Harriet POV
- Então - falei e me sentei em frente à eles - o que temos?
Nós três estávamos em uma cafeteria.
- Uma garota saiu para nadar e desapareceu - Dean disse circulando a matéria no jornal em sua frente.
- E? - insisti.
- Pode ser um dos nossos.
- Espera - falei e me arrumei na cadeira - nós já não tínhamos um caso?
- Não.
- Vocês disseram que sim - falei e Dean me olhou - e é por isso que eu estou aqui.
- Ah, é? Achei que era porque você não resistia aos meus olhos - ele brincou e eu não demonstrei reação alguma - Sam achou que você não merecia ficar sozinha por aí e então decidiu convidar você para ficar com a gente por um tempo.
- Como é? - falei e olhei para Sam.
- Não foi bem assim - Sam disse, sem jeito.
- Sinceramente - Dean continuou - eu acho que ele tem uma quedinha por você mas ele não consegue verbalizar isso.
- Dean! - Sam repreendeu o irmão e eu levantei uma sobrancelha, olhando para Sam - não é isso. Olha - ele disse sem jeito - Dean concordou que você ficasse.
- É - Dean respondeu sem me olhar - eu não acho que você consiga correr de todas as criaturas sobrenaturais e sair ilesa - ele me olhou com um sorriso de canto - você precisa de um salvador também.
- Isso só pode ser brincadeira - falei e cruzei meus braços, olhando para fora da janela.
Nesse instante, uma garçonete apareceu na nossa mesa, a qual Dean olhou com uma cara safada de quem gostava do que estava vendo.
- Posso pegar mais alguma coisa para vocês?
- Só a conta, por favor - Sam disse e ela saiu.
- Qual é, Sam - Dean respondeu - nós podemos nos divertir de vez em quando e aquilo - ele disse e apontou para a garçonete - é um exemplo de diversão.
Eu olhei para Dean com a cara fechada e ele olhou para o jornal.
- Aqui - ele disse batendo no jornal - Lago Manitoc, Winsconsin. Como eu disse, a garota, Sophie Carlton saiu para nadar e não foi mais vista nem nada. Eles até extraíram a água do lago, mas nada de encontrarem ela. E, pelo o que diz aqui, ela é a terceira atacada naquele lago esse ano. Nenhuma das vítimas teve seus corpos encontrados.
- Aqui diz que ela teve um funeral há dois dias - Sam disse ao ler a notícia - ah - ele suspirou quando acabou de ler - com o caixão vazio.
- Deve ser para algum tipo de conforto psicológico - Dean comentou.
- Pessoas não somem assim - Sam disse - outras pessoas é que param de procurar.
Eu fiz uma careta tentando entender o enigma por trás das palavras de Sam.
- Há algo que queira dizer? - Dean perguntou ao irmão.
- Papai - Sam disse - nós estamos cada vez mais longe dele.
- E você quer fazer o quê? - Dean perguntou, visivelmente irritado.
- Alguma coisa! Qualquer coisa!
- Quer saber? Eu tô é cansado dessas suas atitudes. Acha que eu não quero achar o papai tanto quanto você? Eu fiquei com ele todos os malditos dias dos últimos dois anos enquanto você foi para a faculdade. Nós vamos achar o papai, mas até lá, vamos matar todo o mal que encontrarmos pelo caminho, entendeu?
- O melodrama acabou? - perguntei e Dean me olhou - a gente devia investigar isso.
- Vamos - Sam disse e se levantou, saindo dali.
Dean levantou-se e pagou a conta enquanto eu me levantava e arrumava minha mochila nas costas. Assim que eu levei a mão na direção da maçaneta, Dean pegou-a, impedindo que eu abrisse a porta. Eu suspirei e olhei para ele.
- Vai ficar emburrada? - ele perguntou e eu sustentei seu olhar.
- Eu não tô emburrada - respondi.
- Tá sim - ele disse e eu revirei meus olhos.
- Bom, você mentiu pra mim.
- Desculpe - ele disse depois de um tempo e eu o olhei.
Ele continuou me encarando e eu levei minha mão até a sua, que estava na maçaneta. Ele desviou seu olhar para minha boca e eu tirei sua mão da maçaneta enquanto eu me concentrava em seus olhos verdes. Quando ele começou a chegar mais perto, eu sorri e abri a porta, saindo dali.
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Nossa primeira parada era na casa da vítima.
Dean estacionou o carro e nós descemos, andando até a casa.
- Will Carlton? - Dean disse e nós nos aproximamos do rapaz, irmão da garota que morreu - nós somos do Serviço de Animais Selvagens. Sou o agente Philips, ele é o agente Harlen e ela é a agente Stevens. Podemos conversar sobre o que aconteceu?
O rapaz concordou e nós seguimos ele até o lago, onde eu percebi um homem sentado em uma cadeira, na plataforma de madeira que seguia para dentro da água.
- E então - falei - como isso aconteceu?
- Ela estava há uns cem metros - ele disse apontando para o lago - foi onde ela foi afogada.
- Tem certeza que ela não se afogou sozinha? - Dean perguntou.
- Sim - ele respondeu - ela era uma excelente nadadora. Praticamente cresceu naquele lago. Ela estava tão segura aqui quanto na banheira.
- Não encontraram algum sinal de sangue na água, ou algum sinal de um possível ataque? - Sam perguntou e Will negou.
- Não. Como eu disse, não havia nada.
- Você não percebeu sombras na água? - perguntei - ou algo misterioso surgir na superfície?
- Não, ela estava bem lá.
- Viu alguma coisa rastejando pela margem? - Sam perguntou e ele negou.
- Não. O que acham que é?
- Avisaremos quando nós soubermos - Dean disse e começou a se distanciar.
- E seu pai? - perguntei apontando para o cara sentado perto da água - será que ele não tem alguma informação que possa nos ajudar?
- Não me leve a mal - Will disse - mas ele não conversa com ninguém.
- Ele não viu alguma coisa? - insisti e Dean colocou as mãos em meus ombros.
- Obrigado pela ajuda - Dean disse, puxando-me - nós já estamos de saída.
Eu sorri, sem graça, e andei na direção do carro.
- A gente devia ir pra delegacia investigar e descobrir mais coisas - falei.
- Vai com calma - Dean disse abrindo a porta do carro - as coisas não vão se resolver assim tão fácil.
- Nós precisamos saber - continuei - se for alguma coisa do mal mesmo, pode haver mais vítimas a qualquer instante.
- Ok, diminua o ritmo - ele respondeu - nós vamos resolver.
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Nossa próxima parada foi a delegacia. Nós três estávamos parados em frente à mesa do xerife, que olhava desconfiado para nós.
- Mas, por que o Serviço de Animais Selvagens estaria preocupado com um simples acidente? - ele questionou-nos.
- Tem certeza que foi um acidente? - perguntei e ele me olhou - Will disse que viu algo agarrando a irmã.
- E o que vocês acham que é? Não existe nenhum animal carnívoro grande o suficiente para matar uma pessoa lá. A não ser que seja o monstro do Lago Ness - o xerife disse e Dean soltou uma leve risada, sendo repreendido com o olhar por Sam - o garoto está traumatizado. A mente pode pregar peças de vez em quando. E, além disso, nós drenamos o lago e não achamos nada lá.
- Mas já é a terceira vítima esse ano - falei.
- Eu sei. São o povo da minha cidade. Eu me importo com eles - ele disse e eu ergui uma sobrancelha, olhando-o - de qualquer forma, isso não vai durar muito tempo.
- O que quer dizer com isso? - Sam perguntou.
- O fechamento do lago, é lógico.
- Claro - falei - o fechamento.
- Será uma reserva. Assim os federais nos dão dinheiro e poderão abrir o vertedouro. Não haverá muito do lago em alguns meses. Mas vocês já sabiam disso, não é?
- Com certeza - Dean respondeu.
- Desculpe, estou interrompendo? - uma mulher disse aparecendo na porta - posso voltar depois.
- Senhores - o xerife disse - e senhorita - ele me olhou e nós nos levantamos - essa é minha filha.
- Prazer em conhecê-la - Dean disse apertando a mão dela - sou Dean.
- Nancy Malvey - ela respondeu, cumprimentando-o.
- Serviço de Animais Selvagens - o xerife disse à filha - sobre o lago.
- Ei - Dean disse para uma criança que apareceu atrás de Nancy - qual seu nome?
O menino não respondeu e saiu da sala, seguido por Nancy.
- O nome dele é Lucas - o xerife disse e nós olhamos para ele - ele está passando por um momento difícil. Todos estamos - ele andou até a porta e suspirou - se eu puder fazer mais alguma coisa por vocês, é só falar.
- Já que disse - Dean falou - sabe de algum hotel com um preço razoável?
O xerife olhou para Nancy na recepção e ela respondeu:
- Motel Lakefront. Vire a esquina. É a duas quadras.
- Se importa de ir com a gente? - Dean perguntou e eu revirei meus olhos.
- Obrigada pela atenção, xerife - agradeci e me virei, saindo da delegacia e andando até onde deveria ser o hotel enquanto Dean ia mais atrás, conversando com a moça.
Peguei um quarto e Sam me esperava na porta. Nós entramos e começamos a pesquisar, sem dizer uma palavra. Eu me sentei em uma das duas camas que haviam ali, encostando-me na cabeceira, ficando com o notebook sobre um travesseiro em meu colo. Sam sentou-se na cama ao lado, digitando em busca de mais informações.
Dean apareceu minutos depois, olhando-nos com uma cara estranha.
- E aí? - Dean disse - acharam alguma coisa?
- Foram três vítimas esse ano e seis nos últimos 35 anos. Nenhuma teve o corpo encontrado. Mas no caso de ser um monstro mesmo, tipo do Lago Ness, teriam vários testemunhos, mas aqui temos quase nada - Sam disse e Dean me olhou.
- Espera - falei tentando ligar os fatos com os dados que eu havia achado - a filha do xerife tinha o sobrenome Malvey, certo? - Dean assentiu, um tanto quanto desconfiado - a vítima de maio se chamava Bryan Malvey - os fatos se ligaram e eu tive uma espécie de explosão de informações, digitando rapidamente para confirmar minha suspeita - e adivinha? Ele é o marido de Nancy, pai do Lucas - abri a reportagem sobre o acidente e virei o notebook para eles, mostrando a foto de Lucas - segundo a reportagem, ele levou Lucas para nadar. O garoto ficou na plataforma de madeira quando o pai se afogou - eu olhei-os e sorri - temos a nossa testemunha.
- Faz sentido o garoto estar tão assustado - Dean disse e eu assenti - vamos falar com ele.
- Pode ir - falei - vou continuar pesquisando.
Dean abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas desistiu, saindo do quarto.
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Eu e Sam continuamos pesquisando, mas não encontramos muito mais do que já havíamos achado. Paramos com a nossa pesquisa e Sam saiu para comprar uma pizza, a qual nós comíamos quando Dean retornou ao quarto.
- Conseguiu alguma coisa? - perguntei e Dean mostrou um desenho de uma casa antiga com um barco ao fundo - que isso?
- Lucas desenhou e me entregou - Dean respondeu e dobrou o desenho, colocando-o no bolso do casaco, sentando-se ao nosso lado para devorar a pizza.
- Ele não disse nada? - Sam perguntou e eu peguei mais um pedaço da pizza, enchendo-a com ketchup.
- Não - ele respondeu e mordeu um pedaço da pizza - a mãe dele disse que ele está em stress pós-traumático - ele disse com a boca cheia.
- E você tem ideia do que o desenho significa? - perguntei e ele me olhou.
- Ainda não - ele respondeu - mas vou descobrir.
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Na manhã seguinte, Sam havia saído para comprar nosso café e eu estava sentada em uma cadeira, com as pernas sobre a cadeira em minha frente, comendo o último pedaço de pizza que havia sobrado. Dean dormia em uma das camas.
- Parece que Nessie aprontou de novo - Sam disse, entrando no quarto, colocando as sacolas com comida na minha frente. Eu olhei-o e fiz sinal para que ele continuasse - Will Carlton está morto.
- Quê? - falei e Dean se sentou na cama, com cara de sono.
- Afogado? - Dean perguntou e Sam assentiu.
- Na pia - Sam disse e eu suspirei.
- Não é uma criatura então - concluí - é outra coisa.
- Tem algo em mente? - Dean disse e se levantou, dando tapinhas nas minhas pernas para que eu as tirasse da cadeira e ele pudesse sentar.
- Alguma coisa que possa controlar a água? - falei em tom de pergunta.
- Água que vem da mesma fonte - Dean disse e pegou um x-burguer da sacola, dando a primeira mordida.
- O que quer que seja, está tentando ganhar tempo - falei - o lago vai ser drenado. E sabemos que, se consegue atravessar os canos, provavelmente teremos uma nova vítima a qualquer momento.
- E sabemos que está ligado à Bill Carlton - Sam disse referindo-se ao pai de Sophie e Will - eu andei perguntando. O pai de Lucas era afilhado de Bill.
- Beleza - Dean disse - vamos fazer uma visita ao Sr. Carlton.
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E lá fomos nós novamente até a casa dos Carlton e, como eu esperava, Bill estava sentado na plataforma de madeira, fitando a água.
- Olá, Sr. Carlton - falei ao me aproximar - gostaríamos de fazer algumas perguntas. Somos do Serviço de Animais Sel…
- Não me importo sobre quem vocês são - Bill respondeu - e não vou responder nenhuma pergunta hoje.
- O seu filho afirmou ter visto algo no lago - Dean disse, ignorando o comentário de Bill - e você? Viu alguma coisa nele? Sophie morreu afogada, e agora Will. Achamos que pode ser algo relacionado à sua família.
- Meus filhos se foram - o homem respondeu - e… É pior do que morrer. Só vão embora, por favor.
- Tudo bem - falei e suspirei, frustrada - sentimos muito por sua perda - eu disse e me virei, saindo dali, seguida por Sam e por Dean.
- Acho que ele está escondendo alguma coisa - Sam disse e eu olhei para a casa de Bill.
- Dean - eu disse - o desenho - ele me entregou o papel e eu ergui o desenho na altura de meus olhos - talvez nós tenhamos alguém que tem informações interessantes - mostrei o desenho aos rapazes e eles notaram de cara que era a mesma casa do desenho de Lucas.
E, obviamente, nós fomos até a casa de Lucas.
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- Não acho que seja uma boa ideia - Nancy disse assim que nós perguntamos se poderíamos falar com Lucas.
- Me dê só alguns minutos - Dean insistiu.
- Ele não dirá nada - ela respondeu - como isso pode ajudar?
- Nós achamos que tem algo acontecendo no lago - falei e ela me olhou - e mais pessoas podem se machucar.
- Meu marido - ela disse - os outros, eles só se afogaram.
Ela relutou por mais um tempo e, por fim, nos deixou entrar.
Dean foi falar com o menino e Sam ficou conversando com Nancy enquanto eu olhava as fotos que estavam penduradas na parede. Nancy e Sam estavam parados na frente da porta do quarto de Lucas e, vendo eles, resolvi me aproximar também.
- Quando eu era criança - eu ouvi Dean dizendo à Lucas - vi alguma coisa muito ruim acontecer com a minha mãe. E eu também fiquei morrendo de medo e não queria conversar com ninguém. Mas, sabe, ela queria que eu fosse corajoso, e eu acho que seu pai iria querer que você fosse também.
Lucas parou de desenhar e entregou outro desenho para Dean.
- Obrigado, Lucas.
⚚
Nós saímos da casa, entrando no carro.
- Nancy disse que o filho nunca desenhou assim - Sam disse assim que Dean nos mostrou o desenho que Lucas havia entregado à ele.
Era uma casa amarela com uma igreja branca. Ao lado, havia uma cerca com uma bicicleta e um homem.
- Há casos em que as pessoas ficam mais sensíveis ao passar por algo traumático. Tipo, conseguem ter premonições, sexto sentido - comentei.
- O garoto está tentando se comunicar de alguma forma - Dean disse - é questão de tempo até outro ataque acontecer.
- É só a gente achar essa casa - falei, apontando para o desenho.
- Claro - Dean disse - deve haver mil casas assim por aqui.
- Com uma igreja ao lado? - falei e Sam riu - acho que não.
Dean bufou e nós saímos em busca da casa que estava no desenho, encontrando-a facilmente.
- Mil casas, hein - falei para Dean quando nós paramos em frente da mesma.
- Cale a boca - ele respondeu e eu ri, andando até a porta da casa.
Bati duas vezes e a porta foi aberta por uma senhora.
- Desculpe o incômodo - Sam disse - mas tem alguma chance de esse garotinho ter vivido aqui? - ele perguntou depois que entramos e começou a descrever o garoto desenhado por Lucas - ele deveria usar um boné azul e ter uma bicicleta vermelha.
- Oh, sim, mas faz um tempo que não - a senhora respondeu e nos convidou para entrar - Peter deve ter partido há uns 35 anos. A polícia nunca… Eu nunca soube o que aconteceu - ela continuou visivelmente sofrendo com as lembranças resgatadas - ele deveria ter vindo de bicicleta direto para casa depois da escola. Mas ele nunca apareceu.
Dean me cutucou e eu olhei-o. Ele me mostrou uma fotografia onde haviam dois meninos. Ele virou a foto e atrás dela estava escrito “Bill Carlton e Peter Sweeney, 1970”.
⚚
- Certo - Dean disse fechando a porta do carro - esse garoto, Peter Sweeney, desapareceu e isso está ligado à Bill Carlton de alguma forma.
- E isso nos leva a conclusão de que Bill fez algo a Peter - falei.
- E se Bill matou Peter? - Sam perguntou.
- Peter iria querer se vingar - Dean disse.
Nós nos entreolhamos e seguimos até a casa de Bill.
- Sr. Carlton! - Sam gritou andando até a casa.
- Ah, droga - eu disse e vi Bill em um barco, indo cada vez mais para dentro do lado - Sr. Carlton! - eu gritei e comecei a correr na direção da plataforma - volte para cá! - eu gritava e fazia sinais com a mão para que Bill me visse, mas não parecia fazer efeito.
- Volta! - ouvi Dean gritar enquanto corria atrás de mim. Subi na plataforma e parei na borda, olhando Bill.
Dean e Sam pararam ao meu lado e, de uma hora para outra, uma grande quantidade de água jogou o barco para cima e Bill caiu na água, não voltando à superfície. Dean fez menção de pular na água e eu segurei seu braço.
- Nem pense - falei e ele suspirou, permanecendo ali.
⚚
Nós decidimos voltar para a delegacia e, nesse instante, falávamos com o xerife.
- O que faz aqui? - o xerife perguntou para sua filha que apareceu na sala.
- Eu trouxe o seu jantar - ela respondeu.
- Desculpe, querida - o xerife respondeu - não é uma boa hora.
- Eu ouvi sobre Bill Carlton - ela comentou - é realmente verdade? Há alguma coisa acontecendo no lago?
- Nós não sabemos - o xerife respondeu - mas é bom que você e Lucas fiquem em casa.
Eu olhei para Lucas que estava atrás dela, inquieto. Bati levemente no braço de Dean e ele também olhou para o garoto, que entrou na sala e puxou o braço de Dean.
- Lucas, ei - Dean disse - o que foi? Está tudo bem, tudo bem.
Nancy pegou o menino e o levou para fora. O xerife seguiu os dois e nós três nos entreolhamos, preocupados com a atitude do garoto. O xerife reapareceu tempo depois e suspirou, passando a mão pelo rosto.
- Deixe me ver se eu entendi - ele disse - alguma coisa atacou o barco de Bill e puxou Bill, que não é um ótimo nadador, para dentro do lago e ele não voltou mais?
- É mais ou menos isso - Dean respondeu.
- E eu devia acreditar? Isso é impossível e, além disso, vocês não são do Serviço de Animais Selvagens. O Departamento nunca ouviu falar de vocês.
- Bom - falei - a gente pode explicar.
- Já chega - ele disse - a única razão de vocês estarem em liberdade é porque um vizinho que Bill me avisou do barco antes de vocês. Então, isso lhes dá algumas opções. Eu os prendo por se passarem por oficiais do governo e os deixo como suspeitos do desaparecimento do Bill Carlton, ou nós podemos transformar tudo isso em um péssimo dia, vocês entram no carro e nunca mais ousam aparecer aqui.
- A segunda opção parece boa - Sam disse.
- Ótimo - o xerife disse e nós saímos da delegacia.
⚚
Já era noite e Dean dirigia para fora da cidade.
- Verde - Sam disse assim que Dean parou o carro em frente ao semáforo verde - o farol está verde.
- Nós temos que voltar - falei, entendendo que era isso que Dean estava pensando - não podemos deixar esse caso assim. E Dean sabe disso - eu disse ao Sam e Dean voltou na direção da cidade - nós devíamos falar com Nancy.
Dean estacionou na frente da casa de Nancy e andou até a porta, tocando a campainha. Lucas apareceu, transtornado e apavorado, abrindo a porta.
Ele correu para o andar de cima e nós seguimos ele, pisando pela água que já descia as escadas, dando de cara com a porta trancada do banheiro, a qual era possível ver a água saindo por baixo.
Dean e Sam arrebentaram e porta e tentaram puxar Nancy debaixo da água preta da banheira. Lucas agarrou minha cintura e fechou os olhos com força enquanto eu olhava os rapazes se esforçando para retirar a mulher com vida da água. Eu coloquei meus braços em volta do menino e o abracei, tentando passar alguma segurança.
Em um impulso, Sam conseguiu retirar a mulher, que caiu sobre ele no chão, cuspindo água.
- Tudo bem - eu disse à Lucas - está tudo bem.
⚚
No dia seguinte, nós voltamos até a casa de Nancy.
- Não faz sentido - Nancy disse enquanto nós três procurávamos por algo que pudesse nos ajudar a desvendar o caso - eu devo estar enlouquecendo.
- Não - respondi - não está.
- Eu ouvi - ela disse e eu olhei-a - ou pelo menos achei que ouvi. Tinha uma voz.
- O que ela dizia? - perguntei e Sam também a olhou.
- Dizia “vem brincar comigo” - ela disse e começou a chorar - o que está acontecendo?
Dean apareceu onde nós estávamos, mostrando-nos uma foto.
- Você reconhece estas crianças? - ele perguntou, mostrando a foto para Nancy.
- Não - ela respondeu - exceto este - ela apontou para a foto - que é o meu pai. Ele deve ter uns 12 anos nessa foto.
- O afogamento de Bryan Malvey não teve ter nada a ver com Bill Carlton - Dean disse - e sim com o xerife.
- Talvez com Bill e o xerife - falei - os dois estavam envolvidos com Peter.
- O que tem o Bryan e meu pai? - Nancy perguntou.
- Lucas? - Dean perguntou e nós vimos o garoto sair para fora da casa - Lucas, o que foi? - nós seguimos o menino e ele olhou para a grama e depois para Dean.
- Você e Lucas voltem para casa e fiquem lá, está bem? - Dean ordenou e Nancy assentiu, levando Lucas para dentro casa.
- Vamos cavar - Sam disse, trazendo duas pás.
- Eu posso ajudar - falei e Dean sorriu.
- É - ele disse - fica olhando aí.
Eu revirei os olhos enquanto eles cavavam. Depois de um tempo, eles puxaram o que restava de uma bicicleta.
- Agora tudo faz muito sentido - falei e vi alguém surgindo das árvores, apontando uma arma para nós. Era o xerife.
- Abaixa essa arma - Dean pediu.
- Como vocês sabiam que isso estava aí? - ele perguntou.
- Que tal nos dizer o que aconteceu? - pressionei-o - você e Bill mataram Peter? O afogaram no lago e enterraram a bicicleta? Vocês não podem enterrar a verdade. Nada fica enterrado.
- Não sei do que diabos você está falando - ele respondeu.
- Você e Bill mataram Peter Sweeney há 35 anos - Dean disse e Nancy saiu da casa, andando até nós - e agora temos um espírito puto da vida por aí.
- Vai levar Nancy, Lucas e todas as pessoas que você ama - eu completei.
- É? Como sabe disso?
- Foi o que ele fez com Bill - Sam disse.
- Vocês… vocês estão malucos.
Nancy estava observando tudo, assustada.
- Agora nos diga que você enterrou Peter e não o jogou no lago - pedi.
- Pai - Nancy disse - isso é verdade?
- Não, não ouça eles - o xerife negou - são mentirosos e perigosos.
- Alguma coisa tentou me afogar - ela continuou - Bryan morreu naquele lago. Pai, olhe para mim! - ele a olhou e ela continuou - diga que você não matou ninguém.
- Bill e eu estávamos no lago - o xerife começou a explicar - Peter era o menor da turma e nós sempre zoávamos ele. Mas dessa vez… Dessa vez ele ficou bravo. Nós colocamos a cabeça dele na água. Nós… Nós não queríamos, mas ele se afogou. Nós deixamos o corpo afundar sozinho. Nós éramos crianças. Estávamos com tanto medo, e foi um erro, mas isso não tem nada a ver com os afogamentos. Por causa de um fantasma? Isso é irracional.
- Agora escutem vocês dois - Dean disse - nós temos que tirar vocês de perto desse lago e levá-los para o mais longe que pudermos.
Nancy olhou na direção do lago e paralisou. Eu segui o olhar dela e vi Lucas parado na beira dele.
- Lucas! - o xerife gritou assim que percebeu o menino lá.
Eu olhei o garoto e comecei a correr, logo atrás de Dean na direção do lago o mais rápido que eu conseguia, vendo Lucas ser puxado para dentro da água. Subi na plataforma e comecei a olhar na água, vendo Dean começando a tirar seu casaco para pular na água.
- Ei - eu disse e puxei o braço dele - o que você vai fazer? Não pode pular aí!
- Eu vou ficar bem - ele disse e pulou na água.
- Dean! - eu chamei-o, mas de nada adiantou.
Sam subiu correndo na plataforma, pulando na água também. Vi Nancy começando a tirar seu casaco, mas eu a segurei.
- Você não - eu ordenei.
Ela agarrou meu braço e começou a chorar, gritando pelo nome do filho.
Vi Dean e Sam voltarem várias vezes para a superfície, sem Lucas. Dean subiu na superfície mais uma vez e afundou, retornando finalmente com Lucas em seus braços. Eu soltei Nancy e ela se abaixou, pegando o filho dos braços de Dean. Sam e Dean saíram da água e, antes que eu pudesse falar com eles, Nancy saiu correndo na direção do pai, que entrava na água.
- Ah, qual é - resmunguei e alcancei ela - parada aí - eu disse, impedindo que ela corresse até o pai - você precisa deixar ele fazer isso - o xerife foi puxado para baixo e não retornou mais à superfície.
⚚
Depois de tudo resolvido, nós estávamos guardando nossas coisas no carro para ir embora. Sam estava juntando suas coisas no quarto e eu havia acabado de colocar minha mochila no carro.
- Vai continuar com a gente? - Dean perguntou e eu olhei-o, estreitando meus olhos.
- Isso não depende de mim - respondi.
- Eu gostaria que você ficasse - ele disse e eu reprimi um sorriso. Dean desviou de mim e pigarreou - você é boa, consegue ligar as coisas rapidamente. Nos ajuda bastante. E Sam ficaria feliz.
- O Sam, é? - perguntei e ele desviou o olhar de mim novamente, sorrindo sem graça.
- Eu gostaria que você ficasse - ele admitiu e eu sorri, sentindo meu rosto corar.
- Dean! - eu ouvi Lucas dizer e nós nos aproximamos dele e Nancy, que agora conversava com Sam.
- Ainda bem que achamos vocês - Nancy disse - fizemos um lanche para a estrada. Melhor, Lucas insistiu em fazer sozinho.
- Eu posso dar pra eles agora? - Lucas disse e Nancy assentiu. Lucas entregou o lanche à Dean e Nancy me olhou.
- Eu não sei seu nome - ela disse para mim e eu sorri, sem jeito.
- É Harriet - respondi e ela sorriu.
- Bonito nome - sorri de volta - obrigada por nos ajudar, Harriet.
Lucas havia ido com Dean até o carro e eu segui eles, deixando Sam com Nancy.
- Certo - ouvi Dean dizer ao garoto e eu parei perto deles, colocando as mãos no bolso da minha jaqueta - se você está falando agora, é muito importante para nós. Eu quero que você repita para mim mais uma vez.
- Led Zeppelin comanda! - o garoto respondeu e eu sorri.
- É isso aí! Bate aqui - Dean disse e levantou a mão, batendo na de Lucas.
Sam e Nancy se aproximaram de nós e eu olhei-os. Sam entrou no carro e, eu andei até o outro lado do carro, parando antes de abrir a porta, a tempo de ver Nancy dando um beijo rápido na boca de Dean. Ele passou a mão pela cabeça, envergonhado, e Nancy foi embora.
- Você sempre fica com as mocinhas indefesas? - perguntei, tentando disfarçar meu desapontamento.
- Não com as que eu quero - ele respondeu, ligeiramente vermelho - elas preferem meu irmão.
Eu demorei até entender e eu o encarei quando finalmente percebi. Dean continuou me olhando e eu sorri sem graça, entrando no carro.
Ele ligou o carro e nós partimos, sem qualquer destino.
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