Finn puxou um dos bancos do bar se juntando ao seu amigo.
Fazia um tempo que não saía para conversar com Jack – mais específicamente desde o dia em que ambos saíram para tomar todas, um dia antes da operação de Brown –, depois disso se excluiu um pouco de tudo, do trabalho, das redes sociais, dos amigos, do mundo.
Jack usava uma camiseta xadrez, vermelha e preta, o cabelo bagunçado quase como um costume individual do mesmo. Ele já tinha um copo de bebida em mãos, parecia distraído com as luzes psicodélicas do salão.
– Chegou a margarida – Sorriu mostrando todos seus dentes. Ele cheirava a menta e sabonete.
– Estava ponderando se vir era uma boa ideia ou não – Deu de ombros em desdém – Sabe, faz um tempo que não venho num lugar desses.
A verdade é que fazia um tempo que Finn não ia a qualquer lugar. Era até cômico porque por conta de seu ofício, costumava frequentar festas quase todos os finais de semana – não que ele adorasse a coisa toda, mas era necessário para manter-se informado.
– Sério? Você ficou em dúvida? – Jack levantou seu olhar para encará-lo – O que houve contigo, Wolfhard?
– É uma longa história – Finn sussurrou soprando um suspiro contra o ar. A verdade é que havia tantas suposições, tantas hipóteses em sua mente sobre as possíveis reações das escolhas que tinha que tomar, que o rapaz de sardas salientes sentia-se extramemente perdido e até neutralizado.
Jack fixou bem seus olhos no amigo. Observando cada detalhe do outro, cada movimento, eles já se conheciam a tempo suficiente para que Finn tentasse o enrolar sobre o que estava acontecendo. Dando uma risadinha arrastada, levou sua bebida – que agora de perto, o Wolfhard pôde notar que se tratava de licor de menta –, até os lábios, desviou o olhar achando a cena toda engraçada.
– Eu confesso que quase pensei que esse dia não ia chegar nunca, quase – Murmurou. Finn levantou seu olhar para encará-lo, tão confuso quanto antes. Jack continuou: – Quem é a garota?
Uma das sobrancelhas de Finn moveu-se para cima, apenas no tempo de Jack gargalhar descaradamente da reação do amigo, confirmando assim, sua suspeita.
– Parece que o amor te pegou, Wolfhard – Deixou o copo novamente sobre o balcão, o indicador deslizando pela borda do objeto de vidro em movimentos circulares – O quê? Esqueceu que apesar de não ser tão brilhante e solicitado quanto você, também trabalho como cupido na Wish?
Finn balançou a cabeça negativamente de modo suave, não queria ficar tonto. Além disso, sabia o quanto seu amigo era esforçado em tudo que fazia, e o que ele menos precisava agora era dar a entender que questionava as deduções de Jack, até porque o mesmo estava certo.
– Não, é só que... – Suspirou perdendo-se em suas próprias palavras. Nem ele mesmo acreditava que estava naquela situação, confuso por uma garota. Pigarreou – Não sei muito bem o que fazer.
– Quem diria – Gargalhou. Finn tinha vontade de pegar o copo de suas mãos e jogar o líquido contra ele – O rei da conquista sofrendo por amor.
O Wolfhard revirou os olhos dando ombros, afinal de contas, não havia muito o que fazer ou até mesmo falar.
– Você pode ser um gênio quando se trata de ajudar as outras pessoas, porém toda vez que tem de ajudar a si mesmo, trava e bate na mesma tecla – Jack revirou os olhos, virando o restante da bebida em sua boca. Fazendo uma careta, ele continuou: – Você é deste jeito desde que nos conhecemos.
– Certo, certo já entendi – Levantou suas mãos em sinal de redenção.
– Você não me respondeu ainda – Cantarolou numa risada arrastada – Quem é a guerreira que conquistou seu coração?
Finn fixou os olhos nele, pensando se valia a pena despejar todo os acontecimentos dos últimos meses no amigo. Dando de ombro abaixou seu olhar para as próprias mãos sobre o balcão. Apesar de toda a fachada de frieza e profissionalismo, era tímido quando o assunto eram sobre seus próprios entimentos.
– Millie, ela se chama Millie Bobby Brown.
– Ok, agora eu fui pego de surpresa – Formou um beiço com os lábios balançando a cabeça. Pensando em como havia deixado escapar qualquer rastro de que seu amigo estava gostando de sua própria chefe – Eu sinto muito, já aconteceu comigo antes, porém depois notei que a garota não nascera pra ser minha e me conformei.
– Ela nasceu pra ser minha, esse é o problema – Engoliu com certa dificuldade. Falar sobre o que sentia, continuava sendo um dos piores assuntos para ele. No fim era exatamente por essa razão que evitava fincar amizades, evitava sentir, e acima de tudo, contar os seus anseios.
Jack puxou seu banco um pouco mais para perto, ficando poucos centímetros de distância do amigo, como se fossem partilhar um segredo. Se o assunto era o coração e os sentimentos de Wolfhard, tinha de agir com o dobro de cautela, como se pizasse no gelo fino usando salto-agulha
– Eu agradeceria se você me explicasse tudo que aconteceu – Murmurou baixinho.
Finn entortou os lábios, falar da antiga Millie era um assunto doloroso demais, como um resfriado mal curado. Não gostava de lembrar de tudo que ela teve de passar para chegar onde chegou, e acima de tudo em tudo que Brown perdeu. Sempre tentava repetir a si mesmo que precisava seguir com sua vida e que aquela nova Millie ainda precisava dele, todavia a dor ainda estava lá, lhe incomodava dia após dia.
– Basicamente, tivemos uma vida juntos antes de um acidente que sofri alguns anos atrás – Abaixou seu olhar evitando encarar o modo ao qual Jack lhe olhava.
Ele deu uma risadinha.
– Eu não entendi direito – Pigarreou reencostando-se na parede – Como assim tiveram uma vida juntos?
– Éramos amigos de infância, mas por conta do acidente perdi a memória e por consequência esqueci dela.
– Você perdeu a memória? E nunca desconfiou disso?
Finn fixou seus olhos nele. Sabia que era algo complicado para se digerir, afinal de contas não era sempre que se caía de uma cachoeira e esquecia o próprio nome.
– Certo... – Jack levantou as mãos num sinal de redenção, absorvendo toda a historia em sua mente – Mas qual o problema nessa situação toda? Se vocês já tiveram algo, agora que ela voltou e aparentemente tambem gosta de você... – Deixou a sugestão no ar, esperando que Finn concordasse, assim que ele assentiu, Jack continuou: – Vocês podem tentar investir e ver no que dá.
Grazer deu de ombros, sentindo que havia solucionado todo o caso, entretanto a feição de insatisfação esboça na face de Finn, fez com que sentisse toda a sensação de orgulho de si mesmo, murchar como um balão ao tocar num espinho.
Revirando os olhos, apoiou a face sobre os próprios punhos.
– Qual o problema agora?
– Existe uma complicação, muitas na realidade.
– E quais são? – Suspirou, cansando-se um pouco da enrolação para enfim chegar numa solução daquela historia. Jack nunca gostou de coisas demoradas, incertas, retardatárias.
– Por conta desse mesmo acidente, ela precisou realizar uma cirurgia afim de retirar uma espécie de bolha de ar que se formou no cérebro dela – Jack entreabriu os lábios, entendendo aonde aquilo ia chegar.
– Ela se esqueceu de você... – Murmurou desapontado, mais para si mesmo do que para Finn. O Wolfhard Assentiu – Ah, cara, sinto muito.
Seu amigo expressou aquela fisionomia, a que sempre expressava quando algo não ía de acordo e perdia a fala. Toda vez que Jack, tinha aquela feição estampada em sua face, Finn sabia que ele realmente, sentia muito.
– Também sinto – Suspirou, os olhos começando a arder. Jack pousou uma de suas mãos sobre seus ombros, apertando-os calorosamente.
– Sabe, nem tudo está perdido, se ela nasceu pra ser sua como você mesmo disse, uma hora ou outra vai acontecer.
– Preciso tomar uma decisão, Jack – Inclinou-se sobre o balcão do bar, evitando encará-lo.
– Apenas lembre-se que amor de verdade, não se acha tão facilmente quanto pares de meias, certo?
Finn fez uma careta.
– Que tipo de conselho estranho é este? – Arqueou uma de suas sobrancelhas, voltando seu olhar para o outro.
– Eu sou seu melhor amigo, não filósofo – Sorriu, lhe dando um pescotapa suave em seu ombro.
O Wolfhard gargalhou, observando seu amigo rodopiar os dedos no ar, pedindo uma nova rodada de licor de Menta. Finn optou por algo mais suave como uma batida, afinal de contas precisava manter os pensamentos ligados, precisava chegar num consenso consigo mesmo.
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HORAS DEPOIS
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Finn empurrou a porta de seu carro sentindo-se estupidamente mole. As pálpebras pesavam, incomodavam como se grãos de areia tivessem sido jogados contra as íris de seus olhos.
Estava cansado e com sono, com tanto sono que ao ver a figura vermelha de raiva de Sadie sentada com as pernas cruzadas frente à sua casa, teve de balançar a cabeça algumas vezes para se certificar de que não estava vendo coisas.
– Será que algum dia você estará em casa para me atender quando eu tocar a porcaria da sua campainha? – Ela voltou seu olhar para ele. Finn nem precisava se esforçar pra notar o quanto Sink ansiava pular em seu pescoço e chacoalhá-lo até a morte.
O Wolfhard bocejou de forma prolongada, caminhando lentamente – quase que cambaleando –, até Sadie.
– São praticamente duas da manhã, o que está fazendo aqui uma hora dessas? – Enfiou as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans afim de encontrar seu molho de chaves, ação essa que se tornou um tanto complicada por conta da mal iluminação.
– Estou aqui desde às vinte e duas horas, Finn. Vinte e duas! – Bufou, revirando os olhos – Custava ao menos ter atendido a droga do telefone?
Ele girou a maçaneta quase deixando seu corpo acompanhar o movimento da porta, logo após deu espaço para que Sadie entrasse. Estava cansado demais para dar ouvidos pros chiliques de Sink.
– Poderia ter voltado amanhã.
– Millie me fez prometer que falaria com você hoje – Cruzou os braços, atirando-se contra o sofá.
– Millie te mandou aqui? – Arqueou uma de suas sobrancelhas, voltando seu olhar para Sadie, lhe encarando como se estivesse a vendo pela primeira vez. Sink assentiu tediosa.
– Brown acha que está bravo com ela – Suspirou – Pensei que estivessem bem.
– Acho que dei a entender pelo modo ao qual a respondi da última vez que conversamos...– Murmurou sentando-se ao lado da ruiva. A última conversa ao telefone com Millie sendo repassada interiormente em seus pensamentos, ele não havia sido necessariamente um doce de pessoa – Mas me diga algo, desde quando você se importa com esses tipos de coisa?
– Bom, ela é minha amiga – Ela deu de ombros desdenhosa.
– Realmente? Pensei que só estivesse lhe ajudando por causa do Noah – Olhou-a de soslaio. Sadie desviou seu olhar por completo para a primeira coisa que aparecesse em seu caminho, sabia que se Finn visse sua face avermelhada, faria piadinhas e Sink não estava pronta para elas ainda.
Ele gargalhou, numa mistura de um tom meio grogue e arrastado por conta das bebidas que ingeriu mais cedo. Sentia-se um tanto abobalhado, até um pouco inquieto.
– Você achou mesmo que eu não notaria? – Um sorriso debochado passou a nascer lentamente nos lábios de Wolfhard, Sink nunca havia sentido tanta vontade de bater em alguém como naquele momento.
Sadie suspirou, sentindo-se derrotada.
– Desde quando? – Ela ainda encarava o vaso de flores sobre a mesa de canto da sala. Odiava sentir-se frágil, sensível.
Finn entortou os lábios.
– Desde o dia em que nos conhecemos naquela festa – Ela finalmente se virou para encará-lo. As bochechas queimando tão vivas quanto a cor de seu cabelo – Naquela noite você sentou-se para conversar comigo, não porquê queria realmente saber sobre o destino de Noah e Millie, mas sim averiguar se eu sentia alguma coisa por Brown, queria se certificar de que Noah ficaria livre.
– Do modo que você fala, faz parecer que agi por interesse esse tempo todo... – Murmurou sentindo-se murcha, algo como desapontamento. De início, não se importava realmente em relação aos sentimentos de Millie. Para ela, os fins justificariam os meios e era tudo o que valia. Entretanto, as coisas haviam mudado, e pensar em ferir Brown lhe causava a mais absurda angústia.
– Você precisa admitir que a maioria das suas ações foram baseadas nisso, Sadie.
– Aprendi a gostar dela – Riu sem humor – Eu a detestava, mas criei afeição pela Millie. Mesmo perdendo a memória, Brown continua tão doce e delicada quanto antes. Apesar de não ter sido cem por cento sincera com ela, fico feliz de estar ajudando em alguma coisa, acho que posso considerá-la uma amiga.
Finn assentiu, não sabendo muito bem o que responder. Sadie era uma pessoa de fases, mais do que a própria lua inclusive, todavia nenhuma dessas suas fases a tornavam alguém maquiavélica e ele esperava que a mesma tivesse ciência disso.
– Bom, cuide dela como cuidaria de si mesma, caso algo aconteça, ok?
A ruiva estreitou os olhos, sentindo algo queimar em sua garganta. Todo a sensação de ternura sendo sugado e substituída por algo como revolta.
– Como assim? – Aproximou-se lentamente, voltando seu corpo em sua direção. Os tendões de seus joelhos colidiram-se lhe enviando câimbras momentâneas – Você não está pensando em deixá-la, está? Pensei que já tivéssemos conversado sobre isso.
– Eu não sei... é só que – Suspirou deslizando os dedos por entre seus fios de cabelo. Sentia-se aflito, agoniado – Aparentemente desde que nos conhecemos, as coisas vem dado errado e apesar dela ter lutado por mim e eu querer de verdade largar tudo e agarrá-la para nunca mais soltar, já imaginou como a vida da Millie poderia ter sido diferente caso não tivesse me conhecido?
A ruiva riu sem humor, balançando sua cabeça em negativa. Parte por achar aquele discurso um tanto estúpido, e parte por Finn ser tão paranóico que lhe dava nos nervos.
– Você por acaso tem medo de ser feliz, Wolfhard? Sinceramente... a vida da Brown nunca foi fácil, mas ela tinha você pra motiva-la a ser alguém melhor, a não desistir, se não fosse por você, Millie estaria sozinha agora, talvez sim estivesse com sua memória intacta, todavia do que isso adiantaria?
Sadie se levantou, procurando por sua bolsa, já havia passo o recado de Millie e não queria ter de servir de ouvinte do Finn bêbado em plena madrugada, tinha amor pelos próprios ouvidos e uma cama confortável aguardando por ela em sua casa.
Caminhou até a porta. A mão sobre a maçaneta de ferro fria, fazia com que calafrios percorressem por toda extensão de sua espinha. Ela lançou-lhe um olhar por cima de seus ombros.
– Olha, eu entendo que quando você a perdeu pela primeira vez, estava desmemoriado e não se recordava de nada, por essa razão é fácil te perdoar, todavia dessa vez você tem plena consciência do que está fazendo e dos próprios sentimentos também. Millie arriscou muito por você pra que você jogasse tudo isso no lixo – Ela suspirou – Se você a magoar de novo, não vou conseguir lhe perdoar dessa vez, acho que nem mesmo você vai conseguir.
Abriu a porta e partiu, deixando Finn com mais mil questões pulsando vivas em sua mente para trás, todas elas com apenas um nome, Millie Bobby Brown.
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DOIS DIAS DEPOIS
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– Confesso que não acreditei quando me disseram que estava aqui – Finn murmurou ao ver a figura de Noah sentada confortavelmente sobre a cadeira de seu escritório.
O modelo mirava cada canto de seu escritório com certa fascinação e até curiosidade. Felizmente ele chegara após o período de surto de Wolfhard e as coisas estavam organizadas aonde deviam estar, todavia toda vez que lembrava-se da situação ao qual seu local de trabalho se encontrava dias atrás, sentia um calafrio gelado lhe percorrer por inteiro.
– É, nem eu acreditaria – Suspirou, jogando seus braços para as costas de sua nuca. Não sabia exatamente como agir, não que a figura do outro lhe intimidasse, entretanto expor seus pensamentos para o rapaz ao qual sua melhor amiga gosta não parece ser uma das melhores formas de fincar uma possível trégua.
Os olhos escuros de Wolfhard passearam por toda a figura de Schnapp. Todas as coisas que ele havia lhe dito afim de “proteger” Millie, surgindo em sua mente como fogos de artifício. Todavia Finn não nutria nenhum tipo de sentimento negativo por Noah, pelo contrário, sempre seria grato por ter cuidado e protegido Brown quando o próprio não podia.
Finn sentiu o ar escorrer levando parcialmente uma sensação de cansaço consigo. Mal estava dormindo nos últimos dias, mantinha-se consciente por conta das inúmeras e intermináveis doses de café que andava bebendo diariamente.
– Não sou ingênuo pra tentar te fazer entender o que me levou a agir do modo que agi com você, sei que sabe – Noah chacoalhava as pernas inquieto, como se uma corrente elétrica percorresse por cada canto de seu corpo. Estava nervoso – Eu não vim aqui pra pedir desculpas ou perdão, porque eu precisaria me arrepender pra que isso acontecesse e na realidade, faria tudo de novo.
Deu de ombros desdenhoso.
– O fato é que Millie gosta de você e por mais que eu tenha tentado reverter isso, os sentimentos dela em relação à você, permaneceram os mesmos – Noah fechou os olhos sentindo-se suspirar – Quando conversamos ela sempre diz que deseja o melhor pra mim, mesmo tendo me conhecendo praticamente agora, Brown sempre deseja que eu encontre uma pessoa que goste de mim e que me valorize, foi pensando nessas coisas que cheguei a conclusão que precisava desejar o mesmo pra ela ou não estaria sendo um bom amigo, estaria sendo egoísta.
Finn sentiu um rastro de sorriso nascer em seus próprios lábios. Ele definitivamente não tinha como conseguir odiar Noah, visto que o próprio tinha princípios tão semelhantes ao seu modo de pensar.
– Sei que você não gosta de mim e entendo, nem eu mesmo gosto – Finn deixou uma risadinha escapar – Todavia, você sempre fez bem pra Millie e ela apesar de não do mesmo jeito, te ama – Sorriu – Suponho que quando Brown diz que que sabe que existe alguém que te ame tanto quanto você a ama, realmente sabe e bom, até eu sei, só espero de verdade que você perceba o quanto antes.
Noah levantou seu olhar para encará-lo. Pela a primeira vez em que o conheceu, Schnapp o olhava em seus olhos, Finn sabia o aquilo queria dizer e por mais que fosse bobo ficou feliz. Ele estava lhe dando – ou pelo menos tentando lhe dar um voto de confiança –, e era satisfatório para o Wolfhard sentir que estava fazendo progresso com ele, porque no fim, era o melhor amigo da garota ao qual amava.
– O que quis dizer com isso? – Perguntou. Finn ponderou na hipótese de lhe contar a verdade sobre Sadie e seus sentimentos, todavia ele tinha uma ideia muito mais interessante formando-se em sua mente em relação à como resolver aquela situação.
– Quis dizer que você me ajudou e pode ter certeza que irei retribuir o quanto antes – Sorriu.
Noah apenas permaneceu lhe encarando, parte por tentar não se arrepender da decisão que tomara em relação aos sentimentos por Millie, e parte por sentir uma espécie de vibe boa vindo da tal proposta de Finn.
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ALGUMAS HORAS DEPOIS
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Suspirou ao terminar de abotoar todos os botões de joaninhas de seu recém novo pijama. O tecido era macio de deslizava de modo suave por sua pele, não que fosse a parte técnica que agradou Millie, mas sim a aparecia convidativa e divertida, bom ao menos para ela sim.
Ouviu a chaleira gritar desesperada e correu apressando seus passos – quase tropeçando nos próprios pés –, até a cozinha. Respirou bem fundo sentindo o aroma de canela adentrar suas narinas, podia perfeitamente sentir o gosto em seu paladar sem a menos ter se servido ainda. Millie definitivamente era apaixonada chá.
Girou o botão cessando o fogo e dando descanso para a pobre chaleira.
Apesar do clima durante a tarde ter sido horrores de quente, durante a noite, brisas geladas adentravam por qualquer fresta existente de seu apartamento, e nem o mais grosso moletom podia privá-la de bater os dentes enquanto caminhava encolhida pelos corredores. Millie em todo caso não se importava, era apaixonada pela sensação do chá descer quente em seu interior, durante aquela atmosfera gélida, o calor da sua bebida quente favorita, fazia com que se sentisse amada e às vezes, como se todo seu cansaço e preocupações se fossem como num estalar de dedos, bom, pelo menos até o momento em que terminasse sua xícara.
Não sabia muito sobre sentir, mas sabia que seu amor por chá era algo imensurável. Talvez por não entender quase nada sobre sentimentos, se encontrava tão angustiada – e até irritada –, em relação as suas próprias emoções, o fato de pensar constantemente em Finn, lhe deixava decepcionada.
Um suspiro escorregou para fora de seus lábios, transformando-se em ar condensado, muito semelhante ao vapor que saía de sua adorada chaleira.
Os olhos de Finn lhe invadiram seus pensamentos, e ela soube que quase instantaneamente um sorriso passou a nascer em seus próprios lábios, tão fácil quanto o ato de piscar. Fechou seus próprios olhos lembrando-se de como gostava de pensar que as suas orbes negras lhe lembravam o céu da galáxia, já as sardas? Ah, eram como meteoros e estrelas cadentes. Finn era como uma profunda e vasta – inclusive desconhecida –, galáxia, seu próprio universo.
Foi pensando assim que a caminhou até seu armário, procurando por sua xícara favorita, deixando um ou outro suspiro apaixonado escapulir em meio a sua ação.
Todavia antes que pudesse terminar de se servir, a melodia de sua campainha soou pelo apartamento, e ela jurou ter pensado quem fosse a vizinha de baixo e até mesmo Noah, alegando ter esquecido as chaves ou algo do tipo. Entretanto ao marchar até a porta e abri-la preguiçosamente, formar um perfeito “O” com os lábios, foi inevitável.
Quase que instantaneamente sentiu as pernas bambearem, já seu coração dava pulos e piruetas de alegria, e ela tentou de verdade dar o seu melhor sorriso, visto que em palavras nunca saberia expressar o que eram todas aquelas sensações que lhe causavam um frio em seu estomago, como se fosse pisoteado por vagalumes, o famoso mal estar do bem.
– Oi – Ele sorriu com ternura, segurava papéis em suas mãos e por alguns segundos ficou brava consigo mesma por deixar-se levar pela curiosidade em saber o que haviam neles.
– Eu pensei que... pensei que estivesse bravo comigo – Sua respiração falhava, atropelando a própria fala. Por um momento ela desejou saber se algum dia, se acostumaria com o que Finn causava consigo.
– É, a Sink me disse, desculpe por isso – Murmurou, coçando sua nuca constrangido.
Millie sentiu algo como alívio transparecer no suspiro que escapou a seguir, todavia a áurea de tensão ao qual Finn estava absorto lhe causava certos calafrios.
– O que houve? Ah, perdão pela falta de educação, entra – Deu espaço para que ele passasse, e foi o que fez.
– Desde que você me conheceu no hospital, vem me pedindo respostas e não queria dá-las a você porquê nem eu mesmo aprendi a digerir tudo e achei que estaria te privando de se desgastar o tanto que me desgastei.
– Como assim? – Ela aproximou-se tomando cuidado para que não o assustasse.
Finn suspirou, puxando todo o ar que havia prendido desde o momento em que chegara ali e soltando aos poucos. Sentou-se com as pernas cruzadas no chão um tanto gelado demais e aguardou que ela fizesse o mesmo.
Quando Millie enfim se sentou perguntando-se interiormente o que raios estava acontecendo, assistiu Finn estender dois envelopes em sua direção e antes que perguntasse ou pensasse em questioná-lo sobre tudo aquilo, o Wolfhard gesticulou com seu queixo para que ela abrisse o conteúdo agora em suas mãos.
E foi o que ela fez:
Eu sempre odiei começos, são complicados, quase os odeio tanto quanto despedidas.
Se está lendo isso, significa que Finn decidiu nos dar uma chance e você/eu, que seja, precisamos disso.
Você esteve muito tempo sozinha, desde o dia em que nasceu – no banheiro de uma lanchonete meia tigela –, e mamãe não soube lidar direito com a perda do papai e mesmo se casando novamente, não foi suficiente. Talvez por isso sempre esteve nos mantendo distante dela, claro que isso influenciou no nosso crescimento e estar sozinha acabou sendo mais confortável do que pensar em ser afastada por novas pessoas.
Mas então Finn caiu sobre nós correndo as pressas atrás de sua pipa e mesmo não nos conhecendo a fundo nos presenteou com ela, mamãe a quebrou naquela mesma noite, todavia nos nunca havíamos nos esquecido do garoto da pipa.
Acabamos por nos encontrar novamente no ensino fundamental e à partir daí, formamos um time, Millie e Finn. Você então se sentiu pela primeira vez querida e adorada, porque ele sempre esteve ali, levava lanches e agradinhos, nos ajudava com os deveres de matemática e nos carregava por toda cidade na garupa de sua bike.
Toda vez que mamãe e nosso padrasto nos feria, Finn tratava de nos abraçar bem forte e fazia tudo parecer tão pequeno quanto as partículas de átomos. Nós dois podíamos absolutamente tudo juntos.
Mas aí houve o acidente no sítio dos avós dele e ele acabou esquecendo de nós, assim como você esqueceu dele e de tudo isso que estou te contando.
Você pode me culpar se quiser, se eu tivesse procurado me tratar antes, nada disso teria acontecido e agora quem sabe estaríamos felizes. Todavia tardei para tomar uma iniciativa e paguei caro por isso.
Por essa razão decidi te escrever isso e te deixar algumas instruções.
A primeira é: nunca dê espaço ou força para os seus medos. O pânico e a ansiedade são do tamanho da sua disposição para controlá-los e você precisa sempre se manter forte, se sentir que está pra desmoronar, chame imediatamente por Noah, aliás...
Seja sempre gentil com o Noah, você provavelmente já o conheceu. Às vezes pode ser um tanto paranoico em relação ao seu bem-estar mas isso se deve ao fato dele nos amar muito. Schnapp sempre nos salvou nos momentos de trevas – Inclusive quando Finn teve de partir –, você deve muito à ele.
Sadie pode parecer estranha e não confiável mas lhe dê tempo, ela está aprendendo juntamente com você. Sink é um tanto desconfiada pois já ter sofrido tanto quanto nós e precisa de ajuda – mesmo que não admita.
E o Finn... bom, este que provavelmente está com você agora, ele é diferente, por mais que não admita, é tão tímido e acanhado que chega a ser charmoso. Tente ser cuidadosa com seus sentimentos, e ele terá o dobro com você.
Se decidir dar uma chance ao amor de vocês, tenho certeza que mesmo existindo várias desavenças e obstáculos, vocês permaneceram juntos.
Estou lhe desejando boa sorte nessa sua nova caminhada. Não se cobre mais do que o saudável.
Com amor e esperando ter iluminado suas ideias,
Millie.
– Foi muito ruim? – Ele a questionou.
Sentia-se trêmulo e ansioso, desde que Millie havia começado a ler a carta. Quase como se fosse desmaiar a qualquer minuto.
Quando Brown levantou seus olhos para encará-lo, sentiu-se derreter ao notar as lágrimas escorrendo por suas bochechas.
Um tanto temeroso, inclinou-se para frente, e com uma delicadeza que nem sabia que tinha, deslizou seus polegares por sua face, afim de enxugar suas lágrimas.
Ela aproximou sua face, eliminando o espaço entre eles, apoiou sua testa contra a de Finn, sorrindo timidamente.
– Obrigada por ter escolhido não desistir de nós – Sussurrou baixinho. O silêncio entre eles era tão confortável e atrativo que quebrar aquilo parecia algo próximo a um pecado.
– Não vou deixar você escapar de mim novamente – A ponta de seus narizes colidiram-se, roçando um contra o outro em movimentos sutis, tão suaves quando plumas.
Millie fechou os olhos, sentindo a respiração de Finn acalentar a pele fria – pelo clima lá fora e agora pelas lágrimas de outrora –, de sua face.
Ela permitiu tocar-lhe a face, os dedos percorrendo um caminho aleatório por todos os traços desenhados da face de Finn. Queria ter cada detalhe gravado em sua memória, queria mantê-lo tão em si como uma tatuagem, porque sentia que isso era o certo, assim como 1 1 são dois.
Ela podia não entender de sentimentos, nem de emoções e muito menos do nexo do porque sentir tanta eletricidade percorrer por todo seu corpo a cada toque de Wolfhard. Todavia, quando cansou-se de grava-lo em seus pensamentos, sentiu que precisava de mais e talvez fosse nisso que o mesmo estivesse pensando quando ela pressionou sua boca à dele.
Os movimentos eram incertos e confusos, ele não queria assustá-la e ela agradeceu internamente por isso.
Talvez por ter a mente fértil imaginou que tudo se tratasse de uma grande dança, onde os lábios macios e delicados de Finn conduziam os passos de modo lento mas ao mesmo tempo tão afável que as piruetas que seu coração dava anteriormente, eram tão intensas e confusas que a pobre Millie sentia como se fosse explodir.
Os vagalumes em seu estômago chacoalhavam e rodavam tão felizes quanto ela.
Ambos sorriram entre o beijo, aproveitaram o momento para respirarem, visto que todo o ar de seu pulmão parecia ter sumido.
E como se seus lábios fossem imãs, o juntaram mais uma vez.
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DIAS DEPOIS
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Ela inspirou e respirou nervosa.
Os dedos tremiam e suavam quase que de forma descontrolada. Odiou-se por perder a razão daquela forma, era só uma festa afinal de contas.
Sentia que todos a olhavam e talvez estivesse certa. Aquele vestido verde de rendas parecia ter sido confeccionado para ela, acentuava suas curvas, entrava em harmonia com o branco de sua pele e definitivamente conversava em harmonia com os contrastes alaranjado de seu cabelo – agora preso em um coque alto.
Ela não tinha ideia, mas todos na festa a olhavam como se fosse uma obra de arte, como se todas as luzes estivessem sobre si.
Quando Noah a viu, sorrir foi inevitável assim como foi inevitável controlar as batidas ensurdecedoras de seu coração, que para muitos estava adormecido, mas nunca para ele.
Caminhe lentamente até ele. Tente não agir de modo desesperado.
Sadie revirou os olhos.
– Sei disso, não sou burra.
Não esperou uma nova instrução para seguir seus passos. Caminhou de modo delicado até Schnapp, quase flutuando.
Ele sorriu ao vê-la se aproximar, e sentir a sensação de que iria derreter ali mesmo foi quase que automático.
– Você está linda – O sorriso em seus lábios se tornou ainda mais intenso e Sadie quase teve de se segurar para não beijá-lo ali mesmo.
Responda algo, está lhe deixando desconfortável.
Sink pigarreou suavemente, recobrando seus sentidos.
– Você está ótimo também – Ela sabia que suas bochechas lhe entregariam, era nessas horas que ser branca acabava por ser uma baita desvantagem.
Noah não tinha certeza do que dizer. Ele quase nunca tinha, todavia ao observar todos os casais na pista de dança, balançando-se no ritmo daquela música brega e velha, a frase que escapuliu de seus lábios em seguida veio tão naturalmente, que quase teve de balançar a cabeça para ter ciência do que havia dito.
– Quer dançar comigo?
Foi o que ele disse e ela nem precisou aguardar a resposta de Finn em seus ouvidos para respondê-lo.
Os momentos a seguir foram embaraçados. Noah tinha a face pintada do mais intenso vermelho, apenas por estar com as mãos contra a cintura de Sadie, já ela o olhava bem no fundo de seus olhos, como se pudesse ver todo o infinito refletido num só tom de verde.
Hey, Sads é a Millie. Preciso roubar meu namorado para uma dança por alguns instantes, acha que consegue dar conta do recado?
Sadie pôde ouvir quase que perfeitamente Finn resmungar contrariado pela escuta e de forma automática, respondeu sua amiga:
– Claro.
Sink deixou uma risadinha escapulir, e ao notar a fisionomia confusa de Noah, sentiu vontade de se auto estapear.
– O que disse? – Arqueou uma de suas sobrancelhas sentindo-se perdido.
– Hm? Nada, só estava pensando alto – Deu de ombros em desdém, apoiando sua cabeça em seu peito em seguida. Já Noah suspirou, sentindo já ter escutado aquela mesma resposta, numa situação muito parecida antes.
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