É fato que a vida é um grande clichê ambulante.
Muitos não possuem opinião própria, indo pela mesmice de sempre, nunca se arriscando. Talvez o medo da rejeição os façam ficar nessa falsa zona de conforto.
Isso é muito visto principalmente nas escolas, onde tem toda uma hierarquia, mesmo que sem querer. E a maioria dos alunos ali, desejam estar no topo, querendo se juntar àqueles que já estão lá. E o que eles fazem? Começam a realizar coisas que pensam que os levariam para o posicionamento.
Mas fazer o que? O famoso clichê é o que todo mundo gosta. Não podemos fugir dele.
Porém, mesmo num ambiente em que as opiniões já são formadas desde sempre e você não tem escapatória, conseguimos encontrar pessoas que, meio que são imunes a esse tipo de coisa. Pessoas que são indiferentes.
Nessa história que ouvi milhares de vezes, se trata, claro, de um clichê. Um clichê em pessoa.
Todavia, ele deu a sorte de ter encontrado a sua indiferença.
Quer dizer, todo mundo tem a sua indiferença, seja ela descoberta na escola ou um pouco mais tarde disso.
Bom, eu queria ter começado isso da forma mais correta, que é realmente do início, e quero fazer desse tratamento algo direito.
Então...
※
Sobre a história de seu nascimento... Não é como se o garoto tivesse sido planejado.
Seus pais na época já se conheciam há muito e como adolescentes, pensavam ter encontrado o amor de sua vida, e... Eles realmente tinham, todavia, apressaram as coisas. Erraram em um momento que se deveria ter pensado mais, e movidos à emoção pura, se deixaram levar.
O resultado: Hiccup Horrendous Haddock ll.
Tudo bem, eles decidiram ter o ruivo, mesmo que com poucas condições e tiveram bastante ajuda do pai da gestante, nesse caso, o avô do garoto.
Mesmo depois de nascer, seus pais não deixavam de pensar terem se decepcionado. Quer dizer, eram tão novos, sem nem sequer uma casa própria para morar e agora com um filho precisando de cuidados.
Pode-se dizer que sempre vão se odiar ao máximo por não amar o próprio filho como se deve, por não amar o próprio filho o suficiente.
Ele realmente não foi planejado e, nem tão querido assim.
Talvez tenha sido isso que o tornou daquela forma, tão... Despreocupado no colegial.
Ele sentia claramente o ar de "você nunca vai ser o que queríamos", "o que estávamos pensando, quando concordamos em seguir com isso?", "só te aturamos, porque é nosso filho".
Hiccup não sabia o que era ser amado por pais. Ele apenas recebia coisas deles, talvez numa forma de dizer que era realmente estimado.
Mas coisas materiais nunca poderão substituir o que ele precisava mesmo. O que ele necessitava.
Sua personalidade no colégio era uma máscara. Era algo com que ele se refugiava. Sua forma de pedir socorro.
E era com esse ódio todo em casa que ele infelizmente cresceu. Que ele cresceu, e aprendeu que podia fazer o mesmo com as pessoas. Foi desde cedo que ele começou a tratá-las como se não tivessem sentimentos.
Tudo bem que encontrou amigos, que até eram considerados mesmo dessa forma. Mas ele não negava a oportunidade de brincar com os sentimentos dos outros, assim que ela surgia.
Repetindo: Isso... Desde cedo.
Incontáveis eram as garotas em que ele tinha rolos, e enganava. Sem cansar, sem enjoar, e elas que se virassem com os seus sentimentos depois. Ele não ligava
A escola era seu castelo e quando não estava brincando com os corações de garotinhas por aí, se encontrava tirando sarro de outros e fazendo piadinhas que realmente machucavam.
Não se importava e nem gostava de muita gente e quando o fazia, no máximo tinha a ver com ele e seus amigos.
Estudava na mesma escola desde muito tempo e conhecia absolutamente tudo sobre o sistema da mesma, o que o colocava a par de muitas coisas quanto a se safar nas matérias.
Odiava com todas as suas forças um único cara daquele lugar, e isso desde a quarta série.
Seu nome era Jackson Overland Frost.
E... aquele ódio meio que era de graça - ou.. era de graça -, uma vez que nem mesmo o ruivo o entendia direto. Talvez fosse aquele sorriso idiota que vivia no rosto do outro. Ou o cabelo platinado que tanto chamava atenção. Ou o fato de ele parecer tão legal, bem mais que ele.
Mas foi em um ano, o nono, em que o grisalho simplesmente não estava mais lá e a notícia nunca lhe foi tão perfeita.
Bom... Até que...
Os rumores que haveria aluno novo na turma chegaram logo no primeiro horário e embora o professor que anunciou não tivesse conhecimento de quem poderia ser, veio outros professores que tinham aquela informação.
E quando o nome Jack Frost saiu da boca da mulher de mais de cinquenta anos, o qual os alunos a chamavam de múmia por ter perdido a conta de quanto tempo ela trabalhava ali, o sangue de Hiccup ferveu, assim como quando era nos anos que ele olhava com ódio para o grisalho.
Jack estava voltando e o ruivo nunca ficou tão empolgado para surrar a cara de alguém em todos os anos de sua vida.
Bem, demorou uma semana desde o dia em que falaram de sua chegada. Talvez esses rumores eram somente isso... Rumores.
Mas foi quando o ruivo se encontrava encostado à uma parede, simplesmente tentando ignorar uma garota desesperada para que eles pudessem se encontrar novamente, que o platinado apareceu e seu cabelo de cara chamou a atenção de Hiccup, que fez questão de empurrar a morena que se jogava para cima de seu corpo, ao que precisava ver realmente quem era.
Ele havia mudado um pouco, e até o ruivo notou isso.
Cresceu alguns - muitos - centímetros. Seu cabelo se encontrava com o mesmo tom platinado, talvez mais branco que antes e seu penteado estava diferente. Os fios pareciam não querer obedecer e ficarem quietos num lado somente, e conforme o grisalho andava, as mechas se mexiam levemente.
Ele tinha um sorriso largo no rosto e já havia algumas pessoas ao seu lado, enquanto mantinham uma conversa despreocupada. E Jack passou na frente de Hiccup sem nem mesmo o notar, estando ocupado demais.
O ruivo o observou com os punhos fechados por longos segundos, pensando em o quanto o outro conseguia ser tão detestável. O fato de estar respirando o irritava demais, e ele estava para explodir por finalmente o ver ali depois de um ano maravilhoso sem a sua presença.
A mesma garota de antes continuava em seu cangote e assim que o ruivo não conseguia mais visualizar as costas de Jack, ele se direcionou à ela.
-Olha, eu não vou ficar com você de novo, se ainda não percebeu.- segurou seus braços, a afastando para o lado.- Agora, me dá licença.
E no momento em que se pôs a andar, o sinal alto tocou, indicando a hora de entrar para as aulas.
O ruivo tinha planos de procurar Evans e Luke, mas acabou por bufar, andando por fim até a aula de geografia. Ele os veria na sala, de qualquer forma.
Hiccup seguiu até à escada com os outros alunos, tendo de cumprimentar um ou outro, ou recebendo alguns olhares de meninas, o qual ele correspondeu, sorrindo demasiadamente de canto.
Ele amava com toda a certeza aqueles olhares vindos em sua direção todos os dias, embora no momento em que se encontrava, seu cérebro estava cheio demais para sequer pensar nas garotas que o encaravam.
Enfim, chegou até a sala da professora que já se encontrava à espera dos outros alunos.
Ele tentou ignorar o fato de Jack estar ali também, agradecendo por sua fileira ser no outro canto, ficando bem distante de onde o ruivo sentava.
Hiccup queria muito desviar sua trajetória, parando em frente à Frost e desmanchar aquela cara que ele tinha, e o fato de não poder se dar ao luxo no dado instante o fez agarrar sua blusa de escola, a amassando levemente.
Fez seu caminho até a carteira na frente de Luke, sentando de uma vez.
Seus amigos sabiam do ódio do ruivo, mas não entendiam o motivo. Como se Hiccup pudesse explicar...
Como em uma história clichê igual a essa, o “personagem” que é destacado tinha que ter uma pessoa que não gostasse.
A ironia é que o papel de Jack – o garoto odiado pelo protagonista – não se fixou apenas nisso, o que meio que deixa essa história um pouco fora da mesmice.
E, ufa! Algo que salva o tédio do dia a dia nesse narrativa.
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