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História Volta ao Mundo em 80 Histórias - Ritmo Mwangolé - Por Omoplata Errada


Escrita por: MichelyMaia

Notas do Autor


Bom, a autora de hoje dispensa apresentações. Acho muito difícil que não tenham lido algo dela ou que já não tenham recomendado a vocês.


Omoplata, mais uma vez muito obrigada pelo maravilhoso presente, pois te ter nesse projeto é algo incrível pra mim.
Obrigada a Queen Of Desaster, que me apresentou/indicou e fez com que eu me apaixonasse pela autora.
E claro, obrigada a todas vocês que participam do projeto. Lendo ou nos enviando estórias.

Sobre a one de hoje...bom o que posso falar?
Acho que vou deixar que descubram por si só. Só adianto que mais uma vez está aí o meu tão amado espaço para o desconhecido e engraçado que isso não foi combinado de forma alguma, mas me encanta como todas as autoras criaram estórias que podem ser trabalhadas futuramente.

Capítulo 5 - Ritmo Mwangolé - Por Omoplata Errada


Aqui segue o link do perfil dela, para que continuem ou comecem a se deliciar com suas ótimas estórias: (http://fanfiction.com.br/u/266599/).


Em caso de interesse, músicas:
— Nosso lindo caso de amor - https://www.youtube.com/watch?v=L0FzJunjGZ8
— Ai ai - https://www.youtube.com/watch?v=dsTKv79ukhQ
— Poderosa - https://www.youtube.com/watch?v=4784DdefZ-o
 

Notas da autora:

"Foi extremamente prazeroso escrever essa one, não apenas pela contribuição para o projeto fantástico em questão, mas principalmente pela pessoa que na sua intrínseca forma de ser me inspira e me desafia a querer transpor limites. Portanto, não posso deixar de dedicar esta pequena história à minha querida Amanda, que mesmo sem querer, me fez ficar amando (sim, foi propositado xD) cada pedaço de trivialidade vivido. Assim, a quem não agradar a presente fic, já sabe para quem enviar as devidas reivindicações. (Mentira, deixem ela sossegada!)"

***********

 

Emma estava no terraço de uma das melhores suítes do Epic Sana Luanda Hotel. Maravilhada com a cidade, ela apreciava com os olhos a vista de Luanda pela Avenida Marginal que seguia minuciosamente o contorno da baía onde alguns monumentos de valor histórico embelezavam ainda mais a paisagem. O clima estava frio e seco, característico do mês de Agosto em que estavam. Tão distraída estava que ao serpentear de uma mão quente pelo seu abdômen descoberto acabou dando um pulo no lugar.

– Te assustei? – perguntou num mero sussurro, acabado de esmorecer nos lábios que se prensaram contra a pele do seu ombro, também despido.

Emma se virou, sorrindo. Seus lábios imediatamente procuraram os da morena à sua frente, mas melhor do que isso; instantaneamente os acharam. Era automático; era inevitável depois de oito anos juntas.

O beijo aconteceu, demasiado calibrado e previsível. Emma virava a cabeça para a direita primeiro, Regina para a esquerda, e depois, trocavam. As línguas se tocavam e amaciavam mutuamente. Regina sabia quando abandonar a luta entre os músculos; era quando Emma raspava os dentes no seu lábio inferior. Emma mordia levemente o local e depois dominava completamente. Regina ria no beijo e descia a mão direita até ao busto esquerdo de Emma e quando achava que a loira já estava demasiado vitoriosa, Regina apertava o seio. Acontece que algo aconteceu neste caso: líquido molhou a palma da mão de Regina.

– Amor … - arfou a morena, mantendo os lábios separados. – … você tá toda molhada …

– Uhm uhm. – a outra fez, forçando a boca novamente contra a da morena. – Você não faz ideia de como eu estou molhada.

Regina caiu na risada, dando um peteleco carinhoso na nuca da loira, se afastando por completo.

– Não Emma, você está toda molhada! – reforçou apontando para o biquíni que ainda pingava água da piscina. – Quer ficar doente? – inquiriu, puxando-a para dentro e buscando uma toalha.

– Vamos antes tomar um banho quente! – exclamou empolgada.

– Você vai. – Regina empurrou-a levemente no peito em direção ao banheiro privado. – Eu acabei de tomar o meu e não quero perder nem por nada deste mundo a aula que eu já reservei de Kizomba.

Emma fletiu a sobrancelha confusa.

– Aula de quê?

– Kizomba. – repetiu, mas ao ver que o estado de confusão permanecia no rosto da mulher, tentou clarificar. – Ritmos Africanos? Não?

– Você vai se pintar toda e se juntar a uma tribo com penas na cabeça? – perguntou rindo.

– Eu vou … - pareceu desistir da reprimenda que tinha em mente. – … vou fingir que nem escutei isso, querida. Vá tomar banho rápido porque você vem comigo.

– O quê??

– Sem discussão. – terminou, dando costas.

Sim … oito anos deixam as coisas bastante previsíveis. E se por algum momento a loira pensava que dominava, ela estava redondamente enganada. Bufou contrariada, e entrou imediatamente no banheiro.

*** *** ***

Anoitecia quando chegaram à Casa da Música de Talatona, um espaço de promoção e divulgação da música angolana. Já haviam chegado algumas pessoas ao recinto, apesar da aula ainda não ter começado. Pelo ambiente acústico entoava uma batida forte, mas doce, brusca, mas quente, enredada pelos sons da terra, do calor corporal, da chuva, um misto de brincadeira e sentimento. Era Angola.

Um dialecto estranho aos ouvidos das duas mulheres, mas rapidamente acolhido de bom grado pelos ouvidos e quadris das pessoas que iam chegando. Eram pessoas na sua maioria de pele escura, olhos expressivos e dentes cintilantes. Havia brancos também, assim como Emma e Regina, mas esses se mostravam claramente mais inibidos.

– Tem certeza que isto é boa ideia? – cochichou a pergunta.

– Emma, por favor. Onde está sua ousadia? – revidou com um sorrisinho desafiante se abrindo. – É somente no banheiro que fica?

A loira não respondeu, resmungando qualquer coisa pelo caminho já se encaminhando para o bar que havia do outro lado. Regina balançou a cabeça rindo. Aproveitou e deixou se embalar pelo ritmo que tocava.

Ao beijar a sua boca

Ao tocar o seu umbigo

A sentir o seu gemido

No meu ouvido

Sem se dar conta acabou fechando os olhos e deixou que aquela sonoridade e fraca iluminação do espaço tomasse conta dela. Sentiu-se livre, solta, feliz. Seus pés, calçados num salto não muito alto, batiam no chão de um lado para o outro ao ritmo da batida mais forte da música.
 

Sentiu, apenas. Não conhecia aquela linguagem, mas tinham razão quando afirmavam que a língua que a música fala é universal. E era tão prazeroso falar aquela língua, interpretar aquela melodia através do balançar natural dos quadris. Sorriu para si, convencida do seu profissionalismo. Depois acabou rindo, da sua falsa modéstia.
 

Como uma cama que arrefece com a ausência inesperada do novo amante, a música cessou, arrefecendo o corpo da morena. Regina abriu os olhos, as luzes levantaram mais, iluminando melhor o local.

No palco, projetado numa tela sobre a plataforma a imagem de dois corpos, um feminino e outro masculino, surgiu uma mulher alta e bem torneada. Ela sorriu, um contraste acentuadíssimo com a pele negra, evidenciando uma dentição perfeita de dentes milimetricamente bem alinhados. A fronte saliente e larga por onde caíam, através de um lenço no topo da cabeça, cachos enrolados de cabelos igualmente negros e selvagens transmitia segurança e imponência. O nariz proeminente e cheio de presença, bem desenhado, sem ponta alguma de altivez, jazia no centro do rosto que continuava sorrindo nos moldes de um batom encarnado. E uma ternura; existia uma ternura tão imaculada naquele olhar negro que enternecia.

Regina sentiu como se pudesse ficar admirando aquela mulher até à eternidade.
 

– Sejam bem-vindos. – e nem a voz que surgiu deixou ficar mal a imagem perfeita que os olhos teceram da mulher de tez negra. E embora Regina não entendesse o idioma, ela poderia ficar escutando para sempre a voz que agora dirigia-se a todos os participantes daquela aula. – O meu nome é Iolanda Leezah.
 

“Iolanda”, a morena gesticulou para si com os lábios. A mulher continuou falando, agraciando cada uma das pessoas com o seu olhar alternadamente. A certa altura o idioma mudou e Regina piscou os olhos ao ouvir a pergunta dirigida a todos dos lábios encarnados e volumosos:

– Someone here doesn't speak Portuguese? (Alguém aqui não fala Português?)

Regina sentiu-se prender o ar assim que viu a sua mão se levantando contra a sua vontade. Iolanda dirigiu o olhar para ela, a princípio um olhar curioso, mas logo o sorriso se estendeu aos olhos, e a mulher fez uma caretinha engraçada ao enrugar a testa que Regina não entendeu logo ao que se devia.

– You'll have to excuse me, then ... because I don’t speak English too. (Você vai ter de me desculpar então …. Porque eu não falo Inglês também.)

Os restantes começaram rindo. Regina, pega de surpresa, a princípio achou que estava sendo zoada, mas depois a professora se tornou a explicar:

– You know ... my English? (Você entende …. meu Inglês?) – e ela apontou para si própria ganhando um meneio de cabeça por parte de Regina. – Not speak Kizomba. (Não fala Kizomba.) – finalizou.

– Okay. – Regina confirmou, desta vez com um sorriso natural nos lábios. – I'll speak Kizomba then. (Eu irei falar Kizomba então.)

Iolanda alargou ainda mais, se possível, o sorriso, e exclamou um entusiasmado “All right!”

Depois disso desceu do palco, pisando cada degrau firmemente, subindo ligeiramente o vestido comprido que conjugava bem com o lenço da cabeça com a ajuda das mãos. Pediu que se aproximassem dela, fizessem um círculo para que pudessem ter uma vista privilegiada da aula que aconteceria.

– O meu parceiro de dança infelizmente teve outro compromisso e só vai chegar mais tarde. – Iolanda apontou para a figura projetada do homem na tela. Regina imaginou que ela tivesse falando algo sobre o bailarino que naturalmente deveria ser seu parceiro, talvez justificando ele não estar presente. – Então para poder dar a aula eu vou contar com a ajuda de uma amiga … - esticou o braço e uma das mulheres do círculo pegou na mão de Iolanda ficando ao seu lado. – Esta é Samatra.

– Sam. – a mulher interrompeu sorrindo. Seus cabelos estavam presos num coque arrepiado no alto da cabeça. Era dois palmos mais baixa que Iolanda, de coxas grossas, quadril largo, bunda empinada na calça jeans azul escura. Salto alto agulha no calçado, o que dava a certeza que não era somente dois palmos mais baixa que a outra mulher negra. Sua pele, contudo, era ligeiramente mais clara, menos uma colher de chocolate no leite, do que a de Iolanda.

– A aula de hoje é dedicada à Kizomba, mas é importante perceber que a Kizomba como a conhecemos hoje é fruto da fusão entre vários gêneros musicais e passos de dança já existentes em África. – Iolanda falava sempre com um sorriso nos lábios volumosos. Notava-se o quanto estava apaixonada, mesmo sem Regina entender palavra alguma a não ser “Kizomba”. – Por isso é impossível falar na Kizomba sem falar nas danças tradicionais que lhe antecederam e influenciaram: O Semba …. Aliás esta casa onde estamos privilegia o Semba como forma de contribuir para a sua preservação, divulgação e perpetuação. – à medida que falava, levantava a mão fazendo sinal ao DJ para trocar a música. – Temos também o Zouk das Antilhas, Coladeira, Colá-Zouk, Maringa, Kabetula, Kazukuta, e por ai vai. – fez uma pausa, o sorriso mudando de direção até Sam.

Sam retribuiu o sorriso nos olhos expressivos, globos oculares que irradiavam paixão. Regina franziu o cenho. Paixão pela dança seria?

– E a título de curiosidade, alguém sabe o que quer dizer Kizomba? – Iolanda se voltou para os alunos. Houve uma mão levantada de um rapaz novo, branco. – Sim?

– Festa. – respondeu. Iolanda assentiu com a cabeça.

– Kizomba era tradicionalmente a festa do povo. – explicou. – O nome tem origem nas danças dos africanos que resistiram à escravidão. Kizomba originalmente é a exaltação da vida e da liberdade e é por isso que deve ser dançada com o mínimo disto. – apontou para o lenço colorido sobre a cabeça. – … e com o máximo … – moveu a mão para o peito. – disto.

Regina escutava a palavra “Kizomba” sendo harmonizada pela voz da dançarina. Ainda não tinham começado a dançar e já lhe apetecia se perder no ritmo da batucada, do rifar dos tambores, das batidas do coração. Estava ansiosa para viver “Kizomba”.

Como se de fato o seu desejo tivesse sido escutado uma nova música começou tocando, alta, de melodia contagiante, automaticamente fazendo todos se distribuírem pelo espaço seguidos por indicação da dançarina.

– Vamos começar com algo mais comercial para facilitar, okay? – informou, referindo-se à música atual que batia forte. – Por favor, homens do meu lado. Mulheres com a Sam.

Regina se posicionou na fila de Sam, juntamente com as outras participantes, enquanto a fila de Iolanda com os homens ficava de frente para ela e demais damas. Nesse momento olhou por trás do ombro procurando com o olhar Emma que tinha sumido simplesmente. “Ela me paga!”, pensou a morena ao fazer contas mentais sobre o número de alunos ali presentes e concluindo que teria de fazer par eventualmente com algum dos homens presentes.

Iolanda começou por explicar o passo básico que consiste na marcação do um e dois. Logo evoluiu para a base de três. O homem pisava sempre com a esquerda, a mulher com a direita. Mas havia um gingado qualquer que faltava. Iolanda riu de forma graciosa, dando a indicação que os homens não precisavam se preocupar tanto com isso, mas salientando que a o gingado era natural das mulheres.

– Mais sensual agora. – indicou. – Pisa … pisa … não é isto. – esclareceu colocando as mãos na própria bunda ao observar movimentos descoordenados nas alunas. – … é o movimento natural da troca de peso, é perna, não bunda.

As mulheres riram envergonhadas.

– Vaidosas, girls! Isso! – assentiu, voltando a atenção para os homens, alguns com os movimentos bastante presos ainda.

Regina tentava acompanhar os movimentos de Sam, mas internamente só pensava que se ela tivesse uma bunda daquelas talvez não fosse tão difícil fazer movimentos sensuais. No entanto era gostoso por demais aquela batida e não era tão difícil pegar os passos já que acabavam por se tornar quase intuitivos com o ritmo da música. Depois de algum tempo cumprindo os passos, Iolanda pediu para que se colocassem a pares e tentassem fazer a dança social.

Explicou a colocação dos corpos: homem de frente para a mulher, mas ligeiramente na diagonal; mão direita da mulher na mão esquerda do homem e mão direita do homem por baixo das omoplatas femininas e mão esquerda da mulher no ombro masculino. Fez uma gracinha para cortar o gelo, dizendo aos homens que não era suposto a mão descer dali, pois não se conduzia a mulher por baixo da cintura. Todos riram; Regina se viu rindo também porque era perceptível a expressão corporal de Iolanda permitindo o entendimento quase na íntegra do que acontecia.

A condução na Kizomba é feita através do peito, apesar de não ser esse o único contato corporal. Através do tronco, e como a pisada é firme no chão, é possível ao corpo prever a direção que o parceiro quer tomar na dança, no tempo e contratempo presente. Assim, Iolanda esperou Sam vir ao seu encontro e incorporou o papel de condutora, fazendo sinal para que os pares se colocassem na mesma posição das duas.

Regina foi convidada para a dança por um jovem de altura mediana, rapaz agradável à vista e de sorriso branco alegre, pela sua aparência poderia ser natural de Angola ou de algum país vizinho. Assim que ele a tomou em seus braços, a morena teve a certeza que por certo aquilo corria-lhe no sangue.

– Me … - ele disse devagar, tentando um Inglês vacilante. – … mwangolé. – apontou pra si mesmo. – and iuu?

Regina riu com a tentativa do rapaz simpático. Franziu o cenho transmitindo que não havia entendido direito. Ele refez a frase:

– Me …. Angolan and …

– Oh, I’m sorry. I am American.– esclareceu. – Regina. – se apresentou.

Ele alargou o sorriso e disse que o seu nome era Dajan. A seguir se calou e toda a conversa verbal se tornou desnecessária. Regina podia sentir a mão dele nas suas costas, sobre o vestido verde-água, aplicando a força precisa, acoplando desde milímetros da curvatura da coluna, com a ponta dos dedos, até ao centro desta, com a palma aberta, segura. A mão direita de Regina naturalmente escorregou e agarrou o dedão da mão esquerda de Dajan, e ela simplesmente se deixou levar.

Para um olhar inexperiente poderiam parecer complexos aqueles passos básicos, mas quem se deixava envolver no abraço de corpos sentia o quanto tudo era simples, passional e inato. Era apenas mais uma forma de caminhar, com a peculiaridade de ser um caminho traçado por dois corpos em concordância. Uma vez que um deles abdicasse do outro, a dança era trucidada em tropeções e eminência de quedas, causando estranhamento em quem apreciava. E embora os pés traçassem caminhos próprios no chão, a comunicação do trilho a seguir não era comandada por eles e sim pelos corações prensados em cima, peito contra peito.

A batida foi baixando de volume até cessar. Regina espiou pelo canto do olho a professora. Um sorriso de deleite se espalhava pelos lábios encarnados. Tanto ela como Sam tinham os olhos cerrados e os braços de Sam em vez de se postarem como ensinado, estavam antes ao redor do pescoço de Iolanda, num abraço mais intimo. A mais alta, por outro lado, tinha ambas as mãos nas costas de Sam. Sim … aquela linguagem dispensava curso, aprendizado ou ensinamento; era universal e falava todas as línguas. Regina sorriu com a certeza da conclusão a que chegara.

Os corpos se agradeceram e se separaram. Iolanda e Sam sorriram e bateram palmas, homenageando os participantes.

– Thank you very much! – exclamou. – Vocês foram perfeitos. Agora terá uma matiné, uma festa, em que poderão colocar em prática à vontade alguns passos. Mas acima de tudo, é para se divertirem. Obrigada a todos.

Assim que Iolanda concluiu o DJ trocou a música e um novo som, mais marcado ainda, tórrido e arrojado, começou tocando e só aí Regina se deu conta de como o número de pessoas havia aumentado no local. Como se esperassem a aula terminar, a pista encheu-se de pessoas variadas, nativas e estrangeiras, de todas as cores e formas. No mesmo instante, a morena também reparou que um homem magrela, altíssimo e de figurino elegante entrava no recinto se dirigindo a Iolanda.

Ele sorria no característico sorriso brilhante daquele povo e ao chegar perto da mulher de lenço, ele se inclinou levemente e beijou-lhe os lábios. Regina deixou o queixo cair completamente. Ela errara nas suas conclusões?

Samatra que estava ao lado sorria também, não parecia afetada, e depois, acabou também por dar um abraço ao homem recém-chegado.

Regina subiu o olhar até à tela com a projeção dos bailarinos; aquele homem era Dasmara, o parceiro de dança de Iolanda, e pelos vistos, não só parceiro de dança.

– Quem é a bailarina mais quente, uhm? – a pergunta nas costas de Regina pegou-a de surpresa. Ela se virou, vendo uma Emma sorridente que lhe estendia um drink de cor avermelhada. – Estava-te observando. Não sabia dessa magia nos seus quadris.

Regina riu, aceitando a bebida.

– Como não sabia? – perguntou. – Se todas as noites faz amor comigo. – provocou. Emma umedeceu os lábios com a língua baixando o olhar sobre o corpo da morena. – O que é? – chamou a atenção da loira novamente indicando o copo com a bebida que a loira lhe entregara.

– Beijo na boca. – respondeu.

– Não te vou dar um beijo na boca aqui, querida. – a morena revidou, ainda rindo.

– Isso era o que você queria, confessa. – Emma lançou em jeito de troça. – Não … a bebida se chama Beijo na Boca. É vodka, suco de morango e champagne.

– Uhm. – foi um misto de resmungo e gemido ao saborear a bebida aromática.

– Dois. – completou a loira, se aproximando perigosamente. – Não fique assim, sabe bem que eu também queria tanto como você. – piscou o olho, tornando a se afastar.

Regina desviou a atenção por breves segundos de Emma, apenas para procurar uma mesa em que pudessem sentar. Ao encontrá-la a um canto mais reservado da sala, puxou a loira pela mão e encaminhou-se para lá.

– Você não queria dançar? – Emma questionou antes de dar um gole no seu drink.

– Não sei se tenho coragem no meio de tanta perfeição. – revidou, sonhadora, olhando ao redor os corpos serpenteantes na pista. – Olha para eles …

Emma obedeceu, girando o rosto e detendo o olhar alternadamente pelos vários corpos dançantes, sensuais e maleáveis da festa que acontecia diante dos seus olhos estarrecidos pela admiração.

– São lindos. – respondeu apenas.

– São lindos. – repetiu num sussurro a morena por sua vez, seu olhar sendo fisgado pelo lenço colorido mais uma vez.

Iolanda dançava com Dasmara, mas o abraço daquela dança não era feito ao redor do pescoço. Iolanda tinha a mão esquerda no ombro de Dasmara e a direita na mão deste. Eram lindos os dois corpos juntos, os dois esguios e altos, silhuetas incorporadas em roupas de festa e elegância. Dasmara sorria, Iolanda também. Seria algo irresistível naquela dança? Mais forte que qualquer outra vontade? Sorrir assim? A incapacidade de recusar o prazer e deleite? A evidência da irresistibilidade e sedução da vida?

Ambos tinham os olhos fechados. Ambos tinham o prazer escrito nas linhas do rosto negro. Os dois riscavam o chão da pista de dança.

E se tu me tocas ai ai

E se me provocas ai ai

O teu corpo aquece ai ai

E o meu estremece ai ai

Iolanda abriu os olhos ternurentos, mas a ternura depressa se dissipou deles. Regina quis entender o porquê, então seguiu a linha da direção do olhar da bailarina.

E agora agarra

E vem-me beijar

Faz como prometeste

Não estou a brincar

Vem-me mostrar

Se és o que disseste

Samatra. Ela olhava a mulher que se encontrava balançando o quadril no lugar, quase encostada a um dos pilares do recinto.

Os olhos da professora semicerraram. O sorriso adquiriu contornos de um suspiro silencioso e a mão esquerda que estava no ombro de Dasmara deslizou até à nuca do dançarino.

Ai ai

Ai ai

Ai ai

Samatra entreabriu os lábios, mostrando os dentes iluminados num riso contido. Atirou com subtileza a cabeça para trás, o que a fez tocar com ela no pilar nas suas costas. Os quadris largos navegavam nas ondas de um mar melódico e perigoso de gemidos entrecortados. A perna firme, no um e dois, um e dois, pisando com o gingado característico o chão riscado por Iolanda.

Ai ai

E agora agarra

E vem-me beijar

Faz como prometeste

Não estou a brincar

Vem-me mostrar

Se és o que disseste

– Eu sabia! – Regina bramiu alto, não fosse o som da música abafar o seu grito.

Ai ai

– Tá se sentindo bem? – Emma perguntou rindo. – Sabia o quê? – perguntou com o olhar perdido.

Regina não respondeu; em vez disso levou a mão ao queixo de Emma e rodou a cabeça da mulher na direção que ela até então olhava. A loira franziu o cenho, apenas trocando o olhar de Iolanda para Samatra.

– Essa musicalidade toda está fazendo você ver romance em todo o lado. – minimizou.

– Como pode ser tão cega, Emma?! – não podia acreditar que a loira não visse aquilo que estava tão visível. Quase palpável!

– Okay, elas são um casal. – Emma pareceu admitir, mas assim que Regina abriu um sorriso ela completou. – Podemos ir embora agora?

– Emma!!

– Amor, é sério …. – deu um último trago na bebida. – O que interessa o que elas são para você? Quero voltar pro hotel.

– Você tá muito chata hoje. – revidou, emburrada. – Quer ir para o hotel fazer o quê?

Um sorriso safado, demasiado previsível surgiu nos lábios rosados.

– Só te respondo uma coisa… – ao ver o resquício de labareda se acendendo nas íris esmeralda, ela completou com um sorriso cínico. – … vai ficar querendo hoje.

E deu as costas, deixando uma Emma com cara de tonta para trás. Se infiltrou por entre a multidão de corpos com intenção de chegar até ao outro lado do salão, mas antes que o conseguisse fazer uma mão tocou a sua. Virou-se e viu o próprio Dasmara, convidando-a para dançar.

– Oh eu … – vacilou, sem saber se ele ia de fato entendê-la. – …. Eu … no …. Dance. – tentou arranhar o português, sem êxito.

Ele soltou uma gargalhada. Era ainda mais magro de perto. Aproximou-se mais e inclinou o rosto até ao seu ouvido.

– Impossível uma mulher tão linda não dançar. – respondeu em um inglês perfeito, surpreendendo a morena.

– Você fala inglês? – inquiriu de forma redundante.

– Oh yeah! – exclamou. – A dança fala todas as línguas. – continuou, e desta vez, trouxe a mão de Regina até ao seu braço esquerdo, já que o ombro era demasiado alto para ela. – Azembora!

Regina sorriu e deixou, mais uma vez, se levar naquela noite dançante.

*** *** ***

Poderosa

El sabe ma el eh gostosa

Eh por isso k’eh tita abusa

Se andar ta hipnotizam

A última música tocava. Pelo menos para Regina aquela seria a última, já que não aguentava mais dos seus pés. Acabara por se criar uma cumplicidade entre ela, Dasmara, Iolanda e Sam que agora falavam animadamente à volta de uma mesa. O fato do trio falar um inglês correto foi uma surpresa agradável para a morena, mas não maior do que descobrir que afinal as suas suspeitas se haviam confirmado: Iolanda e Sam eram mesmo um casal.

Sam era irmã de Dasmara, e este, por sua vez, mantinha uma relação de fachada com Iolanda.

Poderosa

El sabe ma el eh gostosa

Eh por isso k’eh tita abusa (oh oh)

Se korpinho ta matam

– Eu acho que vou indo. – a morena disse olhando as horas no celular que marcava as quatro da madrugada. – Nem vi as horas passarem. Vocês foram de uma generosidade sem igual para comigo. – levantou-se meio cambaleante, tanto pelo álcool como pelo cansaço. – Vou levar as danças de vocês comigo no coração.

Dasmara foi o segundo a se levantar, seguido das outras duas mulheres. Não deixariam Regina ir embora sozinha aquela hora, até porque Emma havia enviado mensagem avisando que tinha ido para o hotel para grande aborrecimento de Regina. Acontece que a noite havia sido tão deliciosa que a morena fizera questão de não se deixar afetar por uma criancice boba da mulher. E não estava arrependida; tinha tido a oportunidade de conhecer pessoas interessantes e uma cultura totalmente diferente da sua e ainda tinha aprendido a dançar Kizomba. Bem, pelo menos os passos básicos.

– Sendo assim a gente vai com você. Onde está instalada? – foi Iolanda quem perguntou.

– No Epic Sana Luanda Hotel.

– Sério? – exclamou surpresa, trocando um olhar com os outros. – A gente também!

– Vamos juntos. – finalizou Sam.

Pode-pode

Pode-pode

Poderosa
 

Pode-pode

Pode-pode

Poderosa

*** *** ***

Fizeram o check-in na recepção do hotel, mas antes de se despedirem, Dasmara puxou Regina para o lado apanhando-a de surpresa.

– Algum problema?

– Não … com você tão próximo não há um único problema. – respondeu sorrindo, daquela forma macia, aveludada quase, como a velha canção do bandido que espera arrombar o seu cofre de riquezas almejadas. Regina notou a mudança no tom de voz e recuou ligeiramente.

– Dasmara. – pronunciou.

– Regina. – imitou, com os olhos brilhantes, felizes. – Eu gostaria de convidá-la pra …

– Eu não estou disponível. – cortou, já adivinhando o rumo daquela conversa.

Ele pareceu chocado a princípio, depois endireitou-se, colocando mais algum espaço entre os corpos, pois notara o desconforto da morena.

– Não percebo. – declarou pausadamente. Antes que Regina pudesse abrir a boca para desenvolver uma resposta, ele continuou – Como pode então ele não estar com você? Não querer dançar com você é loucura.

Apesar de estar chateada com o que Emma tinha feito, deixando-a sozinha, não conseguiu deixar de rir com a indignação dele.

– Vai entender … – encolheu os ombros desfazendo o sorriso por instantes. – Mas não é ele, e sim ela. Emma é o nome da minha esposa.

Ele esboçou um ar surpreso e depois num ato involuntário desviou o olhar para a irmã e Iolanda que conversavam sobre alguma coisa com o rapaz da recepção.

– Vocês não sabem a sorte que têm. – comentou com a voz distante. Aquilo fez a morena também desviar a atenção dele para as duas mulheres. – Sam não mostra, mas eu sei o quanto dói não poder tocá-la …. – ele falava devagar, com pesar, num tom de voz que não combinava em nada com o entusiasmo e aura daquele povo. – … ela não me fala nada, mas eu sei como dói a ela não poder chamá-la de sua.

A morena fixou o rosto de Sam. O olhar irradiava paixão apenas pelo simples fato de estar na presença da outra mulher. Quando, em conversa trivial, ela passava a mão pelo braço de Iolanda, o toque prolongava-se quase sempre mais do que o necessário. Quando os seus olhos se encontravam parecia existir uma batalha interna constante contra a vontade de permanecerem mergulhadas no olhar uma da outra por tempo infinito.

– Sabe … - ele parecia querer estender o assunto. – … mesmo depois da independência do regime colonial português, ainda assim, aqui se manteve essa questão vedada. Tenho medo por Sam. – tirou o olhar da irmã, disfarçando o olhar trémulo.

– Medo?

– Sim. – confirmou. – Isso … – apontou com a cabeça para as duas mulheres como se temesse colocar em palavras. – … pode ser punido como ato imoral. Imagina falar em casamento, não existe isso em nossa legislação.

Regina ficou sem saber o que dizer. Mas o que haveria para dizer? É … elas realmente tinham sorte, apesar de considerar aquilo “ser sorte” como uma afronta pessoal à sua condição e dignidade humana. Estar em um lugar onde o reconhecimento e aceitação do amor era chamado de “ter sorte” era realmente triste.

Iolanda tinha razão; a Kizomba e todas as outras demonstrações de luta daquele povo não eram mais do que a exaltação da vida e da liberdade; a libertação da escravatura que em tempos ocorreu pela igualdade de cores na pele, agora se repetia pela luta da igualdade das cores no coração.

Um coração não merece tampouco ser escravizado, mas ali, diante de Regina, existiam dois corações escravos do preconceito, e isso, embora pudesse ter o encanto de um romance trágico de Shakespeare, fora da ficção apenas se assemelhava a uma história amarga e descolorida.

– Não foi minha intenção deixar você triste. – a voz de Dasmara retirou a morena dos seus pensamentos. – Elas são felizes do seu jeito. – disse, fazendo um carinho no braço da morena. – O amor sempre dá um jeito.

Regina esboçou um sorriso contemplativo provocado pelo poder daquelas palavras. Foi impossível não pensar em Emma e não mergulhar por instantes na luta travada pela loira com a sua família no passado em prol da defesa do amor pela aposentada Rainha Má. Apesar de todos os trilhos percorridos na direção da redenção, não fora fácil à pequena comunidade de Storybrooke aceitar Regina, ou melhor, o amor da Salvadora por ela. No entanto, Emma fora incansável em demonstrar de todas as formas possíveis que fora justamente esse amor o responsável pela salvação de todos ali. Depois veio a confusão reflectida nos olhares familiares quando a própria morena fez questão de pedir a mão da loira diante dos próprios Charmings, assumindo perante todos que aquele amor não era um capricho camuflado, e sim, um sentimento correspondido mais forte do que tudo aquilo que alguma vez ela vivera.

– O amor sempre dá um jeito sim. – ela repetiu, voltando a sua atenção para Dasmara. – Eu preciso subir. – informou. – Emma deve estar me esperando.

– Emma é uma mulher de sorte. – respondeu, se inclinando para beijar a bochecha de Regina.

Regina sorriu antes de responder.

– Emma não é uma mulher de sorte. – contrariou com serenidade. – A sorte não tem nada a ver com isso … Emma é uma guerreira. – Dasmara assentiu com a cabeça, em silêncio. – Agora preciso mesmo ir. Adorei conhecer vocês.

Acenou com a mão na direção das duas mulheres recebendo um aceno de volta e se preparou para se encaminhar para o elevador.

– Venham nos visitar um dia. – acrescentou Regina, se virando antes de entrar no elevador. – Dar umas aulas de Kizomba, quem sabe!

Dasmara ainda brindara a morena com um último sorriso brilhante, antes das portas se fecharem, e o elevador arrancar para cima.
 

*** *** ***
 

Assim que entrou na suite, se deparou com Emma jogada no sofá, de celular nas mãos, jogando um jogo qualquer.

– Pensei que ia passar a noite fora. – resmungou a loira, sem tirar os olhos do ecrã do aparelho. – Não que tenha faltado muito para isso. – lançou ironicamente.

Regina suspirou pesadamente; como Emma era criança às vezes!

– Quem deveria estar com esse mau humor era eu que fui deixada sozinha na festa. – contrapôs. – Vamos querida, chega para lá, preciso tirar esse salto. – empurrou as pernas da loira que estavam esticadas sobre o sofá e se sentou.

– Você não tava nem aí pra mim mesmo. – contestou daquele jeitinho de menininha abandonada. A morena riu, enquanto acabava de desamarrar a fivela do sapato da perna.

– Isso tudo aí é ciúme, Miss Swan? – provocou, subindo o vestido e cruzando as pernas. – Porque ainda é cedo demais pra ser carência. – continuou, avançando sobre o corpo de Emma, tirando-lhe o celular da mão.

– Uhm.

– Dois. – sussurrou a mulher de feições latinas. As bocas estavam a milímetros de distância, mas antes que a mínima distância se convertesse em nenhuma, Regina promulgou – Eu ensino você.

Emma franziu a testa, subindo o olhar até aos olhos marrons. Não entendeu logo a mulher, mas as íris chocolate falavam com as esmeraldas sem palavras. O chocolate se tornou cacau, a esmeralda, em turmalina verde escura. A mescla do subentendido misturado nas meninas do olho de ambas as mulheres era convidativa.

– E quem lhe disse que eu quero aprender? – o olhar verde bailava pela linha do lábio superior da morena. – Não pense que não notei seu encantamento pela professora lá.

– Você realmente foi embora por ciúmes? – não se riu, pelo contrário, seu semblante adquiriu contornos de extrema seriedade. Emma não respondeu, não moveu um único músculo. Regina se afastou para trás, se sentando em cima das pernas. – Não deveria ter ciúmes.

– Eu fiquei insegura. – disse em voz baixa, uma ponta de constrangimento sendo evidenciada pelo tom de voz.

– Minha querida. – suspirou, uma ponta de tristeza envolvida na voz. – Sabe porquê eu me encantei com tudo que vi hoje?

Emma balançou negativamente a cabeça, interessada.

– O amor, Emma! Era lindo … – e embora sua boca falasse de coisas lindas, seus lábios estampavam a amargura nas linhas fissuradas. – … lindo, e doloroso.

– O que quer dizer?

– Elas eram mesmo um casal. – esclareceu. – Eu me apaixonei pela história, você tem razão, eu fiquei encantada, mas não foi porque eu em algum momento quisesse me envolver com alguém ali. – tentou explicar da melhor forma que conhecia. – Eu olhei para elas, para tudo que estava ali revelado perante os meus olhos, e só conseguia pensar “eu não sei como eu viveria sem ela, sem poder tocá-la … sem poder chamá-la de minha”.

– Ela?

– Você, sua tonta! – exclamou com euforia. – Sabe porquê o bailarino atrasou e não deu a aula? – a loira mais uma vez negou com a cabeça. – Para que Iolanda pudesse dançar com Samatra, a moça que ela chamou para ajudá-la a dar a aula. Foi propositado, um esquema para que elas pudessem se tocar, dançar, estar juntas! Pode sequer imaginar o que é isso?

Emma parecia petrificada. Os olhos de Regina estavam marejados, uma emoção diferente de tudo aquilo que já presenciara acoplou os orbes de cariz vulcânico, deixando-os ainda mais brilhantes.

– Nós temos sorte, eu entendi. – concluiu por fim, rodeando o rosto moreno com as mãos.

Regina soltou uma risada fraca, lembrando das palavras de Dasmara. Duas lágrimas escorreram pelo seu rosto, sendo recolhidas pelas mãos da esposa. Ela sorriu, emoldurada pelas mãos da mulher num quadro que refletia tudo aquilo que apaixonava Emma Swan.

– Eu te amo. – declarou, aproximando o rosto e beijando as pálpebras de Regina.

– Emma. – mordeu o lábio, revelando ansiedade. Se aproximou mais, quase acabando por se sentar no colo da loira. – Deu certo. – a loira não entendeu mais uma vez ao que a mulher se referia. Então Regina deixou que uma das suas mãos fosse ao encontro de uma das mãos da outra no seu rosto e trouxe-a até ao seu estômago. – A inseminação …

– Oh meu Deus! – exclamou num misto de surpresa e descrença. – Isso … isso é sério? – seus olhos desceram até à mão próxima ao ventre da morena. – Você … nós …

Regina balançou afirmativamente a cabeça, os olhos inundados de emoção. Emma tornou a subir os olhos até ao rosto da mulher que sorria num sorriso tão largo que lhe invadia o próprio olhar.

– Eu prometo que não vou deixar você mais sozinha. – garantiu, descendo também a outra mão até ao abdômen da morena ainda sem qualquer proeminência significativa. – Eu prometo que não saio nunca mais de perto de você … e – seu sorriso adquirindo contornos de bobice com a confirmação daquilo que elas já almejavam há tanto tempo sem conseguir. – … e dessa coisinha linda que vai crescer aqui. – frisou, prolongando a massagem por toda a zona pélvica.

– Eu desconfio que vou adorar isso. – retorquiu rindo.

– É mesmo? – o rosto ela aproximou, o hálito ela esbarrou na pele umedecida de alegria.

– Uhm uhm. – murmurou, deixando se embriagar pelo hálito ainda a Beijo na Boca.

Os lábios se encontraram docemente. O gosto doce a morango impregnou e se espalhou na correnteza de saliva que as línguas tiveram a amabilidade de comandar. Os lábios se abriram, se fechando sobre os seus pares, sugando pele, tecendo carinhos caprichosos pelo batom arruinado. Fazendo tremer, estremecer, enlouquecer; de desejo.

– Dança comigo? – pediu, recuando as investidas labiais, se levantando, estendendo a mão para Emma.

A loira nada disse, não era necessário, apenas aceitou a mão que se estendia para ela. Tocou a pele quente, deixou seus dedos escorregarem até às pontas dos dedos da morena, e a seguir, tornou a agarrar a palma por inteiro, quente, suada, escorregadia. Sua. Apertou, e se levantou.

– Me ensine. – rogou ardentemente, quase numa oração desesperada. – Eu quero aprender.

Regina trouxe a mão da mulher até ao estômago mais uma vez, acima do ventre e por baixo dos seios. Emma conseguia sentir o peso suave daqueles seios cujas curvas conhecia de cor sobre a sua mão prensada contra o corpo de Regina.

– Veja se consegue sentir o meu movimento. – sugeriu a mulher de rosto carregado em satisfação. – Vamos no um e dois.

– Uhm. – suspirou ao sentir Regina dando um passo em frente, empurrando a mão postada sobre o estômago com o movimento do corpo.

– Feche os olhos. – sussurrou, um sorriso também de satisfação nos lábios de púrpura arruinado. – E não deixe a pressão diminuir. – explicou ao dar um novo passo, desta vez para trás, o que fez com que Emma afrouxasse a pressão imediatamente, mas a morena, rápida, agarrou o pulso da loira e voltou a restabelecer a pressão no local. – Eu empurro, você empurra. Entendeu?

– Eu não quero te machucar ou ao …

– Você não machuca. – cortou. – Não é uma agressão, querida. – aproximou a boca por segundos e suspirou – É uma dança …. – o tom desceu uma oitava, rouco, embebido em sensualidade espontânea. – … mas você precisa dançar comigo pra ela fazer sentido.

– Okay. – estremecimento.

Era como se de repente tivesse desaprendido tudo o que até ali aprendera com a morena. Era como se pudesse estar pela primeira vez, novamente, com aquela mulher enigmática com quem em primeira instância havia tido tantos atritos no passado, e que mais tarde, todo esse atrito tivesse sido transformado em alívio sob lençóis de amor e luxúria. Era terreno desconhecido embora já o tivesse desbravado tantas outras vezes, mas que agora se apresentava diante de si como uma nova terra por explorar, com os perigos e promessas de um novo amanhecer nos braços da mulher de tez morena. Ela ousou aprender, de novo.

– Um … - o corpo moreno empurrou para a frente a mão de Emma, e por consequência fez esta recuar um passo. – Dois. – o contrário aconteceu, e apesar de no início o corpo da loira não entender que era para avançar, a pouco e pouco, ela foi aprendendo intuitivamente aquele novo idioma.

– Uhm. – gemeu a garganta presa da salvadora, e ela recuou.

– Dois. – recuou Regina, os quadris se manearam para o lado esquerdo.

– Uhm. – recuou, Regina avançou, suas mãos nos quadris da esposa, fazendo força para baixo.

– Sinta o chão. Pise. – indicou, quase ofegante.

Ficaram no balanço de avanços e retrocessos simplista, apenas no um e dois, sentindo todo o peso e grito dos corpos. Toda a festa que se iniciava, borbulhando profundamente no âmago de prazer das duas mulheres, parecia crescer cada vez mais em entusiasmo. Regina subiu as mãos serpenteantes, ansiosas, até ao pescoço da mulher, iniciando o abraço íntimo da dança. Emma retirou a mão do estômago da morena e levou ambas as mãos até à cintura do vestido verde-água, de decote drapeado no busto insinuante.

Ambas se encontravam de olhos fechados; um sorriso de deleite espalhado nos lábios ressequidos de antecipação. A música tocava, batida forte e tórrida, pesada e suave, nos corações prensados um no outro. Regina viajou com as mãos pelas costas semidespidas pela camiseta e circunferências desenhou. Subiu , desceu, tornou a subir, acoplou o osso saliente da coluna, na base do pescoço. Emma desceu a cintura, traçando o perímetro de uma investigação secreta pelas nádegas que dividiam o balanço dos quadris a cada novo passo.

– As mãos não devem descer a cintura na Kizomba. – informou, não fazendo, contudo, nada para impedir o contato.

– Quer que suba? – os lábios rasparam a pergunta no lóbulo da orelha.

Quente. Sedutor. Perigoso.

– Não. – Aconchegante. – Quero que aperte.

Emma obedeceu, apertando os glúteos com vontade, descendo, estendendo as mãos até às coxas que ganharam vontade própria e se separaram mais, quase num divórcio premeditado. Regina empurrou Emma, se encaixando sobre esta no sofá.

– Isto ainda faz parte da Kizomba? – fingiu inocência ao perguntar com o olhar toldado pelo desejo nas esmeraldas diferenciadas.

Regina riu, atirou a cabeça para trás. Emma aproveitou, cravando os dentes no pescoço, mordendo, sugando, gemendo, causando tremores sobre a apele arrepiada e fogo debaixo da saia do vestido verde-água.

– Amor, – chamou, embriagada, doida, flexionada em prazer. – isto – baixou o olhar para o espaço entre as duas. – … são somente os passos particulares da minha Kizomba com você.

– Eu amo – o beijo cortou-a, desesperado. As mãos se afundaram nos cachos loiros, puxando-os levemente. O quadril se sustentou no ar, mas por pouco tempo. O quadril se sustentou contra as mãos que a driblavam, subindo o tecido verde, sentindo o tecido sem costura da peça íntima por baixo. – Eu amo Kizomba!

Regina riu contra os lábios, descendo as mãos pelo pescoço, garganta, colo, contornando seios, até aos braços na lateral clara da pele arrepiada até à raiz dos pelos corporais.

– E eu amo você mais do que tudo nesse universo.

Foi o final de uma noite perfeita nos moldes da imperfeição de uma terra quente, onde o povo é amistoso e a descontração ganha palco, mas que a miséria lhe contrapõe num recanto penumbroso onde ainda existem escravos das necessidades alheias.

Mas em que felizmente,

o amor, essa coisa estranha e indescritível, sempre arruma um jeito de permanecer.

 

 

 


Notas Finais


Então, espero que tenham gostado, assim como eu e assim como eu, novamente, esperem e encham a autora por uma continuação...kkkkkkkkkkk


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