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História Wolves and Witches - Mergulho do penhasco



Notas do Autor


Mais um capítulo pra vocês, esperamos que gostem!

Capítulo 2 - Mergulho do penhasco


Fanfic / Fanfiction Wolves and Witches - Mergulho do penhasco

POV narrador

 

Imagine três almas idênticas se encontrando. Almas de encaixe e simetria perfeita... Almas puras e envoltas de magia, almas condizentes e harmoniosas que veem umas nas outras o complemento de si próprias. Assim foi o encontro de Yume, Elisabeth e Lilith. Três lindas garotas, de coração aberto, olhos compenetrantes, traços marcantes e personalidade distintas. Três jovens bruxas que pelo acaso ou destino, esbarraram-se abruptamente e selaram ali, naquele momento tão corriqueiro, um pacto subliminar de amizade. Contarei a vocês agora, como esse encontro de almas irmãs se deu de forma tão banal...

 

 

Era uma noite como outra qualquer nos arredores de uma cidadezinha chamada Forks. Como de costume naquela região, gotas pesadas de chuva se faziam presentes incomodando a todo e qualquer desprevenido que ousou sair de casa sem preocupar-se em se proteger da ação do clima sempre tão instável. Vi o momento em que uma linda jovem de cabelos loiros encharcados pela chuva encostou sua moto no mesmo posto de gasolina em que eu me abrigava da chuva. Ela parecia ter tido um dia realmente ruim, seu semblante demonstrava a indignação ao avaliar os muitos arranhões nas laterais da moto e eu me perguntava silencioso, o que aquela linda jovem de traços tão delicados fazia com uma máquina potente como aquela. E pior, como a linda loira havia conseguido maltratá-la tanto... A jovem dedicava sua atenção à moto e eu teria mantido a minha atenção voltada a ela caso um ruído repentino não me atraísse. Outra linda garota saindo mancando da loja de conveniência pareceu-me discutir com um motorista de uma minivan. A situação me chamou a atenção e curioso me esforcei para ouvir daqui o que lá acontecia. Pelo pouco que pude entender, o ruído que atraiu minha atenção foi a minivan freando bruscamente porque segundo a acusação daquele motorista, a bela jovem de traços orientais havia atravessado seu caminho excessivamente lenta. E eu me questiono em silêncio se ele não havia percebido que os movimentos mais dificultosos da moça se dão por algum tipo de machucado em seu pé, já que a mesma se mantém mancando. Meneio a cabeça em desagrado com a lamentável atitude daquele motorista sem nenhum senso de cavalheirismo e novamente minha atenção é roubada por conta de um ruído. Dessa vez a buzina persistente logo na primeira bomba de gasolina atrai meu olhar e pela proximidade da cena eu noto daqui os singulares olhos verdes envoltos em ira de uma jovem que parece se irritar por algo relacionado a sua tentativa de abastecer. Ela de pé ao lado da porta do carro, buzina mais algumas vezes e ao não receber a atenção do funcionário mais adiante, a moça bate à porta do carro e segue em passos firmes atravessando o posto de gasolina. Pela rota traçada por seus passos firmes, percebo que ela se encaminha até a área onde funcionários do posto conversam entre si ignorando completamente qualquer um naquele lugar que precise de ajuda.

 

 

De repente, meus olhos mal conseguem acreditar no que veem e confesso que a velocidade com que as coisas aconteceram, dificultou um pouco a minha compreensão daquela cena que transcorria bem diante dos meus olhos. Por algum motivo que minha compreensão desconhece, as três lindas jovens que pareceram chegar com sérios problemas naquele posto, conseguiram a proeza incrível de trombar uma na outra com tamanha intensidade que as três caíram simultaneamente no chão. Não consegui ver exatamente o que levou as três a cruzarem o mesmo caminho, mas pude ver nitidamente o momento em que a reação inicial delas tendia para um confronto nada amistoso, mas pra minha surpresa a situação tão ridiculamente absurda fez as três deixarem de lado o ranço de um dia difícil e se renderem a uma intensa onda revigorante de gargalhadas. 

 

 

Outras pessoas ali presentes assistiram à cena sem perceber muito bem o que havia acontecido, pra essas pessoas, tratava-se apenas de um esbarrão causado por três garotas distraídas, mas pra quem assim como eu tem a capacidade de enxergar o efeito sobrenatural e toda a magia envolvendo e unindo aquelas três, esse "esbarrão" não foi um acaso como tantos outros... Foi o destino iniciando uma trajetória, unindo três bruxas que desconhecem a totalidade do poder que possuem dentro de si. Toda magia tem um preço a ser pago, e eu pude ver que esse encontro de almas não foi em vão. O futuro se encarregará de mostrar às três o que lhes foi destinado antes mesmo que nascessem...

— Que assim seja e assim será.

 

 

 

 

6 meses depois...

 

 

 

 

 

POV Jacob

 

 

Hoje à noite promete! Os rapazes da matilha, ou pelo menos a maioria deles, e Leah é claro, combinaram comigo uma noite descontraída pra aproveitar o clima gostoso que está pra curtir, essa noite de quarta-feira. Uma balada ou talvez um barzinho, se bem que não me importo muito com o local, tem mulher em qualquer um. E hoje quem quer curtir, não sou só eu, Embry se empolgou com a ideia também, sei bem seus motivos.

 

Sam não vai com a gente, primeiro porque era capaz da Emily capar ele se ele fosse curtir uma noitada, e segundo porque ele realmente não gosta dessas coisas. É até bom mesmo, assim ele fica cuidando da Reserva, e com a ajuda do Seth que mesmo sobre protestos teve que aceitar ficar de fora da farra. Mas isso foi uma consequência da irresponsabilidade dele, não foi uma nem duas vezes que ele faltou a ronda, nos deixou na mão quatro vezes essa semana e por isso foi castigado. Eu concordei com Sam em relação a isso, o que é bem raro até...

 

Optamos por uma balada, movimentada, boa música. Uma chance perfeita pra se divertir com os amigos e conhecer umas gatinhas. Termino de me vestir caprichando no visual, passo um perfume e ajeito o cabelo com um pouco de gel, nada exagerado, só o suficiente pra atrair mais olhares ainda do que a minha forma física bem definida já me permite. A verdade é que nunca fui de sair, mas também não vou ficar sentado esperando o amor da minha vida se eu posso me divertir até la.... Me avalio no espelho e aprovando o que vejo eu saio do meu quarto, me despeço de Billy que me pede que eu tenha juízo e eu então saio de casa depois de tranquilizá-lo sobre estar apenas indo ter uma noite legal com o pessoal. Não menti, é essa mesmo a intenção, e quem sabe saio no lucro e conheço uma gatinha?

 

Saio com o carro e pego a estrada seguindo as coordenadas que Embry me deu pra encontrá-los na balada. E chegando ao local olho em volta e para uma quarta-feira, até que está bem lotado. Assim que vejo Embry, reconheço os rostos junto a ele, fecho o carro e me encaminho até lá cumprimentando um por um em seguida. Mal chegamos e Embry já estava importunando a Leah, que por sua vez apenas o olhava com uma carranca. A cara do Paul também não é das melhores, desde que começou esse lance de imprinting dele com minha irmã, ele só quer estar onde ela está, mas Rachel foi para um chá de panela, que eu nem sei o que é isso, e recusou o convite dele pra vir pra balada. Meu amigo tem cortado um dobrado cortejando minha irmã, e eu percebo que ela reluta propositalmente, só pra manter esse clima de paquera. Muito má essa tal Rachel Black...

 

— Demorou hein Jake...

 

A reclamação de Quil é ignorada por mim e então seguimos juntos pra entrada da balada, Embry tinha descolado uns convites pra nós e não tivemos nenhuma dificuldade pra entrar.

 

— Ihhh olha ali, à 18h45 Jake, que gatinha de mini saia...

 

Dou risada ao ouvir Embry mas trato de seguir a orientação bizarra que ele dá, viro um pouco o corpo e me deparo com um belo par de pernas expostas. É, esse moleque tem bom gosto.... Penso.

 

— Eu vou pegar umas bebidas pra nós...

 

Jared anuncia e sai sendo seguido por Brady que vai ajudá-lo numa tentativa fútil de nos embriagar. Isso porque, com o metabolismo que temos, a nossa alta temperatura impede a absorção do álcool e ao contrário dos outros seres humanos, nem a bebida mais forte é capaz sequer de nos deixar tontos. Os rapazes voltam cada um com dois baldes cheios de longnecks no gelo e nós começamos a beber enquanto curtimos a música e conversamos uns com os outros.

 

— Bom, já que a Leah ainda não está preparada pra degustar o melhor "suco" da matilha, eu vou à caça Jake!

 

O doido do Embry sai dançando de um jeito que me faz rir e em poucos segundos ele se junta à tal menina de saia bem curta. Eu sorvo um bom gole do líquido gelado e percorro o lugar com o olhar, até que um decote suntuoso atrai a minha atenção e é aí que eu me movo.

 

 

... as horas passam ...

 

 

— Então Jakelícia, as minhas amigas estão indo embora. E bom, elas são a minha carona e infelizmente a nossa festinha vai ter que acabar né...

 

A bela ruiva volta para os meus braços e fala entre beijos no meu pescoço, enquanto suas amigas esperam mais adiante, daqui consigo ver Quil olhando pra uma delas com cara de lobo faminto, se Claire visse isso ele estaria em maus lençóis. Minha vontade de rir é tão grande que quase deixo escapar a mensagem nas entrelinhas que a garota, cujo o nome eu já esqueci, me envia.

 

— Ahh mas você não precisa pegar carona com elas... Se você quiser, eu posso te levar pra casa e posso até te colocar na cama, só pra você ver como eu sou bonzinho... --- Lanço a isca.     

 

A ruivinha fisga e eu me despeço do pessoal da matilha, pelo menos os que ainda estavam ali. Depois que eu cheguei na ruiva, Embry se deu bem com a menina da mini saia e não demorou muito pra nos avisar que estava se retirando com ela da balada, Paul marcou presença por uma horinha no máximo e sem minha irmã aqui pra ele se animar, o bobão foi embora. Entre um amasso e outro, vi Leah fingindo indiferença quanto a saída de Embry com outra garota, Leah então abandonou sua carranca costumeira passando a "se divertir" numa conversa descontraída com Quil. Já Brady e Colin passaram boa parte da noite apenas bebendo e conversando, o Colin é, digamos.... Diferente, eu não sei explicar. E Brady é um garoto tranquilo, então os dois ficaram de bobeira sem que eu tivesse visto nenhuma vez os dois tentando ir às vias de fato com alguém. Não que eu tivesse tempo pra ficar prestando atenção a eles né, afinal, a ruivinha cedeu aos meus encantos em alguns poucos minutos de conversa e logo nos enroscamos ali na pista de dança mesmo, sem muitas preocupações. Deixo a balada com ela que me mostra o caminho pra sua casa, ela por coincidência mora na mesma rua que Charlie, um pouco mais adiante apenas. Na entrada da casa, eu não precisei fazer nada, a ruivinha fogosa me fez um convite irrecusável e bom, eu sou um cara solteiro e ela uma garota cheia de bons atributos, não preciso nem dizer né?

 

 

Na manhã seguinte me dirijo pra casa só pensando em cair na cama e dormir por horas, Billy me olha com cara de poucos amigos e faz questão de me lembrar que eu prometi ao Sam assumir a ronda pela manhã junto com Paul e Embry e mesmo relutante eu tive que acatar. Afinal, comprometimento é importante pra matilha. Embry estava com a mesma cara de cansado que eu, mas com um sorriso besta na cara que indicava que ele se deu muito bem. Não que eu não tivesse me dado bem também, mas fala sério.... Precisa ficar com essa cara de hiena asmática o tempo todo? Felizmente o tempo foi nosso amigo e as horas passaram rápido. Era vez de Brady, Quil e Colin assumir a ronda e quando nos encontramos no penhasco, vimos que Seth e Leah e Jared se preparavam pra fazer algo que sempre gostamos muito e que seria muito arriscado para os humanos. Pular do penhasco em La Push! Mas hoje só o que eu quero é ir pra casa e dormir um pouco, só que a matilha parece não entender isso.

 

— Ahhh deixa de coisa Jake, bora pular... --- Leah me dá um tapinha no ombro e eu reviro os olhos.

 

— Para Leah, eu já não falei que não tô afim? Vou é pra casa, dormir... Sai da minha frente.

 

— Qual é Jake, tá com medinho? --- Quil me desafia.

 

— Ahh fala sério... --- Resmungo vendo que começo a ser cercado.

 

 — Eu acho que a ruivinha se decepcionou com ele meio mole...

 

O comentário ridículo vem de Jared que recebe um olhar repreensivo meu. E de repente Seth e Embry se lançam em minha direção, quando penso em relutar sinto meu corpo sendo lançado do penhasco. O máximo que tenho tempo de fazer é proteger "os países baixos" antes do impacto contra a água que apesar de extremamente fria, não causa nenhum tipo de incomodo ao meu corpo. Coisa de lobo... Nado em direção à areia e vejo de repente a silhueta de alguém se forçando a dar braçadas exaustas tentando fugir da forte correnteza. Me direciono pra lá de imediato e assim que vejo um braço ao meu alcance eu puxo afim de socorrer seja lá quem for doido suficiente pra se aventurar no mar revolto como está hoje. Quando consigo enfim ver de quem se trata, me esqueço completamente das ondas agitadas tentando empurrar meu corpo em direção as pedras. Meus olhos se afixam ali, naqueles traços perfeitos e orientais...

 

 

 

 

POV Sam

 

Eu costumava pensar que estava no controle da minha vida e na verdade sempre estive, até meu sangue Quileute mudar tudo. Mas isso já faz algum tempo, eu, Samuel Uley, sendo o primeiro a me transformar, me tornei o Alfa de nossa matilha, o líder dos protetores de La Push. Foi muito agoniante no começo, pois estive sozinho por algum tempo, me sentia instável, não podendo nem ao menos me aproximar de Leah, que era minha namorada na época.

Hoje estou mais receptivo com essa minha condição, na verdade me sinto honrado, e depois de passar por essa fase difícil acordar ao lado dessa mulher maravilhosa, a que foi destinada à mim é um privilégio. Emily Young é uma pessoa incrível, a parceria ideal, que meu lobo escolheu. Sou imensamente feliz ao lado dela.

 

- Bom dia, querido. - Me viro na cama me arrepiando com seu toque suave em minhas costas. Pego seu pequeno corpo em meus braços, beijando seu belo rosto.

- Bom dia minha vida.

- Venha, o café já está pronto. - Me levanto levando minha mulher comigo para um banho quente. É tudo o que eu preciso depois de um breve cochilo que tirei pra compensar uma noite de ronda entediante.

 

Após meu delicioso café da manhã, me sento para esperar que os garotos cheguem, minha casa é o ponto de encontro da matilha. Mantenho as rondas, sempre com dois ou três lobos por período mesmo que não tenha havido nenhum incidente, nenhum nômade ou clã desde que os sanguessugas Cullen foram embora.

 

 

 

 

POV Jared

 

O barulho constante da chuva no telhado me desperta, sei que já está na hora de levantar e eu só dormir umas poucas horas, já cheguei aqui de madrugada e mesmo assim fui muito bem recebido muito melhor do que eu esperava. Permaneço de olhos fechados, desfrutando da sensação que é ter Kim com seu corpo enroscado ao meu ressonando baixinho. Sinto seus cabelos longos espalhados por meu braço e alguns fios estão sobre meu rosto. Respiro fundo e aspiro o cheiro único e agradável que vem das madeixas negras.

Apuro meus ouvidos e ouço a respiração regular que indica que os pais de Kim ainda estão dormindo. E sei que ainda tenho mais algum tempo antes que eles acordem e descubram que ando dormindo com a filha deles as escondidas.

A propósito, eu sou um lobo e protetor de La Push, meu nome é Jared Cameron. Eu nasci e cresci aqui nesse fim de mundo. Mas desde criança, meu sonho sempre foi terminar o colegial e ingressar numa dessas faculdades bacanas que tem por aí, bem longe daqui. Mas eu tive que deixar esse sonho de lado quando me transformei em lobo. Desde então minha vida se resume a La Push, a matilha e ela.

Kim é minha namorada. A mulher da minha vida e a razão de eu querer acordar todas as manhãs.

E como se ela soubesse que eu estou justamente pensando nela... sinto sua mão macia percorrer meu abdômen de uma forma tão gostosa que eu me arrepio todo. Abro os olhos e  viro minha cabeça para olhá-la. Seguro sua mão que já insinuava bem mais para baixo no meu corpo. Ela dá uma risadinha sacana, solta um bocejo e se espreguiça de forma tão graciosa que eu a comparo a uma gatinha. Tenho que me lembrar de agradecer a Deus todos os dias por ter me dado uma mulher como ela. Eu realmente tenho sorte de ter a mulher mais linda de La Push ao meu lado.

 

__Bom dia meu lobão delicioso!

__Bom dia...

 

Não consigo terminar a frase, já que antes disso sinto sua boca se chocar com a minha de forma possessiva e voraz. A Kim sempre foi intensa e mandona nesses momentos, não que eu esteja reclamando. Eu a amo exatamente como ela é.

Em apenas alguns segundos ela já está acima de mim e mesmo estando atrasado para minha ronda e tendo que dar o exemplo, já que sou o segundo no comando da matilha, eu me rendo a ela e seu fogo matinal. Afinal ela é meu imprinting e eu vivo para fazer as vontades dela.

 

 

 

 POV Colin

 

 

Enfim 18 anos. Eu nem sei o quanto desejei que essa idade chegasse... Mas já fazem duas semanas que fiz aniversário e sinto que nada de diferente aconteceu. A não ser pelo fato de enfim ter terminado o ensino médio, as coisas parecem iguais. Aliás, iguais não né, porque o Sam já deixou bem claro que agora que Brady e eu terminamos o ensino médio, teremos que nos dedicar mais à matilha. Por falar em matilha, acho que pulei uma parte importante.... É, eu faço parte de uma matilha. Pra resumir eu tenho esse gene que faz com que me transforme em um lobo gigante, isso foi uma forma da natureza permitir que nós Quileutes nos protegêssemos dos Frios, também conhecidos como vampiros.

 

Eu nasci aqui na Reserva, vivi com meus pais aqui até os cinco anos e então quando eu tinha 7 anos meu pai adoeceu. Nós mudamos pra Washington atrás de tratamento pra ele, já que aqui os recursos não davam conta de curá-lo. Depois de um ano lá, a saúde do meu pai se reestabeleceu definitivamente, mas minha mãe estava estabilizada no emprego que havia conseguido e eu estava no meio de um ano letivo, foi então que eles decidiram que ficariam ali por mais algum tempo, pelo menos até que eu concluísse o ano e pudesse ser transferido de volta para a escola da Reserva. Mas acabamos ficando longe de La Push por quatro anos. A princípio, eu não queria voltar pra Reserva, tinha feito novas amizades em Washington e tinha uma nova rotina bem diferente da vivida na Reserva. Eu achava que em La Push por sua falta de contato com a modernidade e precariedade com relação a diversão, eu me sentiria no mínimo entediado. Grande foi o meu engano.... Bastou chegar na Reserva pra começar a me surpreender com as coisas.

 

 

A Reserva já não era mais tão limitada quanto eu me lembrava, no pequeno centro comercial que antes só mantinha lojas com produtos relacionados a comida, pesca e caça, agora tinha se ampliado e novas lojas, inclusive algumas tendendo para a informática, foram abertas. Um cyber café pequeno, porém estilizado me chamou a atenção de cara, por causa do equipamento moderno. Logo ao lado, uma filial da Livraria Trovão e Baleias de Port Angeles trouxe em sua estrutura um ambiente integrado a natureza, onde as pessoas podem fazer sua leitura sentindo-se bem no meio da floresta.... Como se já não estivesse. Fora mais uma meia dúzia de novas e interessantes lojas que eu não esperava ter encontrado ao chegar, havia também a parte turística sendo mais explorada. É claro que essa parte era limitada a uma área específica da Reserva que era milimétricamente isolada do restante do território, garantindo assim a privacidade que nos é tão necessária.

 

 

Enfim, quando voltei a Reserva um pouco mais aberta a globalização me causou grande alívio e eu então me rendi a mudança de volta e procurei aquele que sempre foi meu melhor amigo, Bradley Fuller. Brady, como a maioria o chama, é quem eu posso dizer que mesmo à distância mantive contato, nós ainda éramos muito crianças quando eu parti, mas sempre ligávamos um para o outro e conversávamos sobre as novidades. Com o tempo isso foi diminuindo, mas não se extinguiu.... Eu optei por não contar ao Brady quando estava para voltar e foi uma baita surpresa quando fui até a porta da casa dele. Brady não me reconheceu a princípio, mas quando eu me apossei do nosso aperto de mão secreto, foi certeiro. Ele é e sempre será o meu melhor amigo.

 

 

Nós costumamos dizer que a nossa amizade é tão grande que nos tornou irmãos através de um laço único, o gene lobo. Sim porque incrivelmente, nós dois nos transformamos a primeira vez juntos. Foi muito estranho, assustador e ao mesmo tempo eu não consigo me imaginar passando por algo assim com outra pessoa ou sozinho. Só de lembrar daquele dia me dá vontade de rir do nosso desespero e inexperiência. E agora parando pra pensar em como são as coisas, passei de menino bobo e desajeitado a um lobo e protetor da Reserva Quileute.

 

 

Mas voltando ao assunto, a amizade se fortaleceu ainda mais no instante em que me abri com Brady, quando contei a ele sobre como realmente me sinto e toda essa confusão dentro da minha cabeça. Ele foi a primeira pessoa a quem contei sobre minha sexualidade, ou sobre a minha indecisão a respeito dela. E pra minha alegria ele reagiu exatamente como eu esperava, Brady mostrou-se o amigo que eu sempre soube que ele é. Não me julgou, ou se afastou, não temeu nada. Ele apenas continuou sendo o que sempre foi. Um verdadeiro amigo... Depois que contei pra ele, eu vi meu amigo por diversas vezes me ajudando a evitar que fosse revelado à matilha por compartilharmos pensamentos quando transformados, porque no começo eu não queria que eles soubessem. Hoje em dia, os outros da matilha sabem da minha sexualidade, aliás, tentam entendê-la assim como eu já que eu ainda ne sinto um pouco confuso. Por vezes me pego atraído tanto por mulheres quanto por homens e eu confesso que por eu ainda não conseguir me "definir sexualmente", tenho receio de me relacionar intimamente com alguém. Enfim, eu não sei se sou gay ou hétero, eu nunca fiquei com ninguém, nunca nem sequer um beijo. Mas estou bem assim, estou tranquilo, não tenho pressa. Afinal, eu sou muito novo, tenho todo tempo do mundo...

 

 

 

 

 

POV Embry

 

Levantei da cama fazendo o mínimo de barulho que eu pude, queria sair fininho, não sou daqueles que pega o número do telefone pra marcar um segundo encontro, nenhuma delas me queriam antes de eu me tornar um lobo, e agora vivem no meu pé, não que eu tenha lhes contado meu segredo, óbvio que não! Sam sem sombra de dúvidas arrancaria minha pata inferior direita com certeza, mas é que junto com a transformação veio também esse meu corpo bem definido.

Me chamo Embry Call, tenho 20 anos e sou um lobo, um dos protetores de La Push, e eu gosto disso, mas só agora, porque a primeira transformação foi muito dolorosa... Tem também toda aquela coisa de que você ficar "perigoso" e por isso ficar um tempo isolado, segundo Sam é meio que uma quarentena. Não pude me aproximar das pessoas até aprender a me controlar, sou muito bom nisso agora. Acho que de todos, sou o que tem mais autocontrole.

Consegui a proeza de sair da casa dessa gata, Camille e sem acordá-la. Infelizmente, pra ela é claro, isso não passará de uma noite sem importância. Quem eu realmente quero ainda não me quer.... Ainda! Por que se depender de mim desfaço toda aquela marra e pose de mulher durona num instante. Caminhei até a casa do Alfa, minha ronda seria no horário da manhã, ronda não sei pra quê se não encontramos nenhum vampiro, nem ao menos um rastro de algum nômade pra gente seguir, só pra se distrair. E depois de uma noite pós balada deliciosa com Camille, eu queria era dormir né, mas tenho que cumprir minha parte.

 

Jacob, Paul e eu pegamos a ronda e a hora passou depressa, pra fechar bem as coisas antes de ir pra casa descansar, nada melhor do que ver o Jacob sendo arremessado no penhasco e dando a baita sorte de salvar uma sereia nipônica como prêmio. Esse Jake tem uma sorte...

 

 

 

 

 

POV Brady

 

 

Olá! Meu nome é Bradley Fuller, mas todos me chamam apenas de Brady, eu prefiro assim, não gosto muito do meu nome. Aliás, nem sei o que minha mãe estava pensando quando me deu um nome desses. Fala sério! Eu não tenho cara de Bradley, sou muito mais bonito do que isso.

Mas deixando o meu nome de lado, eu vou falar um pouquinho de mim.

Como eu já disse, eu sou o Brady e sou um lobo. É isso aí, um lobo. Não daqueles lobos de lua cheia, sou um transmorfo e pertenço a matilha de La Push, sou um dos protetores da Reserva Quileute. Sam é meu Alfa. Ele é legal e tudo, mas pega muito no nosso pé, principalmente do Colin e eu que somos os mais novos. Não sei nem por que, nós nem somos os mais imaturos do bando. Tá certo que a gente comete um deslize ou outro de vez em quando, mas não chega nem aos pés do Seth, ele sim vive aprontando. Não duvido nada que ele tenha deixado um monte de lobinhos espalhados por aí. E o Quil então? Que só tomou juízo depois que a Claire colocou uma coleira nele. E eu não tô falando isso por inveja não. Eu realmente não me importo de ser virgem aos 18 anos, mesmo que os caras peguem no meu pé o tempo todo. É um pé no saco ter que aguentar eles exibindo suas conquistas na minha mente sempre que me transformo. Já estou até imaginando com essa semana vai ser uma droga, depois que o Embry e o Jacob se deram bem na balada de ontem...  Mas eu vou aguentando como posso. Prefiro esperar o momento certo e com a garota certa. E nem venham me dizer que isso é coisa de bichinha, já estou cansado de ouvir isso de todo mundo. Eu sei que um dia eu vou encontrar meu imprinting, ela está por aí em algum lugar.... Pode demorar, mas ela vai aparecer.

 

 

 

 

 

POV Seth

 

 

 

- Dá pra acordar preguiçoso??? Você vai acabar se atrasando pra abrir a loja...

 

 

Abrir os olhos e dar de cara com a claridade vinda da janela, depois de uma noite chata de ronda como a de ontem, não é algo agradável de se viver... Ainda mais com a voz impaciente da dona Sue já reclamando essa hora da madrugada.

 

 

 - Ahh mãe, tá cedo vai! Me deixa dormir só mais um pouquinho...

 

Me agarro ao travesseiro e viro o rosto fugindo da luz que vem de fora.

 

- Cedo coisa nenhuma, seu moleque! Levanta daí e vai abrir a loja antes que eu te faça ir na base da vassourada!!!

 

Reviro os olhos e me obrigo a levantar.

 

- Tá mãe, caramba. Eu já vou... Posso pelo menos tomar um banho antes?

 

- Pode só não né Seth.... Deve! Tá com um cheiro de cachorro molhado meu filho...

 

Eu ando preguiçosamente até o banheiro ouvindo o blá blá blá da dona Sue e quando ela fala sobre meu cheiro eu solto uma risadinha.

 

- "Cê" sabe que as meninas amam os cachorros né mãe... Então nem esquenta pro cheiro, cheguei cansado de mais pra ligar para o suor, depois da ronda pela Reserva só quis me jogar na cama... "Sacumé" mãe, corri bastante essa noite pra proteger vocês e pra manter "tuuuuuuudo isso aqui"!!!

 

Falo as últimas três palavras na frente da porta do banheiro, alisando do peito até o meu abdômen trincado eu me exibo pra minha mãe que meneia a cabeça de forma negativa e atira uma toalha em mim. Ela me manda ir tomar banho e assim que eu saio de seu campo de visão, dona Sue ri da minha brincadeira.

 

 

Tomo um banho caprichado seguido de um reforçado café da manhã e saio ainda cheio de sono pra abrir a loja. Desde que o meu pai morreu minha mãe, eu e Leah cuidamos da loja. Na verdade, minha mãe cuida mais da loja do que nós por causa da nossa responsabilidade com a matilha, as rondas e vez ou outra caça a vampiros do mal. Mas sempre que dona Sue me vê de bobeira aproveita a oportunidade pra me colocar pra trabalhar. Meu pai morreu há alguns anos num incidente que ocorreu quando a vampira ruiva Victória perseguia a guarnição que caçava o "urso assassino", que os caras pálidas acreditavam ter matado o amigo do Charlie. Pobres inocentes.... Naquela guarnição, só meu pai sabia que não tinha sido urso nenhum, e sim aquela vampira. Harry deixou pra nós a nossa casa, umas economias e a loja de material de caça, que sempre vai bem na alta temporada, graças ao intenso fluxo de turistas que acaba nos permitindo nos manter mesmo na baixa temporada.

 

Depois de pouco mais de 5 minutos de corrida, chego diante da loja e começo a abrir as pesadas portas sem nenhuma dificuldade e nem faço uso do dispositivo que instalamos pra facilitar a vida da dona Sue, quando é ela que vem trabalhar. Começo a arrumar algumas coisas na porta da loja e vou para o fundo dela deixar o celular carregando. Afinal, vai que alguma das gatinhas que dei meu me chama no WhatsApp? Me acomodo diante da mesa e ligo o computador, coloco no youtube e deixo rolar um som do David Guetta, uma música agitada vai me ajudar a ficar acordado. Não demora mais que 5 minutos pra que eu esteja com a testa grudada na mesa e dormindo como um neném. É... Não era pra ser assim, mas correr a noite toda foi cansativo e o sono me venceu.

 

 

- Ééérr... Oi?

 

A voz feminina me faz dar um pulo na cadeira e eu finjo claramente que não estava dormindo... Muito.

 

- Oi, Clarissa. Como vai o Big Joey?

 

Ela meio tímida ri de olhar baixo.

 

- Meu pai tá melhor, recebeu alta mas está de repouso em casa... É, então, ele me pediu pra vir ver se a encomenda dele chegou. Pode conferir pra mim?

 

Acho graça do jeitinho tímido dela de falar, evitando me olhar diretamente nos olhos. Leah me contou há algum tempo que Samantha, irmã mais velha de Clarissa, a confidencializou que a caçula tem sentimentos por mim e apesar das muitas risadas que dei na hora, pensando nisso agora diante dela, faz todo sentido. Afirmo e peço que Clarissa aguarde um pouco, em seguida sigo para o estoque da loja e me ocupo em procurar algo identificado com o nome do pai da garota que espera lá fora. Enquanto verifico cada caixa separada pra entrega eu me pego pensando. Clarissa é uma menina muito bonita e estou certo de que se tornará uma bela mulher, mas se eu pudesse ter uma chance na verdade preferia com certeza ficar é com Samantha. A irmã mais velha de Clarissa é mais velha até do que eu, mas é exatamente assim que eu prefiro. Entre ficar com uma garota de 17, que apesar de linda é inexperiente, prefiro investir nas de 25 como Samantha, que já sabem das coisas e eu não preciso me preocupar com nada. Ao encontrar o que procurava, volto com a pequena caixa em mãos e me direciono a filha do Big Joey que se mantém entretida com algo em seu celular.

 

 

- Diz a ele que só chegou a munição pra Remington Modelo Sete e que eu vou ficar devendo a da Winchester modelo 1894. Na próxima remessa amanhã com certeza virá e eu levo pessoalmente até sua casa...

 

Dou um sorrisinho que não devia, a garota ficou vermelhinha de vergonha e eu não posso negar que achei graça. Tá eu sei que não tá certo agir assim sabendo do interesse dela, mas qual é? Ela é uma gatinha e tão tímida que eu me divirto com o flerte. Clarissa se despede e sai da loja levando a caixinha e esbarrando nas prateleiras, eu prendo o riso sabendo que deixei a garota nervosa. Rio abertamente até que, opa, a "polícia" chegou e me pegou no flagra. Leah de braços cruzados na frente do corpo e uma sobrancelha erguida, me olha com reprovação e eu sem jeito me sento na cadeira e coço a cabeça pensando... "Lá vem bronca..."

 

 

 

 

 

 

POV Leah

 

E o prêmio de pessoa mais azarada do mundo vai para...? EU! Leah, a mal-amada como todos chamam, estou num nível de insatisfação bem alto e não escondo de ninguém, também nem poderia. Vou enumerar os fatos : 1- perdi meu pai, e essa é uma dor que nunca vai passar, 2- me transformei numa loba, 3- perdi o amor da minha vida, essa é uma dor que cura com o tempo, mas honestamente parece que o tempo não está a meu favor.

Termino de ajudar minha mãe com a louça do café e vou direto pra loja que era do meu pai dando de cara com meu lindo irmão caçula brincando com os sentimentos de uma garota, não pense que vivo por ai tomando as dores dos outros, mas essa sei como é. A garota saiu da loja esbarrando em tudo e só suspiros.

 

- Da pra não fazer isso ? - Digo de cara fechada.

- O quê? Só estou atendendo nossa cliente educadamente. - Deu aquele sorriso sacana dele.

- Aham, te conheço garoto, mas enfim... Hoje é meu dia na loja, o que faz aqui?

- Até parece que não conhece Dona Sue, mamãe me viu "de boa" em casa e me mandou trabalhar.

- Ótimo, vou aproveitar o dia então. Que tal um mergulho no penhasco?

- Ahhh eu também quero! - Ele faz um beicinho achando de verdade que aquilo vai me convencer.

- Quer mas não pode, mamãe não mandou você vir trabalhar?

- Ah mas é só um mergulho, depois eu volto... Me ajuda a colocar as coisas pra dentro, a gente coloca a placa de "eu já volto" e pronto.

 

É um saco quando Seth cisma com alguma coisa... Acabo cedendo e ajudando a ele, até porque uns minutinhos não vão mesmo fazer diferença. Colocamos a placa na porta e corremos para o penhasco. Lá encontramos alguns da matilha e a bagunça estava garantida. Não demorou muito para que o mané do Jacob fosse jogado do penhasco e já se desse bem em contrapartida, salvando uma garota que eu nunca tinha visto. Com isso nós pulamos pra ver no que dava e quando a situação me entediou, eu "chutei" o Seth de volta pra loja e sai dali.

 

Dei uma passada no mercadinho da Reserva e comprei algumas coisas lá pra casa. Nada de mais, só algumas besteiras pra comer assistindo tv... Infelizmente pra chegar à minha casa tenho de passar em frente a casa do Sam, cujo só falo por que não tem outro jeito. Embry estava na varanda, largado numa cadeira. Esse é outro que me tira do sério com suas brincadeiras nada engraçadas.

 

- Hey Lee. - Respiro fundo sem olhá-lo.

- Pra você é Leah! E que cheiro de perfume de mulher barato. - Me viro lhe fitando e me arrepio com o olhar que encontro nele.

- Te incomoda que eu tenha estado com outra mulher? - Embry não se enxerga mesmo, caminho devagar até ele. Paro bem perto.

- Nem um pouco, mais você devia ter a decência de pelo menos tomar um banho.

- Não fica brava Lee, cê sabe que eu sou seu.

 

Puxei minha mão do aperto dele, respirei fundo e lhe virei as costas indo embora imediatamente. Não vou deixar o panaca do Embry me aborrecer...

 

 

 

POV Quil

 

Todos dizem que eu tenho um sorriso endiabrado, exceto as garotas, é claro. Elas não resistem a meu charme.  Mas devo admitir que nem sempre foi assim. Antes que eu transformasse em lobo, eu admito que não pegava nem resfriado. Mas isso mudou completamente quando entrei pra matilha. Porém minha vida de conquistador não durou muito. Assim que Claire Young entrou na minha vida, todo o resto se tornou obsoleto. Tá certo que no início, tive que enfrentar uma barra, já que ela tinha apenas poucos anos quando sofri imprinting por ela. Muitos não compreendiam que o meu amor por ela era puro e sem segundas intenções. Pelo menos era... De uns tempos pra cá, eu tenho tentado fingir que não percebo que ela já está crescendo e se tornando uma mulher. E que mesmo com o corpo que ela tem, ainda é muito nova e inocente. E prefiro arrancar um braço a fazer algum mal pra ela. Então só me resta esfriar a cabeça saindo com os caras do bando pra todas as baladas disponíveis.

 

E assim eu fiz. Fui pra balada, beber um pouco, mesmo que isso não me faça efeito algum, conversar com os amigos e é claro, tentar descolar uma gatinha. Confesso que não tive sorte. Não como Jacob e Embry... Mas  por mim tá tudo bem, eu sou um cara tranquilo agora. Pela manhã, rolou uma brincadeira no penhasco, e falando em sorte, Jacob é claro, descolou uma gatinha de olhos puxados. Tenho certeza que vai rolar algo ali, do jeito que eles se olhavam ficou nítido. Mas tá certo, ele tem mais é que curtir a vida mesmo, e se essa for a garota certa, duvido que o Jake a deixe escapar... Meu celular vibra no bolso e eu vejo a notificação de uma mensagem de Seth, dou meio riso. De certo esse moleque vai me chamar pra uma boa, desbloqueio o celular já animado. Vai ser bom arranjar algo de interessante pra fazer, assim eu paro de pensar na Claire...

 

 

 

 

 

POV Paul

 

 

Eu nunca acreditei que um dia algo assim pudesse acontecer comigo. Você ver acontecer e acreditar de verdade em algo dessa magnitude, tem uma distância muito grande. Avaliando bem tudo que já rolou na minha vida, não é de se surpreender mais uma bizarrice, mas qual é... Imprinting? Pra que você possa entender melhor esse meu "momento reflexivo" eu vou contar mais sobre quem sou.

 

 

Meu nome é Paul, eu farei 24 anos no próximo mês, sou um Quileute e vivo na Reserva próxima a Cidade de Forks desde que nasci. Meus pais se separaram quando eu tinha 8 anos, minha mãe estava cansada da vida pacata que meu pai tanto ama e foi embora pra nunca mais voltar. Uma vez por ano, geralmente no meu aniversário, ela me liga e informa os dados do depósito equivalente a um presente de aniversário. E ela realmente acha que isso e mais 5 minutos de uma conversa vazia e constrangedora é suficiente. Já com meu pai é o oposto disso. Ele é um Homem simples e apegado as nossas tradições, vive da pesca e ama o que faz. Meu pai não é um Homem de muita conversa, mas é muito sábio e por isso eu sempre posso contar com seus bons conselhos.

 

 

Como já disse antes, cresci aqui na Reserva Quileute bem próxima a Forks. Aqui aprendi desde criança a valorizar e cuidar do nosso povo e ainda na escola, o que hoje sabemos tratar-se da realidade sobrenatural que nos cerca, nos foi ensinado de forma velada pra ir nos preparando pra possibilidade de um dia vivenciarmos realmente o que nossos antepassados relataram. Eles tinham razão. Meu melhor amigo é o Jared, crescemos juntos e apesar de também sermos amigos desde criança dos outros da matilha, ele sempre foi o mais próximo. Questão de afinidade mesmo.... Durante um tempo eu trabalhei com meu pai, pescando. Mas isso não era algo que eu curtisse muito, então assim que pintou a chance de trabalhar na oficina com o Jake eu não pensei duas vezes, eu gosto de mecânica automobilística, tanto que até fiz um curso técnico em Forks pra me aprimorar e isso ajudou no crescimento da oficina e nos elevou um pouco o patamar.

 

 

Estava tudo indo tranquilamente na minha vida. Meu pai cada vez mais próspero com seu barco pesqueiro, a Reserva livre de invasores sanguessuga, a não ser por um Cullen ou outro que na verdade pra nós eles "fedem e cheiram" mas são inofensivos. Bom, continuando... Trabalho no que gosto e não posso reclamar nem do horário, já que é super flexível, nem da remuneração, que mantém minhas despesas e ainda me permite fazer um pézinho de meia. Vez ou outra uma balada com os amigos, só pra curtir e pegar umas garotas... Enfim, tudo na mais perfeita ordem. Daí há uma semana, meu mundo virou de cabeça pra baixo.

 

 

Sei lá há quanto tempo eu não via Rachel e quando eu menos esperava, lá estava ela entrando na oficina atrás do Jacob. Ele bem que me avisou que a irmã tinha terminado a faculdade e que viria vê-los mas eu nunca imaginaria que ao pôr meus olhos nela, puft. Imprinting... Fala sério! Porque justamente ela? Ela nem mora aqui, Jacob sempre comentou sobre Billy reclamar de saudade dela e ela sempre usar a faculdade como desculpa pra não vir visitá-los... E caramba, eu fui ter um imprinting logo por ela? Que pelo que o Jacob sempre falou, não deve demorar muito pra ir embora... E eu? Eu não vou conseguir ficar longe dela, pelo menos é o que dizem sobre quem tem um imprinting... Eu terei que largar meu pai, a matilha, a reserva, o meu trabalho e meus amigos e ir atrás dessa garota que eu não vejo há anos e com quem nem mesmo disse um "oi" ao reencontrar. É porque quando a vi e o meu olhar se conectou ao dela através do imprinting, eu não fui capaz de dizer nem mesmo uma palavra. Por sorte o Jacob percebendo "algo estranho" interferiu e me fez parecer menos mané...

 

 

Desde aquele exato momento, eu me sinto completamente envolvido com ela. Eu não consigo pensar em mais nada, só nos olhos dela. Minha vontade de ir até lá está me consumindo e eu tive que me controlar pra não sair desembestado e falar alguma besteira que assuste a garota. Eu já liguei para o Sam, ele não atendeu, deixei recado. Eu preciso dos conselhos dele dessa vez, meu pai está em alto mar e não pode me ajudar agora... Eu preciso que o Sam me ajude, porque eu realmente não sei o que fazer. Só sei que esse lance de imprinting muda tudo. Tudo que eu já tinha planejado pra minha vida, toda a rotina que eu já estava acostumado. O imprinting muda tudo e eu nem sequer me lembro mais como é a voz dela... Tentei uma aproximação cada vez que ela apareceu na minha frente nessa semana, todas as vezes ela me esnobou. Parece que quer me deixar maluco, e está conseguindo...

 

O pessoal da matilha ficou me perturbando pra ir com eles pra uma balada, e depois de muita persistência deles eu resolvi aceitar. Afinal, Jacob me disse que a irmã dele preferiu ir pra um treco qualquer de panelas, do que aceitar meu convite meio sem jeito de ir com a gente nessa balada. Mas não durou muito a minha paciência naquele lugar, antes do imprinting eu teria curtido, mas agora... Só penso nela. Pela manhã rolou uma ronda, pra mim foi tranquilo, afinal voltei cedo pra casa e tive tempo pra dormir, já o Jake e o Embry estavam na pior. Depois fomos até o penhasco encontrar com os outros e rolou uma brincadeira que acabou se tornando séria. Uma garota estava se afogando e Jacob felizmente a salvou, pelo jeito que ele olhava pra ela, parece que a japonesinha mexeu com os brios de quem eu espero que seja meu futuro cunhado.

 

Agora que tô aqui em casa de bobeira eu me pergunto. A semana toda, sempre que encontrei com a Rachel foi por algum acaso... E se eu for atrás dela?  

 

 

 

 

 

 

POV Lilith

 

Rolo de um lado ao outro da cama incomodada com a minha falta de sono. Normalmente eu chegaria em casa e cairia na cama já quase num "coma" de tão cansada, mas dessa vez eu mal consigo me manter de olhos fechados. Talvez seja um reflexo da minha irritação pelo telefonema que recebi de Kevin, meu chefe, me informado que de agora em diante ele reduziu minha escala, antes eu trabalhava de quarta à domingo e agora trabalharei para apenas aos sábados. Quem se importa com estafa? Só porque um médico disse que você terá que desacelerar, você não precisa necessariamente dar ouvidos a ele né... Ou precisa? Lizie já me deu uma baita bronca no caminho pra casa, me passou um sermão e tanto com relação a minha rotina corrida de balada todos os dias, e ainda assim tenho certeza que fiz a melhor escolha. Afinal, se eu tivesse chamado a Yume pra ir me buscar no hospital de Seattle e trazer pra casa, ela com toda certeza estouraria os meus tímpanos de tanto dizer "eu te avisei sobre essa rotina noturna Lilith, essa merda ainda vai te matar"... Mas apesar da Lizie ser a compreensiva do nosso trio, ela ainda assim foi uma ótima representante da nossa amiga de traços orientais que com toda sua preocupação e seriedade típicos dos orientais, as vezes até parece uma mãezona que ganhamos.

 

Respiro fundo aborrecida por não conseguir dormir, talvez seja a medicação que me deram naquele hospital, sei lá. Abandono a cama e começo a procurar em casa algo a fazer e nada. Na tv também nada interessante pra assistir e na internet nada atrativo que hoje consiga prender minha atenção. Volto para o quarto e visto um moletom com uma camiseta leve por dentro, prendo o cabelo em um boné deixando apenas algumas finas mechas escapando e emoldurando o rosto. Pra finalizar calço meus tênis da sorte, ele estão velhos e surrados, um tanto acabadinhos, mas se ajustam tão bem aos meus pés e me deixam tão confortável durante a corrida, que me sinto incapaz de trocá-los por um modelo mais novo. Visto uma braçadeira e nela coloco meu iphone, documento e cartão de débito, com o fone de ouvido já tocando o novo hit da Srta Rihanna eu saio do prédio me alongando e guardando minhas chaves no bolsinho minúsculo por dentro do cós do moletom. Não demora mais que dez minutos para que eu me aventure pelo acostamento numa corrida de leve, que tá mais pra uma caminhada caprichada. Sigo o meu caminho sem me preocupar muito com pra qual direção eu devo seguir, me distraio com a música já pensando em como adaptá-las a um ritmo mais alucinante pra tocar na Infinity. O público de lá é bem exigente e eu tenho conseguido fazer uma boa fama com o que apresento a eles, sendo assim não é agora que eu vou decepcionar né? De repente vejo que me aproximo aos poucos da entrada para a Reserva e então me dou conta que todas as vezes que estive nela, foi pela floresta, para rituais típicos do meu clã, mas nunca me dei ao trabalho de entrar como as outras pessoas e conhecer a parte turística dali.

 

Desacelero um pouco a corrida voltando aos passos largos diminuindo gradativamente o ritmo. Logo a princípio me percebo entrando num centro comercial pequeno e modesto, mas até um tanto interessante. As lojas lado a lado formam um grande círculo semifechado ao redor de uma enorme estátua de índio que marca o centro de uma pracinha com bancos de madeira, o círculo ali não se fecha por ser cortado por ruelas que de certo levam às propriedades onde os nativos vivem. Uma rua um pouco melhor estruturada e com uma placa suntuosa indica a continuação da área turística, deve ser pra lá que ficam as famosas trilhas turísticas, voos panorâmicos com tirolesas, e campo de paintball que tanto atraem a atenção dos turistas em período de férias. Isso pra mim é um tanto controverso na verdade, já que eu sempre ouço falar que apesar do intenso movimento que tem essas atividades, a área preservada é praticamente inacessível, de tão bem vigiada que é pelos nativos conhecidos como "Quileutes". Preciso me lembrar de algum dia desses chamar as meninas pra vir aqui, quem sabe saindo da rotina estressante de trabalho e curtindo um pouco de aventura nas tirolesas, elas não se sintam um pouco melhor por não estarem satisfeitas com o emprego em que estão... As vezes, quando nos reunimos pra comer uma pizza, ou assistir um filme, eu me sinto um pouco culpada. Afinal, de nós três só eu sou completamente feliz e realizada no âmbito profissional... Eu gostaria muito de conseguir ajudar tanto a Yume quanto a Lizie a desestressar um pouco e por isso vez ou outra tento tirá-las de suas rotinas e praticamente as obrigo a se aventurar em alguma coisa comigo, e pelo visto terei a chance de fazer isso novamente e bem aqui na Reserva Quileute.

 

Caminho em direção a uma livraria, na porta uma placa com o nome. — Livraria Trovão e Baleias. --- Leio em um tom de voz baixo e penso. " — Nome mais esquisito pra uma livraria..." Abro a porta de vidro e entro já me direcionando a uma estante com a sessão denominada "arte". Eu sempre amei tudo relacionado a arte, e sinto falta as vezes de me dedicar um pouco aos meus desenhos, mas desde que cheguei a esse lugar, tendo que cuidar de mim sozinha, não tive mais tempo pra pensar muito nisso. Alcanço um livro que me chama atenção, mal posso acreditar ao vê-lo.

 

— Ai meu Deus! A Arte de Viver para as Novas Gerações, de Raoul Vaneigem! Eu não acredito! --- Exclamo tão surpresa que as outras três pessoas nas sessões próximas voltam seu olhar pra mim. Eu realmente nem me importo com o olhar reprovador que recebo do carinha do outro lado do balcão.

 

— Oi... Pelo que vi, você curte arte moderna né? Finalmente alguém aqui com esse tipo de interesse...

 

Uma voz suave vinda por trás de mim me sobressalta e eu imediatamente giro meu corpo me colocando de frente.

 

— É, Vaneigem é demais. E eu não consegui achar esse livro nem na principal livraria de Seattle, não acredito que tem justamente aqui nessa... --- Eu ia continuar a falar, mas notando os traços típicos bem diante de mim, decido me conter.  — ... Pequena... Livraria... --- Disfarço.

 

— Pois é, eu realmente não imaginava que teria algo assim aqui... Mas, é, prazer, meu nome é Rachel Black. --- Ela se apresenta com um sorriso nitidamente sincero, a moça passa os livros da mão direita pra esquerda e a me oferece para um cumprimento que imediatamente eu correspondo.

 

—  Ah sim, o prazer é meu, Lilith Bennett.

 

Meu sorriso é um pouco sem jeito, mas tão sincero quanto o dela e acaba que nossa conversa se estende por mais de meia hora, passando da sessão de arte moderna pra área de "café" numa parte muito bem integrada com a natureza. A conversa estranhamente rolou de um jeito descontraído, o que eu normalmente só me permitia ter com Yume e Lizie, mas Rachel era tão interessada em artes quanto eu e acabamos vendo aí uma chance de compartilhar informações interessantes com alguém que compreendia o conceito. Além disso, Rachel me contou sobre uma exposição prestes a acontecer numa galeria de artes em Port Angeles, onde Flávio de Carvalho, um artista Brasileiro estaria presente apresentando sua nova coleção. Nossa interação foi tão satisfatória que trocamos números de telefone, pra que pudéssemos manter o contato e eu confesso me senti muito bem e à vontade com isso. Me despedi dela que tinha algo a fazer e resolvi dar por encerrado meu passeio, já tinha sido proveitoso o suficiente. Com a sacolinha da livraria eu me direciono para fora da área comercia da reserva, voltando a caminhar em direção ao prédio onde moro. No caminho vou refletindo sobre como foi interessante conhecer uma genuína nativa da tribo Quileute com um senso cultural tão vasto. Isso realmente me deixou em dúvida quanto ao meu pré-conceito quanto aos nativos, pelo que vi não são todos eles um bando de "peles vermelha que caçam e pescam o dia inteiro".

 

"É Lilith, 'limitado' realmente foi só o seu pensamento preconceituoso." --- Digo a mim mesma silenciosamente.

 

 

 

POV Elizabeth

 

Acordei com o celular tocando, era Lilith pedindo carona. Prontamente me levantei vesti um moletom acompanhado do meu nike, no bolso do casaco coloco minha carteira.  Vou até a cozinha e paro para comer pelo menos uma bolacha de água e sal, se saisse sem nada no estômago com certeza passaria mal. Enrosco no braço o capacete para Lilith usar e saiu para a garagem.

Lilith é aquele tipo de amiga improvável para uma pessoa como eu, ela é estilosa, descolada, também pudera né? É uma dj, tá sempre tentando me arrastar pra Infinity onde ela trabalha, não faz muito meu estilo mas já fui em algumas juntamente com a Yume. Nos conhecemos de um jeito tão singular e não dos desgrudamos mais, foi amizade de cara. Quando estamos juntas somos aquelas que as pessoas falam "esse trio", apesar de que eu quase nunca embarco nas aventuras da Lilith e quando vou é sobre livre e espontânea pressão. Mas Yume está sempre junto e as vezes me ajuda a controlá-la. Eu sempre me divirto com elas.

Espero do lado de fora cerca de cinco minutos, andando pra lá e pra cá, finalmente ela apareceu, Lilith está trabalhando demais, tenho certeza que já ouviu um sermão do seu médico e agora vai ouvir um belo sermão meu, mas não pego pesado, deixo esse cargo para a Yume, falo apenas o necessário e espero que ela me escute.

Já em casa, depois de guardar a moto na garagem com o maior cuidado, pois é depois daquele acidente há meses atrás tenho cuidado redobrado, só de lembrar da minha bebê toda arranhada... Outra coisa improvável sobre mim, apesar de ser a mais comedida eu amo o vento e a adrenalina que andar de moto me proporciona. Vou direto ao meu quarto, havia deixado minha cama desarrumada e se tem uma coisa que me deixa louca é a bagunça. Não posso evitar, fui criada assim. Dona Rose, minha mãe, sempre me pedia para que eu arrumasse minha própria cama " sem o uso da magia" ela dizia, fiz uma nota mental para ligar pra casa depois, bateu saudade.

Com o quarto devidamente organizado vou para a cozinha, como um pedaço de bolo com suco e organizo a cozinha também, guardando a pouca louça que havia no escorredor. Escuto meu celular tocando, da mesinha de centro da sala, corro para atender poderia ser uma das meninas, mas era só meu patrão.

 

- Olá sr. Pierce.

- Elizabeth, garota, você poderia vir mais cedo para o pub?

- Bom...é...

- O Roger está doente e não virá hoje. - Roger é meu colega de trabalho, contratado pouco depois de mim.

- Claro, sem problemas.

 

Desligo o telefone aborrecida, mas o coitado do menino não tinha culpa não é? Tomo um banho rápido deixando os cabelos soltos, visto a camiseta com o nome do pub, calça jeans preta e sapatilha, passo um pouco de corretivo e já estou pronta.

 

Arrumei as mesas do estabelecimento, coloquei minhas coqueteleiras em minha bancada esperando os desiludidos, como chamo os frequentadores. Um a um eu vou servindo, com a frase de meu patrão sempre em mente " sirva sempre sorrindo". Organizava algumas garrafas de costas para o balcão, quando escuto uma voz grave e carregada em deboche.

 

- Um copo de leite, por favor? - Esse cara só pode ser louco, penso me virando. E era um rapaz bem novo, bonito de rosto quadrado. Corpo malhado, um conjunto bonito.

 

- Tá brincando né ? - Ele sorria, um sorriso largo. Não aquele sorriso de quem está tendo pensamentos inadequados com você, como os outros, era leve me fez sorrir também.

 

- Me dê uma dose de tequila... Elizabeth. - Ele leu em meu crachá, um crachá ridículo que sou obrigada a usar.

- Aqui está...

- Embry. - Sorriu de novo, e puxou assunto comigo, me permiti ter uma conversa descontraída com ele que parecia ser uma ótima pessoa, ele não tinha malícia e o riso com ele era fácil.

                       

 

 

 

POV Yume

 

 

O dia amanheceu miraculosamente ensolarado em Forks. Desde que cheguei nessa cidade, nunca pude desfrutar verdadeiramente de um dia de sol. Coisa que sinto bastante falta desde que deixei o Brasil, minha terra natal.

Já sei o que estão pensando, como assim Brasil se ela é japonesa? Pois bem, eu vou explicar: eu passei a minha vida quase toda  achando que era brasileira, e só depois de adulta eu descobri que na verdade eu nasci no Japão. Minha história de vida é bem longa, quase uma novela mexicana, e eu não vou perder tempo contando-a agora. Vou aproveitar esse lindo dia de sol.

Jogo o cobertor de lado e saio da cama animada. Hoje é um daqueles dias perfeitos para se praticar esportes ao ar livre.

Caminho para o banheiro quase saltitando e vou deixando minhas roupas pelo caminho. Entro debaixo da agua morna e  começo a cantarolar uma canção que ouvi outro dia no carro da Lilith. Ela realmente é muito boa com essas coisas de remix e consegue transformar praticamente qualquer música numa batida da hora.

Assim que termino meu banho, enrolo numa toalha e volto pro quarto, reparo na bagunça ali e solto um sorrisinho involuntário. Se alguém me visse agora diria que sou louca. Mas não posso evitar rir, quando lembro da bronca que Lizie me dá sempre que entra no meu quarto e encontra essa bagunça. Só pra esclarecer, eu não sou desleixada, pelo menos não muito. O negócio é que eu apenas não gosto de perder tempo com coisas tão banais como arrumação de casa. Existem coisas muito mais legais para se fazer por aí. Ainda bem que Lilith me ensinou um feitiço bem legal. Eu só tenho que me lembrar de não fazê-lo na frente da Lizie. Não quero ser tachada de preguiçosa.

Eu digo algumas palavras em latim arcaico e num piscar de olhos meu quarto está perfeito outra vez. Eu já disse que eu amo ser uma bruxa? Não? Então eu digo, ser bruxa é a coisa mais legal e extraordinária que existe no mundo.

Eu não perco mais tempo e caminho em passos rápidos até meu guarda roupas  e retiro de lá uma roupa esportiva e um tênis. Alguns minutos depois eu desço a escada fazendo uma trança mal feita em meu cabelo longo e vou direto pra cozinha. Depois do incidente com a torradeira eu passei a evitar quase tudo que funcione com energia, principalmente a maldita torradeira. Então eu me aposso de um prato de cereais com leite gelado e devoro tudo em tempo recorde.

 

Saio de casa com minha bicicleta nova. Na verdade, já faz algum tempo que eu a comprei, mas nunca teve um dia agradável como hoje para pedalar.

Lilith me falou da reserva indígena que tem perto de Forks e eu pretendo conhecer o lugar hoje.

Percorro alguns quilômetros admirando a paisagem exuberante que se descortina ao meu redor. Estar em contato com a natureza é uma das coisas que eu mais gosto de fazer.

De tão distraída que estou com a floresta que só percebo o carro parado na minha frente quando estou a poucos metros de mim chocar contra ele. Ainda bem que ele está parado, do contrário eu teria virado presunto. Aciono os freios da bike com o coração acelerado, e suspiro aliviada ao perceber que consegui evitar aquele acidente.

_Minha nossa! Essa foi por pouco! _ Digo a mim mesma e noto que uma mulher morena de traços indígenas sai do carro rindo. Provavelmente da minha cara de susto ou da minha falta de atenção.

Eu reviro os olhos e desço da bicicleta e me aproximo da mulher.

__Por que parou o carro no meio da pista desse jeito? É perigoso, sabia?

Ela abriu mais o sorriso e me olhou dos pés a cabeça.

__ Perigoso para os distraídos como você. Além disso,  a culpa não é minha. Essa lata velha que resolveu pifar bem aqui.

Ela apontou para o carro e franziu o cenho.

__Nossa! É bem velho mesmo! Esse é um... Habbit 86.

__É isso mesmo. Você entende de carros então.

__Só um pouco. Meu pai colecionava carros antigos...

__Colecionava?

__Sim, ele já morreu.

__E o que você fez com os carros? Meu irmão ficaria louco com uma coleção dessas...

__Eles estão na minha casa, lá no Brasil. Eu não tive coragem de me desfazer deles. É uma lembrança do meu pai.

Toda vez que eu me lembrava da morte dos meus pais era muito doloroso, eu não queria me aprofundar naquele assunto, ainda mais com uma estranha.

__Você deve ter um mecânico muito bom, esse carro aí foi bastante modificado. Deve ter gastado uma grana com a reforma também.

Eu escorei a bicicleta a andei em volta do carro.

__Na verdade eu não gastei nada. O carro é do meu irmão e ele mesmo que concertou... Você por acaso não tem um celular aí pra me emprestar? Eu esqueci o meu em casa.

Eu tirei o celular do bolso e estendi para ela. Ouvi quando ela falou com um tal de Paul, que pelo que eu entendi,ele é o cara que trabalha com  o

irmão dela,  e depois me devolveu o aparelho.

__Obrigada...

__Yume. Meu nome é Yume Nakaiama.

__Muito obrigada Yume. Eu sou Rebhecah Black. Foi um prazer conhece-la. Você está indo para a reserva?

__Estou. Ouvi dizer que tem uma praia incrível lá.

__Tem sim. Mas se eu fosse você, não me arriscaria a entrar no mar. Nessa época do ano o mar fica muito agitado, é muito perigoso para banhistas.

__Fique tranquila, não pretendo nadar, só vou conhecer o lugar.

Eu voltei a colocar o celular no bolso e caminhei até onde tinha deixado a bicicleta.

__Você vai ficar bem sozinha aqui?

__Claro, pode ir tranquila. Paul não vai demorar.

__Até mais então...

Eu montei na bicicleta e voltei a pedalar, me lembrando do dia, meses atrás, em que eu estava numa situação parecida com a dela. Só que naquele dia eu não achei ninguém para me ajudar. Mas olhando para trás, eu vejo que foi justamente aquela situação de infortúnio que me levou a conhecer duas pessoas maravilhosas e que mudaram minha vida drasticamente.

Desde que cheguei em Forks, eu comecei a trabalhar na biblioteca com o intuito de ter acesso a livros antigos e que normalmente não estariam disponível ao público em geral. Na época foi a única coisa que eu achei que levaria a ter o mínimo de conhecimento sobre o que eu sou. Mas desde que eu briguei feio com o sr. Molinna e pedi demissão de lá, tenho aprendido mais com as meninas do que se eu passasse a minha vida inteira numa biblioteca. Elas são bem experientes, já que foram criadas em seus clãs, e têm toda paciência do mundo para me ensinar. Eu sei que não vai demorar e eu estarei fazendo feitiços como elas.

Saio do meu devaneio quando avisto os penhascos  e paredões.

Depois de algumas centenas de metros não é mais possível pedalar, eu então deixo a bicicleta jogada ali mesmo, tiro meus tênis e afundo meus pés na areia macia e escura. Começo a correr em direção a agua e noto que ela é verde escura, mesmo ao sol, com cristas brancas que se quebram na praia rochosa. De onde estou é possível ver um monte de pequenas ilhas  escarpadas e de tamanhos desiguais, a maioria tem pequenos arbustos e alguns pássaros sobrevoam em torno delas.

Minha atenção é atraída para os penhascos, que agora que estou mais perto posso ver nitidamente seu cume. O que me choca é a cena que se desenrola lá em cima.

Cerca de dez garotos estão lá em cima, todos seminus,  é impossível distinguir seus rostos de onde estou, porém todos tem traços indígenas como a moça da estrada. Em dado momento, os gritos aumentam de volume e vejo quando um deles é agarrado por outros três e relutantemente jogado penhasco abaixo.

Se tinha uma coisa que eu não suportava era bulling. Ainda mais um tão perigoso como aquele.

É claro que nessa hora de desespero e raiva, me esqueci completamente da recomendação de Rebhecah.

Sem pensar em mais nada a não ser salvar aquele rapaz, eu me jogo no mar. Talvez se eu fosse rápida o suficiente, eu ainda conseguisse salvá-lo.

Eu dei braçadas vigorosas, ignorando o frio intenso da agua a despeito do sol quente lá em cima. Ainda conseguia ouvir os gritos da turma de delinquentes no penhasco, e foi isso que aumentou meu ímpeto de chegar até o rapaz antes que ele se afogasse.

É claro que minha coragem e força de vontade não seriam páreos para as ondas furiosas que começaram a me engolir assim que passei pela metade do trajeto. E assim , eu passei de salvadora para vítima.

Antes que eu me desse conta, ouço gritos de socorro saírem da minha boca entre um gole e outro de agua salgada. Meus gritos saiam roucos e relativamente baixos por causa do sal na agua. E não demorou muito pra eu não conseguir mais gritar, eu percebi que seria inútil de qualquer forma, afinal quem me escutaria no meio daquele mar revolto?

Depois de alguns segundos, ou minutos, comecei a perder a consciência.

Sabe aquela história que dizem por aí, que quando você está morrendo sua vida passa como filme em sua cabeça? Descobri da pior forma que não passa de lorota. A única coisa que vinha em minha cabeça era o barulho da agua entrando por meus ouvidos e o eco cada vez mais distante  do meu coração.

Naquele milésimo de segundo entre a consciência e a total escuridão, eu sinto meu braço ser agarrado, esse fenômeno trouxe um pouco de luz na minha quase total escuridão, e eu pensei com meus botões: será que tem tubarão nessas aguas? Só podia ser brincadeira comigo! Nem morrer em paz eu podia? Tinha que aparecer um maldito tubarão querendo me comer...

Sinto o choque  do vento frio de encontro ao meu corpo molhado e me dou conta de que nunca existiu tubarão, eu estava nos braços de alguém, e alguém muito quente por sinal. O puxão que senti no braço foi essa pessoa me tirando da agua.

Estava tão bom e aconchegante ali que eu me encostei mais naquele corpo quentinho. Tentei abrir os olhos para ver meu salvador, mas eles estavam cheios de areia e doendo muito. Eu tossi por causa do ardor na minha garganta e nesse momento meu estômago revirou. Bem no momento que ele me colocou na areia, eu vomitei toda a agua salgada que estava no meu estômago.

__Você é maluca garota? No que estava pensando quando decidiu entrar nesse mar revolto do jeito que está?

A voz possante dele me fez arrepiar e se eu não tivesse molhada, o que era a desculpa perfeita, eu teria corado de vergonha.

 Limpei as mãos na roupa e tentei tirar o máximo de areia que consegui dos meus olhos, e fiz mais uma tentativa de abri-los. A principio a claridade me incomodou e comecei a ver tudo turvo, mas logo depois meus olhos se acostumaram com a luz e eu pude, enfim, vê-lo. E se fosse pra ser salva  por aquele cara, eu ia me afogar todos os dias sem pestanejar.

Nunca tinha ouvido falar que índios poderiam ser tão bonitos  quanto aquele ali na minha frente.

Seus olhos se encontraram com os meus  e eu me perdi naquela escuridão, eu soube naquele momento o que eu fui fazer naquela praia.

__Você está bem moça?

__ Eu... eu... Ah meu Deus! Onde está o garoto que estava afogando? Você salvou ele? Me diz que você salvou ele?

Eu ouvi risadas e me virei pra ver o que estava acontecendo, e eis que reconheço o grupo que estava em cima do penhasco vindo em nossa direção. Eu levantei cambaleando e quase caí se não tivesse sido amparada por meu salvador.

__Aquele bando de delinquentes! Foram eles, eu vi... eles jogaram aquele garoto do penhasco. Onde está ele?

Eu me virei mais uma vez para ele, ignorando a nova onda de gargalhadas atrás de mim.

__Se acalme! Ninguém morreu. O garoto que você viu cair do penhasco foi eu. E estou bem inteiro como pode ver. Então não tem motivos pra ficar estressada. Você está fraca e precisa descansar. Eu vou te lavar pra casa. E você pode  me contar por que entrou no mar.

__ Eu entrei lá pra te salvar.

Eu escondi meu rosto no peito quente dele, já que ele tinha me pegado no colo novamente. Depois que a adrenalina no meu corpo se foi, eu percebi o quanto eu tinha feito papel de boba. E descobri assim, a razão pela qual eles estavam rindo tanto. Era pura e simplesmente da minha pessoa.

__Você pretende me lavar pra casa assim? Eu moro em Forks.

Eu aproveitei pra passar a mão naquele peitoral definido. E não me julguem, eu nunca disse que sou santa.

__Não, eu vou te levar pra minha casa, você vai ficar doente se não tirar essas roupas molhadas. Além do mais deve estar com muito frio.

__Não tô, não. Você está bem quente.

Ele deu um meio sorriso de lado e eu pude vislumbrar seus dentes branquinhos e perfeitos. Ele conseguia ser ainda mais bonito rindo.

__Você tem razão. Eu sou quente.

Será que aquilo foi um flerte? Não, definitivamente não, o que um cara como aquele iria querer com uma japa destrambelhada? Provavelmente ele tinha uma namorada linda esperando por ele em casa.

__Então, sr. Quente. Qual é o seu nome?

Ele gargalhou e depois me olhou de cenho franzido.

__Eu sou Jacob. Jacob Black.

__Eu já ouvi esse nome em algum lugar... já sei! A moça da estrada... Rebhecah Black.

__Ela é minha irmã, você já a conheceu...

Não me dei  trabalho de responder já que percebi que não foi uma pergunta.

__Então você é o dono do Habbit. O mecânico.

Minha mente depravada imediatamente começou a tecer fantasias improprias para menores e eu virei o rosto envergonhada.

__Sou. Mas você está me enrolando. Me diz logo seu nome.

__Nossa! Eu me esqueci. Eu me chamo Yume Nakaiama.

__É um prazer conhecer você, Yume. Obrigado por salvar minha vida.

__Engraçadinho! Foi você que me salvou e não o contrário.

__ Mas o que conta não é a intenção? 

__Então, se eu salvei sua vida, ela me pertence agora. É o que diz a lenda.

__Que lenda? Eu nunca ouvi falar disso.

Eu gargalhei e tirei os braços do pescoço dele.

__Sei lá. Eu ouvi por aí... Agora me põe no chão. Minha bicicleta está logo ali.

__Nem pensar, eu não vou deixar você voltar para Forks de bicicleta. Você acabou de se afogar.

__Mas eu estou completamente bem.

Ele então me colocou no chão e se afastou alguns passos. Parecia que ele esperava alguma coisa. E de fato era. Imediatamente eu comecei a tremer de frio e a sensação era de que minha roupa iria congelar a qualquer momento no meu corpo.

Ele riu descaradamente da minha cara quando eu fiz um biquinho de protesto.

__Eu te avisei...

__Está bem, está bem. Eu deixo você me levar. Mas só porque eu não quero morrer de hipotermia.

Ele se aproximou novamente, mas parou os movimentos antes de mim pegar de novo no colo.

__Agora eu tenho uma condição, pra te lavar pra minha casa e te dar roupas secas.

__ E qual seria? Eu topo qualquer coisa, mas por favor vamos logo. Morto não pode cumprir promessa nenhuma.

__Você tem que me deixar te levar pra jantar.

__ Como é? Você está me chamando pra sair?

__Não é bem um encontro. É só para agradecer por você ter salvado minha vida.

Ele me olhou com cara de paisagem e depois riu de lado. Meu coração acelerou e eu corei mais uma vez.

__Pois isto está parecendo um encontro.

__Que seja, então. Eu gostei de você e quero te encontrar de novo.

__ Está bem, eu também gostei de você e aceito o encontro.

Eu estendi os braços e ele me ergueu sem o mínimo esforço.

__Você é bem forte, e grande, e quente...

Ele gargalhou e fingiu que ia me deixar cair. Eu me agarrei mais em seu pescoço e em consequência fiquei com o rosto bem próximo da sua pele morena. Aspirei aquele aroma de madeira e terra molhada e fechei os olhos por alguns segundos,  apreciando aquela proximidade. Porém rápido demais ele me colocou no chão novamente e anunciou que tínhamos chegado.

Me vi diante de uma casinha de madeira com janelas estreitas, a tinta vermelha desbotada deixava ela parecida com minúsculo celeiro. Era bem pequena mas muito graciosa. Quando entrei, constatei que apesar do ambiente simples, era bastante aconchegante ali.

Ele me guiou até o fundo de corredor estreito e me indicou uma porta.

__O banheiro é ali. Enquanto você toma um banho, eu vou no quarto da minha irmã pegar uma roupa dela pra você.

__Tudo bem.

Eu entrei no banheiro apertado e rapidamente me livrei das roupas molhadas. Dei um suspiro de alivio quando me enfiei debaixo da agua quentinha. Alguns minutos depois Jacob bateu na porta e eu a entreabri, ele me deu as roupas e uma toalha e mais uma vez eu agradeci e voltei a fechar a porta.

Depois que saí  do banheiro, eu andei pela casa procurando por ele, o encontrei na cozinha preparando alguns sanduiches.

__Você quer comer alguma coisa?

__Não, obrigada. Minha garganta ainda está dolorida.

__Bebe um suco então. Ela vai ficar assim por um tempo. E você não pode ficar sem comer nada até lá.

Ele encheu um copo com o suco que estava sobre a mesa e me ofereceu. Eu bebi um pouco do suco com muita dificuldade. Meu estomago ainda estava meio revirado e eu não consegui tomar o restante.

Quando coloquei o copo na pia e me virei, ele já estava acabando de comer todos os sanduiches que ele tinha feito.

Não consegui esconder minha cara de espanto, vendo ele comer tanto.

__Que foi? Eu sou grande. Você mesma disse. Eu preciso de muitas calorias pra manter esse corpo.

__E que corpo!

Eu disse baixinho, o suficiente para ele não ouvi. Ele tentou disfarçar o riso. Seria impossível ele ter ouvido o que eu disse daquela distância. Eu é que estava ficando louca.

__Agora que você já comeu essa montanha de sanduiches, você pode me levar pra casa?

__Claro, claro. Vamos...

 

 

 


Continua...


Notas Finais


Esperamos que tenham curtido o capítulo e comentários nos fazem ainda mais felizes!

Beijos das Sister's Black!


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