão que o nosso “pequeno grande grupo” vinha carregando, especialmente pela exaustão que a tarde na delegacia havia nos causado, à exceção de Robin, que havia passado o dia inteiro marcando presença no congresso de médicos, a fim de que pudéssemos deixar o evento sem que fosse necessário permanecer em Nova Iorque até o fim da semana, como seria o indicado não fosse as circunstâncias atípicas que nos cercara.

– Podemos?– Disse Killian, conduzindo o carrinho de metal enquanto Robin precipitara-se na frente para carregar as malas que eu e Emma havíamos retirado da esteira.

– Prontas.– Emma respondeu, segurando minha mão e sorrindo de modo encorajador, aquela era a sua resposta de que me apoiava na decisão de, finalmente, conhecer Marian.

*

Antes que encontrasse o molho de chaves em sua bolsa, a porta de entrada se abriu e Henry veio correndo em sua direção em um rompante, abraçando a mãe apertadamente. As bolsas que ela trazia na mão, apesar da quantidade bem menor do que as que Killian carregava, foram ao chão, tamanha a surpresa em ser recebida com aquela recepção tão calorosa.

– Nossa, acho que preciso viajar mais vezes para o meu filhote perceber o quanto me ama?– Emma falou, assim que o abraço foi desfeito, vendo Henry caminhar em direção a Jones, dando um abraço desajeitado no homem devido a impossibilidade de que Killian usasse os braços, carregando as bagagens. Henry prontamente o ajudou, rindo de sua situação.

Entrando em casa, Killian perguntou, erguendo a sobrancelha de modo intrigado:

– A que devemos essa recepção tão festiva?– A pergunta fora feita com alegria, como conhecedor e aconselhado secreto de Henry no que dizia respeito a relacionamentos, mesmo que Emma não soubesse desse lado cúmplice do filho com o noivo, Jones sabia que algo havia acontecido.

– Eu estava ansioso para que voltassem.– Henry falou. Sua voz evidenciando uma alegria genuína.

– Ai meu Deus, criança, conta logo pra sua mãe o que está acontecendo.– Emma falou, sentando-se no sofá e convidando o adolescente a se juntar a ela.

– Onde está a tia Regina?– Henry perguntou, claramente a notícia que o garoto pretendia anunciar era algo que almejava que todos soubesse de pronto.

– Sua tia foi resolver algumas pendências, mais tarde vem te ver. Me conta logo o que é, garoto. – Henry riu da reação de sua mãe, sempre tão impaciente e curiosa.

– Até eu já estou curioso, Henry.– Killian falou, permitindo-se sentar também ao lado do adolescente.

– Então...– Henry começou, um sorriso tímido surgindo em seu rosto à medida que se preparava para falar.– Estou com medo de parecer idiota.– Ele confidenciou, recebendo um abraço da mãe. A julgar pelo modo como o filho estava se comportando, quando sempre se empenhara em se mostrar um tanto quanto durão, especialmente pelo fato de por muito tempo ter sido apenas ele e Emma, a mãe já sabia do que se tratava. Não era usual que o filho demonstrasse estar envergonhado ou receoso diante de qualquer coisa. Essa fora uma das qualidades que sempre fizera com que Emma o achasse “mais adulto” do que deveria ser.

– Filho, você não parece idiota. Está crescendo de modo a se tornar um homem admirável. Jamais deixe que o modo descuidado das pessoas e a resistência à sensibilidade que é prega tão veemente no mundo em que vivemos, mude o seu modo de ser. Se empolgue com aquilo que é importante para você sim! Agora, por favor, meu filho, fale de uma vez!– Killian e Henry sorriram diante da ansiedade de Swan. Henry abraçara a mãe, agradecendo, através do gesto, pelas suas palavras.

– Eu pedi Lucy em namoro e ela aceitou.– Henry falou por fim, atropelando as palavras.

Killian o saudou, mostrando-se orgulhoso por ele finalmente ter perdido a vergonha e ousado fazer o pedido que vinha ensaiando a tanto tempo, como Jones bem sabia. Emma, como a mãe coruja que ela, agiu de modo exagerado, era possível visualizar até as lágrimas de emoção que despontaram de seus olhos.

– Você está chorando, mãe? Eu não acredito.– Henry falou, divertido. Recebendo da mãe um tapa em seu braço.

– Meu filho está crescendo e eu ficando velha. Meu Deus!– Ela levou a mão à testa, como se a constatação daquele fato a surpreendesse. Voltando sua postura para a habitual empolgação, ela falou, com a voz exultante:

– Quando minha nora virá almoçar aqui?– Os olhos verdes brilhavam, fazendo o filho mais uma vez rir do jeito incontido de sua mãe.

– Logo, logo, mãe. Logo, logo.– O filho respondeu. Mudando de assunto a fim de se retirar do centro do assunto, Henry lançou um olhar inquisidor a Killian.

– E quando sai o casamento?– Henry inquiriu, fazendo Jones arregalar o olhos diante da pergunta que saíra tão facilmente. Ele ainda lembrava de como fora difícil convencer Emma a aceitar seu pedido de namoro há alguns anos, ambos temiam como seria para Henry, ainda criança, aceitar a presença de um homem na vida de sua mãe. A pergunta então, àquela altura do campeonato, alegrava-o mais do que Henry podia perceber, pois a aprovação dele era muito cara para o casal.

– Olha, filho, eu acho que alguém está me enrolando.– Emma disse, apontando em direção a Killian.

– Por mim nós podemos casar hoje mesmo, senhorita Swan Jones.– A gargalhada fez-se ouvir por toda a sala, Emma e Henry gozando do modo como Killian a chamara. Nem em mil anos Emma Swan aceitaria aquele nome.

– Eu te amo, senhor Jones. Mas fiquemos com o Swan.– Emma falou, beijando o noivo brevemente.

Eles finalmente estavam em casa. O clima ameno perdurou durante todo aquele dia, enquanto Henry, muito empolgado, discutia com a mãe sobre o dia em que Lucy viria conhecer a família, frisando que a “tia Regina” deveria estar ali. Mais tarde, Emma e Killian finalmente marcavam a data de sua união. Agora não mais passível de ser impedida por nenhuma situação.

*

– Robin?– Belle falou, assim que abriu a porta. – Não esperava que fossem voltar tão cedo. Acho que teremos a mesa cheia para o almoço.– A jovem falou lançando um sorriso gentil para Regina, cumprimentando-a em seguida. Ela retribuiu o sorriso cordial, embora estivesse um pouco envergonhada em estar ali, imaginando que como pai de Marian, Gold a receberia na casa dele apenas pelas regras do bom costume. Aparentemente, o tom ruborizado de suas bochechas a denunciaram. Ela ainda não tomara conhecimento de que ele não estava ali.

– Sinta-se em casa, Regina. Fico feliz em recebê-los.– Belle falou a fim de deixá-la mais à vontade. Logo explicando o motivo pelo qual Gold precisara se ausentar.

Entrando na casa, Robin perguntou:

– Não avisamos antes porque queríamos fazer uma surpresa para Roland.– Checando o relógio de pulso, Robin continuou, animado:

– Que, aliás, está prestes a chegar.– Ele direcionou seu olhar à Regina, que sorrira em expectativa com a chegada do pequeno.

Pendurando seus casacos no suporte que ficava atrás da porta, a atenção do casado foi direcionado para o lado oposto da sala:

– Robin?– A voz de Marian denotava sua surpresa. Ela não esperava vê-lo ali tão cedo. Se o evento duraria uma semana, ela achava que ainda teria alguns dias com o filho sem a presença de Locksley a supervisionar. No entanto, sua surpresa mudara de foco, assim que Regina virou-se para identificar de onde vinha a voz desconhecida.

Seus olhos foram de encontro à Marian. Os cabelos longos e cheios davam um ar de delicadeza ao rosto da mulher, afinado pelas ondas que pareciam desenhar o formato de seu rosto. Seus olhos eram castanhos, mas diferente das orbes de Regina, beiravam a escuridão da noite. Ela pôde visualizar a postura da mulher se retesar assim que ela notou sua presença ao lado de Robin que, no momento em que Marian chamara por seu nome, levara sua mão à cintura de Regina, abraçando-a de um modo protetor, como se a mulher do lado oposto da sala fosse desintegrá-la apenas com o olhar. Quebrando o momento de silêncio que perdurou por tempo demais e fazendo-se notar, a voz de Callie os despertou do momento de claro desconforto:

– Olá, queridos.– Seu tom animado procurava apaziguar a tensão. Como profissional da área de saúde, ela conhecia tanto Robin quanto Regina. Ambos prontamente responderam ao cumprimento, vendo Callie sair detrás da cadeira e caminhar na direção deles.

No entanto, a tentativa de Torres de amenizar a situação desagradável, não obteve êxito por muito tempo.

– Então você é mulher que tem transado com o meu marido?– Marian perguntou, levando sua cadeira para mais perto da cena. Sua voz era dura e o olhar que parecia analisar Regina com minúcia, possuía um quê desdém. O modo como ela falou fez com que Torres lançasse à paciente um olhar de reprimenda. Robin fez mesura em falar, a julgar pelo modo como seus punhos cerraram-se ao lado do corpo, sua fúria havia sido desperta. Antes que as palavras de Locksley pudessem ganhar forma, Regina tomou a frente:

– Meu nome é Regina, mas se preferir, sim, sou eu a mulher que está transando com Robin. Com todo respeito aos presentes.– Regina corou, percebendo que sua ironia poderia parecer desrespeitosa diante de Belle e da ortopedista, agora ela se sentia grata pelo homem que, há algumas horas cogitara ser seu pai, não estivesse ali. No entanto, Regina não havia se tornado uma mulher livre da ironia ou do sarcasmo. Ainda que tivesse mudado em muitos aspectos, seu temperamento jamais permitiria que ela se deixasse ser julgada ou humilhada por ninguém. Especialmente porque a situação não era como se ela tivesse aceitado ser amante de Robin. A situação era totalmente atípica para que Marian a julgasse como tal, especialmente porque há alguns dias ela estava inconsciente sem a menor expectativa de recobrar os sentidos.

– Não vai falar nada, Robin?– Marian perguntou, de repente chocada pela frase que não passara de uma nova versão do que ela mesma havia questionado.

– Você ofendeu Regina, Marian. Não podemos culpá-la por revidar.– Callie tomou espaço na discussão. Apesar da amizades que desenvolvera com Marian, ela não era uma pessoa injusta.

 Antes que a cena se encaminhasse para um verdadeiro campo de guerra, o barulho da porta de entrada sendo aberta mudou o foco dos presentes, fazendo-os perceber que uma jovem havia chegando com Roland. Na ausência de Gold, Belle encarregou outra pessoa da função, para que não deixasse Marian e Callie sem auxílio, mesmo que o namorado houvesse protestado para que ela o deixasse contratar alguém a fim de não atrapalhá-la.

 – Papaaaaai!– O menino correu em direção a Robin, largando a pequena mochila no meio do caminho. O sorriso largo e adornado por covinhas mais animado do que o normal. Pulando no pescoço do pai e percebendo a figura que estava ao lado do pai, Roland ainda falou com a voz esganiçada por uma animação sem igual:

– Mamãe Giiiina!– O pequeno estendeu os braços para a mulher, fazendo-a sorrir de modo elusivo para ele, ainda que houvesse engolido em seco diante do modo como Roland a chamara em frente à própria. O garotinho a abraçou de modo apertado, dando um beijo molhado na bochecha de Regina.

– Roland sentiu saudades.– Vez ou outra o garoto falava daquela forma, referindo-se a si mesmo como se falasse de outra pessoa, fazendo ela e Robin sorrindo diante da frase tão adorável.

– Nós também sentimos saudade, meu amor.– Regina falou, colocando Roland no chão. Quando as atenções finalmente dispersaram do pequeno garoto, Regina pode ver Marian sumir de seu campo de visão. A cadeira havia tomado o caminho para fora da sala, fazendo-a se preocupar com o modo como a reação do pequeno reverberara na mente da mulher.

Pedindo licença, Torres foi atrás de Marian, anunciando alguns minutos depois que a mulher alegara estar se sentido mal para descer para o almoço.

 – Ei, Marian.– Callie apressou o passo para impedir que ela fechasse a porta.

– Eu não aguento isso, Torres. É demais para mim!– Marian falou, em tom de indignação.– Você viu como o meu filho a recebeu?– Ali estava o motivo de toda aquela cena. Marian não suportava ver o modo como Roland se alegrava diante de Regina. Ela passara os últimos três dias tentando a todo custo se aproximar do filho e despertar sentimentos mais intensos no garoto, mas em nenhum daqueles dias o sorriso de Roland havia sido tão genuíno como o que ela presenciara instantes atrás.

Sentando-se na beira da cama, próxima à cadeira de Marian, Callie segurou suas mãos, em um gesto de conforto.

– Eu imagino que não seja fácil. Mas Marian, Roland é uma criança que passou anos entendendo a presença da mãe como alguém que jamais levantaria da cama ou falaria com ele. O garoto só tem quatro anos, ele ainda não conseguiu sequer entender toda essa dinâmica, entende? Por mais doloroso que isso soe, Regina foi a figura mais parecida com a imagem maternal que ele teve. Até então, pelo pouco que sei, Robin nunca havia sido visto com uma mulher em público. E talvez você não goste do que vou dizer, mas como sua amiga e como alguém que realmente que o seu bem, preciso dizer que você não pode culpar a Robin ou à Regina por isso. Eles não poderiam prever que isso aconteceria. E eu tenho certeza, Marian, que você não gostaria que seu filho tivesse sido privado da sensação que é poder sentir o carinho de uma mãe. E bem... Regina o fez.– Callie sorriu de canto, tentando aliviar o peso de suas palavras, mas sabia que elas precisavam ser ditar. Torres compreendia o lado de Marian, mas sempre fora justa demais quando o assunto era analisar os vários lados de uma situação. A ortopedista havia sofrido muitos conflitos familiares quando os pais descobriram a respeito de sua homossexualidade. No entanto, ela lutara pela direito de ser quem era sem excluir o fato de que seus pais precisavam de um tempo para lidar com aquela informação. Não fosse pela sua paciência e compreensão, Callie teria desistido de seus vínculos familiares, uma vez que a primeira reação de seus pais não foi nada bonita ou acolhedora.

– Esse é o problema, Callie.– Marian falou, pela primeira vez deixando que as lágrimas caíssem pelo seu rosto.– Eu projeto neles a raiva que eu sinto de mim. Porque eu não lutei pelo meu filho. Eu não lutei por mim.– Callie não compreendera a última afirmativa.– Eu fui embora. Quero dizer, apenas não fui porque esse maldito acidente me deixou inconsciente por quase três anos. Se eu tivesse apenas aguentado ficar, meu filho teria sido minha alegria, não teria crescido sem mãe... Mas eu não conseguia viver longe de quem eu sou, Callie, eu não conseguia...– O choro de Marian se tornou mais grave, e Torres se aproximou um pouco mais de sua paciente, abraçando-a.

– Você quer me contar o que quer dizer com isso?– Callie perguntou, consciente de que independente do que quer que fosse que Marian queria dizer com aquelas afirmações, não vinha sendo nada fácil para era guardar o peso do que a vinha assombrando.

– Tudo o que eu mais quero é falar sobre isso. E você, eu sei que vai me entender melhor do que qualquer um.– Ok, por essa Torres não esperava, por que ela a compreenderia melhor do que qualquer um? No entanto, manteve sua pergunta para si, limitando-se a consolá-la e ouvi-la.– Mas eu não sei, simplesmente não sei se dou conta. Não sei se vou conseguir suportar os julgamentos que cairão sobre mim, já está difícil demais suportar o modo como Robin me odeia e me culpa o tempo inteiro. Essa força que meu pai tem feito para se redimir... Se eu voltar a um assunto tão antigo, talvez ele volte a agir como agia durante minha adolescência.– Marian soluçava, a julgar pelo seu olhar disperso, sua mente viajava para lembranças nada agradáveis.

– Eu sinto muito por tudo isso, Marian. Mas eu realmente acho que você precisa lutar contra esse seu medo de abordar algo que, pelo vejo, te destrói por dentro. Você não pode viver temendo pela reação dos outros, a vida é sua, Marian.– Callie disse, fazendo com que Marian parasse de encarar o chão e voltasse seu olhar para a mulher, dando um sorriso amargo.

– Eu estou morando na casa do meu pai, Torres.– A afirmativa mostrava o quanto Marian se sentia dependente de outros desde que acordara.

 – Não importa, Marian. Não é como se isso te tornasse uma pessoa inferior a alguém. Sua situação é complicada e faz pouco tempo que “voltou ao mundo real”– Callie gesticulou as mãos formando aspas com os dedos.– Antes do que imagina irá se estabilizar. Demora um pouco para que perceba isso, mas, eventualmente, você conseguirá enxergar

– Eu realmente espero que você tenha razão, Callie.– Marian disse.– Acho que preciso ir ao banheiro lavar o rosto.– Ela sorriu.

– E você deve descer. Ficar nesse quarto escondida não vai ajudar com a aproximação que pretende ter em relação ao seu filho.– Torres apontou.– Coragem, mulher!– A ortopedista a sacudiu de modo brincalhão, tentando destruir a redoma de tristeza que envolvera o quarto.

 – Você tem toda razão! Deixe-me disfarçar esse choro.– Marian falou, saindo do quarto e dirigindo-se até o banheiro.

*

A cena na sala de estar havia sido um tanto quanto desconfortável. Ver o modo como Marian deixou o cômodo logo após Roland me receber com tamanha empolgação, fez com que eu me sentisse mal por ela, apesar de não consegui deixar de lembrar de que ela havia abandonado o pequeno por escolha própria.

Subi as escadas, precisava ir ao banheiro antes de sentarmos para almoçar. Quando fiz mesura em tocar a maçaneta da porta, fui surpreendida pela figura de Marian, que estava saindo de lá. Engoli em seco, esperando ser mais uma vez fuzilada pelo seu olhar.

– Me desculpa, eu não sabia que o banheiro estava ocupado.– Falei.

– Está tudo bem, Regina.– Sua voz saíra surpreendentemente calma. A julgar pelo fato de que ela havia me chamado pelo nome e não me denominado como “a mulher que está transando com o seu marido”, algum progresso havia ocorrido ali, eu apenas havia perdido a maneira como a súbita mudança de postura havia se dado. No entanto, a julgar pelo seu semblante, Marian havia chorado.– Aliás, me desculpe pelo modo como me comportei lá embaixo. Apesar de tudo, acho que qualquer pessoa que provoque no meu filho o sorriso que você provocou, merece mais credibilidade.

 – Desculpas aceitas, Marian. Fico feliz que tenha optado por tratar a situação de maneira menos dura. Eu espero que saiba que eu jamais planejaria tudo isso e que eu não estaria com um homem casado sabendo do valor de um compromisso. No entanto, acho que precisamos reconhecer que nas circunstâncias anteriores, ninguém mais via Locksley como tal. Sinto muito por toda as particularidade dessa situação, mas você não é a única que está sofrendo as consequências de tudo isso.– Dei a ela meu ponto de vista. Eu jamais gostaria de humilhar Marian ou de tratá-la com injustiça, mas gostaria muito que ela percebesse que a situação não afetava só a ela. Eu e Robin não havíamos começado a nos relacionar para atingi-la, eu realmente lamentava que ela visse a nossa relação como um ataque à sua pessoa.

 – Você tem toda razão, Regina.– Ela falou, fitando as mãos e evitando me encarar. Eu sabia que proferir aquela frase não era fácil para ela, por isso admirei a coragem e a humildade do gesto, talvez Marian não fosse de todo ruim. Sua voz, um pouco menos hesitante, voltou a ser ouvida por mim:

– Acho melhor descermos, antes que pensem que eu te aprisionei aqui em cima. Robin com certeza pode achar que eu faria isso.– Marian sorriu, ainda que seu riso fosse menos de graça e mais de amargura. Assenti, e antes que desse por mim, eu estava ajudando-a com a cadeira de rodas que, aparentemente, ela ainda tinha dificuldades em manusear, como todo paciente em fase de adaptação.

Assim que chegamos à sala, Robin não pode evitar seu olhar de surpresa, caminhando rapidamente em minha direção e cumprimentando Marian com um aceno de cabeça, aparentemente mais receptivo à sua presença, uma vez que Roland não hesitaria em questionar se ela tivesse permanecido no quarto.

– Olha, eu arrumei os lugares na mesa.– Roland falou, mais uma vez sendo o salvador do silêncio que constrangia. – O papai e a Gina vão sentar aqui.– O pequeno apontou para as cadeiras que se localizavam no início da mesa.– Nessa cadeira aqui do meio, sou eu. E do meu lado, a mãe Marian. Assim ficamos todo juntos.– Pude ver um sorriso surgir nos lábios de Marian, bem como eu não pude evitar imitar o gesto. A inocência de Roland era bonita demais para não provocar reações de admiração, especialmente pela grandiosidade do seu pequeno ato. Muito embora não soubesse da necessidade da mãe em se enquadrar na família outra vez, ele havia dividido os lugares de modo a compartilhar sua atenção com todos os adultos que brigavam entre si para tê-lo por perto, mesmo sem possuir conhecimento deste fato. Antes de tomar meu lugar, ajudei Gold a colocar à mesa, enquanto Belle, Robin e Marian se acomodavam em seus lugares. Como Roland ainda não havia sentado, esperando por mim para que pudesse fazê-lo, Marian lhe fez um pedido:

– Filho, será que você pode ajudar a mamãe? Vá lá em cima e diga à Callie para vir almoçar conosco. Se ela disser que não, diga a ela que não é uma opção.– Roland subiu as escadas exultante, com um sorriso enorme no rosto.

   O almoço fora surpreendentemente agradável, ainda que o responsável por enredar a conversa na maior parte do tempo fosse Roland, não houve mais nenhuma discussão ali. Gold aproveitara o momento de união para perguntar a Callie sobre como estava se dando o progresso de Marian com o tratamento, o que trouxe um certo ânimo a ele e à filha, cientes de que as possibilidade de que ela voltasse a andar não eram nada más. Belle aproveitara para nos convidar para sua formatura, que ocorreria no próximo mês, trazendo mais um assunto animador para mesa. No entanto, assim que Marian abandonou seu lugar para ir buscar a sobremesa e Robin pediu licença para acompanhá-la, eu sabia que não só de amenidades aquele pequeno instante seria feito.

*

 Quando Marian retirou-se da mesa, pedi licença e caminhei em sua direção. Ainda que não parecesse o melhor momento, eu gostaria de avisá-la que os papéis do nosso divórcio já estavam prontos para serem assinados. Talvez a raiva que eu viera nutrindo durante todos esses anos, viesse diminuindo exponencialmente diante das circunstâncias nas quais Marian se encontrava. Além disso, os gesto inocentes e nobre de Roland, apesar de ser apenas uma criança, inspiravam-me a me abrir para o perdão, ainda que eu não tivesse atingido esse patamar até então, estava disposto a trilhar esse caminho, especialmente porque o sentimento ruim que Marian me provocava fizera com que eu agisse de modo imprudente, e se havia algo que eu não queria, era me tornar um exemplo ruim para o meu filho. Eu não poderia dizer que estava disposto a trata-la com alguma espécie de carinho ou afeição, pois as marcas do passado me impediam de assumir aquele nível de capacidade de perdão, mas a cordialidade era algo pelo qual eu estava disposto a manter, independente da situação.

– Podemos falar antes que volte para a mesa?– Perguntei, tirando sua atenção da travessa posta na ilha da cozinha e fazendo-a olhar em minha direção. Marian apenas assentiu, assumindo uma feição de seriedade.

– Os papéis do divórcio estão prontos.– Pude ver Marian engolir em seco. Entretanto, antes que ela pudesse dizer algo a respeito, completei:

 – Você tem um tempo para decidir se vai assinar ou se vamos à justiça. Não quero que cheguemos a esse nível, por isso te dou a liberdade da escolha. Sei que à essa altura do campeonato você sabe que manter nosso casamento, que a muito não passa de uma formalidade, não é uma opção.– Apesar das palavras que carregavam um peso considerável, esforcei-me para que meu tom permanecesse cordial. Ofereci-me para ajudá-la com a sobremesa, pegando as vasilhas que ela me indicara estar no armário de canto antes de deixar a cozinha antes que eu pudesse acompanhá-la. Tomei o mesmo caminho em seguida, voltando para o ambiente mais ameno que perdurara durante o almoço, muito embora as presenças que ocupavam a mesa jamais houvessem se imagino em um momento tão pacífico. Regina logo se levantou, dispensando a sobremesa de modo educado, alegando que precisava visitar o pai antes que a noite chegasse. Era notável o modo passional com o qual falava do pai, deixando nítida o quanto sentia falta dele. Ofereci-me para acompanhá-la até a porta, sendo seguido por Roland, que correra em nossa direção para se despedir da “Gina”.

Antes que ela passasse pela porta, prendi-a pela cintura, beijando-a rapidamente, já que Roland sempre fechava os olhinhos quando presenciava a demonstração de afeto, fazendo-nos rir.

– Vai dar tudo certo, amor.– Falei, ciente de que, apesar de não demonstrar, Regina estava morrendo de medo de que não conseguisse levar o pai para morar com ela, mais do que isso, temia também pela incerteza de como se daria a fase de adaptação do pai em sua casa. No entanto, sabendo do amor que Zambrano sentir pelo senhor, não havia como sua ideia dar errado, por mais difícil que fosse no início.

   Acompanhei o táxi até o veículo sair do meu campo de visão, percebendo mais uma vez o quanto de mim já estava com ela.

*

Quando Zelena entrou no apartamento do pai já se passavam das dez da noite, como combinado, ele iria para o Canadá e ela para ficaria na casa dele, cuidando de Marian durante aquele dia. Pela manhã, Zelena trabalharia no banco e à noite iria para o apartamento do pai.

Ao cair da noite, Zelena adentrou a sala da casa do pai e viu Marian assistindo à TV.

– Boa Noite, Zel!– Marian a saudou.– Chegou tarde.

– Maurice não pôde ir, e tive que assinar todos os documentos.– Zelena falou, exausta, sentando-se no sofá e voltando sua atenção ao programa que passava na TV, quando o seu celular apitou pela milésima vez naquele dia. Era mais uma chamada de Hades, ele havia ligado durante todo o dia e enchido sua caixa de e-mails. Zelena simplesmente jogou o celular para longe e fingiu prestar atenção no programa novamente. A atitude não passou despercebida por Marian que alfinetou:

– Das duas uma, ou você odeia essa pessoa, ou a ama.– Dizendo isso soltou um risinho e Zelena arregalou os olhos.

– São essas operadoras de telefonia enchendo o saco.– Ela deu de ombros, tentando disfarçar.

– Claro, porque uma operadora de telefonia ligará às dez e meia da noite.

– Ok, Marian. É um cara que conheci no Canadá, mas que não vai dar em nada. Feliz?– Zelena falou, através de sua irritação deixara tudo muito claro para a irmã.

– Por isso que mandou nosso pai para lá em seu lugar?.– Zelena assentiu.

– E você acha que fugir dele é a melhor coisa a se fazer? Olha, eu sou um exemplo de que não tentar enfrentar os problemas de frente só gera mais problemas. Você bem sabe. Não complique algo que não é complicado. Agora vou subir. Callie está lá em cima e quero um relatório sobre os meus progressos. Vá para casa e pense no que eu te falei. Estarei bem cuidada aqui.

Ela deu um beijo na mão da irmã e subiu pela rampa de acesso.

*

A noite chegara e Robin estava em seu quarto, desfazendo as malas. Colocando as roupas dobradas dentro do armário, Robin se questionava sobre o posicionamento que Marian tomaria em relação o divórcio. Apesar de se mostrar durão na frente da mulher, ele temia que sua escolha fosse a mais difícil, consciente de que aquela opção provocaria uma confusão ainda maior na mente de seu garoto, que o surpreendia pelo modo como vinha lidando com toda a situação. Ser criança realmente era uma dádiva.

Quase terminando de arrumar seus pertences, ainda que a seu modo não tão organizado assim, Robin deu por falta da bagagem de mão. Aparentemente, ele havia esquecido a pequena mochila na sala de Gold. Dada a importância do conteúdo presente na mochila, Locksley não demorou a tirar o carro da garagem e dirigir-se até lá.

Roland, permanecia no andar debaixo, assistindo a um filme com Marian, que ofertara à ideia ao pequeno assim que Belle saiu para esperar Gold no aeroporto. Callie, como o combinado, permaneceria na casa no primeiro mês. A ortopedista não era obrigada a manter-se ali do modo como fazia, mas por ser caseira em demasia, demonstrava adorar a companhia de Roland e de Marian, quando esta esquecia de ser razinza.

Assim que a porta foi aberta por Torres, Locksley tomou um momento para contemplar a cena que apresentava-se diante de seus olhos. Marian, sentada em sua cadeira ao lado da poltrona em que Roland estava, não prestava atenção no filme, ocupada em observar o filho, que apesar de receptivo, não tratava a mãe nem de perto como costumava tratar a ele ou até mesmo ao avô. Roland estava concentrado demais no filme, algo que geralmente não acontecia de maneira integral, uma vez que o pequeno sempre estava puxando assuntos de seu cotidiano quando estava com ele, contando detalhes que julgava ser extraordinários de sua rotina infantil. Ali, ao lado da mãe, Roland permanecia centrado na cena que passava na televisão.

Limpando a garganta, Robin chamou a atenção de Marian e do filho, que voltara o olhar em direção ao pai. A mochila que ele procurava estava posta no braço da poltrona que Roland permanecia sentado com as pernas em cima do móvel.

– Filhão, traga aqui a mochila do papai, por favor.– O pequeno levantou-se prontamente, mas sem desgrudar os olhos da televisão.

Assim que tomou a mochila por apenas uma das alças, uma pequena caixinha caíra do bolso lateral. O pequeno desastre do filho não passara despercebido por nenhum dos presentes na sala. Finalmente tirando os olhos da TV, Roland fitou o pai com um olhar de súplica, oferecendo-lhe um sorriso sapeca e envergonhado como desculpas, pegando em suas pequenas mãos a caixa do chão, estendendo-a ao pai de modo inocente. Roland não notara a particularidade do embrulho, mas a julgar pelo olhar melancólico que Marian direcionou da caixa para Robin, ela sabia perfeitamente do que a pequena embalagem vermelha se tratava. Disfarçado sua afetação pela descoberta que acabara de fazer, Marian colocou um sorriso no rosto e fingindo checar as horas, ela falou:

– Roland, está na hora de alguém dormir.– O pequeno protestou, como sempre fazia, mas nada que ultrapassasse insistências de criança que rapidamente podem ser contidas, especialmente porque o pequeno sabia de sua rotina.

Callie levantou, colocando detrás da cadeira de Marian, que estendeu a mão para o filho como sinal de que ela o aprontaria para dormir.

– Roland, suba com a tia Callie que a mamãe logo irá acompanhá-lo, está bem?– Marian falou, lançando um pedido silencioso para a ortopedista através do olhar, que prontamente entendeu a súplica.

Os olhos amendoados de Marian subitamente encheram-se de lágrimas que, no entanto, não chegaram a ser derramadas. Parando a cadeira ao lado de Locksley, ela falou:

– Eu não vou mais dificultar o inevitável, Robin. Mas antes de assinar os papéis, precisamos conversar sobre o real motivo pelo qual abandonei o nosso lar naquela noite.– Dito isso, Marian tomou seu caminho até o quarto de Roland, deixando um Robin exultante, porém intrigado, para trás.


Notas Finais




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