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História Vida Após o Amor. - Vida Após o Amor. - 2


Escrita por: Rayane_Gaya

Notas do Autor


Sem poder controlar o tempo somos apenas reflexos de vários fatídicos momentos do passado em busca de melhores momentos no futuro.
Um aniquila o outro, pois onde o novo entra o antigo se abstém.
Então...
Até onde estamos dispostos a ceder a ponto de se perder? E principalmente, o que estamos dispostos a deixar realmente de lado enquanto nos perdemos?

Acho que iremos descobrir...

Capítulo 2 - Vida Após o Amor. - 2


10 de Setembro de 2010

Cloe citava seu mantra pessoal enquanto caminhava para o trabalho naquela manhã, era comum se concentrar antes de qualquer reunião.

Ela se levantou cedo, os cabelos bagunçados e os olhos lutando para se manterem abertos, arrastava os pés em direção ao banheiro bocejando, se olhou no espelho e sorriu, o primeiro grande e largo sorriso do dia era o próprio e isso a satisfazia.

Tinha tudo que queria, o auge da sua carreira estava mais próximo, bem provável que fosse após essa reunião, os sonhos começavam a sair das gavetas junto com sua roupa devidamente alinhada e seus brincos reluzentes. 

Após o banho se vestiu, as mãos deslizaram sobre sua blusa social azul marinho que contrastava bem com seu tom de pele, seus olhos castanhos claros pareciam mais claros ainda, a expectativa neles era quase palpável.

Cloe se dirigiu até a cozinha e tomou seu primeiro café quente do dia, suas forças depois de uma noite exaustiva de planejamentos finais eram recuperadas em cada gole.

Pegou sua pasta em cima do sofá, conferiu os documentos e cada catálogo de forma metódica para ter certeza que estavam todos ali, desbloqueou seu celular e uma foto sua sorrindo em uma praia do Havaí a saudou, pensou de forma automática que talvez se tudo desse certo, seria o primeiro lugar para onde retornaria, seus pais a levaram uma vez, sentia falta do gosto salgado, o cheiro do mar, das boas risadas e histórias que eternizou ali, com toda certeza ela iria para lá novamente quando pudesse.

Abriu a porta de seu apartamento virando apenas pra ter certeza que não deixou nada ligado, tinha uma péssima mania de esquecer as coisas e por isso era tão metódica, após averiguar que tudo estava no seu devido lugar se despediu de Zeus, seu gato de estimação e saiu.

- Você pode, você é capaz, você já fez isso um milhão de vezes..

O mantra ia sendo dito, era mais pessoal do que audível, mas mesmo assim saia como um sussurro e quem a olhasse provavelmente duvidaria de suas faculdades mentais.

Alcançou a porta de seu carro, ligou um reggae baixinho e deixou a vibe positiva invadir seus ouvidos e trazer conforto ao seu interior, virou a chave e saiu lentamente sem ligar para a quantidade de vezes em que era pega em um sinal, ainda dizendo baixinho o seu mantra, e mexendo a cabeça bem devagar no ritmo do reggae, talvez fosse louca mesmo, mas sabia que por seus sonhos ela seria sempre assim, sempre louca, sempre ela.

***

(45 minutos de reunião)

- Não me parece uma situação simples de resolver, essa campanha é de extrema importância, muitas mulheres sofrem diariamente em silêncio as violências e precisam saber que existe uma forma de recorrer. No entanto os lugares remotos impõe com seu difícil acesso à mídia uma facilidade desses covardes se esquivarem da verdade. 

Michael falava de forma pouco serena, a veia em seu pescoço saltava e sua testa trazia leves gotas de suor mesmo com o ar condicionado ligado, o passado traumático dele o fazia levar o assunto de forma bem além do apenas profissional, Cloe coçou a nuca, estava disposta a expor sua idéia e isso poderia alavancar sua carreira, mas sabia que a importância desse assunto era bem maior do que apenas a sua promoção, sentia que ajudava mesmo que indiretamente, muitas pessoas.

- Senhor eu tenho uma idéia.

Toda a sala fez silêncio e a olhou, Michael era chefe de Cloe e embora suas idades fossem quase parecidas, ele trazia marcas de expressões em seu rosto reforçando o árduo esforço físico e mental, isso demonstrava sem muito dizer o quão duro ele deu para adquirir sua empresa, e o quão importante esse trabalho era pra ele.

As 12 anos ele perdeu sua mãe vítima de violência doméstica, seu padrasto só não o matou após tê-la matado por ele ter fugido e se engrenhado mata adentro fugindo daquela cena que foi um verdadeiro filme de terror. Algumas marcas de cortes em seus braços hoje mais rígidos mostravam as cicatrizes dos espinhos que encontrou enquanto corria sem olhar para traz, ele foi achado 3 dias depois caminhando descalço na estrada.

Sem seus pais e nenhum familiar próximo foi para um orfanato, desde então cresceu com um único desejo, e surpreendentemente não era o de vingança, era na verdade o mais nobre de todos os sentimentos, o desejo de ajudar.

Ele levantou os olhos do ponto fixo que havia achado em sua mesa e a olhou.

- Estou ouvindo Cloe.

Suas mãos instantâneamente gelaram, ela sentia a necessidade de falar lentamente com medo de embolar e se perder no seu argumento.

- Se a idéia é propagar um anúncio simples sobre denúncia a fim de ajudar, poderíamos usar os meios autênticos para isso, sabemos que tv e panfletos funcionam em cidades grandes, mas sua ideia é atingir lugares mais remotos, logo poderíamos usar os recursos que esses lugares possuem. Toda pequena região possui seus eventos e consecutivamente suas bandas regionais com influências nessa determinada cidade. Podíamos usá-los para propagar enquanto entretém.

Alguém interrompeu buscando a atenção, visivelmente chateado por não ter tido uma idéia para citar, e querendo mostrar erro na ideia de Cloe.

- Porque não usar bandas internacionais ou até nacionais porém famosas?

Cloe ajeitou o óculos que davam um ar sério embora sexy, e o olhou indiferente.

- Porque por mais que a campanha seja de fato importante, os gastos podem ser reduzidos mantendo a eficiência da idéia, não precisamos desembolsar uma fortuna para termos um resultado, só precisamos achar o jeito certo de chegar, os cachês de bandas regionais são mais acessíveis, e por terem influencia naquela região chamará bons números de pessoas para assisti-las.

Ele rebateu insistente em derrubar a idéia de Cloe.

- Mas o que te faz pensar que um troglodita macho deixaria seu saco de pancadas sair para uma festa na rua?

O tom irônico de Jason fez o sangue de Cloe ferver, ela cerrou os olhos e resolveu usar o mesmo sarcasmo sendo acompanhada apenas pela cabeça das pessoas que olhavam dela para ele e dele para ela.

- A não ser que você seja de fato muito ruim em entender uma idéia, não faria sentido eu explicar, mas eu vou para garantir. Se eu moro em uma cidade com poucos recursos e sem ser vítima de nenhum "troglodita macho", vou me direcionar ao evento, lá eu vou descobrir que existe chance de mulheres reinvindicarem seus direitos, não serve pra mim, mas posso lembrar de uma amiga. Eu vou propagar a propaganda, vou ser o carro chefe daquilo que os músicos falaram. Não é assim que toda boa propaganda funciona? Através das pessoas?

Ela falava de forma ríspida o olhando intensamente, seus castanhos claros o atacavam de um jeito silencioso, tinha até esquecido das pessoas a sua volta, mas quando concluiu seu pensamento recebeu o aplauso de todos, seu chefe se levantou e apertou sua mão confirmando que até agora aquela foi a melhor idéia, Cloe sabia que era, mesmo sendo extremamente humilde para levantar o nariz e concordar, apenas sorriu timidamente e deixou que todos analisassem sua ideia e discutissem a melhor forma de exerce-la.

A satisfação não tem preço, é apenas um fio de esperança que corta a alma e te faz ver onde você precisa estar e muito vezes não é aonde gostaria de estar

 No caso de Cloe ela deveria e gostaria de estar exatamente onde estava.

Assim como é árduo o encontro dos rios com o mar e as águas continuam explorando suas dificuldades as ultrapassam desaguando firmes e certeiras no seu objetivo, assim somos nós.

Cloe sabia disso, sabia que veria os frutos de seu trabalho e isso a satisfazia, sua vida estava repleta de satisfações pessoais e seu emocional a agradecia sempre que seu sorriso sincero aquecia seu coração.

***

- Tchau Richard! - Ela se despedia calorosamente do porteiro do edifício onde trabalhava.

- Até amanhã Srta Caillat.

Ela se dirigiu até o estacionamento alheia a tudo que lhe rodeava, seu coração leve e a mente tranquila, não tinha como o dia ficar melhor, abaixou a cabeça dois segundos para buscar as chaves do carro dentro da bolsa mas foi interrompida por uma batida brusca em seu ombro fazendo a bolsa cair e com sorte ela não foi junto ao chão.

Confusa levantou os olhos e a viu pela primeira vez, o pedido afoito de desculpas, as mãos chacoalhando a cada vez que falava, ela estava tão bem com seu dia que não espraguejou a moça desesperada a sua frente, sorriu calorosamente percebendo-a fazer uma careta de confusão, e logo depois gargalhou achando cômico ser atropelada em um estacionamento e não ser por um carro.

- Ei qual a graça? 

- Não é nada, só que uma pessoa me atropelou em um estacionamento, posso me considerar com sorte hoje por não ter sido um carro.

A moça riu concordando.

- Poxa, então, nem vou pedir desculpas, pode me agradecer por essa grande bênção de Deus, a não ser que eu tenha te machucado.

- Ah não, não se preocupe, está tudo bem.- Cloe abaixou para recolher suas coisas que saíram da bolsa, prontamente a outra a ajudou.

- Meu nome é Ísis, e o seu é...? - Ela disse se levantando e olhando para Cloe.

- Cloe..meu nome é Cloe. Obrigada a ajuda Ísis.

A morena assentiu e sorriu como resposta, Cloe seguiu até seu carro alheia a tudo, não reparou que a menina ainda ficou parada a olhando ir, sequer reparou que ainda sorria por tudo que aconteceu no seu dia desde a reunião até esse momento.

Dirigiu seguindo a noite e as luzes do seu caminho, sentindo o pulsar no seu peito alertá-la de que tudo só estava começando, era boa a sensação de satisfação, e principalmente a sensação de ser capaz de ser ela a pessoa que deu o primeiro passo rumo às vitórias que tinha certeza que conquistaria.


"Nem todo começo precisa ser percebido diretamente, nosso interior manda alertas a fim de nos mostrar o que ele sente, mas é em vão, quando nos vemos cair já estamos mais fundos em nós mesmos que nos tornamos incapazes de voltar, e nos sentimos sempre dispostos a seguir."

Rayane Castro Calcabrini



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