Mesmo que bastante surpreso com meu pedido Noah passou o endereço por mensagem e eu fui até sua casa. Quando entrei em seu quarto pude ver claramente o quadro de teorias desmontado num canto do quarto e seus equipamento do podcast em cima de uma escrivaninha. Ele estava sentado ali com os fones, de frente pra porta, e assim que me viu sorriu tirando os fones e se levantando.
- Desculpe minha inconveniência. - pedi um pouco envergonhada e ele negou com a cabeça.
- Imagina, pode entrar. - o mesmo fingiu uma pequena reverência perto da porta e eu ri entrando.
Olhei em volta e sentei em sua cama, quando olhei para a parede vi uma foto dele com Zoe no carnival. Senti um aperto no coração e ele logo percebeu o que eu havia visto.
- Ela era maravilhosa. - Noah afirmou sentando ao meu lado na cama.
- Sim. - sorri concordando.
- Eu quase não te vi com a Zoe. - ele comentou parecendo um pouco curioso e eu o encarei.
- Você e Brooke roubaram ela de mim. - tentei rir em tom de brincadeira, mas ele percebeu que não era.
- Acho que estou entendendo o porquê de você ter vindo aqui. - o garoto disse com um sorrisinho fraco.
- Você é um menino esperto, Noah Foster. - falei rindo e ele riu junto.
Naquela noite eu contei tudo pra ele, desde a morte da minha mãe quando eu era pequena, como era péssimo estudar no colégio só para garotas, que eu conhecia Rachel e fui eu a mandar mensagem pra Riley aquele dia. Contei que éramos grandes amigas e o quanto eu sofri quando ela morreu, o quanto eu queria justiça e criava teorias do jeito que dava em minha casa mesmo, apenas com meu pai.
Contei como foi difícil e bom ao mesmo tempo mudar de colégio no ano anterior e como a prefeitura havia feito meu pai se distanciar cada vez mais, sobre minha curta amizade com Zoe e minha experiência de paixão platônica pelo Eli -Noah riu nessa parte- e como foi péssimo perder alguém que nem sequer sabia da minha existência -nessa parte Noah ficou mal por mim.
- Eu nunca iria imaginar... - ele abaixou a cabeça, parecendo triste por mim.
- Promete que não vai contar aos outros? - pedi com um olhar receoso.
- Pensei que estivesse me contando tudo isso pra acabar com a dor e poder gostar deles. - Noah me olhou confuso e eu ri.
- Sim, por isso eles não precisam saber de nada disso, quero começar do zero! - afirmei com um sorriso confiante e ele riu, parecendo animado com a notícia.
Passamos o resto da noite fazendo maratona de filmes de terror e discutindo sobre cada detalhe de cada filme.
Depois da maratona nós fizemos perguntas um ao outro sobre nossos filmes e quadrinhos favoritos e passando da meia noite meu pai me ligou.
Por mais que tivesse gostado da ideia de eu finalmente ter feito um amigo, achava que já era muito tarde e foi me buscar na casa de Noah.
[...]
Cheguei à escola no dia seguinte com outro semblante, mais despreocupado. Fui até meu armário e enquanto o abria para pegar o livro de sociologia vi Noah e Audrey se aproximando. Fechei o armário e sorri indo na direção deles.
- Bom dia! - tentei parecer simpática, mas Audrey apenas arqueou a sobrancelha.
- Está brincando comigo?! Num dia nos odeia e no outro vem toda simpática! - a morena se indignou.
- Ei, Audrey, ela não... - antes que Noah pudesse falar eu o interrompi.
- Não odeio vocês. - declarei e ela riu na minha cara.
- Não foi o que pareceu ontem.
A garota saiu andando na frente claramente brava e eu suspirei profundamente enquanto Noah me encarava confuso.
- O que aconteceu ontem? - ele perguntou curioso.
- Eu e Audrey meio que discutimos. - dei de ombros. - Ela me odeia tanto assim?!
- Ela é Audrey Jensen, não é que te odeie, mas...
- Mas odeia. - ri fraco, mesmo que sem achar graça.
- Mas não confia em você! - Noah consertou com um sorriso consolador.
Fomos para a sala de aula e eu sentei na parte da parede como sempre. Noah sentou em uma das primeiras carteiras e eu olhei para trás vendo Audrey sentada com o corpo afundado pra dentro da carteira.
Logo a professora de sociologia entrou na sala desejando bom dia e começou sua aula com algumas explicações sobre a diferença entre psicopatas e sociopatas. Noah como sempre sabia tudo sobre o assunto, mas eu preferi ficar em silêncio apenas admirando a boa explicação do meu novo amigo.
Não me lembro bem ao certo quando me peguei olhando para a Audrey, mas posso garantir que já devia fazer bastante tempo. Ela olhava concentrada para frente, com cara de poucos amigos, mas ela era sempre assim.
O jeito misterioso da garota era algo que sempre havia me feito querer manter distância, mas agora estava me dando curiosidade. Estava com a cabeça deitada na palma de minha mão, o cotovelo apoiado na mesa, olhos fixos na morena de cabelos curtos. E eu não fazia ideia do porquê, mas eu não conseguia parar de olhar.
Depois de Noah ter falado algo engraçado e toda a sala ter soltado gargalhadas eu finalmente vi um sorriso surgir no rosto de Audrey, e caramba o sorriso dela era lindo! Ela definitivamente deveria sorrir mais vezes. Sem perceber acabei sorrindo espontaneamente e a garota virou o olhar para mim um pouco assustada e surpresa, eu por minha vez senti as bochechas corarem de vergonha e virei o mais rápido que podia meu olhar para a professora.
[...]
O dia tinha se passado de forma muito agradável, ao contrário do que eu pensava que seria andando com os "amaldiçoados de Lakewood". Passamos o intervalo rindo muito, enquanto eu, Noah e Stavo discutíamos sobre os clássicos de terror Brooke torcia o nariz em sinal de reprovação e Emma ria mesmo sem entender nada do que estávamos falando. Audrey permaneceu em silêncio o tempo todo, algumas vezes me encarava com certa curiosidade no olhar, talvez se perguntando sobre o que havia acontecido na aula, mas nem eu mesma sabia explicar.
Ao final da aula estávamos indo a pé pra casa, a bicuriosa, o ex virgem e a ruiva bipolar (eu no caso, que num dia declaro ódio a eles e no outro me divirto horrores com os mesmos).
- Então encontro vocês duas em minha fortaleza daqui três horas. - Noah anunciou, sorrindo, antes de entrar em sua casa.
- Até depois nerd! - Audrey bradou rindo e continuou seguindo caminho ao meu lado.
As duas em silêncio, eu não queria começar outra discussão, mas não suportava continuar andando com eles e Audrey ficar desse jeito comigo.
- Se quiser eu não vou. - declarei de repente e ela me encarou confusa.
- Como é?
- À casa do Noah mais tarde, não quero deixar o clima estranho entre a amizade de vocês e sei que você não gosta da minha presença. - disse um pouco receosa com o que ela fosse responder, eu queria muito ir à casa dele mais tarde e passar o resto do dia com eles.
- Como se você gostasse da minha presença. - Audrey arqueou a sobrancelha.
- Depois do choque de realidade que você me deu ontem eu passei a pensar diferente! - e lá vamos nós de novo...
- Não importa, isso não vem ao caso! Você deveria ir, Noah parece estar gostando de você. - a garota deu de ombros.
- Sim, nos tornamos amigos tão rápido que eu... - comecei a dizer e ela parou de andar.
- Não estou dizendo "gostar" desse jeito, e sim algo a mais! - a morena exclamou e arregalei os olhos surpresa.
- O que?! Não! Ele não gosta de mim desse jeito... - fiquei na defensiva.
- A pergunta é: você gosta? - a garota perguntou em sinal de cobrança e eu engoli em seco.
- Nã-não, acho que ele sabe disso... - respondi um pouco receosa, lembrando de nossa conversa na noite passada e que eu havia falado sobre Eli.
- Ótimo. - Audrey disse simplesmente e eu ergui a sobrancelha.
- Ótimo? - questionei sem entender. Ela me encarou por alguns segundos e apenas assentiu sem dizer mais nada.
Quando já estávamos nos aproximando da casa dela, ainda andando em silêncio, eu pensava no que fazer. Seguir reto sem dizer nada? Dar tchau? Parar em seu portão esperando ela dizer algo?
- Larissa. - Audrey chamou quando eu já ia passando direto por sua casa, virei-me um tanto quanto esperançosa.
- O que foi? - perguntei me aproximando.
- Por quê estava me encarando na aula hoje? - a garota cruzou os braços, com bastante curiosidade transparecendo em seu olhar. Engoli em seco e soltei um longo suspiro, nem eu sei caramba!
- Eu não sei, você é uma ótima visão. - respondi dando de ombros e quando me dei conta do que havia falado arqueei a sobrancelha confusa comigo mesma.
- O que disse?? - Audrey parecia bem pasma, quase que segurando a risada.
- Realmente não faço ideia do que estou falando! - ri fraco tentando disfarçar. - Preciso ir, até mais tarde. - saí dali andando a passos largos e rápidos.
Minhas bochechas com certeza deveriam estar coradas, que diachos eu havia falado? Aquilo não fazia sentido nenhum. Acabei por rir de mim mesma até ouvir meu celular tocando. Peguei-o de dentro da bolsa e era uma mensagem de número desconhecido:
"Pelo visto a garotinha está tão solitária que até se colocou na berlinda da morte andando com os amaldiçoados de Lakewood. Haha, cuidado com o que conta a eles. Xx"
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