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História Válvula de Escape - A verdade libertadora


Escrita por: ohmyparrilla

Notas do Autor


Boa noite, meus amores <3
Depois de um tempinho de relutância (e um pouquinho de preguiça), aqui estou eu, cada vez mais perto do fim dessa estória que eu tanto amo. Eu espero de coração que vocês gostem do caminho que trilhamos até aqui e que, ao chegar ao fim, tenha valido à pena. Este é, provavelmente, o penúltimo capítulo.
Leiam as notas finais, está bem? Quero bater um papinho com vocês e é importante.
Boa leitura!

Capítulo 39 - A verdade libertadora


“Mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos. Esses é que são a essência viva da alma.”

– Johann Goethe

 

   Passando pela porta de entrada em passos rápidos, pude perceber o quanto eu estava apreensiva em estar ali. A saudade do meu pai era sempre esmagadora, mas o fato de finalmente poder saber se conseguiria levá-lo para morar comigo, estava fazendo com que uma grande onda de ansiedade se apoderasse do meu corpo. Não à toa, minhas mãos já trêmulas, agora suavam frio.

Assim que cheguei à recepção, pedi que chamassem Rose, meus dedos tamborilavam na madeira do balcão que me separava do jovem gentil que me recebia com um sorriso no rosto. Um dos motivos pelos quais eu havia escolhido aquele lugar para tratar do meu pai, era pela quantidade de jovens que realizavam trabalho voluntário. Aquele gesto partindo de pessoas tão novas era de fato inspirador. Sem contar que, eu me sentia reconfortada em saber nenhum deles trataria meu pai apenas por dinheiro, ali existia o amor à profissão, algo pelo qual eu muito zelava.

 No instante em que vi Rose surgir pelo corredor, seu sorriso elusivo me dava a resposta de que eu tanto precisava. As notícias seriam boas, eu podia sentir. Agora a ansiedade seria pela expectativa em aprender a lidar com toda a situação de meu pai, mas agora com ele ao meu lado. À medida que seus passos a colocaram mais perto de mim, instantaneamente a abracei. O gesto revelava a imensa gratidão que eu sentia por aquela mulher. O fato dela ter aceitado deixar a clínica para me ajudar a cuidar do papai já revela o seu imenso carinho por ele. Aos meus olhos, o seu gesto era grandioso demais. Como não havia maneira equivalente para agradecer tamanha generosidade, mantive o abraço, mas acrescentei a ele palavras de agradecimento. Quando nos desvencilhamos eu não era a única com lágrimas nos olhos, mas dessa vez as pequenas gotas salgadas eram sinônimo de felicidade. Eu finalmente seria capaz de cuidar do meu pai sem me preocupar se Cora iria ou não interferir, e apesar da constatação de que aquela era mais uma das coisas que eu me impedira de fazer por conta dela, saber que agora não existia nada capaz de me impedir de manter meu pai por perto, como nos velhos tempos, era uma felicidade indescritível.

 – Como ele reagiu às fotos e às cartas?– Perguntei enquanto caminhávamos em direção ao jardim onde papai estava. Eu temia a resposta, mas precisava saber.

 – Bem, sabemos que há dias bons e dias ruins. Em alguns dias, ele se emocionou muito pela constatação de que você havia crescido. Em outros, suas reações não eram tão animadoras pela vivacidade das memórias que não evoluíram desde a sua infância, então era impossível para ele te reconhecer como adulta, por acreditar que o presente ainda se dá na sua pré-adolescência. Mas ainda há muitas cartas e muitas fotos que você quem poderá ver com ele.– Rose disse animada, estendendo seu estado de espírito para mim. Como eu havia dividido poucas informações para cada dia, de modo a não desencadear um nó na cabeça de meu pai, teríamos um longo caminho para que eu pudesse compartilhar com ele as fotos que há tanto tempo eu guardara e as cartas que escrevia quando a solidão me acometia durante sua ausência em nossa casa.

  Assim que pisamos no jardim pude ver meu pai sentado no banco central do ambiente, ao lado das palmeiras que adornavam o lugar. Em sua mão, estava um papel, o qual reconheci como uma das cartas, o que trouxe um sorriso genuíno ao meu rosto.

– Senhor Henry, temos visita e boas notícias.– A voz de Rose o fez olhar em nossa direção, sorrindo.

– Moça bonita!– Sua voz era animada e os braços inclinados em minha direção me chamavam para um abraço. Muito embora ele não lembrasse de mim como eu gostaria, eu poderia me contentar com aquele carinho genuíno e gratuito, que não necessitava de laços familiares para existir. Henry Mills sempre esbanjara afeto pelas pessoas e sua essência ainda estava ali.

*

  Caminhando de um lado para o outro em frente à porta do quarto de Roland, a ansiedade de Robin era quase possível de ser capturada no ar. Os passos impacientes mais do que provavam isso. Assim que Marian entreabriu a porta, sinalizando que o garoto havia dormido, ele entrou no cômodo, aproximando-se da cama e depositando um beijo afetuoso na testa do filho, como era de costume. Locksley jamais dormia sem antes dar o beijo de boa noite em seu garoto, ainda que por muitas vezes o pequeno já estivesse adormecido, como agora. Acendendo o abajur e apagando a luz, ele encostou a porta, vendo que Marian já encontrava-se parada diante da rampa que dava acesso à sala, à sua espera.

   – Pedi que Callie participe da conversa, se não se incomodar.– Apesar do pouco tempo de convívio com a ortopedista, Torres havia se tornando uma espécie de ombro amigo para Marian que, naquele momento, sentia uma grande necessidade de ter ao seu lado alguém que saberia que não a julgaria. A assertiva provocou um olhar inquisidor em Robin, evidentemente não compreendendo a razão pela qual Marian desejava a presença de Callie em uma conversa que, imaginava ele, seria de cunho pessoal.– Aliás, meu pai também deve estar presente.– A surpresa de Locksley aumentou de grau. Até então Robin nem havia notado que o sogro havia chegado em casa. Provavelmente Belle pedira para que voltassem um pouco mais cedo, já que a rotina de estudos da jovem era bem rígida e centrada. Robin admirava a maneira como ela se desdobrava entre a faculdade, o trabalho com Roland e agora, a atenção direcionada a um novo relacionamento.

  Quando chegaram até a sala, Gold estava prestes a subir, carregando a pequena bagagem que levara para rápida viagem. Provavelmente o mais velho iria para seu quarto. Entretanto, antes que o primeiro degrau da escada fosse cruzado, Marian o deteve:

– Pai, precisamos conversar.– O modo como Marian falara, de pronto fizera com que o homem desistisse de seus planos e os acompanhasse.

– Aconteceu alguma coisa?– Gold perguntou preocupado, receando que algo de ruim houvesse ocorrido durante sua ausência.

– Decidi assinar o divórcio.– Os olhos de Gold se tonaram maiores denotando sua surpresa, que apenas aumentou com a continuidade da fala da filha.– Mas antes, preciso confidenciar algo a vocês. E sua presença, pai, é primordial para que minha palavra tenha credibilidade para Robin.– Dito isso, Marian tomou a frente, conduzindo a cadeira de rodas até o centro da sala, sendo acompanhada pelos dois homens, que sentaram-se no sofá mais próximo da mulher. Segundos depois, Callie chegou, tomando o lugar mais perto de Marian, segurando sua mão como forma de encorajá-la.

– Antes de tudo, pai, eu quero dizer que não há ressentimentos, mas eu preciso voltar a certos assuntos para iniciar essa conversa.– Marian começou, respirando fundo pelo nervosismo ocasionado pela fato de ter todos os pares de olhos atentos em si.

– Você não disse que iria explicar o real motivo pelo qual fugiu? Por que todos esses rodeios?– Robin perguntou, contrariado, temeroso de que tudo aquilo fosse apenas mais uma desculpa de Marian, como as muitas outras que ela inventava durante os anos de casados, antes do acidente.

– Deixe-a falar, Robin. Por favor.– Gold pediu gentilmente, ainda que a reprimenda houvesse sido clara. Marian sorriu para o pai como forma de agradecimento.

– Eu peço, por favor, Robin, que você me escute antes de qualquer coisa. É a única coisa que te peço agora.– Locksley apenas assentiu, decidido a abaixar a guarda e afastar os pensamentos do passado que estavam fazendo-o, mais uma vez, projetar sua mágoa no presente.

 – Como vocês sabem, eu e Zelena temos apenas alguns meses de diferença de idade. Sendo assim, próximo ao nosso aniversário de dezessete anos, o papai precisou viajar a negócios.– A feição de Gold tornou-se dura, a postura rígida pretendia disfarçar o quanto a lembrança daquele fato o enchia de culpa. Aquela não fora a primeira nem a última vez que o homem trocara as filhas pelos negócios.– Transtornadas pela atitude dele, eu e minha irmã decidimos que daríamos uma festa na casa que morávamos na época. Como nossa casa era recorrente tópico de curiosidade no nosso grupo de amigos, sabíamos que o evento daria a nós certa credibilidade e aumentaria nossa popularidade com os colegas do colegial. E bem... Todos aqui sabemos como é ser adolescente.

– Não quero ser rude, filha, mas não compreendo como me lembrar do péssimo pai que eu fui tem conexão com a noite em que partiu...– Gold falou, soando arrependido.

 – Sem ressentimentos, pai...– Marian o tranquilizou.– Eu irei chegar lá, apenas ouça. O senhor está lembrado dos acontecimentos do dia seguinte?– Ela questionou, recebendo um aceno de cabeça em negativa, deixando Gold ainda mais envergonhado.

– Bem, o senhor precisou voltar para casa antes de pegar o voo da manhã que o levaria para Boston, devido a um problema que eu não consigo lembrar a procedência, afinal, eu entendia pouco de negócios na época, Zelena sempre foi a mais interessada entre nós.– Marian sorriu, lembrando-se da irmã e da época em que se davam verdadeiramente bem. Notando a impaciência de Robin, Marian levou seu olhar em sua direção, prosseguindo:

– O fato é que, meu pai chegou e encontrou a casa uma verdadeira bagunça. Copos jogados pela área, lixo espalhado pelo chão e um considerável número de adolescentes dormindo em nossa casa. Dorota, quem cuidava da casa e de nós, caíra na nossa armação de forjar um bilhete com a sua caligrafia dizendo que poderia tirar a semana de folga, pois havia resolvido nos levar com você para a viagem. Zelena e eu éramos muito ardilosas.– Ela confessou.– Dentre os vários motivos que nos renderam meses de castigo, o maior deles foi– Marian engoliu em seco, sentindo a mão de Callie apertar a sua com força maior, encorajando-a a continuar– me encontrar dormindo com um garota. Você, papai, fez um verdadeiro escândalo para expulsar nossos colegas de classe e, quando ficamos apenas nós três na casa, você disse que jamais aceitaria que eu mantivesse um relacionamento daquele feitio, que a filha de um empresário influente não poderia ser motivo de piada por escolhas estúpidas de uma adolescente que não tinha capacidade de entender o que realmente queria, alegando que não permitiria que eu vivesse aquela fase inconsequente. Muito embora Charlotte, era esse o nome da garota que estava comigo, fosse apenas uma grande amiga, eu já havia ficado com garotas... Sua explosão naquele dia reverberou em minha vida para sempre, fazendo com que eu jamais declarasse que aquele comportamento não era atípico. Eu gostava de mulheres e, a partir daquele dia, eu me detestava por aquilo.

Àquela altura Gold já encontrava-se com o rosto entre as mãos, em uma clara tentativa de apaziguar seu conflito interior. Não pela descoberta, pois como um homem que evoluíra em demasiado nos últimos anos ele jamais se oporia a orientação sexual da filha, era o ressentimento pelo homem que havia sido que se fazia presente. Caminhando até Marian e ajoelhando-se em sua frente, Gold tomou-lhe a mão que estava pousada sobre suas pernas e beijou-a ali.

– Me perdoa, minha filha.– O homem durão estava fazendo uma força desmedida para não chorar, no entanto, era possível notar como os seus olhos estavam marejados.

– Eu disse que não há ressentimentos, papai.– Marian falou, lançando a ele um sorriso gentil. Diferente do pai, as lágrimas da mulher já haviam ganhando forma e escorriam sutilmente pelo seu rosto.

Robin permanecia estático, sentado no sofá com a postura ereta, o homem parecia estar em outra dimensão. Seus pensamentos estavam tão atribulados que quase poderiam ser ouvidos.

 – Robin...– Marian o chamou, despertando-o do transe.

 – Sinto muito por isso, Marian. Por vocês dois.– Locksley falou, a voz hesitante, exteriorizando sua falta de reação diante de tantas novas informações.– Mas... Diante de tudo isso, como acabou casando comigo?– Ele perguntou. Robin estava realmente se esforçando para compreender.

 – Acho melhor deixá-los a sós.– Callie falou, sentindo-se deslocada e um tanto sem graça.

 – Por favor, fique...– Marian a fitou com um olhar suplicante. Falando mais baixo, ainda disse:

– Preciso do seu apoio.– Torres então decidiu ficar, afinal de contas ela estava ali para ajudar à Marian, que àquela altura não representava apenas mais uma paciente e sim uma nova amiga.

Limpando a garganta, Marian voltou a falar para Robin:

– Você há de se lembrar que, quando nos conhecemos, eu já tinha vinte e três anos. Havia acabado de ingressar na faculdade, quanto à você, já estava no terceiro semestre de medicina. Na festa de boas vindas aos calouros, você foi o único homem que se aproximou de mim sem segundas intenções. Desde aquele dia, não era incomum que nos esbarrássemos no campus e com isso passamos a conversar. E bem... Meu desejo de me mostrar uma pessoa comum, de negar os meus anseios, de abdicar da minha verdadeira essência, ainda estavam fortemente presentes. Quando te conheci, Robin, achei que finalmente estava conhecendo o homem que me faria “mudar de ideia”, usando para mim mesma a desculpa de que eu apenas não havia conhecido ainda a pessoa capaz de me mostrar que eu estava equivocada sobre “achar” que gostava de mulheres. Me agarrei à essa ideia com todas as minhas forças e, talvez por isso, tenhamos começado a namorar tão cedo e levado a nossa relação a outro nível tão rápido quanto. Especialmente porque com a idade que eu tinha, a cobrança para que me casasse era assustadora. E com você ao meu lado eu finalmente consegui algo que eu queria muito, ainda que me recusasse a admitir: a aprovação do meu pai.– Gold permanecia murmurando desculpas de maneira ininterrupta.– Logo depois que casamos, veio Roland, obviamente nossa maior joia, eu jamais diria o contrário. Então foi aí, eu finalmente me dei conta que eu tinha um marido e um filho e, ainda assim, aquela parte de mim não havia sumido. Só então me dei conta de que eu não deveria ter tentado fazer com que sumisse, aquilo era quem eu era, minha essência... A constatação, no entanto, ainda me envergonhava. Não é fácil se livrar de um pensamento que a sociedade se empenha tanto em construir na nossa mente.– Callie, ao seu lado, assentia. Afinal de contas, ela era a única que sabia exatamente como era lidar com ao fato de possuir uma orientação sexual diferente do que a sociedade e sua hipócrita tradição esperam de todos.

 – Por isso você fugiu com um homem? Marian, eu perdi alguma coisa? Porque não estou entendendo.– Robin falou, levantando-se. Fora a sua vez de andar de um lado para o outro da sala, numa tentativa vão de acalmar seus ânimos.

 – Chegamos no ponto central.– Marian falou.– No dia em que eu fugi de casa, um tanto quanto alterada e, acredite em mim, não fosse pelo álcool eu jamais teria reunido a coragem para fazê-lo, não era com um amante que eu estava indo embora. Charlotte, a grande amiga da adolescência, acabara por cruzar meu caminho outra vez, e bem... Acontece que o que possuíamos naquela época não era apenas amizade, como pensávamos, August era irmão de Charlotte, ele apenas iria me buscar para que eu fosse embora com ela.– Diante do olhar de Robin, Marian precipitou-se em dizer:

 – Eu sei que nada disso justifica eu ter abandonado meu filho, eu sei... Mas eu também sei, Robin, que você lembra como as nossas brigas vinham se tornando frequentes. Eu me sentia fracassada, como esposa e como mãe. Eu não conseguia ser plenamente feliz, e isso influenciava diretamente na nossa vida. Você se sentia infeliz com a minha falta de empolgação frente a tudo. Eu me sentia infeliz com a minha incapacidade de retribuir ao homem maravilhoso que você era. Bem, que você é... E eu te amava, Robin, de verdade, caso contrário não teríamos concebido um filho. No entanto, não é o tipo de amor que te faz entrar em uma joalheria em Nova Iorque e comprar um anel para alguém sem nem mesmo precisar pensar sobre isso.– A referência fora clara, mas o exemplo fora crucial para que Robin entendesse do tipo de amor que Marian estava falando.– Eu realmente achava que partindo estaria fazendo você e Roland mais felizes. Juro para você, Robin. Quanto ao acidente... Quando entrei no carro, August me falou que Charlotte havia desistido, que ela não iria mais embora comigo. Eu nunca soube o motivo, mas a julgar pelo modo como eu havia bebido e como a notícia me transtornou, ter pisado no acelerador com o objetivo de ir tirar satisfações claramente não foi a minha melhor escolha.– O silêncio se fez presente, Gold permanecia ao lado da filha, olhando-a com pesar. Robin, finalmente cessando os passos impacientes, recostou-se sobre a estante de livros, passando as mãos pelo fios de cabelos loiros, que em algumas partes já faziam-se grisalhos. Percebendo que o silêncio perduraria se dependesse dos dois homens ali presentes, Marian ainda falou:

 – Eu não estou te contando tudo isso para que sinta pena de mim e, finalmente, consiga me perdoar. Estou te contando isso porque eu preciso que você saiba que eu tentei, Robin. Eu não fugi por falta de amor ao nosso filho. Eu fugi porque, para além da necessidade de resgatar uma parte de mim que eu deixei na escuridão por anos, eu queria que o nosso filho fosse feliz. No estado no qual eu me encontrava naquela época, eu não acreditava que isso fosse possível comigo por perto.– Respirando fundo, ela anunciara o fim do seu discurso, secando o rosto com o dorso das mãos.

   – Eu... Eu... Eu não sei o que dizer.– Locksley confessou, atordoado mediante os fatos.– Mas eu realmente sinto muito, Marian. Ninguém deveria ser abdicado do direito de ser exatamente quem é. Você não deveria ter desistido de lutar por você, antes de tudo...– Robin falou, e Marian sentiu verdade em suas palavras.

  – É mais fácil falar do que fazer.– Callie falou pela segunda vez durante toda aquela longa conversa.

– Admiro sua coragem.– Marian falou. Para nenhum dos presentes era segredo de que Torres tinha sua sexualidade muito bem resolvida e assumida.

– Você não precisa dizer mais nada, Robin. Era eu quem precisava falar. Dito isto, eu assinarei os papéis. Se eu fugi acreditando que você e meu filho seriam mais felizes, eu não posso fazer que o meu retorno os torne exatamente aquilo que eu não queria que fossem: infelizes.– Marian sorriu para ele e Locksley viu-se permitindo sorrir de volta para a mulher. Grato pelo fato dela ter, daquela vez, feito a escolha certa. Voltando sua atenção para Gold, agora em pé ao seu lado, ela tornou a falar:

– Quanto a você, pai: Apenas me abrace. O que você fez pelo meu filho, o modo como Roland o ama, provam suficientemente sua mudança. Não há ressentimento algum, e eu não quero que o sinta.– Assim, pai e filha se abraçaram.

Torres e Locksley subiram, cada qual indo em busca de uma boa noite de sono, dando a Gold e à Marian a oportunidade de ficarem a sós e resgatarem um laço que, há muitos anos, necessitava ser reconstruído. Diante daquela cena entre pai e filha, de repente, Marian percebeu que algo estava faltando para que aquele momento estivesse completo. Pedindo ao pai o celular para realizar uma breve ligação, Marian discou o número de Zelena. Muito embora fosse receber uma reprimenda pelo horário da ligação, ela sentia que a irmã viria.

  Não tardou para que o som da campainha pudesse ser ouvido, antes que o pai se precipitasse até a porta, Marian encaminhou-se na frente para receber Zelena. Assim que abriu, Marian teve certeza de que, assim como ela, a irmã lembrava de muita coisa que elas haviam passado juntas, ainda que no ano que antecedera seu coma elas parecessem ter esquecido completamente da cumplicidade que as unia, dando vasão a brigas ferrenhas, especialmente pela insistência da irmã a respeito dos assuntos que só agora ela viera a tratar.

 – Você finalmente contou a eles, não foi?– Zelena perguntou, sem deixar de notar os olhos inchados da irmã, que denunciavam que ela havia chorado. O modo como o pai se colocara atrás da cadeira de Marian e o olhar, também melancólico, respondiam por si só a sua pergunta. No entanto, Marian assentiu, lançando um sorriso amarelo para a irmã. Sem precisar dizer nada, Zelena inclinou o tronco e a abraçou, provocando um novo derramar de lágrimas na ruiva. Ambas passaram um longo período afastadas, o modo como Zelena se sentia atraída por Robin e a consciência de que a irmã estava com ele por conveniência faziam com que a ruiva passasse a guardar um rancor desmedido de Marian. Zelena sempre fora a única que sabia da sexualidade da irmã, devido às peripécias da adolescência. Entretanto, àquela altura do campeonato, simplesmente não valia mais à pena levar aquela pequena parcela do passado em consideração, especialmente sabendo que Marian havia finalmente tomado coragem para encarar a situação e iniciado o caminho da aceitação.

  Naquele abraço silencioso, muito estava sendo dito. Haviam ali duas irmãs em um momento de reconciliação que, Gold esperava poder se estender também a ele. Pela parte de Marian ele já sabia que havia sido perdoado, quanto à Zelena, só o tempo poderia dizer.

*

 Naquela manhã Regina chegara cedo ao Memorial Hospital West, especialmente porque, com o congresso, havia muito trabalho que ela precisava realizar de modo a colocar tudo em dia. Ademais, Zambrano almejava anunciar aos presentes do conselho que ela era a sócia majoritária do hospital. A mulher já havia ensaiado diversas formas de como levar a público a nova mudança, mas o medo de que contestações que a conduzissem ao “assunto Cora” fossem feitas, deixavam-na apreensiva. Entretanto, levando em conta o vasto número de eventos que ela jamais imaginaria passar, Regina carregava a certeza de que aquele seria apenas mais uma das situações que ela enfrentaria com esmero, especialmente porque se comparada às demais, lidar com a curiosidade dos funcionários mais fiéis à mãe, não era nada.

Batidas na porta tiraram seus olhos do papel onde estruturava sua pequena fala, aquele era seu modo de mostrar-se mais segura todas as vezes que almejava falar em público. Não que tivesse dificuldade com a tarefa, uma vez que os anos em que a imponência e a postura rígida foram suas maiores aliadas, haviam tornado Regina uma mulher cujas palavras apenas denotavam sua segurança diante de si.

– Entre.– Ela respondeu, levantando-se de sua cadeira giratória e encostando-se sob a mesa.

 – Bom dia, meu amor!– Um Robin exageradamente animado caminhou em sua direção, fazendo com que ela se afastasse da mesa e pudesse sentir seus braços envolvendo sua cintura em um abraço.

– Vejo que alguém está muito animado.– Regina respondeu, sorrindo diante do olhar exultante do homem à sua frente.– Parece que ambos tivemos coisas boas a serem desveladas após o almoço.– Comentou, fazendo referência à liberação da documentação do pai, que ela intendia contar a Robin. Aparentemente, o loiro também portava boas notícias.

 – Você quer começar?– Ele perguntou, alargando uma pouco mais o sorriso, deixando visíveis as covinhas que o adornavam, enquanto encaixava uma de suas mãos ao rosto de Regina, acariciando-o com o polegar.

– Eu não conseguirei falar nada sem saber o motivo desse sorriso tão inspirador, senhor Locksley.– A morena falou divertida. Pegando-a de surpresa, Robin começou a depositar beijos cálidos na linha de sua mandíbula, fazendo-a fechar os olhos para receber o toque, sem nunca tirar o sorriso crescente de seus lábios. Antes de alcançar-lhe a boca, Locksley se deteve a uma distância mínima, fazendo com que o azul de seus olhos se encontrasse com os castanhos achocolatados dos dela.

– Eu sou oficialmente um homem divorciado.– Assim que a frase foi proferida, fora ela quem fechou a distância entre seus lábios, puxando-o pela gola do jaleco, o beijo trocado fora urgente e repleto de felicidade. Era possível sentir como os lábios de Locksley se curvavam em um sorriso, aparentemente incapaz de deixar seu rosto. Quebrando o contato após alguns consideráveis segundos, ela roçou seu nariz ao dele, exteriorizando mais uma vez, através do pequeno gesto, o quanto ela também estava feliz em ouvir a assertiva.

– Sua vez.– Robin falou.

– Consegui a documentação para tirar o meu pai da clínica e tornar-me a responsável por ele. Finalmente poderei levá-lo para a casa.– Fora a vez de Robin se sentir encantando pelo sorriso elusivo da mulher. A alegria de um tornando-se a alegria do outro. Era naquela dinâmica que o relacionamento deles funcionavam. No compartilhamentos das emoções mais arrebatadoras, para o bem ou para o mal.

 Sendo chamados à realidade que existia para além do momento particular do casal, o celular de Regina vibrou em cima da mesa, anunciando que era a hora da reunião com os representantes do conselho que não estavam no congresso.

– Parece que é hora de mais uma conquista.– Robin falou, encorajando-a. Antes de deixarem a sala, Locksley sugeriu:

 – Acho que à noite devemos sair para comemorar. Eu, você, Emma e Killian. E talvez um tampinha muito empolgado possa ir junto.– Ela sorriu diante da sugestão. O que me diz?– O loiro perguntou.

– Eu acho uma ideia maravilhosa, querido.– Dito isso, tomaram seu caminho para a sala de reunião.

Na mente de Robin, aquela seria a perfeita deixa para que o anel que ele havia comprado deixasse a caixa aveludada e fosse colocado no anelar de Regina, se ela assim o quisesse. Ele esperava mais do que tudo que a resposta para a pergunta que ele ansiava desesperadamente realizar, fosse sim.

*

Sentada em seu escritório, Zelena relia a mesma linha pela sétima vez, tentava se concentrar no relatório que fazia, sem sucesso. O ramal tocou e ela atendeu, apenas para dizer à sua secretária:

–Nicole, já disse que não quero ser incomodada, tenho que terminar esse relatório o mais rápido possível.– A ruiva fora imparcial, irritada pela incapacidade de se concentrar no que fazia.

– Mas tem um senhor que está aqui há vinte minutos e insiste em falar com a senhora. Disse que é urgente e que não vai embora sem te ver.

– Mande este senhor voltar outro dia.– Ela disse sem paciência, desligando o telefone. O curto espaço de tempo que utilizou para simplesmente levar o telefone ao gancho, foi o mesmo tempo em que se abriram as portas do escritório e por lá surgiu um Hades furioso e com alguns papéis na mão. Caminhando em passos rápidos, deixando a secretaria atordoada para trás, ele jogou os papéis em cima da mesa.

– Estou desfazendo a sociedade com você.– Dito isso, ele rasgou os papeis que ambos tinham assinado dois meses atrás.

–Você tá louco?– Zelena disse saindo de sua mesa e indo em direção ao homem, furiosa.

– Eu fechei contrato com você, não com seu pai. Então se você não reassumir a direção desse projeto junto comigo, eu cancelo tudo e faço seu banco pagar uma rescisão de contrato que, te garanto, vai demorar no mínimo vinte anos para que você consiga expandir seu banco.– O homem estava colérico.

– Você está me chantageando, senhor Hades?– Zelena retrucou, seus olhos azuis ficaram mais escuros, e Hades conheceu outra versão de Zelena, que parecia estar possessa de raiva. A mulher colocaria medo em qualquer um, mas o pior de tudo, foi descobrir-se apaixonado por aquela versão de Zelena também. Esquecendo-se da raiva que o consumia, ele falou:

– Infelizmente, se essa é a única forma de te fazer ficar perto de mim, tenha certeza que eu farei isso. Esqueci de contar que sou muito egoísta também e quando eu entro em jogo é para ganhar. No último mês eu tive uma ótima professora, e digamos que tive um ajudinha do meu futuro sogro.– Ele deu aquela piscada para ela, valendo-se de seu charme. Se Malcom não soubesse que a ruiva sentia o mesmo, ele jamais faria aquele circo, no entanto, ele não gostaria que ela perdesse aquela oportunidade, não de ser feliz, porque uma mulher bem sucedida como ela jamais teria a felicidade resumia àquilo, mas ele sabia que gostaria de fazer parte de sua felicidade.

– Sabia que tinha dedo do Gold nessa história.– Zelena bufou.– Hades, não complica as coisas, por favor, eu não quero me machucar com essa história, e sua fama não é de quem tem relacionamentos duradouros.– Ele chegou mais perto dela, levando uma de suas mãos ao rosto de Zelena, que iria recuar, mas desistiu no caminho.

–Na vida não temos garantia de nada, isso é certo. Mas eu sei o que eu quero, e eu quero você, com todo seu sarcasmo, seu humor negro e sua mania de ter tudo sob controle. Você não é apenas um caso, Zelena.– Ela se sentiu extremamente balançada por suas palavras, contra-argumentando outra vez:

– Hades...– A sua assertiva foi interrompida por um beijo apaixonado. Dessa vez, ela não tentou fugir, não adiantava escapar daquele homem, porque isso significaria deixar para trás seus próprios desejos. Se ela era mesmo uma mulher bravia e que luta pelos seus ideais, não faria mal dar espaço para viver aquela pequena loucura.


Notas Finais


E então, gostaram do capítulo?

Bom, vamos ao assunto. Como muitos já sabem, Válvula de Escape foi publicada em eBook pela plataforma do kindle, de maneira independente para que eu possa concorrer a um concurso da Amazon, onde uma das congratulações é a publicação via editora (para que o livro físico possa ser impresso). Bom, como vocês também devem ter percebido, eu amo escrever, eu não faço isso por mera visibilidade, mas porque as palavras fazem parte de mim, exteriorizá-las é um desejo que emana do meu ser independente da minha vontande, eu AMO escrever. No entanto, como alguém que é apaixonada pela escrita, e como qualquer pessoa que almeja um dia ser escritora "profissional", eu preciso muito de apoio e de uma ajudinha financeira nessas tentativas de mostrar o meu trabalho para além dos sites de fanfic. Então, por isso, meus amores, eu venho mais uma vez divulgar o link de VdE no site. O preço é bem simbólico e eu ficaria muito feliz em ter esse apoio de vocês, pois as vendas e as avaliações têm um certo peso para o concurso e, embora eu tenha muitxs leitorxs, eu vendi pouquíssimo até então. Mais uma vez ressalto, eu AMO escrever, mas como alguém que pretende um dia fazer isso para fora do mundo virtual, eu peço o apoio e contribuição de vocês. Tentar visibilidade através da arte não é fácil, mas estou aqui numa incessante busca <3
Se você leu até aqui, muito obrigada pela paciência. E desculpem por qualquer coisa.

Segue o link: https://www.amazon.com.br/V%C3%A1lvula-Escape-J%C3%BAlia-Ramos-ebook/dp/B076YHG6JN/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1510957663&sr=8-1&keywords=v%C3%A1lvula+de+escape


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