Harriet POV
Eu ouvi o barulho da porta se abrindo e eu me virei na cama, olhando a sombra de uma pessoa entrando no quarto através da parede de vidro fosco. Olhei para a cama ao lado e vi Dean levando a mão lentamente para debaixo do travesseiro.
- É o Sam - eu disse e ele me olhou enquanto eu me sentava na cama.
Ele fez uma careta de sono e eu não pude deixar de desviar meus olhos até sua cueca preta, que deixava seu corpo ainda mais atraente pelo jeito que combinava com sua camisa preta, fato que ele percebeu, afinal, ele me olhou de um jeito malicioso e com o ar de alguém que presencia um flagrante.
- Hora de acordar - Sam disse, colocando dois cafés em cima da mesa.
- Que horas são? - Dean perguntou, sentando-se na cama.
- Umas 5h45min - ele respondeu.
- Da manhã?
- É - ele disse e eu passei a mão pelo meu rosto, levantando-me e pegando um dos cafés que estavam em cima da mesa.
- Você não dormiu não? - perguntei e tomei um gole do café, encostando-me na mesa.
- Por algumas horas - ele disse, sorrindo de canto.
- Mentiroso - Dean discordou - eu acordei lá por umas três horas. E eu pude ouvir você assistindo. Era um comercial do George Forman Grill.
- O que eu posso dizer? - Sam respondeu - é bem interessante.
- Qual foi a última vez que você dormiu direito?
- Ah… - Sam começou a dizer, porém, pareceu ficar sem palavras - não é nada de mais.
- É sim - Dean rebateu.
- Olha, eu entendo que esteja preocupado…
- E eu estou mesmo - Dean disse franzindo a testa e eu levei o copo de café até a boca - meu trabalho é nos manter vivos, e pra isso precisamos dormir - Sam não respondeu e Dean suspirou - sério, está tendo pesadelos com Jessica?
Sam soltou o ar de seus pulmões e se sentou na cama em que eu havia dormido, parando de frente para Dean.
- É - Sam respondeu e eu tentei entender sobre o que eles estavam falando - mas não é só sobre ela. É sobre tudo. Eu tinha esquecido que esse trabalho mexe com a gente.
- É só matar o que tiver de ruim e voltar pra casa.
- Não é tão simples assim - Sam disse - tudo isso nunca te deixou acordado à noite?
Dean negou e Sam insistiu.
- Nunca? Nunca teve medo?
- Na verdade, não - Dean disse e eu soltei um riso irônico, o que fez com que eles me olhassem.
- A faca embaixo do seu travesseiro prova o contrário - falei e Dean revirou os olhos.
- Isso não é ter medo - Dean respondeu - é precaução.
- Sei - falei e o celular de Dean tocou.
- Alô? - ele disse e aguardou - ah! - ele exclamou parecendo lembrar de algo - na Pensilvânia, um problema com Poltergeist. Ele não voltou, certo? - Dean aguardou e sua expressão ficou mais séria - o quê? - ele esperou e desligou o telefone, olhando-nos - temos que ir. Um cara que eu e o papai ajudamos está com problemas de novo.
- Tudo bem - Sam disse e se levantou, começando a arrumar suas coisas.
Dean se levantou da cama e começou a andar na minha direção; meus olhos desviaram para sua cueca antes que eu pudesse raciocinar, repreendendo-me silenciosamente. Eu mordi a borda do copo de café para lembrar-me de não olhar para ele andando apenas de cueca e camiseta bem ali na minha frente, por mais que parecesse impossível. Dean era de longe o homem mais bonito que eu já vi.
Ele parou ao meu lado, mais próximo do que o necessário, e se esticou para pegar o outro copo de café que estava na mesa atrás de mim, o que fez com que eu pudesse sentir sua respiração tocando levemente meu pescoço; seu perfume preencheu o espaço entre nós, causando um arrepio que percorreu meu corpo todo. Eu prendi minha respiração e tomei o resto do meu café de uma vez enquanto ele se encostou na mesa ao meu lado.
- Sabe - Sam disse apontando para Dean enquanto fechava sua mochila e a colocava nas costas - você devia respeitar Harriet e não andar sem calças por aí.
- Obrigada - falei em uma lufada de ar um tanto quanto desesperada e andei até o lixo, jogando meu copo de café lá dentro.
- Besteira - Dean respondeu - garanto que ela não desaprova - ele me olhou e deu uma piscadinha.
Eu revirei os olhos e entrei no banheiro para jogar uma água no rosto antes de cairmos na estrada, de novo.
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Nós encontramos o cara com quem Dean falou ao telefone, Jerry, em um galpão onde haviam pessoas construindo e reformando aviões.
- Obrigado por virem tão rápido - Jerry disse e olhou de relance para Sam - ainda bem que vocês estavam por perto. Dean e seu pai me ajudaram bastante.
- É - Sam concordou - ele me disse. Foi um Poltergeist?
- Poltergeist? - um cara brincou e eu olhei em volta, tentando achá-lo, mas sem sucesso - adoro esse filme!
- Ninguém está falando com você - Jerry disse e se voltou a Sam - sim, era um Poltergeist. Praticamente dividiu nossa casa ao meio. E eu digo uma coisa, se não fosse Dean e John, provavelmente eu não estaria vivo - nós ficamos em silêncio e Jerry continuou - seu pai disse que você desistiu da faculdade, é sério?
- É - Sam disse, um pouco frustrado - estou dando um tempo.
- Ele tem muito orgulho de você - Jerry disse e sorriu - falava de você o tempo todo.
- Ele falava? - Sam perguntou e Jerry assentiu.
- Pode apostar que sim. Falando nisso, não consegui falar com ele. Como ele está indo?
- Bom - Dean disse e ficou meio sem jeito - o trabalho está tomando conta dele.
- Perdemos o velho John e ganhamos o Sam - Jerry comentou - troca justa.
- Não - Sam disse sorrindo sem graça - nem perto.
- E você? - Jerry disse e me olhou.
- Harriet - eu disse e estendi a mão para ele, que a apertou - desculpe, devia ter me apresentado antes.
- Eu é quem devia ter sido mais educado - Jerry disse e soltou minha mão - como se conheceram?
- Eu salvei ela em uma caçada - Dean disse e eu o olhei, fazendo uma careta.
- Não foi bem assim - falei e Dean abriu um sorriso - ah, tudo bem. Ele me salvou em uma caçada.
- Mas você é caçadora também? - Jerry perguntou e eu assenti.
- Sou.
- Está com Dean ou Sam? - ele perguntou tão depressa que eu não pude fazer nada a não ser olhá-lo boquiaberta enquanto meu rosto corava.
- Não - murmurei - só caçamos. Só estamos trabalhando juntos.
- Mais uma pra equipe então - ele disse e eu sorri sem graça ao mesmo tempo que Dean sorria, encarando-me. Nós chegamos até a frente de uma sala e ele abriu a porta deixando que nós entrássemos e, em seguida, fechou a porta. Ele andou até um toca-fitas e nos olhou - escutem isso.
- Mayday! Mayday! Aqui é o capitão do vôo 2485! Algo nos atingiu. Estamos pedindo ajuda para o vôo 2485. Mayday! Vamos bater! - a gravação se encerrou e eu olhei para Dean.
- Saiu daqui e caiu a 3200 km - Jerry explicou - disseram que foi problema mecânico e que a cabine abriu de alguma forma. Ninguém sabe como. Mais de 100 pessoas a bordo, sete sobreviveram. O piloto é um deles, o nome dele é Harry Brandford. Ele é um grande amigo meu. E está bem abalado. Como se fosse culpa dele, sabe?
- Você não acha que foi? - Sam perguntou.
- Não, eu não acho.
- Nós vamos precisar das cargas dos passageiros e uma lista dos sobreviventes - falei e ele me olhou - também vamos precisar olhar os destroços.
- Eu consigo arrumar as outras coisas, mas os destroços estão fora do meu alcance - ele respondeu - a polícia fechou o local como evidência então, não tenho acesso.
- Sem problemas - Dean suspirou.
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Eu estava no quarto do hotel em que nós havíamos nos hospedado anotando o endereço dos sobreviventes e revendo a gravação quando Dean e Sam entraram no quarto. Dean sorriu e me mostrou uma espécie de carteirinha.
- O que é isso? - perguntei e ele se jogou na cama ao meu lado.
- Segurança Interna - Dean disse e eu sorri.
- Esperto - falei - e bem ilegal.
- Eu disse - Sam falou e sentou-se na ponta da cama.
- Então - Dean continuou, encarando-me - descobriu alguma coisa?
- Definitivamente, há um EVP na gravação - respondi e coloquei a gravação.
- Sem sobreviventes - a gravação dizia ao fundo.
- Porém - concluí - há sete sobreviventes.
- O que vocês acham? - Dean perguntou olhando para mim e para Sam - algum tipo de demônio voador?
- Há uma longa história de espíritos agouros em aviões e navios - falei - como fantasmas viajantes, ou como aquele vôo 401.
- Como aquele avião que bateu e usaram as peças em outros aviões - Sam complementou - o espírito do piloto e do co-piloto foram com algumas das peças.
- Exato - concordei.
- Com quem vamos falar primeiro? - Dean perguntou e eu o entreguei a lista.
- Louis Jeffy - respondi - ele viu algo estranho.
- Como você sabe? - Dean perguntou e eu sorri.
- Eu falei com a mãe dele.
- Ok - Sam disse - vamos lá.
- São sete sobreviventes - falei - não seria mais fácil se nós nos separássemos? Eu vou andando até Louis, já que é há algumas quadras daqui, e vocês dois podem ir atrás do primeiro da lista.
- Tá bom - Dean disse - mas eu vou com você. Sem opções.
- Posso saber o porquê? - indaguei.
- Porque eu quero.
- Se acha que vai me conquistar desse jeito, meu caro... - eu disse e Sam riu.
- Não preciso conquistar porque você já está caidinha por mim - Dean disse com um ar um tanto arrogante e eu fechei a cara.
- A gente se encontra aqui em duas horas - eu disse para Sam e ele assentiu.
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Eu e Dean saímos caminhando até o hospício onde Louis havia se internado.
- Você poderia me falar quem é Jessica - eu pedi depois de um tempo, referindo-me à conversa que ele e Sam tiveram mais cedo.
- Por que quer saber? - ele disse e eu fiz uma careta.
- Eu só queria saber o que aconteceu com ela. Isso parece afetar bastante ele.
- Só por isso? - ele insistiu e eu percebi a verdadeira intenção da pergunta dele.
- Você não ficaria curioso pra saber o que aconteceu com as pessoas que atormentam meus sonhos se eu acordasse no meio da noite chamando o nome delas?
- Na verdade, eu já ouvi você falando enquanto dorme.
- Quê? - falei e parei de andar. Pra mim, isso era novo.
- Hoje - ele disse e eu olhei-o mais seriamente - quando Sam saiu para comprar café eu ouvi você falando algo do tipo “por que você me deixou fazer isso?”.
Eu senti um desconforto em meu peito e balancei a cabeça, voltando a andar.
- O que isso significa? - ele disse, andando ao meu lado.
- Você não precisa saber de tudo, Dean - respondi.
- Mas você sabe sobre mim - ele insistiu - você sabe que Sam saiu da faculdade, sabe que nosso pai desapareceu e nós estamos procurando por ele. Sabe que eu não tive escolha e por isso me tornei um caçador. Mas e você? Por que se tornou uma caçadora?
- Como eu disse, você não precisa saber de tudo.
- Seus pais eram caçadores?
- Não - respondi e antes que ele perguntasse outra coisa, eu parei em frente à ele - na boa, Dean, eu não quero falar sobre isso. Esquece.
- Tá bom - ele disse, fingindo desapontamento, e eu assenti, voltando a caminhar - um demônio matou Jessica do mesmo modo que matou nossa mãe. E Sam se sente culpado por isso - ele disse e eu olhei-o enquanto ele andava ao meu lado.
- Sinto muito - falei e ele ignorou - isso foi recente?
- Foi já depois que eu te salvei da mulher de branco - ele continuou - quando nós te encontramos de novo, Jessica já havia morrido.
Assenti e ele suspirou. Virei na esquina e me deparei com o hospício ao final da rua.
- Acho que chegamos - falei e nós entramos.
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- Eu não entendo - Louis disse enquanto nós andávamos ao lado dele no jardim - eu já falei com a Segurança Interna.
- É só pra confirmarmos tudo - falei e nós nos sentamos em uma mesa de piquenique.
- Certo - Dean disse - antes do avião bater, você viu algo… Incomum?
- Tipo o quê?
- Luzes estranhas - falei - cheiros ou barulhos esquisitos.
- Não, nada.
- Você se internou aqui, certo? - perguntei - podemos saber o por quê?
- Eu estava um pouco estressado. Sobrevivi à uma queda de avião, sabe? - ele disse e eu revirei os olhos discretamente.
- E é isso que o deixou assustado? - Dean perguntou.
- Eu não quero mais falar sobre isso.
- Talvez você tenha visto alguma coisa - Dean insistiu - queremos saber o quê.
- Não - ele respondeu - olha, eu estava tendo uma ilusão.
- Tudo bem - falei - é só nos dizer o que você achou ter visto.
- Tinha um homem - ele disse - eu, não sei, eu acho que eu vi…
- Você consegue dizer a frase de uma vez? - eu disse e Dean chutou minha perna discretamente.
- Ele abriu a porta de emergência - ele disse - mas isso não é possível. Eu andei pesquisando e tem praticamente duas toneladas de pressão lá.
- Esse homem - Dean disse - ele aparentava aparecer e desaparecer? Como uma miragem?
- Você tá maluco? - ele disse e eu encarei-o - ele era um passageiro. Estava sentado bem na minha frente.
- Bom, obrigada pelo seu tempo - falei e eu e Dean começamos a sair do hospício.
Eu peguei meu celular e liguei para Sam.
- Harriet? - ele disse do outro lado da linha.
- Oi, Sam - falei - lembra daquele esquema dos passageiros do avião que eu te entreguei?
- Tô com ele aqui - ele respondeu.
- Veja quem estava sentado na frente do Louis - falei.
- Assento 20C. George Jackpon.
- Precisamos falar com ele - falei - mas como obviamente ele não sobreviveu, precisamos falar com a esposa dele ou algum familiar. Louis disse que foi ele quem abriu a porta de emergência do avião. Só precisamos saber como.
- Beleza - ele disse - deixa que eu faço isso. Nos encontramos no hotel.
- Fechado - respondi e desliguei.
Eu olhei para Dean e vi que ele me encarava de um jeito estranho.
- Perdeu alguma coisa? - perguntei.
- Desde quando você toma a frente das coisas assim? - ele respondeu e eu franzi a testa - às vezes eu acho que você é mais gostosa de boca fechada.
- Como é? - eu parei de andar, encarando-o.
- Você é muito... Não sei. Teimosa? Mandona? Mas é inteligente. Isso faz com que você nos passe pra trás e a gente nem possa fazer nada - ele respondeu e eu abri minha boca, fingindo estar ofendida.
- Que comentário besta - reclamei - perdi metade do encantamento.
- Então você admite que está encantada por mim? - ele perguntou com um sorriso e eu desviei.
- Eu acredito que você duvida que eu seja boa no que faço pelo simples fato de que sou mulher.
- Eu nunca disse isso - ele rebateu e eu suspirei.
- Sou melhor que você - falei - admita.
- Você corre bem de fantasmas, pelo menos.
- Cala a boca - eu disse e ele sorriu.
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Nós voltamos até o quarto do hotel.
Eu estava quase dormindo em uma das camas quando ouvi o celular de Dean tocando.
- Fala, Sam - ele disse e esperou - tá, não, tudo bem. Nós vamos lá. Aham. Beleza - ele desligou e me olhou - vamos olhar os destroços - ele disse e eu me levantei.
- Precisamos de roupas adequadas pra isso pelo menos - falei e ele assentiu.
- Sem dúvida.
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Nós seguimos, primeiramente, até uma loja de roupas sociais e pedimos ajuda aos atendentes para escolher roupas adequadas. Quando eu fiquei pronta, Dean já estava esperando do lado de fora.
- Tem certeza que isso não é muito justo? - perguntei olhando-me no espelho. Eu vestia uma saia que ficava um pouco acima dos meus joelhos preta e uma camisa branca de mangas compridas, a qual tinha um decote mais generoso do que eu achava necessário. A atendente sorriu e assentiu, entregando-me os sapatos de salto.
Suspirei e paguei pela roupa, saindo da loja.
Dean me olhou, assobiando em surpresa e eu mexi em meu cabelo, constrangida.
- Não me olhe desse jeito - pedi e ele sorriu.
- Uau.
- É só uma roupa - falei.
- E que roupa - ele impediu que eu abrisse a porta do carro e eu olhei-o - talvez você queira ajuda para tirá-la depois.
Eu sorri e me aproximei ligeiramente de seu rosto, percebendo seus olhos em minha boca.
- Nem em sonho, queridinho.
- É o que você diz - ele respondeu - mas eu sei como isso acaba.
- Acha que eu vou ser mais uma garota com quem você dorme e vai embora no outro dia?
- Você pode ser o que quiser, contanto que seja minha - ele terminou e eu arfei, tendo a impressão de ter perdido as forças em minhas pernas. "Esse flerte foi pesado", pensei.
- Isso foi muito revelador, Winchester - respondi - mas se você não se importa, a gente tem um caso pra resolver.
Dean sorriu e abriu a porta para mim.
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Nós chegamos até onde os destroços estavam e apresentamos nossas identidades falsas, entrando facilmente.
Eu andei em volta dos destroços e vi Dean tirar um aparelho estranho do bolso.
- É um EMF - ele disse - detecta fantasmas.
- Eu sei - falei - só queria saber porque ele parece um walkman.
- Eu que fiz - ele disse com um sorrisinho orgulhoso - totalmente feito em casa.
- Percebi - falei e voltei a andar por entre os destroços.
Eu estava olhando para uma das peças recuperadas quando ouvi Dean me chamar:
- Ei, estranha! Achei a maçaneta da porta de emergência.
Eu andei até ele e olhei para a porta, ou melhor, parte dela. Havia marca de dedos e alguma substância sólida estranha ali.
- Enxofre? - falei e ele balançou a cabeça.
- Vamos descobrir - ele disse e pegou uma faca, recolhendo um pouco daquela coisa estranha e colocando-a em uma embalagem plástica.
- Beleza - falei - agora vamos sair daqui.
Nós já estávamos caminhando pela parte de fora do depósito quando ouvimos uma sirene começando a tocar. Dean me olhou e nós começamos a correr. Sim, eu estava correndo de salto, temendo ser pega ali. Dean estava mais à frente e nós nos deparamos com uma cerca de proteção, a qual Dean jogou seu blazer.
- Vem - ele disse e se curvou para dar impulso em mim com suas mãos. Ele empurrou meu pé e eu me segurei na cerca, pulando para o outro lado. Arrumei minha saia e tirei meus saltos enquanto Dean pulava a cerca - ao menos essas roupas servem para alguma coisa - ele disse e pegou o blazer da cerca, puxando-me pelo braço para que eu corresse com ele para longe dali.
⚚
Nós nos encontramos com Sam na sala de Jerry.
- Bem - Jerry disse e nos olhou - é enxofre - ele disse referindo-se à amostra que Dean o entregou.
- Tem certeza? - Sam perguntou.
- Olhe você mesmo - ele disse e Sam se aproximou do computador. Nós ouvimos uns barulhos de gritos vindos de fora e Jerry nos olhou - se me dão licença, tenho que demitir uns babacas - ele terminou e saiu da sala.
- Isso só pode ser possessão de corpos - falei - explicaria a força sobre humana para abrir a porta. Só não sei porque ele provocaria uma queda de avião.
- Já viu algo assim antes? - Dean perguntou e eu neguei.
- Não.
⚚
Nós voltamos para o quarto de hotel.
Eu estava com o notebook em meu colo em uma das camas e Sam estava sentado na cadeira com o notebook sobre a mesa, assim como Dean.
- Então - Sam disse, suspirando de cansaço - todas as culturas e religiões tem sua visão sobre possessão mas nenhuma fala sobre casos assim.
- Não exatamente - falei - de acordo com uma cultura japonesa, há demônios por trás de certos desastres e doenças.
- E alguns causam queda de aviões? - Dean perguntou e eu assenti.
- Então temos um demônio que não se preocupa com a contagem de corpos? - Sam perguntou.
- Bom, eu não sei quantos aviões caíram esse ano - respondi.
- É estranho - Sam refletiu - demônios querem morte e destruição, mas esse é diferente.
- Queria que papai estivesse aqui - Dean disse, suspirando e fechando o notebook.
- Eu também - Sam concordou e o celular de Dean tocou.
Como ele estava na cabeceira ao lado da cama, Dean fez sinal para que eu atendesse.
- Alô? - falei.
- Harriet? - ouvi uma voz dizer e percebi que era Jerry.
- Ei, Jerry.
- Sabe o piloto? O que era meu amigo? Ele está morto.
- Sinto muito - sussurrei fazendo uma careta - como aconteceu?
- Ele e um amigo saíram para voar e o avião caiu.
- Onde isso aconteceu?
- A uns 96 km a oeste. Em Nazareth.
- Tudo bem - respondi - vamos investigar. Entraremos em contato em breve.
- Outro acidente? - Sam perguntou e eu assenti.
- Sim - falei - o piloto já era.
⚚
Nós fomos até o local do acidente e recolhemos uma amostra parecia com a que eu e Dean vimos no primeiro avião e, sim, também era enxofre.
- Se o problema era o piloto - Dean disse - talvez tenha acabado.
- Vocês não perceberam? - falei, ligando os fatos em uma nova teoria e eles me olharam - tanto esse acidente quanto o acidente do vôo 2485 ocorreram 40 minutos após a decolagem - eles fizeram uma careta.
- Tá, isso a gente já sabe - Dean respondeu.
- É um número bíblico. No conto de Noé, choveu por 40 dias. O número indica morte. Quando eu estava pesquisando, achei que mais seis acidentes ocorreram ao longo dos anos, todos caindo 40 minutos após decolarem. Eu não comentei antes porque queria saber se havia ligação, e pelo o que aconteceu, tem sim.
- Caramba - Dean disse e eu sorri sem jeito.
- Sobreviventes? - Sam perguntou e eu neguei.
- Não até o vôo 2485.
- A gravação - Dean disse - ela dizia sem sobreviventes.
- Essa coisa tá atrás dos sobreviventes - Sam disse e eu suspirei.
- Temos que ir.
⚚
A primeira coisa que fizemos foi entrar em contato com o resto dos sobreviventes para saber se eles iriam fazer alguma viagem de avião. Todos negaram, menos a aeromoça, Amanda Walker, e era atrás dela que nós estávamos. Nós entramos no aeroporto atrás dela, afinal, ela não respondia às nossas ligações.
- Aqui - Sam disse lendo o painel - vai decolar em 30 minutos.
- Preciso encontrar um telefone - Dean disse e olhou em volta, encontrando um telefone e discando no mesmo - portão 13 - ele disse referindo-se ao portão que o avião de Amanda decolaria - com Amanda Walker, ela é do vôo 424 - ele aguardou e eu olhei em volta enquanto ele falava com a aeromoça - não, não - ouvi Dean dizer e eu olhei-o - Amanda! Amanda! - ele desligou - droga! Tão perto.
- Tudo bem - falei e olhei para Sam - plano B.
- Vamos embarcar - Sam disse.
- Ei, espera um pouco - Dean disse.
- Esse avião vai decolar com 100 passageiros e se não fizermos nada… - falei e ele me interrompeu.
- Eu sei!
- Nós entramos no avião e exorcizamos o demônio - Sam explicou - vou comprar as passagens e vocês dois pegam tudo o que formos precisar.
- Dean - eu falei quando vi ele olhando para todos os lados, inquieto - tudo bem?
- Não - ele respondeu - na verdade, não.
- Você tem medo de voar? - perguntei tentando não rir.
- Não tenho - ele respondeu e eu não consegui mais segurar o riso - nunca foi um problema até agora.
- Tá falando sério? - Sam perguntou, rindo.
- Parece que eu estou brincando? - Dean disse, irritado - acha que eu dirijo em todos os casos porquê?
- Tá - Sam disse - eu e Harriet vamos.
- Não! Tá maluco? O avião vai cair.
- E se a gente não for também - argumentei.
- Querem saber? Eu vou - ele disse por fim.
⚚
Nós entramos no avião e Sam se sentou perto da janela. Eu me sentei ao lado dele e Dean se sentou ao meu lado.
- Tente relaxar - Sam sussurrou para o irmão.
- Tente calar a boca - Dean respondeu e eu sorri, prendendo o cinto de segurança.
O avião começou a decolar e eu vi Dean praticamente entrando em pânico.
- A donzela gostaria que eu segurasse sua mão enquanto surta? - perguntei e ele me olhou com um olhar carregado de ódio.
O avião entrou em uma leve turbulência pós-decolagem e eu senti Dean esmagando os dedos da minha mão.
- Ai - eu disse e olhei para ele, que cantarolava - está cantando Metallica?
- Me acalma - ele disse e eu olhei para a sua mão, que segurava a minha com força.
- Vai esmagar meus dedos - eu sussurrei e ele olhou para minha mão, a qual ele soltou e sorriu sem graça.
Eu estendi minha mão para ele e Dean hesitou, olhando-me. Balancei brevemente minha mão para que ele pegasse e Dean finalmente a pegou. Eu entrelacei minha mão na sua e a puxei para meu colo, segurando-a entre minhas mãos.
Dean apertou minha mão e eu encontrei seus olhos encarando-me. Eu sorri brevemente e olhei para sua mão.
- Você fica adorável quando está em pânico - eu sussurrei ironicamente para ele e Dean sorriu sem graça novamente.
- Temos 32 minutos para achar essa coisa - Sam disse e eu desviei minha atenção para ele.
- É - Dean respondeu - com o avião caindo vai ser fácil.
- O demônio procura por alguém fraco - comentei.
- Amanda deve estar fraca - Dean disse - afinal, é o primeiro vôo dela após o acidente. Ela deve estar bem abalada.
- Com licença - falei para uma aeromoça que se aproximava de nós - você é a Amanda?
- Não - ela respondeu gentilmente.
- Ah, desculpe - falei - eu me enganei.
- Então aquela ali só pode ser a Amanda - Dean disse, olhando para o fundo do avião.
- E se ela já estiver possuída? - perguntei.
- Vamos descobrir - Dean soltou minha mão e pegou a água benta de sua mochila.
- Não - falei pegando a garrafa de suas mãos - precisamos ser mais discretos. Se ela estiver possuída, vai retrair ao nome de Deus.
- Boa - Dean disse e se levantou, indo na direção da aeromoça.
- Ei - Sam chamou ele - diga em latim.
- Tá bom - ele respondeu.
- Ei - eu chamei-o.
- O quê?
- Em latim é Christo.
- Eu sei - ele respondeu - não sou idiota.
Eu olhei para trás um tempo depois e vi Dean voltando.
- Nada? - perguntei.
- Ela deve ser a pessoa mais centrada do mundo - ele respondeu.
- Você disse Christo? - Sam perguntou.
- Sim. Nada de demônio nela.
- Pode ser qualquer um - falei e o avião tremeu novamente.
- Qual é - Dean esbravejou - isso não pode ser normal.
- É só uma pequena turbulência - respondi.
- Esse avião vai cair - Dean disse - não me trate como louco.
- Você precisa se acalmar - Sam disse.
- Eu não consigo.
- Consegue sim - falei e ele me olhou de um jeito tão profundo que eu fiquei desconfortável - precisa ficar calmo.
- Eu encontrei um exorcismo que acho que vai funcionar - Sam disse tirando a atenção de Dean de mim - o ritual Romamma.
- O que temos que fazer?
- São duas partes. A primeira a gente retira o demônio da pessoa e faz ele se manifestar, mas o deixa mais forte.
- Mais forte?
- É - ele concordou - tipo, ele não precisa possuir alguém pra causar mal. E a segunda parte, é que ele volta direto pro inferno.
- Beleza - Dean finalizou - vamos encontrá-lo.
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Eu tentei procurar pelo demônio conversando com alguns passageiros e dizendo “Christo”, mas nada de achar o maldito demônio. Vi Dean no final do corredor e andei até ele, que procurava sinais com seu aparelho caseiro de ondas eletromagnéticas. Bati nas costas dele e ele se virou para mim.
- Não faz isso - ele disse, soltando o ar de seus pulmões de uma vez.
- Desculpe - respondi, tentando não rir do seu pânico exagerado - achou alguma coisa?
- Nadinha. Quanto tempo temos?
- Uns 15 minutos. Ele precisa estar aqui - falei.
- Espero que sim - ele disse e eu vi a porta do banheiro sendo aberta - não entrei nesse avião à toa.
Vi o co-piloto saindo do banheiro e, em uma fração de segundo, eu pensei ter percebido os olhos dele completamente negros. Eu segurei o braço de Dean e o apertei. Ele me olhou e eu fiz menção com a cabeça para o co-piloto.
- Christo - sussurrei e o co-piloto se virou rapidamente para nós com os olhos completamente pretos, entrando na cabine em seguida.
Eu olhei para Dean e ele me olhou de volta, tão espantado quanto eu.
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Nós avisamos Sam e, depois de conseguir convencer Amanda a nos ajudar, esperávamos pelo co-piloto nos fundos do avião.
- Certo - o co-piloto disse ao entrar onde nós estávamos - qual é o problema? - eu o acertei com um soco e Dean o acertou em seguida, derrubando-o no chão.
Eu peguei uma fita prata e colei na boca do nosso demônio.
- O que estão fazendo? - Amanda perguntou, assustada - disseram que só iam conversar com ele.
- Nós vamos conversar com ele - falei e joguei água benta nele, fazendo-o queimar.
- Vá para fora e não deixe ninguém entrar - Sam disse à Amanda e ela o obedeceu.
- Anda, Sam! - eu o apressei enquanto Dean tentava segurar o homem no chão e eu jogava água benta nele - vamos exorcizar esse maldito de uma vez.
O demônio derrubou Dean e me acertou com um soco, derrubando-me no chão. Vi Sam ser jogado contra a parede e eu me levantei antes que o demônio chegasse em Dean.
Puxei-o pelo braço e acertei-o no rosto, chutando sua perna. Sam recomeçou o exorcismo e Dean deu outro soco no demônio.
- Eu sei o que aconteceu com sua namorada - o demônio disse à Sam.
- Sam! - Dean gritou e Sam continuou o exorcismo.
Eu ajudei Dean a segurar o cara no chão e, de repente, uma fumaça negra saiu do seu corpo, entrando na tubulação.
Tudo ficou em silêncio e, antes que nós pudéssemos dizer alguma coisa, o avião começou a cair. Fui jogada contra a parede e senti meu corpo sendo empurrado à medida que o avião caía. As luzes se apagavam e acendiam lapsos e eu vi Sam saindo rastejando pela porta.
Vi Dean tentando levantar no chão e eu me segurei em uma barra de ferro de segurança, esticando minha mão para ele.
- Dean! - eu gritei e ele pegou minha mão.
Puxei-o e ele se segurou ao meu lado. Eu conseguia ver o pânico em seu rosto deixando-me mais agoniada ainda.
O avião pareceu virar e eu fui jogada contra ele. Fechei meus olhos e abracei seu corpo, sentindo seu braço me segurando enquanto o avião caía mais e mais, balançando mais do que você pode imaginar. Comecei a pensar se eu sentiria dor quando o avião batesse no chão, se eu apagaria rápido ou se eu seria desmembrada antes de perder a consciência por completo.
De repente, o avião ficou estável e eu abri meus olhos, ofegante.
Eu continuei abraçada à Dean, ofegante, conseguindo ouvir as batidas rápidas do seu coração. Eu suspirei e me soltei dele, olhando-o, percebendo sua expressão ainda de pânico.
- Você tá bem? - perguntei e ele assentiu.
- Sim - ele disse e eu passei a mão pelo meu cabelo, olhando em volta - mas se quiser me abraçar assim mais vezes, fique à vontade.
Eu fiz uma careta e olhei para o corredor, vendo Sam em pé, ofegante também.
Eu dei um leve sorriso e ele suspirou.
⚚
Depois de conversar com Amanda e nos despedirmos de Jerry, nós pegamos um quarto em um hotel de beira de estrada só para passarmos a noite. Sam havia saído para comprar alguma coisa para nós comermos e eu estava jogada em um dos sofás que havia no quarto, assistindo um filme qualquer na televisão. Dean saiu do banho e se sentou ao meu lado, olhando-me.
- Que foi? - falei depois de um tempo, quando aquilo já estava desconfortável.
- Nada - ele respondeu e eu voltei a olhar para a televisão.
Eu levantei e fui até a geladeira, pegando um copo de água. Deixei o copo na bancada e, quando eu me virei, Dean estava atrás de mim. Ele colocou as mãos na bancada, prendendo-me em seus braços começando a se aproximar, pressionando-me contra a bancada.
- Dean - eu disse e senti sua mão descendo até minha perna, causando um arrepio quente em meu corpo - pare.
- Você quer mesmo que eu pare? - ele perguntou e aproximou mais seu corpo do meu, fazendo com que minha respiração ficasse mais rápida.
- Eu não sou esse tipo de pessoa - falei e me concentrei naqueles olhos verdes incomuns, minha voz falhou e eu engoli em seco - eu não vou ir pra cama com você só pra alimentar seu ego.
- Não é meu ego que você vai alimentar - ele disse e eu sorri.
Eu levei minhas mãos até seu peito e comecei a empurrá-lo. Ele deslizou as mãos até minha cintura e me puxou para mais perto, aproximando seu rosto lentamente do meu.
Eu podia sentir sua respiração em meu rosto, o que causava uma sensação diferente em meu estômago. Eu olhei para os lábios dele e apertei o tecido de sua camisa em minhas mãos assim que ele começou a deslizar seus lábios sobre os meus, sem me beijar, apenas provocando delicadamente, fazendo com que as batidas do meu coração ficassem bem rápidas.
Eu fechei meus olhos e, quando eu estava pronta para beijá-lo até ficar sem ar, a porta foi aberta por Sam, o que me fez dar um pulo e empurrar Dean para longe.
- Tá tudo bem aqui? - Sam disse e eu respirei devagar.
- Tudo beleza - falei e andei até ele - o que tem pra comer?
- Várias coisas - Sam disse e colocou as sacolas em cima da mesa - eu vou pro banho - e ele entrou no banheiro.
- Eu preferia você - Dean sussurrou no meu ouvido e se sentou na minha frente, pegando um hambúrguer. Eu demorei alguns segundos para entender e, quando entendi, joguei um sachê de ketchup nele.
- Você me respeite, hein - falei em um tom de brincadeira e ele sorriu.
Eu abri uma cerveja e me recostei na cadeira, suspirando.
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