Mark caminhava animadamente pelas ruas de Seul. Mesmo cansado devido ao seu estágio, estava muito feliz em como estava se dando bem com música e na produtora, mesmo que fosse um mero assistente. Seu chefe estava sempre elogiando seu trabalho e em pouco tempo já estava integrado com o pessoal do seu setor.
Se sentia leve e feliz em como as coisas estavam caminhando na sua vida, nem mesmo I Smile, do Day6 que tocava alto em seus fones, não estavam deixando ele carente e com vontade de chorar tomando sorvete de melão com hortelã. O caminho até seu apartamento já era conhecido e, como de costume, parou na padaria da esquina para tomar um café e comer um pão recheado com feijão vermelho, seu favorito. Enquanto checava suas redes sociais, notou uma movimentação estranha do lado de fora e foi surpreendido pela chuva que começara a cair.
- Não havia previsão de chuva para hoje! O tempo estava tão aberto, não havia nem nuvens! - disse o garçom para Mark
- Não sou nenhum meteorologista mas isso está bem estranho... Olhe! Está ficando mais forte! Merda, vou ter que ir correndo agora
- Não quer esperar essa chuva passar um pouco? - disse o atendente sem tirar os olhos do lado de fora da padaria
- Não, vai que piore. Aqui está, Youngjae. Obrigado e tome cuidado ao sair do trabalho com esse tempo - acenou para o mais novo e se preparou para enfrentar o início da tempestade que ocorria lá fora.
Cobrindo a cabeça com seu capuz, agarrou a bolsa às costas e saiu correndo em direção ao seu prédio, que ficava a três quadras virando a próxima esquina. Apertou o passo e quanto mais se aproximava de seu prédio, mais forte o vento batia contra seu corpo, fazendo-o ter dificuldades para andar em linha reta.
Faltando exatamente uma quadra, foi empurrado pelo vento e acabou tropeçando em umas latas de lixo que ficavam no beco em que se encontrara. Aproveitou que o vento não o empurrava mais e procurou por ali uma cobertura para aguardar a chuva diminuir e foi quando viu que entre as duas construções, mais ao fundo, havia uma pequena área coberta.
Aliviado, foi com cuidado se aproximando de lá, porém o barulho de risadas e xingamentos o fez hesitar por um momento, porém tarde demais para não chamar atenção de um grupo de caras que estavam sentados entretidos com algo. Estavam todos de jaqueta e calça preta, as blusas por baixo variavam. Eram em 6 e assim que notaram Mark, tomaram uma postura séria.
- Tá fazendo o que aqui moleque? - aquele cara devia ter uns 2 metros e parecia um armário. Sua voz grossa fez Mark repensar nos erros que tinha cometido na sua vida inteirinha.
- E-eu só estava...só estava... - se tremia de frio ou de medo não importava, Mark estava cagado
- Estava o que, hã? - 4 dos 6 caras se levantaram. Pareciam uma gangue. Os dois que ficaram para trás, Mark notou que um possuía um riso divertido e um tanto maldoso em sua direção, já o outro agora estava apenas encostado na parede, com uma perna e a cabeça apoiada na mesma e mantinha os olhos fechados
- Fu-fugindo da chuva. E-eu não que-queria atrapalhar o contrabando de vocês, podem continuar eu...eu to indo ali... - Mark deu um passo para trás, o que foi um erro pois os caras já estavam ao seu redor o encarando e impedindo sua passagem de volta às ruas.
- Ora ora... quem é você é porque nunca tive o prazer de ter ver antes - o que estava sorrindo antes para Mark agora andava na sua frente e passava o dedo pela lateral de seu rosto e o analisava. Ele possuía fios negros, um rosto parecido com o de um príncipe cruel mas bonito e, ao contrário dos demais, não possuía um piercing na orelha
- Bem, eu...não sou muito desse negócio de gangue sabe. Pessoal do Green Peace sempre pareceu mais caloroso - Mark estava tão nervoso que nem estava se dando conta do que falava, porém o moreno riu.
- Você é uma graça. Parem de intimidar ele. Venha jogar conosco. É um jogo simples que todo adolescente conhece. Se vencer, deixamos você ir.
- E...e se eu perder? - engoliu em seco com o sorriso estranho que o outro lhe deu
- Veremos...Seu nome?
- Mark Yien Tuan
- Podia ter falado só o primeiro, não vamos fazer um cartão pra você. Sou o Jinyoung. Esses são Billy, Ray, Kevin e Jorginho. E esse é-
- Não. - o cara da parede disse e um trovão caiu, deixando Mark arrepiado. - Ele só vai saber quem eu sou se ele desejar.
Sua voz não era tão grossa mas ainda sim possuía charme. Era alto e magro, seus cabelos eram avermelhados e caiam levemente nos olhos que ainda estavam fechados. Possuía uma pintinha logo abaixo de um olho e aparentava ser mais novo que Mark. Não tendo muito tempo para analisar o de cabelos avermelhados, Tuan foi empurrado para o chão em frente à um monte de cartas. Conhecia o jogo, mas olhando para aqueles caras, não tinha certeza se jogariam da mesma forma.
- Jogaremos nós 4, eu, você, Billy e Jorginho. Cada um por si. Você conhece o jogo, certo? - Conhecer o jogo? Mark era o melhor quando se tratava de Truco. Tinha cartas na manga e sabia blefar como ninguém. Podia estar parecendo um pateta por fora, mas já tinha traçado o perfil e fraquezas de todos ali. Bem, quase todos.
- Eu acho que lembro ainda como joga- disse como se estivesse inseguro o que fez com que os demais se encarassem vitoriosos.
Mal sabiam que o próprio diabo estava à frente deles.
- Eu vou jogar com ele. - outro trovão, mas dessa vez no exato momento em que o ruivo abriu os olhos, mostrando orbes castanhas. Não possuía nenhum traço em seu rosto, o que dificultou um pouco a leitura que Mark fazia. - Sozinho.
Uma energia correu sobre as veias de Mark, fazendo com que se arrepiasse. Sentia o cheiro da adrenalina do jogo de longe, e adorava desafios.
- Te-tem certeza? Eu não posso pedir ajuda nem pro grandão ali?
- Chefe, você vai mesmo enfrentar um cara...- antes de continuar, Jinyoung o analisou com uma cara de nojo e tédio- assim? Não vai ter nem graça.
- Veremos - e um leve sorriso lateral se formou nos lábios do maior, sumindo segundos depois.
As cartas foram entregues, 3 para cada e a carta que virou ao centro fora um 5, significando que o 6 era o mais forte do jogo. Mark notou um As de copas, uma Dama e um 6 de spadas em sua mão, mas isso não o deixou confiante. O olhar do outro sobre si queimava sua pele, como se estivesse revirando todo o ser de Mark para descobrir suas fraquezas, medos, tudo.
- Antes me diga, Mark, qual sua idade?
- 24 e a sua?
- Você tem certeza que quer entrar nesse jogo? - não fora um flerte, nem de longe, mas Mark sentiu um arrepio na nuca e uma curiosade sobre aquele à sua frente começar a surgir dentro de si.
- E-eu acho que sim
- Vamos jogar uma vez e depois você decide. Você começa.
Mark começou jogando seu As para forçar o adversário a jogar uma carta forte. Não que queria impressionar o cara a sua frente, mas queria. Conseguia já ler suas jogadas e o jogo bem havia começado. Se bem tinha entendido aquele papo todo, o mais alto estaria apenas testando até onde iria, facilitando a primeira jogada.
A primeira rodada seria sua.
O mais alto entre os dois jogou exatamente o que Mark imaginava, um 2, matando seu Às e tornando com um 7.
“Previsível”, Mark pensou.
- E-eu posso pedir uno?
- Truco - disse Jinyoung revirando os olhos
- Isso... posso? - Mark abaixou a cabeça levemente porém manteve o olhar no adversário que o observava friamente.
- Se é o que deseja - disse sem expressão
- Truco... - Mark soou nervoso e inseguro. Ouviu os grandões comentarem atrás de si “O garoto já era”, o que fez seu interior se agitar de excitação. Queria logo a resposta para seu truco, queria acabar com aquele primeiro jogo ali e voltar pra casa. Mas acima de tudo, queria ver a cara de surpreso no seu adversário.
- É, eu desisto. Não tenho nada. Você ganhou. Deixem ele ir. - o avermelhado disse se levantando
Mark manteve uma cara de alívio mas por dentro estava incrédulo. Como um cara com esse ar de superior e de chefe tem coragem de sair de primeira de um jogo?
Assim que se levantou também, notou a chuva diminuir radicalmente, se tornando uma leve garoa.
- Não pense que isso foi sorte, hyung. Sabemos que não foi. Só não apareça mais por aqui, você não sabe direito como jogar. - O mais alto lhe lançou um pequeno sorriso, um tanto desafiador. - Não se faça de ingênuo. Sei que não é. Pode ir embora. - virou as costas e começou a caminhar mais afundo do beco, deixando Mark um tanto quanto incrédulo para trás.
Jinyoung passou por ele e deu um sorriso e uma piscadela, enquanto os outros só seguiram o outro como se fosse um chefe.
Virando-se para ir embora também, ouviu ao longe:
- Yugyeom. Se seu desejo era saber meu nome.
Um frio se instalou no interior de Mark.
Yugyeom.
“Saiba que não estou satisfeito com esse jogo. Eu voltarei” pensou Mark, virando e saindo logo em seguida do beco.
Um pouco mais atrás de seus comparsas, Yugyeom olhou para onde o menino de cabelos cor de areia saiu e sorriu divertido.
- Estarei te esperando, Mark hyung.
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