DesnecessauraMM

Foi em meio à escuridão que eu o vi, como se fosse parte dela. Dividida entre os impulsos do meu corpo, eu não sabia o que fazer quando ele chegava perto.

Sobre aquele homem? Eu não tinha ideia sobre quem era ou de onde veio. Apenas sabia que ele exercia um enorme poder sobre mim. Até seu nome era um mistério.

Eu gostaria de apagá-lo da minha vida, como as ondas do mar apagam as marcas na areia, porém era tarde demais para livrar minha alma dos rastros que ele deixava toda vez que aparecia.

Para ele, um verdadeiro farejador em alerta, eu era uma presa, a mesma que não conseguiu derrotar, apenas cercar e proteger. Eu, fraca demais para vencer um mundo em ruínas, me tornei uma vítima condescendente e um caminho de perdas ainda me aguardava.

Uma verdadeira caçada.

"O show tem que continuar."

As coisas são diferentes quando o show acaba e as cortinas se fecham. As luzes se apagam, os artistas tiram sua maquiagem, o mágico encerra seu número. E eu? Bem, a acrobata quebra a cara.

Talvez, isso tenha alguma coisa a ver com o meu enorme talento de fazer merda e atrair desgraça para minha vida. Falando em desgraça, a maior foi o meu patrão. E olha, eu só o conheço há algumas horas, mas já planejei sete maneiras de matá-lo. Opa, agora são oito.

Como eu poderia ficar em meu juízo perfeito daquela maneira? Ele tinha visão de raio-X, com toda a certeza do mundo. Era enorme e com cara de "intocável". Parecia que infernizar a vida alheia era um talento nato daquele homem e, infelizmente, eu fui a escolhida para ser a premiada da vez.

E nem vou mencionar aqui sobre as maneiras com que ele fazia isso. Não que eu reprovasse todas.

Eu queria que essa fosse uma história de drama, seria melhor do que ter que listar os problemas da minha vida. Então, pela ordem cronológica: meu nascimento, vem em primeiro lugar. As coisas poderiam ser diferente se aquele fatídico acontecimento não tivesse ocorrido.

Mas ok, vida que segue.

Tudo o que eu queria no momento era que aquele ser fosse jogado na jaula dos leões, pisoteado por um elefante ou talvez explodisse em milhões de confetes coloridos. Esse seria meu melhor Alakazam.

Às vezes passamos a vida toda em busca de um amor correspondido. Essa procura pode durar anos ou, nesse caso, apenas alguns dias.

Quando você encontra a pessoa certa, o casamento pode ser a união perfeita entre amor, respeito e prazer. E, definitivamente, pode ser divertido e muito, muito quente.

Encantados à primeira vista.

Entrosados em tão pouco tempo.

Com sonhos e ambições, almejávamos.

Unidos em nossas lembranças.

A chance estava ali, bem à frente.

Atração entre os dois corpos.

E, entre nossas almas, repulsão.

Eu estava ali sentado, tentando controlar meus instintos. Enlouquecendo com o desejo de chegar mais perto e queimando com a ideia de passar a mão por sua pele clara.

A garota, na flor dos seus quase dezoito anos, falava com classe e controle em outro idioma, impressionando todas as pessoas naquela reunião e acabando com a minha sanidade aos poucos.

Minhas tentativas de autocontrole eram falhas, uma após a outra, eu não conseguia parar de fantasiar com seu corpo desenhado à minha disposição e o com seus gemidos de prazer e dor imaginários.

Talvez eu parecesse sádico ao falar dessa forma, mas eu não me importava.

Finalizou sua apresentação com um sorriso no rosto, direcionado ao seu pai, que era o meu maior e mais fiel sócio, assim como o maior motivo da minha resistência a todos meus instintos.

Porém, meu corpo não se importava e eu já estava duro novamente.

Por que ela sorriu?

Diferente de outros desconhecidos, não o tratou como se fosse uma pessoa anormal ou digno de pena. Mesmo não tendo sido gentil, ela ainda sim sorriu para ele.

Gajeel, mesmo vidrado no computador, não conseguia tirar da cabeça o gesto da moça de cabelo azul. Ela era uma desconhecida mas ele sentia que a veria novamente. Ao menos, poderia agradecer por pegar o seu livro.


Já Levy, bem, ela não conseguia esquecer a voz dele, não pôde enxergar seu rosto, mas a voz do homem era aconchegante. Era uma voz verde. Viva e tranquila.

Sua curiosidade era grande, sabia a imagem que passava, entretanto, não sentiu aquele tom de exclusão ao ouvir seu timbre.

Imaginou uma canção, brincou com os dedos sobre o piano, com um sorriso nos lábios. As notas criaram um som agradável e ela imaginou o verde entre a melodia.

Sim, seria uma ótima combinação.


Dali em diante aquela seria, para os dois corações, a última parada

Aquilo era a sua cruz, tinha certeza disso.

Seus ideais foram moldados na infância, com grande influência dos seus pais e da sua religião. Nunca pensou que algo a tiraria do caminho que achava ser o certo, mas ela "pecou". Se rendeu aos desejos da carne.

Alguns anos depois, decidida a recomeçar sua vida sob os critérios rígidos da sua família, a jovem se viu num emprego promissor e era merecedora daquilo.

Mas tudo foi por água abaixo quando ele deu a primeira investida, sem esconder o que almejava: sexo.

Entretanto, nenhum dos dois abririam mão do que acreditavam, complicando ainda mais aquela relação - se é que poderia chamar assim -.

Levy nem ao menos entendia como aquilo havia começado, mas não tinha jeito de acabar bem. Ironicamente, precisava vencer o pecado, com um homem que era um pecado, na cidade do pecado.


"- Não importa o quanto você tente escapar de mim, você sempre acabará na minha cama, pedindo por mais, até o dia amanhecer. Sempre. - A voz dele soou mais baixa do que o som que a água fazia ao chocar-se com os nossos corpos, metades submersos. - Eu sempre vou te deixar em êxtase, McGarden."

Cada um escolhe pelo o que deve lutar.

Eu escolhi isso para minha vida, eu decidi que não havia o porquê temer a morte. Talvez seja por isso que sempre brinquei tanto com o fato de poder morrer em qualquer beco por aí.

Apesar disso, o destino quis brincar comigo ao colocá-la em meu caminho. Nunca havia conhecido nenhuma mulher como ela, nenhuma mexeu tanto comigo ao ponto de me fazer perder a cabeça em uma única semana.

Ao mesmo tempo, nosso conflito de interesses nos aproximou e afastou. Enquanto eu tirava vidas, ela as salvava. Enquanto eu não importava, ela sempre dava um jeito de me aproximar, mesmo que a solução fosse ceder aos desejos mais profundos, escondidos atrás daqueles olhos negros.

Ela se tornou a minha luta mais difícil e eu escolhi ganhar. Lutar por algo além de mim. Resolvi enfrentar meus medos e lutar por ela. Mesmo que fosse tarde demais para salvar a mim mesmo.