_ Quem é essa menina? Mais uma de suas vadias? Está tentando substituir minha filha? — disse uma mulher.
Eu não estava cem por cento acordada, a maior parte de mim ainda queria voltar para o sonho, e a outra metade achava que estava sonhando. Mas somente quando eu acordei, horas depois, foi que eu percebi que aquilo não era um sonho.
— Fala baixo! — disse Yoongi, apesar do sussurro eu podia ouvi-lo muito bem. — Já falei que ela não é assim! — Houve um silêncio entre ele e a mulher, que era quebrado pelo som dos dois andando e fazendo alguma coisa. — Você deveria ter pegado ele fim de semana passado e hoje também, onde esteve?
— Isso não é da sua conta. — resmungou a mulher.
Yoongi se limitou a apenas bufar. Depois disso eu acabei voltando a dormir e só fui acordar novamente perto do meio-dia, com o meu celular tocando. Procurei pelos bolsos até que encontrei o aparelho que vibrava insistentemente.
— Alô. — disse com a voz um pouco rouca pela falta de uso.
— Filha! — minha mãe praticamente berrou no celular. — Onde você está?
— Na casa do Jimin. — menti.
— Mas já é quase meio-dia! — disse minha mãe, eu podia ouvir o barulho das panelas. — Venha para casa, não quero você incomodando os outros!
— Está bem. — suspirei. — Até.
— Beijo.
Dizendo isso ela desligou e eu também, mas não sai da cama como deveria. Estava tão aconchegante ali, tão quentinho, mas ainda sim faltava o calor de alguém. Me virei para a direita e me deparei com a casa vazia e a porta aberta. Lentamente, eu me levantei e fui até a porta, me deparando com uma longa e grossa mangueira que ia da BigHit até o caminhão. Desci e dei a volta no automóvel e me deparei com Yoongi, de regata, bermuda e chinelo, olhando para um registro.
— Bom dia. — disse.
O loiro olhou em minha direção e sorriu, aquele sorriso que mostrava seus dentes e quase sumia com seus olhos. Eu amava esse sorriso.
— Bom dia, dormiu bem?
— Sim, e você?
— Bem também.
— O que está fazendo? — perguntei indicando com a cabeça o registro.
— Enchendo a caixa d’água.
— Legal. — disse, apenas para comentar algo.
— Não é legal. — disse o loiro rindo. — Tem que tirar a água suja — apontou para um bueiro próximo. — e aí colocar a nova.
— É não é legal. — disse, fazendo nós dois rir.
Depois de alguns segundos Yoongi gritou para alguém, dizendo que poderia fechar a água. Enquanto o loiro fechava o registro da água eu observava seus músculos trabalhando, só fui sair do meu transe quando Yoongi se levantou.
— Preciso ir para casa.
— Agora? — perguntou, enquanto secava suas mãos em um pano.
— Sim, minha mãe me ligou.
— Ah... — ele abaixou a cabeça por um instante, olhando para as mãos, mas depois seus olhar se voltou para mim. — Eu ia fazer o almoço agora.
— Desculpe. — meu coração parecia que ia quebrar, eu queria muito almoçar com ele.
— Não, tudo bem. Eu só vou terminar isso aqui e já te levo.
— Ok. — dizendo isso, voltei para o caminhão.
Olhei pela cozinha e vi algumas sacolas soltas, Yoongi tinha ido no mercado mais cedo. Também havia duas xícaras na mesa, juntamente com dois pratos cheios de farelos. Me perguntei que quem seriam, um obviamente era de Yoongi, mas o outro... Será que era da mulher de antes? Não, ela não parecia muito simpática a ponto de querer tomar café com Yoongi. De qualquer forma teria de perguntar para Yoongi depois.
Fui até o sofá-cama e tirei o lençol, o edredom e os travesseiros, os guardando no armário e enquanto trocava de roupa dei falta de algo.
— YOONGI! — gritei assim que terminei de me arrumar as pressas. — YOONGI!
O loiro praticamente pulou para dentro do caminhão.
— O que foi?
— Onde está Jaehyun.
— Ah. — o loiro sorriu e suspirou aliviado ao mesmo tempo. — A avó materna dele veio buscar ele, o certo seria ela ficar com ele durante o fim de semana inteiro, mas ela buscar ele quando quer. — disse revirando os olhos
Estranhei, mas decidi não perguntar muito, principalmente por causa do fato de que ele visivelmente não gostava dela.
— E quanto a louça? — disse apontando para a mesa.
— Ah! — disse o loiro sorrindo. — Namjoon esteve aqui hoje de manhã, para conversar sobre a possibilidade de fazermos duplas. — enquanto ele falava ele colocava as louças na pia.
— Legal! — exclamei, realmente seria bom ver dois rappers tão bons trabalhando juntos.
— É, — concordou. — mas é um pouco difícil, pois o cachê seria dividido, logicamente. Então eu teria que trabalhar mais... Procurar mais casas de shows.
— Isso é bom, — disse me encostando na parede, enquanto o observava lavando a louça. — de certa forma. Particularmente acho que já estava na hora de você começar a se promover mais.
— É, pode ser.
O loiro terminou de lavar e secar a louça e então se virou para mim.
— Preciso te perguntar uma coisa também.
Eu não sabia o motivo, mas estas palavras fizeram meu coração bater de um jeito diferente. Quase dolorido. Acho que era por causa da expressão dele, estava sério, com o olhar profundo.
— Pode perguntar. — tentei dar a ele um sorriso acolhedor, mas não sei se fui bem sucedida.
— O que eu sou para você?
Silêncio.
— Co-como assim? — me reprimi internamente por gaguejar.
— Hoje quando Namjoon veio me ver, — disse o loiro, secando as mãos no pano de prato e se aproximando. — ele viu você dormindo e me perguntou o que nós éramos.
Engoli em seco.
— E o que você respondeu? — perguntei, desviando o olhar para meus tênis desgastados.
— Eu disse que você era a minha namorada.
Surpresa com a resposta, eu elevei meu olhar para ele. Yoongi me encarava quase sem vida.
— Mas ele me disse que você falou para ele que eu não era seu namorado.
Algo dentro de mim quebrou. Tão rápido quanto um copo que cai quando se está lavando a louça e as mãos estão cheias de sabão. Meu coração estava cheio de sabão. E ele caiu.
— É-é que... — parecia que as palavras estavam entaladas na minha garganta. Senti como se estivesse revivendo a cena do hospital. Em um ato de covardia desviei meus olhos dos seus. — É que...
— Quer saber? Não precisa responder. — disse Yoongi, me dando as costas, jogando o pano na pia e saindo do caminhão. — Vamos indo que a sua mãe deve estar preocupada.
E com um único pulo, ele saiu do caminhão.
Eu sentia como se meu cérebro e meu coração fossem entrar em guerra. Meu coração se culpava por negar Yoongi como meu namorado, a imagem de seu olhar vazio me vinha a mente fazendo meu peito doer, ele me considerava algo a mais do que amiga e eu o decepcionei, agora ele deveria estar pensando que eu não sinto o mesmo que ele.
Mas meu cérebro dizia que eu não estava errada, e era isso que eu queria dizer para ele. Queria dizer que o único motivo para eu não considerar ele meu namorado, era porque ele não tinha me pedido em namoro! Minha mãe sempre me disse que no dia que eu me apaixonasse deveria deixar ele me pedir em namoro, para ter certeza de que ele sentia o mesmo.
Eu não sabia o que fazer exatamente, a não ser pegar minhas coisas e ir até a frente do caminhão, onde Yoongi me esperava. Sai, fechando a porta logo em seguida. O caminho até minha casa foi sem nenhuma conversa, o único barulho vinha do rádio que Yoongi havia ligado para ouvir o jogo de basquete. “Ele nunca liga esse rádio”, pensei.
Durante o trajeto eu me questionei se deveria pedir desculpas ou não, se deveria sequer falar alguma coisa para tentar aliviar o que eu fiz. Mas meu cérebro continuava a gritar, dizendo que não era minha culpa e meu coração continuava a se sentir culpado. Quando o caminhão finalmente parou em frente a minha casa, meu coração acelerou, fazendo meu corpo se aquecer devido ao nervosismo. Olhei timidamente para Yoongi, mas o mesmo continuava a olhar em frente, com a mão esquerda na boca e o braço apoiado na janela.
Suspirei, tomando coragem.
— Tchau, Yoongi. — eu odiava o modo infantil na qual a minha voz soava quando eu estava nervosa ou tímida.
— Tchau. — seu tom foi seco, mas ele arranhou a garganta depois. Deduzi então que não foi sua intenção soar seco ou grosseiro, eu esperava que ele não tivesse a intenção.
O loiro destrancou a porta, mas quando eu coloquei a mão na maçaneta, parei. Me virei para Yoongi e pela primeira vez desde a cena na cozinha ele me olhou. Eu não sei quando exatamente decidi fazer aquilo, mas quando vi minha boca já estava colada na dele.
Era apenas um selar, mas eu tentei pôr ali todo o amor que eu tinha medo de dizer. Só não sabia se ele havia sentido também. Quando me afastei e abri os olhos, Yoongi me encarava. Meu coração doeu ao pensar na possibilidade dele nem ter fechado os olhos. Subitamente senti meus olhos molhados e minha garganta arder. Sai do caminhão antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ou que eu começasse a soluçar que nem uma criança.
Entrei em casa indo direto para o meu quarto, dizendo para a minha mãe que já desceria para almoçar.
***
Outra semana começava, desta vez um pouco mais “cinzenta”, apesar do sol e do céu azul sem nuvens.
Hoje Taehyung voltava do atestado, foi difícil para nós quatro conversarmos no intervalo, Tae era uma estrala por causa da sua atuação nos teatros da escola e também por ser muito simpático e bonito.
Os meninos me perguntaram sobre a batalha de Yoongi e Namjoon. Eu os contei que no final o público não pode escolher um só e que eles acabaram fazendo o show juntos, também comentei que estavam pensando na possibilidade de fazer uma dupla. Eu tentei disfarçar minha tristeza ao falar sobre Yoongi, mas eles eram meus amigos e é claro que não deixaram de notar algo errado. Bem, na verdade Jimin que notou, ele sempre foi muito sensível para essas coisas.
Contei para eles o que aconteceu na cozinha, desabafei, quase chorando, tudo o que eu senti na hora e tudo o que sentia. Todo o meu amor por ele (algo que eles já sabiam) e a minha alegria por saber que ele me via desse jeito também, e também falei da minha tristeza em saber que eu o magoei.
Tanto Taehyung, quanto Jimin e Jungkook concordaram com meu cérebro; eu não deveria me culpar porque ele não havia me pedido em namoro. Tanto eu, quanto os três achávamos legal a mulher pedir em namoro, mas nós três concordamos que eu não fazia esse tipo de mulher. Infelizmente. Talvez as coisas fossem mais fáceis.
— Que ridículo! — exclamou Taehyung, com a metade de um bolinho na boca. — Como ele pode exigir que você o chame de namorado se ele não te pediu em namoro?
— Argh! — resmungou Jimin. — Nós já acabamos o assunto! E pelo amor de Deus, coma o bolo antes de falar! — disse o ruivo enquanto limpava os farelos da roupa que escaparam da boca de Taehyung. — É todo burguês e come que nem um porco.
Jungkook e eu rimos, mas Taehyung apenas revirou os olhos. Meninos...
A aula foi a mesma coisa de sempre, tranquila até demais. Depois do que Yoongi fez, Minzy e suas amigas nunca mais me perturbaram, na verdade elas mal me olhavam. Quando o sinal do último período soou pelos corredores, todos os alunos se levantaram e guardaram seus materiais, afobados por finalmente poder sair. Como sempre eu fui uma das últimas, apesar de Minzy não me perturbar mais, mantinha esse habito só por precaução.
Quando estava para sair do prédio em direção ao pátio me perguntei se Yoongi estaria lá para me levar até em casa, meu coração se apertou de tristeza em pensar na possibilidade dele se afastar por causa do que aconteceu. Mas quanto mais perto da saída, mais eu podia notar que havia muitos alunos aglomerados, muitos olhavam pelo corredor, procurando por alguém.
Apesar de ser algo estranho, pois geralmente todos saem correndo parecendo um bando de animal, eu continuei em frente esperando entender o motivo dos alunos ainda estarem ali. Quando finalmente sai para o pátio, se eu esperava encontrar alguma resposta ela não apareceu de imediato, mas fez meu coração dar um pulo e fazer minhas bochechas ficarem quentes.
No meio do pátio da entrada estava Yoongi, seu cabelo estava penteado e ele usava um terno preto impecável, suas mãos estavam para trás e ele sorria. Não pude deixar de notar que ele estava um pouco envergonhado. E eu fiquei ali, parada na escada, olhando aquela cena. Yoongi, no pátio da minha escola de terno cercado por vários alunos curiosos.
— Ok, — disse a voz de Jimin ao meu lado, mas eu não ousei desviar meu olhar. — talvez ele não seja tão babaca.
Em seguida senti sua mão me empurrando, o suficiente para me descongelar e me fazer andar, morrendo de vergonha, até o loiro.
— O-o que está fazendo? — perguntei, quase em um sussurro.
— Fazendo do jeito certo.
Ao dizer isso ele revelou o que segurava atrás das costas; um buque de flores que me fez prender a respiração. O buque era lindo, havia muitas flores, não aquelas flores clichês como rosas ou tulipas, mas flores exóticas e lindas, de cores claras que entravam em uma harmonia perfeita.
— Yo-yoon... — tentei dizer.
— Quer namorar comigo? — disse o loiro, cortando minha fala.
Eu o encarei, havia lágrimas em meus olhos e muitos sentimentos no meu coração. No fim eu não consegui dizer sim, pelo menos não de primeira. Eu apenas assenti várias vezes, peguei o buque e o abracei, escondendo meu rosto contra seu corpo. Nesse momento todos os alunos que assistiam deram vivas e assobiaram.
Me afastei de Yoongi e o encarei, me ergui na ponta dos pés e ele se inclinou para me beijar. Um beijo calmo, mas intenso, que me fez esquecer completamente da nossa plateia. Quando me afastei novamente eu finalmente disse:
— Sim, eu quero namorar com você. — sorri para ele e ele sorriu para mim outra vez.
— Por que está chorando? — disse Yoongi, secando as lágrimas do meu rosto.
— Porque eu pensei que você estava brabo comigo, por que não ter dito ao Namjoon que somos namorados.
— Eu fiquei. — admitiu. — Mas percebi que nunca tinha te pedido em namoro, então não tinha esse direito.
Então eu dei um tapa em seu braço.
— Ai! — exclamou o loiro. — Por que fez isso?
— Porque você fez eu me sentir mal.
Então o loiro sorriu novamente, de um jeito acolhedor que fez meu coração se aquecer. Então nos beijamos novamente, sua língua explorava minha boca com habilidade, e a essa altura os alunos já estavam indo embora.
— Mas porque o terno? — perguntei quando nos separamos.
O loiro deu de ombros.
— Todo mundo sempre disse que eu fico bonito de terno.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.