Minha recuperação demorou mais do que o esperado. Apesar de ter seguido todas as recomendações médicas ao pé da letra, o corte havia sido pior do que o imaginado. Acredite ou não demorou tanto que até minha “querida” chefe tirou um dia para me visitar. Quero disser, conferir se precisaria ou não me demitir por justa causa, o que particularmente acho que ela torcia por isso.
-Senhorita Johnson? O que faz aqui?
-Apenas conferir como a minha assistente pessoal está. Ela sorri com malicia.
-Assistente? Não faz mais que duas semanas que estou afastada, mas pelo que lembro minha função estava longe disso.
-Então considere o novo como um tipo de promoção! Você se relaciona tão bem com seus colegas de trabalho e com as pessoas que geralmente entrevistamos que tomei a decisão de te promover como minha assistente pessoal. Estava precisando de uma pessoa como você e tenho certeza que sou tudo o que você precisava para crescer na sua vida profissional. Aprenderá tudo com uma das melhores pessoas do ramo, querida Liza. Ela dá uma rápida piscadinha.
-Eu não tenho palavras para expressar o que sinto. Falo ainda espantada.
-Não precisa agradecer agora, faça isso com trabalho duro quando voltar.
-Darei o meu melhor. Digo rouca.
-Pode começar colocando uma máscara em seu rosto. Suas olheiras estão enormes e profundas. Ela soa venenosa.
-É que ainda não consegui dormir uma noite inteira. Falo percebendo tarde demais que disse algo que não queria compartilhar com Alicia.
-Sério? Geralmente esses remédios para dor ajudam e muito a dormir.
-Infelizmente eles não têm funcionado neste sentido. Bruce comenta ao chegar de surpresa e me dar um beijo na ponta da testa. –Liza estava recebendo uma medicação experimental que a ajudava a dormir antes desse pequeno incidente. Mas por uma série de fatores eles acabaram encerrando o fornecimento do tal remédio.
-Mas se ela já recebia esse tipo de medicação, isso quer disser que você já tinha essas...insônias?
-Não há diagnóstico, mas é como se fosse um tipo de terror noturno. Admito a contragosto, já sabendo que minha adorável chefe provavelmente continuaria a cavar aquela história.
-É uma pena a sua situação. Espero que resolva logo.
-Sobre isso eu não sei, mas pelo menos agora o meu machucado já está praticamente cicatrizado. Falo com certo alívio.
-Que bom. Então nós veremos na próxima segunda.
-Estarei lá.
-E...bem. Morar em Gotham pode ser um pouco complicado, mas tente chegar no horário senhorita Kent. Ela comenta.
-Não me atrasarei. Ainda moro em Metropolis. Só fiquei esses dias aqui porque não teria como me cuidar sozinha.
-Hummm. E como o amor cura tudo... Alicia joga verde.
-Pode até curar, mas somos apenas amigos. Bruce comenta.
-Então ainda posso me candidatar ao posto da nova senhora Wayne? Alicia fala com falsa sedução.
-Creio que infelizmente não. Bruce sorri. –Relacionamento sério e Bruce Wayne ainda não cabem em uma mesma frase.
-É uma pena. Mas pelo menos um solteiros mais cobiçados ainda está disponível no mercado. Ela dá alguns passos em direção ao mesmo caminho pelo qual chegou. -Bruce Wayne, Senhorita Kent. E nos cumprimenta antes de ir embora.
-Senhorita Johnson. Falamos ao mesmo tempo.
Suspiro alto quando fico sozinha com Bruce. Estou e me sinto tão cansada de tudo que apenas desejo e preciso nesse momento é desabafar.
-Bruce. Você tinha razão.
-Sobre o que?
-Os pesadelos... não serem apenas pesadelos. Acho que podem ser lembranças.
-Porque acha isso? Ele puxa uma cadeira se senta próximo a mim.
-Porque não acho que a perda de memória de um quase um ano da minha vida tenha sido apenas devido a um acidente de carro.
-Foi tanto tempo assim que você perdeu? Ele fala preocupado.
-Provavelmente um ano seria o mínimo. Eu...bem... todos evitam tocar nesse assunto, ninguém me fala ou deve ter alguma ideia do que eu estava fazendo nesse período e juntando isso ao fato de que uma ex-colega da faculdade disse que comecei a faltar as aulas até parar de ir completamente, acredito que... eu poderia ter sido ameaçada por alguém e que esta pessoa poderia ter me mantido em cativeiro. Falo por fim me sentindo uma estúpida, achando que viajei demais.
-Talvez... possa haver alguma verdade nisso. Essas lembranças que vem na forma de pesadelos, como elas são?
-Bem, pelo pouco que estou começando a guardar do que sonho, sem esquecer completamente ao acordar é que estou sempre com pressa. Correndo e com medo de alguma coisa. A única coisa além disso é uma rápida visualização de estar indo em direção a uma dessas lojas de conveniência que há em postos de gasolinas quando um carro grande e cinza para bem na minha frente e impedi que eu passe.
-Ninguém nunca te perguntou sobre isso? O que esteve fazendo todo esse tempo?
-Não. Sempre evitaram. Ou...se perguntaram não lembro. Digamos que após me resgatarem do acidente de carro, eu fiquei um bom período depressiva e ansiosa.
-Os antidepressivos demoraram para funcionar? Soube que as vezes eles podem não ter nenhum impacto na doença.
-Eu não cheguei a tomar esse tipo de medicamento logo de cara. Demoramos a entender o que eu estava realmente passando e até lá acabei me afundando em drogas e álcool. O diagnóstico geralmente é difícil de ser feito.
-E depois disso você se mudou.
-Sim, quando melhorei um pouco e consegui parar com as bebidas e todo o resto. Mas ainda não era suficiente. Eu ainda não tinha o controle necessário sobre mim, então me mudei para ter uma última oportunidade antes de uma medida mais radical como uma internação.
-Além de estar longe do que ou quem estivesse te afligindo e provocando toda a depressão e ansiedade, sem que você soubesse, porque você pode ter passado por algum evento traumático o suficiente para que sua mente bloqueasse tudo o que você sofreu.
-Exatamente o que eu estava pensando. E de fato, estou bem melhor aqui do que em Central City com meus pais. Eu tinha uma certa sensação de medo as vezes quando estava lá, mesmo com todo o sistema eletrônico de proteção, seguranças em quase todo o canto da casa.
-Mas agora você está começando uma nova vida Liza. Onde ninguém te conhece e que você tem a chance de começar do zero.
-Obrigada pelo apoio Bruce. Eu pego em sua mão e ele se inclina um pouco para me dar um outro beijo na testa.
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