"Recently, I've been questioning my own existence more than I should... Maybe it's because I'm in love"
- Por que? - tirei o pingente de dentro do bolso da calça, mostrando a ele, e entrando no quarto a passos lentos.
Ele arregalou os olhos, parecendo não acreditar no que via. - Ainda tem isso? - aquela voz rouca mexia comigo como se eu tivesse passado anos sem lhe ouvir falar todas as vezes que ele abria a boca.
- Estava remexendo as coisas que não havia tirado da mala quando me mudei pra cá, e encontrei isso... - olhei para o colar - Me trás tantas lembranças.
- Lembranças boas? - perguntou, com um mínimo pingo de esperança no olhar. O tom que ele usou ao fazer aquela pergunta quase me fez ter pena de respondê-la.
- Como se alguma lembrança que eu tenha com você seja boa. - disse, seca - Sequer se lembra de quando me deu isso? - eu já sabia da resposta, mas quis no mínimo confirmar.
- Lembro de no dia seguinte te ver usando, e perguntar como o conseguiu, mas não lembro do dia exato. - exatamente como eu imaginava.
- Pois é. Esqueceu de mencionar que no dia em que me deu isso era natal, e você bebeu tudo o que tinha direito, logo depois disso me bateu até eu gritar por socorro, e me deixou em um quarto, até o dia seguinte, quando estava sóbrio, e havia esquecido o que fizera na noite passada, como todas as vezes fazia. - ele ficou calado, sem expressão, e abaixou a cabeça.
- Eu só vim perguntar... Por que? - mostrei o cordão novamente, balançando-o em frente ao meu rosto.
- Eu ganhei isso do meu avô - ele começou - e meu avô ganhou isso da sua esposa. No dia em que ele me entregou isso, disse pra eu dar a alguém que significasse tanto pra mim quanto a coisa mais importante da minha vida. Eu dei a você, porque você é, foi, e sempre será tão importante pra mim quando música. - ele aproximou-se de mim, pegando em minha mãos, e logo em seguida me dando um abraço, e me envolvendo por completo.
Mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de tantos anos, senti-lo tocando em mim ainda me causava arrepios, mas não da forma boa. Éramos apenas nós dois, sendo observados pela luz do sol do lado de fora do quarto e pelo único objeto ali: o piano. Baekhyun havia saído do quarto em algum momento no meio da conversa, porque ele sabia que não era uma boa ideia ficar ali.
- Eu já disse que quero me desculpar. - aquela voz rouca sussurrava, em um tom baixo, para apenas eu escutar. - não faz ideia do quanto eu me sinto um lixo todas as vezes que me olho no espelho. Não faz ideia de quantos pesadelos eu já tive relacionado a isso. Não faz ideia do quanto eu me arrependo. Pedra de Jade, você, uma das pessoas mais inteligentes que eu já tive o prazer de conhecer, deve entender, certo? Lembro-me que você sempre via o ponto de vista de todos antes de tomar qualquer decisão, e eu amava isso em você. Pense, pense o quanto tudo poderia ficar melhor agora. - Suas mãos, que estavam em meus ombros, foram até minha cintura, e uma delas veio até meus cabelos, puxando minha cabeça para mais perto da curva de seu pescoço.
Novamente, aquele perfume inconfundível.
Naquele momento, eu comecei a sentir algo, um calor começou a subir pelas minhas costas, e sentia meu rosto ficando quente, e minha cabeça começara a pulsar.
Eu já havia sentido aquilo uma vez, no dia em que eu decidi dar um basta a tudo aquilo.
Era raiva.
Empurrei-o com todas as forças que tinha, e meu corpo foi impulsionado para trás, batendo com as costas na porta atrás de mim. Nós dois ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu estava com a cabeça abaixada, meus olhos fechados, e os punhos também, segurava o colar na mão esquerda, apertando com tanta força que eu pensei que poderia quebrá-lo.
Dei um soco na porta, que fez um barulho extremamente alto, assustando-o. Eu continuava com a cabeça baixa, e meus olhos começavam a arder.
Naquele momento, não sei descrever o que eu sentia, era uma mistura de raiva, ódio, frustração, medo e cansaço, era tudo, e ao mesmo tempo nada, um furacão de sentimentos. - Nós tínhamos tudo, Chanyeol. - comecei a falar, e parece que todos aqueles sentimentos acumulados dentro de mim começaram a transbordar em forma de palavras. - Lembra como éramos felizes? - levantei a cabeça, olhando em seus olhos. Ele ainda estava assustado. - O mundo era nosso, nós tínhamos ele na palma da nossa mão, mas não era o mundo das outras pessoas, era o nosso próprio mundo. Nós o construímos, da nossa forma, à nossa imagem. Mas você o pegou e o jogou fora, jogou tudo pro ar, nossas esperanças, sonhos... Lembra quando planejamos comprar uma casa? Ter nossa vida independente... - eu odiava chorar, e resistia ao máximo quando sentia vontade de fazê-lo, mas era incrível como a simples menção do nome dele fazia meu corpo inteiro tremer. As lágrimas apenas não se controlavam, mesmo que eu lutasse muito para que elas não saíssem. - Sabe por que não daria certo de novo? Porque todas as vezes que encostasse em mim, eu ia sentir todas as cicatrizes e tatuagens pelo meu corpo arderem, lembrando de cada toque seu. Eu lembraria de seu rosto, as expressões que fazia, era doentio, e ao mesmo tempo era de dar pena. Park Chanyeol, o que eu sentia por você era amor, mas a partir do momento em que você levantou essa mão pra mim pela primeira vez, todo aquele amor transformou-se em medo. - levantei a barra da calça, mostrando uma cicatriz no meu tornozelo causada pelo acidente. - Mas eu nunca notei isso, e quando eu notei... Era tarde demais...
Ele nem sequer se movia, seus olhos, focados nos meus. A boca entreaberta, o cenho levemente franzido, e a luz do sol vinda da janela atrás dele iluminava sua silhueta. Tirando o fato de que era a pior pessoa que eu já havia conhecido na vida, Park Chanyeol era incontestavelmente um dos garotos mais bonitos que eu já havia tido o prazer de ver. Como eu já disse, se sua personalidade não fosse podre, ele seria literalmente perfeito.
Me aproximei dele, parando em sua frente, e entregando o colar em suas mãos. - o meu medo transformou-se em raiva, e a raiva transformou-se em ódio... Eu te odeio. - eu pude sentir a dor em seus olhos. A forma como ele me olhou... Sua expressão praticamente gritava que ele estava desesperado, mas seu orgulho era grande demais para que ele dissesse que não queria que eu o deixasse. Virei-me, indo em direção à porta, e a abri. - Ah, e dê esse colar a alguém que te mereça e te queira, porque a única forma que terá de ver meu rosto a partir de hoje será por fotos. Adeus, Park Chanyeol.
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