POV Tatiana
Afastei meu corpo do de Evelyne.
Tentando não mostrar como a proximidade dela havia me afetado.
Tentando disfarçar a vontade que tinha de toma-la em meus braços.
Tentando disfarçar o desejo que tinha de unir meus lábios aos dela.
Antes de dar qualquer passo em frente eu precisava de uma resposta dela.
Eu precisava saber se Evelyne estava disposta a enfrentar o futuro ao meu lado.
Precisava saber se ela estaria ao meu lado.
Se ela não iria desistir de mim.
Minhas mãos tremiam e meu sorriso exibia a esperança que carregava em meu interior.
Ergui os olhos buscando ver suas feições em meio a pouca iluminação.
Eu desejava que ela considerasse minha oferta.
E quando finalmente consegui distinguir sua face em meio à escuridão.
Notei a frieza com a qual ela me encarava.
Tentei justificar que talvez a escuridão presente estivesse encobrindo o brilho de seus olhos, mas ao observar mais atentamente confirmei que não.
Evelyne estava indiferente a minhas ações. Ela estava longe. Estava sendo indiferente a mim.
Pelo menos era o que ela deixava transparecer.
Não foi como se eu não tivesse previsto, o turbilhão de emoções que me atingiram.
Um nó formou-se em minha garganta.
As lágrimas brotaram lentamente.
O frio subiu em minha espinha.
O desconforto em cada molécula do meu corpo.
O vazio preenchendo minha alma.
Vi toda minha esperança sendo levada junto com a presença dela.
Vi todos os momentos vividos naquela tarde passarem rapidamente em minha mente como uma retrospectiva de algo muito bom, que quase havia acontecido.
Vi o veículo escuro dar a partida e a última coisa que consegui identificar em meio as lágrimas que não mais cessaram foram as luzes vermelhas dos faróis sumindo em meio a noite.
Mais uma vez Evelyne havia me deixado e daquela vez eu não podia ir atrás dela.
Jamais seria rápida o suficiente, muito menos cara de pau o bastante para agir como se aquele fora que ela havia me dado não fosse nada.
Evelyne havia partido. Ela havia desistido de mim!
Eu havia me humilhado dizendo aquelas últimas palavras e ela nem sequer havia tido o trabalho de me responder.
Nem sequer demonstrara qualquer sentimento.
Eu havia feito mais do que já fizera por qualquer pessoa, mais do que eu julgava capaz de oferecer, para Eve simplesmente me dar as costas e entrar no veículo fechando a porta.
Sabia que tinha que resolver minha vida.
Sabia que cada palavra que ela havia despejado em mim era verdade, mas eu era cheia de esperanças.
Eu esperava que ao fim, Evelyne ao menos me dissesse algo, mas ela nada disse.
Eu esperava que ao fim Eve fizesse algo em relação aos sentimentos tão bonitos que declarara ter por mim, mas ela nada fez.
Apenas partiu. Concretizando minhas suposições quanto ela desejar fugir.
Eve havia fugido.
Sem sequer respondera minha súplica.
Sem deixar um “Até Logo”.
Deixando apenas o vazio e a escuridão.
Porque então ela havia pedido desculpas?
Me perguntava.
Para diminuir o impacto de suas palavras?
Para aliviar sua consciência?
Senti as gotas caírem lentamente, a chuva anunciando sua chegada, e quando as gotas se tornaram mais constantes e o barulho mais forte continuei no mesmo lugar.
Meu desejo mais profundo para aquele momento era que a água levasse consigo aquela tristeza e aquela solidão que estava presente.
Aquele abismo que ameaçava me levar.
Sabia que era muito pedir para que algo tão inocente quanto à chuva levasse consigo aquele turbilhão de emoções e de sentimentos. Ela não levou e nada aconteceu.
Quanto mais a chuva se tornava forte, mas as lágrimas misturavam-se as gotas frias de água.
Eu queria gritar. Queria extravasar aquela frustração que sentia.
Evelyne havia partido.
Meu coração estava partido.
E eu nada podia fazer.
Naquele momento com o pouco de consciência que ainda tinha, sabia que teria que esperar a chuva passar.
E eu fiquei em meio à escuridão desejando que tudo passasse, mas meu desejo não foi atendido.
Não sabia como havia encontrado o rumo de minha casa.
Ou como olhando minunciosamente para cada detalhe daquele cômodo tão familiar, tudo parecia estar em ordem.
Aparências.
Nada estava em ordem.
Eu estava despedaçada.
Não sabia o que fazer da minha vida.
Nem sequer conseguia me situar para qual dia da semana estava acordando.
Olhando pela janela com a cortina escancarada notei que a chuva já havia passado e que minha cabeça latejava.
Não queria encontrar com nenhum espelho pois sabia que ficaria consciente das olheiras que tornavam minha face irreconhecível.
Havia chorado uma boa parte da noite e quando finalmente havia adormecido os pesadelos lhe atormentaram.
“Cansei de tentar te entender.”
“Cansei de tentar te amar.”
“Quero que enfrente seus demônios, mas não quero que me faça um deles.”
Eram algumas das palavras que Evelyne disse em meio a uma tempestade que se anunciava, em meu sonho, em meu delírio.
E depois disso ela havia sumido.
Seu semblante se desfazendo como poeira na imensidão.
Deixando apenas o silêncio.
Deixando apenas o vazio e o cheiro de seu perfume que exalava no suéter que ela havia usado e que naquele momento estava ao lado do meu travesseiro.
Minha cabeça estava confusa, meus sentimentos mais ainda e naquele momento não conseguia alinhar qual parte do sonho era realmente um pesadelo e qual parte se encaixava no que havia acontecido na noite anterior.
O banho foi rápido e enquanto tomava meu café matinal escutei o celular tocar.
Caminhei apressadamente até localizar o aparelho e talvez minha vontade por ouvir a voz de Eve, talvez minha falta de concentração ao que realmente estava sendo exigido naquele momento, a questão foi que atendi o aparelho de forma tão automática que dei-me conta de que havia cometido um terrível erro apenas quando reconheci a voz grave do outro lado da linha.
Era Tom.
- Bom dia Tat.
Ele disse, pude identificar a surpresa na voz dele.
Já havia muito que o estava ignorando. E teria continuado se não fosse minha mente atormentada.
- Bom dia Tom.
Respondi sem esforço algum para demonstrar simpatia.
- Precisamos conversar.
Foram as palavras diretas que Tom usou. Sabia que era aquilo o que ele queria.
- Precisamos.
Apenas concordei.
- Eu sinto muito.
Tom começou a dizer, mas o interrompi.
- Conversaremos e prefiro que não seja por telefone. Nos encontramos no almoço. Pode ser?
Pedi sem interesse algum em manter um diálogo naquele momento, tambem não queria depoia, muito menos com ele, mas era necessário.
- Do jeito que você quiser.
- Nos vemos então, no mesmo lugar de sempre.
Finalizei.
- Tat.
Ele proferiu, como se quisesse ter certeza de que eu não havia desligado.
-Sim! Tom.
Respondi. Sabendo o que ele diria.
- Eu amo você.
Declarou ele. A voz suave, quase um murmúrio.
- Nos vemos no almoço Tom.
Declarei. Minha voz soou firme, minhas certezas não tanto. Desliguei a chamada em seguida e voltei para o meu café.
O dia apenas havia começado e eu estava desejando desesperadamente não ter acordado com aquela realidade me aguardando.
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